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Nos últimos meses, como vocês acompanharam aqui no Gagá Games, eu me dediquei a zerar Langrisser, um joguinho de estratégia para o Mega Drive. Agora que já virei o jogo de trás para a frente, chegou a hora de dar o meu veredito.

Primeiro, um pouco de história…

Quem disse que Langrisser começou no Mega Drive?

Combate em Elthlead (MSX)
Combate em Elthlead (MSX)

É um erro comum dizer que a série Langrisser começou no Mega Drive, com o jogo que no ocidente ganhou o título de Warsong. A verdade é que a história de Langrisser começa mais atrás, lá nos computadores MSX, PC-8801 e Sharp X1, para os quais a Masaya/NCS lançou Elthlead. Embora não seja tecnicamente um Langrisser, foi nesse jogo de estratégia que a terra de El Sallia (onde se passa a série Langrisser) e a espada sagrada surgiram, por exemplo. Fora que no próprio Langrisser há referências a eventos ocorridos nessa época.

Elthlead é um pouco diferente. Há uma tela na qual você move seus exércitos, como num jogo de xadrez, mas de modo bem mais primitivo que em Langrisser. Quando as tropas se encontram a tela se apaga e surge a tela de combate, onde o esquema fica um pouco mais parecido com o visto nos games que vieram depois. Coloquei um gif animado aí em cima mostrando o combate na versão do MSX.

O jogo receberia duas continuações, Crest of Gaia e Guyframe (ambas chegariam também ao PC Engine). Assim se encerrou a trilogia original, e algum tempo depois Langrisser (Warsong) surgiria no console da Sega. E é dele que vamos falar por aqui.

Langrisser/Warsong

A série Langrisser faz um enorme sucesso no Japão, mas no ocidente perdemos a série quase toda. Demos sorte com Langrisser I, que foi traduzido e mudou de nome para Warsong. Trata-se de um belíssimo exemplar de RPG estratégico feito pela Masaya para o Mega Drive, no qual você deve comandar exércitos por 20 cenários diferentes até derrotar o mal por completo.

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O excelente char design de Langrisser

A cada missão, um pedaço da interessante história vai se revelando. Logo de tacada o castelo do príncipe Garett é invadido, e sua primeira missão é fugir dali o mais rápido possível, já que a derrota é certa. O rei fica até o fim defendendo seu castelo e dando corbetura para a fuga de Garett, que parte com Baldarov, um comandante de confiança do rei. E é nesse embalo que as primeiras missões de Langrisser se desenrolam, com um sentimento de urgência tremendo. Garett foge do castelo com Baldarov e um punhado de tropas e atravessa montanhas aos trancos e barrancos enfrentando pilhas de inimigos até chegar à cidade na qual encontrará reforços. Ele vai lentamente reunindo homens e se re-estruturando para voltar ao castelo, na esperança de que seu pai ainda esteja vivo. Ao retornar ao castelo a trama começa a se abrir, e como de praxe Garett descobre que está envolvido numa encrenca bem maior do que imaginava, com demônios ancestrais e espadas amaldiçoadas no meio.

Embora a história do jogo seja contada em doses homeopáticas e com relativa economia, sem a verborragia dos RPGs contemporâneos, os fatos são bem distribuídos ao longo das missões e a história acaba envolvendo o jogador. Os personagens de modo geral são bastante carismáticos e bem desenhados, cortesia de Satoshi Urushihara, famoso por animes como Plastic Little e alguns hentais malandrinhos… Parece que ele se controlou um pouco neste jogo aqui, mas de Langrisser II para frente o sujeito caprichou nas roupas e nos “dotes” das personagens femininas… O fato é que o Sr. Urushihara tem um talento enorme (sem conotações eróticas desta vez, hein?) e os rostos dos personagens são fantásticos. A versão americana passou por uma discreta violência — sabe-se lá o motivo, mas tascaram um baita sorriso amarelo em todos os personagens. Felizmente há um patch que põe os rostos originais na ROM americana. O jogo nem tem muito texto, por isso acredito que os rostos dos personagens sejam em grande parte responsáveis pelo carisma deles.

Fora os rostos, o jogo tem gráficos relativamente simples, mas adequados. O mapa é bem claro e colorido, e embora haja uma boa diversidade de unidades e criaturas os sprites não confundem — e olha que podem haver muitas unidades na tela.

Batalhas épicas!

langrisser_041O combate em Langrisser funciona da seguinte maneira: você tem uns comandantes. Cada comandante pode “contratar” soldados dos mais variados tipos. Na hora da batalha, você deve mover as tropas pelo mapa de modo que os soldados não se afastem de seus respectivos comandantes, do contrário perdem os pontos de bônus no combate fornecidos pelos comandantes, e essa desvantagem, na maioria das vezes, leva a um massacre de suas tropas. A regra também vale para os inimigos, e isso confere um forte elemento estratégico ao jogo. Se o comandante morrer, morreu, não volta mais, e você fica em desvantagem até o fim do jogo. Portanto, tenha cuidado.

Quando seus comandantes atingem os níveis 10, 20 e 30 de experiência eles são promovidos a uma nova categoria. Geralmente você pode escolher entre duas categorias diferentes. Um lutador, por exemplo, pode trilhar um caminho que o levará a tornar-se um cavaleiro mágico ou um cavaleiro dragão. Quando o personagem é promovido, mudam as suas habilidades e as tropas que pode contratar. Isso é extremamente importante para manter a sensação de novidade em um jogo grande como Warsong, deixando o jogador sempre animado a experimentar suas novas habilidades. Eu, particularmente, me diverti bastante ao transformar meus cavaleiros em cavaleiros mágicos, e minha curandeira em santa (com direito a uma baita magia de ataque).

Outra coisa que impede o tédio é que algumas batalhas reservam pequenas surpresas, como exércitos de monstros marinhos descontrolados que invadem o cenário subitamente, devorando tudo o que veem pela frente, inclusive as tropas inimigas! Isso por muitas vezes quebra a sua estratégia e o obriga a traçar um plano B rapidamente — que no caso mencionado, seria sair da água o mais rápido possível!

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Claro que um jogo de estratégia, no qual você fica horas debruçado em um mesmo cenário de batalha, precisa de uma trilha sonora à altura do desafio. Na série Langrisser quem segura a peteca é ninguém mais, ninguém menos que Noriyuki Iwadare, autor das trilhas de Grandia e Lunar, dentre outras. As músicas de batalha são vibrantes, dá vontade jogar com o volume no máximo. Já entre as fases a música é mais melodiosa e igualmente boa. Iwadare fez um trabalho caprichadíssimo, como de costume.

Remakes e afins

Só a título de curiosidade, Langrisser I também foi lançado para o PC-Engine. Fora os cineminhas e a trilha sonora, a versão não é muito diferente da do Mega Drive. O Playstation, o PC e o SEGA Saturn ganharam o pacotão dois-em-um Langrisser I&II, com remakes dos dois primeiros jogos da série. Eu testei a versão de SEGA Saturn (Dramatic Edition), e posso dizer que o console talvez tenha sido agraciado com a versão definitiva do jogo. Se você quer jogar a melhor versão de Langrisser e manja de japonês, eu apostaria minhas fichas nela. Tudo é absolutamente fantástico, dos gráficos às músicas.

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Fotos: à esquerda, a versão para o PC Engine. À direita, a brilhante Dramatic Edition do Sega Saturn.

Conclusão

Não há muito do que reclamar em Langrisser. Talvez de um certo desequilíbrio mais para perto do final do jogo, quando você fica cheio de cavaleiros mágicos e os chefes ficam muito mais fáceis. Mesmo assim, Langrisser faz tanta coisa direito que é difícil criticar. É realmente uma pena que suas continuações não tenham chegado ao ocidente. Ainda hoje o jogo é terrivelmente divertido, e certamente merece o status de clássico que alcançou no Japão. Na minha opinião, é figurinha fácil entre os melhores jogos da história do 16 bits da SEGA.

Para mais informações sobre o jogo, consulte:

O Gagá viu e review: Langrisser (Mega Drive)
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9 ideias sobre “O Gagá viu e review: Langrisser (Mega Drive)

  • 19/04/2009 em 9:33 pm
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    Foi bom ter falado dos primórdios da série. Geralmente o pessoal não sabe desses jogos predecessores. E concordo plenamente com você a versão de Saturn é fantástica! O que mata é não entender de japonês porque uma das coisas mais legais na série é justamente a história.

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  • 20/04/2009 em 1:50 pm
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    Nunca fui muito “habilidoso” em jogos do gênero RPG/Estratégia, mas existem dois que eu curti muito em jogar e que até consegui chegar no final de ambos: trata-se Shining Force I e II, do Mega Drive.

    O Orákio, que parece curtir mais o gênero, bem que podia em um futuro próximo fazer um diário de bordo de um destes dois títulos… faz tanto tempo que os joguei que já esqueci praticamente tudo em relação a história destes dois games, e seria legal poder recordá-los… velhice é fogo… a gente esquece mesmo das coisas… hehehehhe…

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  • 20/04/2009 em 1:54 pm
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    Caduco, eu sou doido por Shining Force II, é um jogo esplêndido. O I eu nunca zerei. Taí, até que cairia bem um diário de bordo de SFI, era uma boa chance de jogar.

    Bom, agora já comecei a jogar o próximo diário de bordo e vou até o fim, até porque estou adorando o jogo. Nesta semana eu começo a postar, mas pelo visto o diário vai andar bem mais rápido que o do Langrisser. Até porque já estou jogando há dias, e estou com vários posts preparados. Vou ver se faço como no diário do Tales, postando alguma coisa todos os dias. Afinal, “diário” = todo dia, né? 🙂

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  • 22/04/2009 em 7:48 am
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    Adoro RPGs estratégicos, mas, por algum motivo, sempre achei essa série meia-boca.
    Gostei do Diário de Bordo postado aqui, realmente me deu vontade de encarar o game, mas, pelo menos na emulação, achei o game escuro demais.
    Vou ver se dou alguma atenção maior à ele qualquer dia desses.
    Abraços !

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  • 22/06/2011 em 9:41 am
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    antes eu achava FFT um primor de game de estratégia( e ainda acho) mas esse game,Langrisser me fez ter batalhas memoráveis. em FFT por exemplo se por acaso eu cometer um erro na batalha, ainda dá para consertar a burrada. já em Langrisser, tinha que pensar muito antes de fazer um movimento. um erro lá seria fatal! sem falar que uma batalha lá durava horas para ser concluída.
    umas das coisas legais que curti ao jogar é que ao contrário de FFT,vc controla dezenas de soldados ao invés de só os personagens. mas isso também é o maior defeito na minha opnião. você leva uma pá de soldados e descobre que nem precisava de tantos assim.

    enfim… é um jogo que deve ser apreciado!
    FFT em primeiro
    Langrisser em segundo nos meus games de estrategias favoritos…^^

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