“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

A revista Veja possui uma “revista auxiliar” devotada a assuntos mais peculiares de certas regiões do país. No caso de nós paulistanos, temos a Veja São Paulo. Esta semana, sua matéria de capa versa sobre um assunto muito simples: o costume crescente de buscar aparelhos de épocas mais antigas e/ou que se parecem com coisas velhas. Aquilo que chamamos de retrô, vintage, ou clássico mesmo. Não vou entrar em muitos detalhes sobre o que a matéria trouxe porque não é esse meu propósito (e eles falaram bem pouco de videogames também). Mas fui instigado a pensar a respeito deste evento curioso: o antigo que vai se tornando moda.

A moda é um fenômeno particularmente interessante. Estudos acadêmicos são feitos sobre o tema desde o século passado nas mais diversas áreas. Amem ou odeiem, a “moda do dia” está sempre por aí em algum lugar. Embora designemos normalmente como “profissionais da moda” aqueles voltados à indústria do vestuário (uso aqui o termo em um sentido extremamente amplo), é preciso ter em mente que eles não se preocupam com a moda em si mesma por sempre tentarem se colocar à frente dela. Estes profissionais fazem duas coisas: esforçam-se para serem profetas sem terem sido chamados a isso; lutam da maneira que podem para concretizar suas predições. Isso significa que estes profissionais ocupam-se muito mais com a criação de novas tendências do que com a moda atual: é praticamente uma especulação sobre a moda do que qualquer outra coisa. Contudo, não é deste peculiar prognóstico que quero falar.

Não é difícil perceber que existe certo movimento de “trazer de volta à moda” os jogos antigos. E não digo isso somente por meio de jogadores, mas as próprias empresas têm devotado algum esforço neste sentido. “Retrogames” há muito tempo não designa somente jogos lançados anos atrás, mas games recentes “com cara de velhos”. Curioso pensar que algo que já foi moda esteja voltando à baila uma vez mais; desta vez ainda mais na moda e com uma aceitação bem superior ao que era antigamente.

E isso parece que me traz um certo problema. Lembram-se de que falei aqui nesta coluna várias vezes acerca da importância da tradição? De como estabelecermos uma história pessoal com os games, registrarmos nossos contatos e, principalmente, jogarmos os mesmos games novamente ao invés de somente ficar pulando de um a outro? Pois bem, o que quero que pensem junto comigo é: trazer games antigos à moda não aniquilaria a possibilidade deles se tornarem em tradição?

Fiquei um tanto receoso de postar este texto hoje porque, embora tenha pensado nele com bastante tempo (e tenha entregado a versão final para revisão bem em cima da hora), não cheguei a conclusão nenhuma a esta pergunta. Ainda assim, quero compartilhar com vocês por onde está vagando meu raciocínio.

É preciso considerar que a moda sempre muda e que, quando isso acontece, é sempre rumo a outras novidades na mesma área. O primeiro perigo, então, de games serem moda é não ficarmos muito tempo desfrutando uma única coisa, mas haver a necessidade quase fisiológica de ficarmos pulando de galho em galho. Este é um fenômeno perceptível na indústria dos games desde o Fairchild Channel F que praticamente inaugurou um modelo simples de ganhar dinheiro ao diferenciar consoles de jogos. Durante a era do Atari 2600, isso se dava pelo lançamento de games muito parecidos uns com os outros, mas com título e capa diferentes. No decorrer da década de 1990 até os dias de hoje, isso somente foi se tornando cada vez mais maciço. Os meios de segurar um jogador em um mesmo jogo costuma se resumir em adquirir conteúdos pela internet (geralmente pagos), ou em adquirir o segundo game da franquia que promete mais do mesmo com “coisas inéditas”.

E isso nos leva direto ao segundo ponto. A moda lida primordialmente com aquilo que é mais frequente em determinado momento sob a forma de novidade. Ou seja, se chapéis mexicanos entrarem subitamente em moda, muitas e muitas pessoas (não todas, evidentemente) vão arrumar o seu e usá-los a torto e a direito em diversas ocasiões diferentes por achar tal adereço legal. Provavelmente, esqueceriam até mesmo que é um chapéu cujo modelo é proveniente do México e pensariam só que sombrero é um nome bonito. Se algo se transforma em moda, sua origem, passado e história se perdem: não importam mais. E este é o perigo maior.

Um exemplo que mistura o sombrero com games. 🙂 Foi o primeiro que me veio à cabeça.

É certo que podemos simplesmente nos esquivar de sair jogando tudo que sai de novo no mundo dos games. Mas é igualmente arriscado que, ao se converterem em moda, percamos algo muito mais valioso: sua transformação em tradição. Como muitas das coisas líquidas de nossa era moderna, um game se tornaria somente um aparelho qualquer, desprovido de qualquer sentido a não ser o de “ser algo na moda”. Seja esse “estar na moda” meramente decorativo ou não. Afinal, comprar LPs e vitrolas está na moda não para decorar quartos, mas porque as pessoas estão ouvindo vinis.

Receio que a “moda retrô” possa ser algo danoso à própria relevância que damos aos games e jogos que tanto aproveitamos hoje em dia. Não simplesmente por ser moda, mas por fazer com que o passado se torne em uma inebriante novidade. Como podemos transformar algo em tradição a não ser honrando nosso próprio passado? Se não assumimos algo como pertencente à historicidade de nosso povo, de nossa família e de nós mesmos, só nos voltamos a este “algo” com uma vontade solúvel e passageira.

Para pegarmos uma reflexão oriunda da Páscoa, não é uma passagem verdadeira e um retorno a um novo lugar outrora habitado por seus pais (como é para os judeus), e nem a ressurreição do Verbo (como é para os cristãos). A moda que recupera o antigo lembra muito mais a experiência de Frankenstein: a animação momentânea de um corpo morto.

Enfim, como devem ter percebido, não cheguei a conclusão nenhuma. Espero que me ajudem com seus comentários a pensar melhor a respeito deste assunto.

Até o próximo post!

Academia Gamer: Moda retrô
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18 ideias sobre “Academia Gamer: Moda retrô

  • 26/04/2011 em 9:11 am
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    cara, o visual da arte do cartucho de megaman 9 é horrivel! eu acho q as pessoas sentem falta dos tempos dourados e compram objetos retro para relembrar aqueles tempos. e tb pq tá na moda.

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  • 26/04/2011 em 10:08 am
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    existem dois tipos de retrogamers: aquele que realmente gosta dos jogos e sente prazer ao rejogá-los. E o outro que sente falta do tempo, o clima, amigos que jogavam junto, canaliza tudo isso no jogo em sí e quando o pega para se divertir não o joga por mais de 10 minutos por que descobre que toda aquela diversão não estava no jogo e sim no ambiente.
    Quanto ao retorno dos retrogames, não acho que seja muito provável. Não conseguem criar jogos atuais que prestem, imaginem o crime ao tentar alongar uma franquia clássica. É por essas e outras que vai demorar muito para aparecer um Chrono Trigger 2 (aquele lixo de Chrono Cross não considero sequência), enquanto a Square não estiver a beira da falência nunca irá arriscar queimar em vão um, se não o maior trunfo que tem em mãos.
    Retrogamers estão na moda mesmo, mas é fácil saber quem é de verdade. Põe um jogo de 1989 pro cara jogar, se ele levantar e for embora em 5 minutos, aí está o falsista.

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  • 26/04/2011 em 10:35 am
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    Acho que primeiro devemos ter em mente que as modas e, no caso específico, a “onda retrô” – um tanto artificial para o meu gosto, são fenômenos de uma indústria que quer capitalizar em cima da ânsia de quem compra seus produtos. E, na maioria das vezes, quem é habitual comprador nem sempre é quem gosta ou entende do assunto, mas gosta, isso sim, de andar na moda, ter o produto do momento e até se exibir – isso somando aos benefícios que o produto “da moda” lhe trás. Um exemplo clássico são os celulares. Hoje as pessoas compram celulares caríssimos que, se bobear, vem até com raio laser imbutido. Ninguem usa nem 1% das funcionalidades desses celulares, mas gostam de simplesmente “ter” o produto. Acho que mais uma questão de status e de aceitação social. Aqueles caras que você sempre cita – Kant, Kierkgaard, Schopenhauer – devem saber mais do assunto do que eu.

    Eu digo isso porque já fui assim. E hoje sou, hã, “retrogamer” por causa disso. Quando gurizão eu comprava todo mês diversas revistas de jogos, sabendo que dificilmente eu mataria aquela ânsia por jogar aquilo tudo. Com o advento dos emuladores, eu pude matar aquela ânsia antiga e além disso descobrir novos jogos. Era do tipo que baixava 500 jogos e ia jogando um pouquinho, um a um. Foi divertido, mas foi uma fase que passou. Hoje jogo mais games clássicos e me dedico mais, tentando me aprofundar, ou seja, comer o jogo com uma colher pequena. Mas a origem disso estava na ânsia consumista que não foi saciada lá atrás, quando eu só lia os jogos que queria jogar.

    Acho também que, nessa de fazer jogos retrô, está uma certa busca de identidade. Uma fórmula perdida para agradar a todo o tipo de jogador: o que anseia por novidades e o que sente falta dos jogos antigos. Creio que isso mina um pouco a criatividade. A verdade é que a evolução da tecnologia deixou as possibilidades criativas tão grande que é difícil tomar um rumo. Na era 8bits, a limitação do console ajudava no processo criativo, porque os programadores sabiam que não poderiam dar vôos tão altos, então eles tinham que ser inventivos para poder proporcionar novas experiências. Agora o desenvolvimento de jogos é algo praticamente ilimitado, é tanto recurso para se utilizar que é complicado ter um ponto de partida. E isso reflete nos jogos atuais.

    Acabei fugindo do assunto, mas é isso aí. Mais um belo post para fazer a gente pensar. Parabéns.

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  • 26/04/2011 em 12:34 pm
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    No inicio dos anos de 1990 com o lançamento dos discos do Metallica(Black Album) e Iron Maiden(Fear of the Dark) o Heavy Metal esteve na moda, os discos ficaram mais acessiveis (não precisava ir mais a galeria do rock eu comprava eles em supermercados)e fora a mulherada que começava a caçar cabeludos, o Heavy Metal deixou de ser “marginal” para ser “legal” e hoje bandas como Slayer tem holofotes em paginas do G1. Moda é uma fase e quem “ja esta na moda a muito tempo” pode tirar proveito desta fase, a fase retrô vai passar, mas vai abrir portas para outras possibilidades. Hoje é engraçado ver garotos de 20 anos usando camisetas do pac-man e dos space invader por que é “cool” e não por que curtiu a época (hoje é quase uma ideologia)meu primeiro video game foi um Odyssey e evolui até o PS3, jogo desde 1984 e hoje me chamam tb de retrogamer, mas só sou somente um jogador que esta aproveitando a “moda” “criada” por esses jovens. Ela vai passar eu estarei aqui ainda jogando sonic, mario, megaman, Yo! Noid, power blade, SOR, Golden Axe, Final Fight e por ai vai

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  • 26/04/2011 em 3:25 pm
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    @Hopefull

    Cara, concordo com você em número, gênero e grau…..desse tipo de retrogamer eu tenho um pouco dos dois que você citou, pois gosto dos jogos antigos e sinto falta do clima e da magia daquela época maravilhosa…a única exceção é que com um jogo de 89 eu me divirto muito mais do que com um jogo da atual geração…..XD

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  • 26/04/2011 em 7:21 pm
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    Muita gente falou algumas coisas que eu também penso então eu posso acrescentar o seguinte : Que moda é uma faca de dois gumes !
    Ah, mas porque ? Vivemos num mundo capitalista em que se você piscar o olho um instante, perde a oportunidade de fazer um dinheiro fácil. E temos o saudosismo das pessoas que gostariam de reviver certas emoções de suas épocas preferidas, aí pode ser a vontade de jogar um arcade do Pac-Man, curtir a sonoridade de uma Fender Stratocaster de 1969, dirigir um Fusca 1968, curtir um vinilzão do Steve Ray Vaughan, as possibilidades são infinitas praticamente. E aí entra a “indústria retrô”, com a idéia de vender o saudosismo de alguns como a mais nova onda de muitos.

    Acho que a alusão à Frankenstein está mais do que adequada, porque é isso mesmo ! O que estava morto, é reanimado, volta à vida por um capricho de seus “criadores” ou necessidade mesmo de fazer um dinheiro.

    Mas esse efeito é mais interessante nas artes, e nisso eu englobo os games, porque a arte tem início, mas não tem fim, tem evoluções de uma mesma tendência, tem misturas para formar uma nova, mas o antigo continua com seu lugar marcado, nunca perde seu posto. Isso a gente vê com a música clássica, o estilo musical é secular, e nem por isso “morre”.

    Sobre trazer os games antigos de volta, e eu vou dizer isso do ponto de vista de jogador mesmo, acho que é porque a fórmula 2D é algo que nunca vai morrer. Muito game de plataforma quando foi para o 3D, não foi muito bem, não ficaram ruins, mas a fórmula do game de plataforma, estilo Mario Bros., é algo insubstituível. Tem muitos remakes bem legais em 3D, mas com o mesmo estilo plataforma, visão lateral como Bionic Commando Rearmed, Trine (Esse não é remake !), New Super Mario Bros., Sonic 4… Só para citar alguns. Mas comparar com um game do mesmo estilo da era 8 bits, não tem como, a dinâmica é outra !

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  • 26/04/2011 em 7:32 pm
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    Este tema é bem complexo. Uma coisa que me interessou para comentar foi o caso Mega Man 9.

    Primeiro eu faço críticas aos jogadores: Vi muita gente alegando que a Capcom foi preguiçosa ao fazer Mega Man 9 porque seu conteúdo simula as tecnologias da geração 8 bits. Em primeiro lugar, acho que criar gráficos e sons tomando o máximo de cuidado para ficar similar aos Mega Man antigos deve ter dado mais trabalho do que fazer uma nova versão usando uma engine 3D qualquer e ferramentas modernas.

    Já a Capcom na minha opinião foi infeliz em incluir o Mega Man 9 na linha do tempo principal porque o game foi muito mais uma homenagem do que uma versão oficial da série. Sinceramente, não consigo olhar para Mega Man 9 e sentir que ele está inserido na mesma linha principal terminada por Mega Man 8. Até o Mega Man e Bass é oficialmente um spin-off e possui muito mais elementos inovadores para ser o oitavo.

    Não nego que criar Mega Man 9 como um jogo de Nes foi uma sacada interessante. Mas este jogo quebrou o ciclo de maturidade que a série estava ganhando com o 7 e posteriormente o 8.

    Mega Man 9 parece querer mostrar que o Mega Man 7 e o 8 são menos importantes porque são mais evoluídos. Porém, para a história da franquia, todos são importantes. Todos são clássicos e possuem seu valor retrô. Cada uma das versões tem seu valor histórico porque eles representavam a tecnologia e game-design de sua época. Mega Man 9 pisa em cima disso tudo. E por causa disso, me arrisco a dizer que Mega Man 9 nunca será visto como um game importante.

    E o pior é lançarem o 10… Eita Capcom! Poderiam pelo menos se esforçarem para unir o universo do Mega Man com o do Mega Man X. Aí sim esses jogos seriam marcantes.

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  • 27/04/2011 em 11:53 am
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    Muito Legal eu sou os 2 tipos também, amo jogar os games antigos e games atuais…é muito bom lembrar os tempo que passou, ver uma coleção de games antigos é arrepiante, até de fotos de lojas com games a venda na época regalmente encotrada em revistas antigas…eu sempre adquiro jogos antigos para minha coleção! pura saudade!!!

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  • 29/04/2011 em 1:52 pm
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    Para variar, atrasado de novo. 🙁 Perdoem-me, sim. Mas vamos lá!

    @leandro(leon belmont)alves
    Sim, muitas pessoas compram mais para relembrar uma época que gostavam; e outros justamente por ser algo na moda. É só ver o bando de jovens comprando coisas com aparência de aparelhos dos anos 1950, por exemplo (de toca-discos a geladeiras hehe).

    @J.F. Souza
    E devidamente re-comentado. 🙂

    @Hopefull
    Interessante isso que disse sobre o ambiente. Porque isso é realmente o cerne de todo jogo. Há muita coisa em jogo além de você mesmo quando liga um videogame qualquer. Às vezes nem sabemos a quais elementos damos mais importância até que o percamos. Por vezes, a companhia é o que faz a diferença. Isso acontece comigo até hoje que só jogo FPS com amigos (acho que só os clássicos eu jogava sozinho mesmo e, mais recentemente, o Borderlands).

    ah, eu até gostei de Chrono Cross. 🙂 na verdade, eu não esperava nada dele (achava que era só mais um monte de personagens juntos em um game só, sem enredo decente etc.), mas me surpreendi (no bom sentido). O personagem principal é meio sem graça mesmo, mas para alguém como eu que não dá a mínima para os protagonistas, isso não incomodou. hehe Eu gostei mais das discussões que eles trazem sobre mundos alternativos e os problemas causados pelas viagens de Crono e cia.

    Bom jeito de testar alguém que joga games velhos mesmo! hehe Só precisamos saber qual jogo usar já que, embora eu goste de vários jogos de 1989, eu não gosto de outros. hehe Seria considerado um falsário se me dessem logo um game que acho chato para jogar? huahuahuauaha É uma possibilidade. hehe Que tal vários jogos diferentes, baseados em uma consulta prévia a preferência de estilos ou algo assim? 😀

    @Onyas
    Sem dúvida. Existem pessoas que compram por comprar e para se mostrar superiores ou se adequar a um grupo que exerce alguma pressão. Isso acontece ainda hoje com fumantes (não todos, claro), para ficarmos em somente um outro exemplo mais comum. Quanto a celulares, eu sou um dos que só se preocupam se ele faz ligações; se faz, beleza. Só troco se parar de fazer ou se me derem um novo sem eu pedir.

    Eu passei por algo muito semelhante a você cara… Tive uma época em que queria “ter” tudo de determinadas coisas. Fazia listas de jogos que queria comprar para os mais diversos sistemas e coisas do tipo. Hoje, eu sinto que realmente mudei e fico muito contente com isso. Jogo aquilo que me dá vontade e, embora ainda queira comprar uma coisa ou outra, peso muito bem antes de decidir fazê-lo. Como falou, é muito mais importante se jogar de verdade em um único jogo do que ficar jogando aos poucos cada um. Imagine um cara que “joga”, ao mesmo tempo, Xadrez, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Palavras-Cruzadas, Damas e Gamão. Isso é alguém que “joga” vários games simultâneos sem se interessar de verdade por nenhum deles. Claro que podemos jogar dois jgoos ao mesmo tempo (por exemplo, um RPG e um outro mais “leve” para descansar), mas há certo limite nisso senão nunca voltaríamos ao “mundo real”.

    Pegou em um ponto chave. A indústria faz jogos pensando em um público-alvo que quer agradar. A volta dos retrogames surgiu como uma resposta ao anseio dos jogadores mais velhos (ou mais novos que gostam de coisas antigas) por algo mais “original” (no sentido de próximo à origem). E a quantidade de consumidores pesa muito mais nas decisões do que se o jogo é divertido ou não. E aquela coisa, algo “retrô” acaba sendo muito mais nos gráficos e no áudio (como chiptunes) do que propriamente em outros aspectos.

    Não fugiu do assunto não! hehe Estes voos que são interessantes porque me ajudam a pensar uma série de coisas que passa despercebida. E também é bom para quem lê os comentários (que nem deve ser muita gente, mas tudo bem 🙂 )

    @Marcelo
    Bem lembrado. Tem muita gente nova que usa camisetas e roupas com temática gamer só porque é “cool”. Legal seu posicionamento de não ligar com um rótulo porque sabe que a moda vai passar, mas que seu gosto por jogos mais antigos vai continuar a mesma coisa. Eu penso exatamente a mesma coisa. Aidna que parassem subitamente de produzir games no mundo, isso me afetaria muito pouco: continuaria jogando o que temos disponível.

    @Hely
    hehe Isso é bem verdade. Tem jogos novos que não têm a menor graça. E em proporção maior porque saem muito mais jogos hoje em dia do que há vinte anos atrás.

    @Flávio de Oliveira
    Falou bem. É exatamente isso. Não vêem isso como um sentimento saudável e comum,mas como um meio de ganhar dinheiro. É a capitalização de um gosto pessoal. “Você quer? Beleza, mas tem que pagar por isso.”

    Quanto às artes, o interessante é que houve sempre um retorno a desenvolvimentos mais antigos e até mesmo cópia descarada (basta pensar no Renascimento com relação à época clássica). Mas é diferente de “fazer moda”; dizer que colunas gregas e estátuas de homens nus estava “na moda” na Renascença é não entender o que se passou lá. É uma “repetição” no sentido de “reapropriação” que, inclusive, é essencial a todo e qualquer jogo.

    Concordo plenamente com o que falou sobre o 2D e o 3D. tem jogos que funcionam melhor 2D do que 3D. Isso é o que muitos designers não percebem: a importância da coerência entre tudo que é colocado para estar em jogo. Não devemos fazer um game 3D só porque todo mundo faz, mas porque faz sentido fazê-lo deste modo.

    @Fernando Lorenzon
    Com certeza deve ter dado trabalho. Pelo menos é o que eua cho também; não tem como saber como a Capcom fez isso a não ser que alguém de lá nos diga. No mais, interessante sua posição; eu sou meio leso com relação a Mega Man (só joguei um pouco aquele de Mega Drive), mas entendo o que quer dizer com relação a maturidade e tal (já que o sétimo e oitavo jogos possuem gráficos melhores e tudo mais – cheguei a jogar dois minutos do oitavo certa vez).

    Ei, se unissem Megaman com Megaman X ficaria muito interessante! hehe Na verdade, podiam até ter aproveitado o nono jogo para fazer isso já que 10 é igual a X mesmo.

    @Mateus
    Ah, estas fotos em revistas são muito boas mesmo. hehe Sinto muita falta de ir à locadora.

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  • 29/04/2011 em 7:17 pm
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    @O Senil
    ‘…“repetição” no sentido de “reapropriação”…’

    Exatamente, você definiu melhor o que eu quis dizer ! Dos games que citei, alguém que não viveu a época do auge desses games, certamente não vai entender o porque de games side-scrolling em 3D ou mesmo esses demakes que vemos por aí, “estarem na moda”.

    Eu vejo essa reapropriação com o Trine mesmo, por exemplo. O game é novo, tem gráficos 3D belíssimos e porque um side-scrolling ? Porque os game-designers decidiram usar a dinâmica e a jogabilidade de um game 2D. Porém, eles deram o toque de atualidade não só nos gráficos mas também na física do game, o que seria inviável à 20 anos atrás dado o trabalho que daria para desenvolver um “mero” side-scrolller.

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  • 29/04/2011 em 9:27 pm
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    @Flávio de Oliveira
    Trine é um barato mesmo! Um amigo meu comprou e tive a oportunidade de jogar em três pessoas.

    Essa reapropriação é interessante não só pelo fato de retomarmos coisas para novos jogos, mas também para experimentarmos jogos velhos como novos. Ou seja, ao repetirmos um jogo, ele se renova. O bom jogo é aquele que clama por repetição (neste sentido que trouxe). A indústria tenta fazer o inverso disso e promove uma repetição constante em jogos novos; ou seja, é sempre preciso conseguir um jogo novo e não repetir o mesmo.

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  • 30/04/2011 em 7:31 am
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    Eu não acho que games antigos vão entrar em moda a ponto de perderem toda a história e tradição. Quem compra consoles antigos devem ser os gamers, e eles sabem pelo menos um pouquinho da história e tudo o mais. E acho que uma vitrola é esteticamente mais decorativa que um atari =P

    Aliás, antes de conhecer este blog eu nem sabia que existe toda uma retrosfera aqui na internet! E por falar nisso, Senil, outro dia eu questionei por que você não tem twitter e o Gagá falou que é porque você é senil, lol. Falando sério, é porque você é ocupado, né? Mas se você tiver uns tempos livres ocasionalmente, faz um aí!

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  • 30/04/2011 em 3:51 pm
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    @Patty K
    Concordo… Psicanálise voltada para games !
    O Senil é o único que conheço que faz algo assim no meio gamer sem ser aquele clichê do tipo : “games fazem mal ?”, “vamos provar que games aumentam a percepção motora !” ou “vamos pesquisar se games estreitam os laços sociais.”, entenderam o que eu quis dizer ?

    É a análise dos gamers, feita por um gamer. Acho que esse é o diferencial.

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  • 30/04/2011 em 5:50 pm
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    @O Senil
    Correto Senil, com direito a escolha dos jogos! Esqueci de acrescentar esse detalhe. ^^
    Só por curiosidade, Senil.. você já escreveu (ou pretende) algum livro sobre games? Adoro teu estilo de escrever cara, tu manda muito bem!

    Abraço rapaziada!!

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  • 01/05/2011 em 12:25 pm
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    @Flávio de Oliveira
    É verdade, normalmente quem faz uma análise assim dos games ou fala que os games vão te transformar em um assassino ou fala que os games melhoram mil e uma habilidades suas. =P Mas o Senil sempre faz umas reflexões complexas muito interessantes!

    A propósito, Senil, olhei por acaso o spam folder do meu blog agora e achei seu comentário lá, com mais três outros comentários não-spam O_O Meu filtro pisou completamente na bola dessa vez… Cowboy Bebop tá na minha lista de anime pra assistir há tempos. E vou ver aquele outro que você sugeriu também, valeu!

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  • 01/05/2011 em 10:07 pm
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    Por um milagre, minha internet resolveu colaborar direito após uns três dias de oscilações bem chatas… Espero que dê tudo certo até responder tudo. 🙂

    @Patty K
    O que me preocupa nem é tanto a moda enquanto, mas o fato de ser algo bem imediato mesmo. Algo que só se sustante por certo tempo e depois desaparece. Acho que nós podemos manter isso vivo mesmo que todas as empresas de games fossem à falência, mas para passar adiante, é necessário algo mais. Os games hoje são feitos para durarem pouco mesmo; o que é uma pena.

    hehe Na verdade Patty, eu sou um ocupado desocupado (com ênfase neste último). Estou desempregado, mas fico o dia todo em casa escrevendo (ficção principalmente nos últimos tempos) e lendo (uma porrada de coisas diferentes). Queria até conseguir algumas aulas para dar, mas ainda não tive a oportunidade.

    Não uso twitter porque acabo me ocupando destas outras coisas que falei e fico meio sem tempo… Não queria usar por usar, mas se tivesse algo a contribuir mesmo ao invés de só ficar seguindo gente. Mas vou pensar com carinho, tá? Eu prometo. 🙂

    Respondo seu outro comentário mais abaixo para manter a ordem em que os recebi, beleza?

    @Flávio de Oliveira
    Ei, psicanálise não! 😀 Não sou muito fã do Freud e seus dissidentes. Minha abordagem em psicologia é outra; só cito esses caras para discordar deles. hehehe

    Valeu pelos elogios! Fico lisonjeado e contente que gostem da coluna e das minhas provocações. Era isso que queria desde o começo: fazer com que vocês pensassem em coisas diferentes. E fico alegre quando percebo que estou tendo sucesso.

    Não queria mesmo que soasse repetitivo. Mesmo gamers que escrevem coisas parecidas (em sites famosos ou não, academicamente ou não) costumam querer defender o que gostam com tanta garra que acabam se cegando para aquilo que ele realmente nos mostra. Evitar esse ofuscamento é uma de minhas prioridades.

    @Hopefull
    hehe Sem crise! Já testou isso com alguém? Queria saber de algum resultado se tiver algum. 😀

    Cara, não escrevi um livro ainda não. Tipo, não de games especificamente. Como falei para a Patty, tenho escrito bastante ficção ultimamente. Mas meus professores na banca do mestrado sugeriram que eu transformasse minha dissertação em um livro; só que precisaria acrescentar um capítulo. E como sou um tanto chato com a escrita, não acho que está bom ainda. Mas eu prometo que se eu publicar alguma coisa neste sentido (ou em qualquer outro, quem sabe) farei com que todos vocês sejam os primeiros a saber.

    E valeu pelos elogios também! A escrita é a arte a qual mais me dedico de uns tempos para cá. Sei que não sou muito bom ainda: sempre precisamos melhorar.

    @Onyas
    Quando terminar de ler, não esqueça de me dar um feedback! 🙂 Acho que pouca gente vai passar todas as duzentas páginas dele mesmo (ou pelo menos a parte específica de Phantasy Star). Estou pensando em um projeto de doutorado agora também… Vamos ver se sai algo legal.

    @Patty K
    Valeu pela força Patty! Não queria mesmo cair no lugar-comum destas discussões. Há muita coisa a se pensar quando damos atenção a games e jogos de modo geral.

    hehe Não tem problema! Isso acontece comigo às vezes também. Na verdade, tem vez que só recebo um e-mail dias depois dele ter sido enviado… Vai entender… Cowboy Bebop é espetacular. Foi a primeira vez que realmente parei para ouvir jazz e blues. Curiosamente, foi esse anime e o CD com arranjos de jazz da trilha de Chrono Trigger (chama Brink of Time). Só assisti a série por causa da trilha sonora e não me arrependi. Pode passar na frente dos outros nomes da lista; acho que deve gostar bastante.

    Ah, e eu vou caçar ainda o que me recomendou. Gosto de pegar uma série e ver tudo de uma vez no mínimo de dias possível. Quando visualizar uma folga assim no horizonte, eu faço isso.

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