“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

O tema programado para essa semana nem era esse, mas quis aproveitar algo que foi discutido durante esses dias e trazer um assunto mais contemporâneo para esse nosso espaço.

Certamente ouviram falar ou tiveram acesso a alguns novos comerciais do 3DS da Nintendo cujo mote é a frase “I’m not a gamer” que, em português, ficaria: “eu não sou um jogador (de videogame)”. Essa propaganda acarretou discussões acaloradas entre defensores ardorosos da Nintendo e outros que a consideraram como uma ofensa.

Seja como for, o que me chamou a atenção nesses eventos não foi o fato de ter sido a Nintendo, ou até mesmo a reação das pessoas diante desse comercial: é uma outra coisa que é o que quero discutir com vocês.

Já conversamos aqui a respeito do uso de eufemismos para designar coisas que seriam reprováveis com seus termos mais corretos. Usamos vários durante toda nossa vida como, por exemplo, a expressão “melhor idade” para descrever idosos. Entre games isso não poderia ser diferente e um dos mais corriqueiros é dizer que videogame é arte. O uso dessa troca está tão enraizada em nosso discurso que parece até estranho refutá-lo. Já tratamos disso também e não pretendo me alongar demais sobre isso: basta que saibam que hoje usamos “arte” no sentido quase que exclusivo de “belas artes” e isso prejudica a compreensão do que é videogame.

“Jogo” é algo que a partir da era moderna (embora principalmente com a Revolução Industrial) passou a ser visto como supérfluo e perda de tempo. Era preciso produzir, mas jogos e brincadeiras não produziam nada. Portanto, é muito melhor socialmente hoje ser visto como um “apreciador de arte” ou “artista” do que “jogador de videogame”. Analogamente, é melhor você gastar seu tempo com algo que “melhora o raciocínio”, faz você “ser mais inteligente”, “melhorar reflexos” etc. É preciso que o jogo tenha alguma utilidade e sua aceitação é mais ampla quando surgem pessoas defendendo o game como “obra de arte”.

E isso explica boa parte do apelo do comercial em questão e que para mim é o elemento crucial a ser pensado. Afinal, sob essa perspectiva, o comercial não diz nada de diferente do que já dizemos de uma maneira ou de outra quando queremos defender nossa atividade para outros. “Não é só um jogo, mas algo além disso” com certeza alguns de vocês já disseram a alguém que tenha desdenhado daquele seu esforço de meses para terminar um game dificílimo. Ou aquela famosa propaganda nacional de Master System em que se dizia: “é só um jogo, mas poderia ser verdade.”.

Isso é perigoso porque buscando dizer que “um jogo é mais do que um jogo”, além de não fazer o menor sentido, nós esquecemos o que de fato um game é. Decerto que um game é diferente de bolinha de gude e gamão, mas ainda assim é um jogo e sua diferença não é ser algo além de todo jogo: não é o essencial que se altera. Um jogo simplesmente é o que é e da maneira que se apresenta: nem mais e nem menos.

Ainda assim, esses comerciais (um deles em especial) fez com que eu reparasse uma outra coisa também. Em um dos comentários, uma pessoa diz, à sua maneira, que dizer que somos um “colecionador de moedas” é igual a afirmar que somos “jogadores”. Quando estamos jogando, preocupamo-nos apenas e unicamente com a tarefa que o jogo nos coloca e, em certo sentido, não nos identificamos mesmo com um “mero” jogador. Quando assumimos a tarefa do jogo como nossa, nós nos deixamos levar por um mundo que orienta toda a nossa atividade em prol de um objetivo. Contudo, o fato de buscarmos moedas, ou um xeque-mate porque o jogo pede não nos exime da responsabilidade de sermos “jogadores” (no sentido de sermos jogados que já trabalhamos aqui).

No outro comercial, em que uma moça diz que não é jogadora, mas uma artista, nós caímos em um outro terreno próximo a este dos eufemismos: os “falsos jogos”. Nem tudo que sai para um console e portáteis é jogo. Para Mega Drive temos o Art Alive, para Sega CD temos uma enciclopédia e por aí vai. Embora não tenha jogado o Art Academy, estou supondo que, nesse caso específico, eu até diria que o comercial está completamente correto porque nossa artista não joga coisa alguma porque ali não há um jogo definido.

Se eu sou ou não um jogador? Sim, eu sou. Mas quando estou realmente jogando, isso nem passa pela minha cabeça porque o que nos importa é a tarefa que o game nos coloca. Ser jogador (ou melhor: ser-jogado) não é algo de menor valor do que ser “colecionador de moedas” ou artista.

É isso que queria trazer para vocês essa semana! Até o próximo post!

Academia Gamer: Não sou jogador
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42 ideias sobre “Academia Gamer: Não sou jogador

  • 23/10/2012 em 8:15 am
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    Eu não havia parado pra pensar nisso, realmente faz sentido a Nintendo querer passar a imagem de q jogar num console dela é como apreciar uma bela arte e não simplesmente “jogar”.
    Ainda acho um tanto agressiva a frase “não sou jogador”, mas agora, com a sua explicação, ela fez mais sentido.

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  • 23/10/2012 em 10:28 am
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    Não havia visto essas propagandas, achei bacana. E só para acrescentar, com essa tendência dos consoles serem cada vez mais centrais de entretenimento, a utilização de vídeo games para outras coisas que não sejam jogos cresce e a frase “não sou jogador” já nem tem mais tanto impacto assim.

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  • 23/10/2012 em 12:14 pm
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    eu vi os comerciais e pensei:

    mas o que é isso? WTF?

    o que achei mais sem noção foi a da “tal artista” se ela é uma amante das artes como se diz ser, porque comprou um 3DS? um IPhone faria o que foi mostrado no vídeo e até mais se duvidasse. mas claro, a Nintendo fez isso para atrair o pessoal que não joga video games com frequência, mas digamos que o comercial que citei fosse real. se ela não curte games, apenas desenhar. o 3DS teria uma vida longa nas mãos dela? não sei se o portátil da Nintendo tira e transfere fotos, baixa músicas, vê vídeos,acessa redes sociais e internet e entre trocentas coisas que o Iphone mais barato faz, mas se fizer, é um excelente portátil. mas geralmente, algo assim é feito para jogar e nada mais.

    claro que tem a conversa de um console ou portátil pode acessar as redes sociais e mais. porém isso pode influenciar o desempenho. o PS2 podia jogar e assistir DVD nele lembram? mas tinha que escolher entre um e outro, pois se assistisse DVD no console da Sony, os jogos não iriam rodar normalmente. e então, qual escolher?

    e sobre games serem arte…de acordo o que o Grande Nerd havia me dito uma vez sobre isso e concordo com ele. vídeo games games não são arte…ao menos ainda não, pois é uma mídia muito jovem e ainda não alcançou seu maior potencial. não importando o jogo, se não puder ser jogado com um minimo de decência, o tal conceito artístico, nem sequer existirá.

    faz muito sentido(ao menos para mim) esse pensamento. games não são quadros ou estátuas em museus, se não joga-los, como a arte do game se manifestará? se deixarmos parado, vai ser apenas imagens ou vídeos passando com o tempo, não um game.

    a não ser que realmente entrarmos num game por dentro e vivencia-lo. como uma fase do Mario, por exemplo.

    Hee-Hoo Mestre Senil

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  • 23/10/2012 em 4:43 pm
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    Se vc olhar bem a Nintendo colocou o nome do primeiro portátil de Game Boy ou seja em boa tradução “Jogador”. Eu estou começando a queimar no golpe com a Nintendo só fala e faz besteira comprei um 3DS e fiquei puto com essas declarações sou um “GAME BOY” poxa

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  • 23/10/2012 em 7:39 pm
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    Concordo com sua visão Senil em relação a jogar e complementando, os universos particulares que levam as pessoas para mundos distintos, que nos transformam em heróis salvando princesas, estimulando e transformando a imaginação e a criatividade das pessoas são mais permanentes do que os rótulos, conectando emocionalmente a este modo de entretenimento tão divertido.

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  • 23/10/2012 em 7:46 pm
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    E aí beleza?

    não costumo portar comentários pois leio off line no celular, e estou escrevendo dele agora… Mas a muito tempo fico pensando nisso do game como arte e acho sim que pode ser considerado.

    Estudo teatro a um tempo, e dentro da tradição teatral se considera o teatro um jogo. Um jogo que se cria entre a relação dos atores em cena e mesmo em relação a plateia. O “fenomeno teatral” ocorre sempre no espaço entre os atores e a plateia. Creio que algo bem parecido ocorre com os jogos, especialmente os mais imersivos como ico.

    Realmente gostaria de conversar isso contigo,

    falou

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  • 23/10/2012 em 8:22 pm
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    No primeiro comercial, há jogo, já que a moça está jogando Mario. No segundo, tal como o Mestre também não vejo um jogo.

    E daí, Nintendo? A ideia é vender 3DS pra quem tem preconceito contra o videogame “coisa de nerd gamer”?

    “Ops, estou comprando um 3DS, mas não sou gamer, só gosto da arte digital ali”. Vai queimar o filme com os gamers e os não-gamers não vão comprar só por causa do novo rótulo.

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  • 24/10/2012 em 1:10 pm
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    Jogos são apenas jogos. Uma forma de entretenimento, um passatempo: nada mais do que isso. Não vejo muito sentido nesses esforços de colocá-los em um patamar maior, nessa ânsia em conseguir maior aceitação social para um simples hobby.

    Por sinal, não vejo isso acontecer somente com os jogos. Quadrinhos e outros elementos da chamada “cultura nerd” também passam pelo mesmo processo.

    Parece que precisamos encontrar algum motivo lógico, alguma explicação socialmente aceita para a nossa paixão. Caso contrário, ela se torna inválida. Pra quê?

    Eu sempre vou gostar de videogames. Sejam eles “brinquedos de criança” ou uma “forma de expressão artística inserida num determinado meio cultural”. Isso não importa.

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  • 24/10/2012 em 9:27 pm
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    Hélio,

    Sentido até faz, mas eu ainda acho que não é muito correto simplesmente pensar que “um jogo é mais do quem jogo”. A grandeza de um game está justamente no fato de ser isso e somente isso.

    Rafa Tchulanguero Punk,

    Com certeza! E isso nem é de hoje. Desde muitos anos que tem havido essa pretensão (mesmo antes dessa “fusão” que vemos entre consoles e computadores), mas isso é bem mais claro hoje.

    O problema nem é esse para mim. Um console é o de menos: o que conta é o jogo de fato. “Videogame” não é, a grosso modo, o hardware, mas o software que depende dele.

    O engraçado é que sempre que penso nisso, me recordo de uma velha história do Zé Carioca em que um dos amigos dele compra um relógio e começa a elencar todas as funções dele (temperatura, pressão atmosférica, rádio etc.). Daí o Zé pergunta: “E para ver as horas, como faz?”. E seu amigo não sabe responder. hehehehe

    leandro(leon belmont) alves,

    Pois então! hehehe

    Olha, essa coisa de “no futuro videogames podem ser arte” é complicada para mim também… A arte pode ser compreendida como jogo, mas não o contrário. Ver os videogames apenas como uma mídia (um meio, um instrumento) é enxergá-los não como um mundo que nos envolve, mas como uma ferramenta para mostrar alguma coisa a alguém. E eu, sinceramente, não quero ligar um console para ver alguma coisa apenas como vejo um quadro, um filme, ou escuto música. Quero outro tipo de jogo e não esses representativos que, claro, têm seu valor, mas não são “superiores” ou a “evolução progressiva” de formas anteriores.

    Agora, eu concordo completamente com o que disse logo em seguida: games em museu não são jogos já que são experimentados de uma maneira diferente daquela para a qual foram pensados originariamente. Mas em seu exemplo de passar um vídeo do game e tal é um modo de manifestar a arte do jogo por assim dizer. hehe Por exemplo, ouvir a trilha sonora de um game é retirar um elemento daquele mundo que podemos habitar temporariamente e contemplá-lo como belo (ou seja como uma obra de arte). Ouvir a OST de Streets of Rage é um jogo (representativo e/ou artístico), mas não é “o” Streets of Rage que jogamos no mega Drive, por exemplo.

    Edmar,

    Isso foi um elogio, ou não? huahuahuahuahuahuaha Fiquei em dúvida agora. hehe

    leandro(leon belmont) alves,

    hehehe É o que sempre digo cara: pensar dói, mas é bom! huahuahuahauhauha

    Ricardo (FisherDs),

    O jeito é ignorar e aproveitar o 3DS com os jogos que ele possui. Propaganda é feita para vender jogos mesmo: se ele é bom de fato ou não, só a experiência direta (ou uma conversa honesta com alguém confiável) é que vai dizer.

    Tiago de Souza,

    É assim mesmo! Cada game é um mundo e nos oferece uma tarefa específica que cabe a nós escolhermos se queremos ou não seguir aquilo ali.

    João,

    Por um acaso você é o mesmo João da comunidade de Phantasy Star do Orkut? Se for, trocamos umas palavrinhas por lá. hehe

    É bom saber que tem lido, mas poste sempre que puder! Os comentários são o essencial aqui da Academia Gamer!

    E o teatro certamente é um jogo! Ele compreende não só os atores, o cenário, os objetos, o roteiro, as músicas e feitos sonoros (quando existem), mas também e principalmente a plateia. Na realidade, esse é um tipo de jogo em que o público é imprescindível: todos os que estão no palco sabem que têm que envolver o espectador de alguma maneira e é nele que o jogo teatral assume seu mais verdadeiro sentido.

    Quer que te mande um e-mail? Tenho aqui o que usou para postar o comentário: se quiser, eu mando um para você e agente troca algumas figurinhas!

    Daniel Lemes,

    hehe Sim! A ideia do comercial é bem essa mesma: atingir um outro público e vender mais 3DSs por aí. Mas é aquela coisa também: muitos ditos gamers apenas procuram jogos pelos seus elementos estéticos: depois que terminam, não dão mais bola e tão logo seja lançado um remake do mesmo jogo, não tocam mais no antigo porque os gráficos/música/jogabilidade etc. estão “datados demais”…

    eEUcomISSO [tassio bruno],

    huahuahuahauhauhauhauha Cara, pior que nem estava pensando no Heidegger! hehehe Mas como sou fenomenólogo, é bem capaz de ter algo dele aí. hehehe Vou até reler para verificar isso! hehe

    Bom saber que gostou do texto!

    Oztryker,

    Olha, de graça eu até gostaria de um. Tem alguns games bacanas para ele. Embora o maior atrativo dele (o tal “3D sem óculos”) nem me chame muito a atenção para ser sincero. Um DS comum já me seria suficiente.

    Rafa Malaman,

    Exato! No caso dos quadrinhos é aquela coisa de chamar HQs “superiores” de “graphic novels”. Dizer que Sandman é um gibi então pode levar você a ser morto de pancadas. hehehehe O mesmo acontece com os quadrinhos japoneses (“mangá é diferente de gibi”) Nas animações temos algo parecido também: chamar produções japonesas de “desenho” é errado porque “é mais que desenho, é anime”…

    Isso vai muito pelo status social de determinada coisa. No caso dos games, um jogo é essencialmente inútil (não jogamos para obter algo fora dele) e em uma cultura pragmática e utilitarista como a nossa, é preciso procurar alguma definição mais palatável. Uma delas pe dizer que é arte porque embora o belo também não seja essencialmente pragmático é algo sem função fora dela mesma mais aceita na contemporaneidade.

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  • 24/10/2012 em 11:28 pm
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    Nintendo sempre foi sinônimo de gamers apaixonados, não!!! Aqueles que amam as continuações pela própria existência do original??? Me desculpem o linguajar, mas a Nintendo não está “CAGANDO EM CIMA DO PRÓRIO CÚ” , nestes casos expostos ????? (OFF TOPIC) Falar que seus jogos são para NÃO JOGADORES DE VIDEOGAME!!!! Justamente a turma que começou a jogar com o NES e o SUPER NES, N64 ???!!!, e que até hoje SUPORTA SEUS LUCROS??? Sei lá viu, mas a grande N esta cheirando a SEGA’ 90s. Epic Fail…

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  • 24/10/2012 em 11:53 pm
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    Calgary, pelo andar da carruagem teremos 2 player na next generation: MS e Sony. E ponto final. E tomara que nenhum dos dois se afunde senão teremos um monoópolio. A grande n esta dando agua, e nao temos um terceiro player, infelizmente.

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  • 25/10/2012 em 1:21 am
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    Não vejo porquê de tanta repercussão.

    Quem joga, vai continuar jogando. A Nintendo, como qualquer empresa, ainda mais do tamanho dela, quer cada vez mais aumentar a sua gama de consumidores. O pessoal acha que só por causa disso vai ser deixado de lado? É engraçado como os fãs da empresa – pois são os que se sentiram mais “tocados”, já que a carapuça serve – sentiram-se enciumados por causa disso. Para mim, no caso, quem torna a palavra “gamer” pejorativa são os próprios que se rotulam dela, numa estranha forma de aceitação social. Não estou dizendo que o pessoal está certo ou errado, só acho que, para mim, isso me soa muito estranho.

    Mudando de assunto, essas propagandas mostram muito do nosso mundo atual, um verdadeiro espelho dos tempos contemporâneos. Cada vez mais as necessidades são fabricadas de forma mais absurda. Quero dizer, a artista precisa mesmo de uma bugiganga dessas? Isso vai fazer dela uma artista melhor? Eu fico desgostoso vendo como cada vez mais as pessoas ficam dependentes da tecnologia. Não sei se sou só eu…

    É evidente que a propaganda em questão é voltada para um público novo, diferenciado, um consumidor em potencial, e o motivo é óbvio: vender mais. Sejamos sinceros, não são os fãs que mais rendem lucros para as empresas de videogames. São uma parcela importante, mais por fazerem propaganda gratuita das empresas do que pelo lado econômico propriamente dito. É só observar o que foi feito nos últimos 10 anos por essa indústria. Jogos com guitarras, wii feet, kinect, DS, e tudo mais é para atrair quem tem poder econômico, no caso, um público em geral. Nesse meio tempo eles mantêm certas tradições para não perderem esse pessoal – os fãs – que, além de comprar, mantêm as atenções voltadas para esse mercado.

    Eu só acho que o pessoal deveria jogar mais e se preocupar menos com propagandas, tendências, rumos, rótulos e tudo mais. Quando uma empresa lança um jogo, não é para te agradar. Há uma pesquisa de mercado por trás, uma estratégia de marketing, todo um esforço coletiva em que o objetivo é FAZER DINHEIRO, e não agradar meia dúzia de gato pingado só porque “somos fãs”. É inocência pensar assim e tolice ficar reclamando, pior ainda é se sentir “abandonado”.

    Caro Senil, não sei se escrevi muita besteira. Isso porque, sinceramente, eu não compreendo esses tempos atuais.

    Falando nisso – e mudando de alhos para bugalhos -, lembro que naquela revista EGM Brasil (ainda existe? Espero que não…) eles ficavam sempre batendo na tecla que “game é coisa para adulto”. Imagina, que dicotômico, pois a maioria que escrevia lá virou fã de videogames quando era pirralho. Mas não é essa a questão. O que eu queria saber é: até que ponto um jogo é suscetível à idade? Poderia ser um tema para um tópico futuro. Digo, claro, não acho legal expor uma criança à violência e sexo. Mas eu gosto sempre de ver os jogos pela sua essência. Um jogo de tiro sempre vai ser um jogo de tiro, mesmo que tenha sangue e cabeças explodindo. Seria, em sua mecânica, como um arco e flecha, pois o objetivo é o mesmo: acertar o alvo, independente da ambientação. Enfim, talvez possamos discutir isso em outro post. Até mais.

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  • 25/10/2012 em 2:44 am
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    Onyas,

    Penso assim também. Até por isso que pensei em trazer para a Academia e discutirmos.

    O interessante é que, como falou, o comercial mostra muito o modo contemporâneo com que lidamos com as coisas, os divertimentos e com a tecnologia. Essa dependência da tecnologia também me incomoda principalmente porque pensam sempre nos meios apenas (ferramentas, utensílios etc.) e o fim começa a ficar sem sentido, ou nem mesmo é comentado.

    Pois é… As empresas de games são empresas e se preocupam com lucros, prejuízos e mercado simplesmente. Eles têm que pagar contas assim como nós. Quem hoje investiria um milhão de dólares em um projeto para agradar fãs quando pode investir metade disso para ter cinco vezes mais lucro?

    Não escreveu besteiras não! Entrou até em um assunto que só apontei bem de raspão no post. hehehe E fico contente por isso porque torna ainda mais interessente a leitura dos comentários (pelo menos para mim hehe). Esse mundo moderno é bastante confuso mesmo e algumas coisas são difíceis de se entender com certeza.

    Sua ideia é interessante! Acho que falamos algo parecido com isso, mas não me recordo se foi em um post, ou em algum comentário. Vou confirmar aqui, mas com certeza é um tema bacana a ser pensado. Será que alguns jogos são preferíveis por crianças, mas “perdem a graça” quando adultos? E vice-versa? Isso faz sentido porque embora tenha brincado muito de esconde-esconde quando criança (e ainda ache um excelente jogo), é algo que raramente vemos entre adultos (embora tenha gente que jogue isso ainda hoje independentemente da idade). Sei lá, foi a analogia que me ocorreu agora…

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  • 25/10/2012 em 8:13 am
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    Senil,

    Acho que no caso da revista era essa questão de dar uma importância maior do que o jogo tem. Dizer que games eram “para adultos” era uma forma de supervalorizar, algo que eu também não concordo.

    Lembro de uma sessão de cartas da revista, onde um dos leitores reclamava do uso de palavrões na edição anterior, pois se preocupava com a irmãzinha dele que também lia a revista. A resposta, para a minha surpresa, era de que a irmazinha nem deveria estar lendo o periódico, por este ser voltado ao público adulto.

    E teve aquela famosa edição “playboy” da revista. Com uma capa – que, por sinal, era de muito bom gosto – exibindo uma mulher seminua, e só, mais nada. Juro que quando vi na banca nunca que imaginaria ser uma revista de videogames, hehe. O pior foi na (famigerada) sessão de cartas da edição seguinte, os editores ficaram ensinuando que o pessoal que reclamava da capa era porque “não gostava da fruto”. Ah, faça o favor. Foi a revista mais escrota que eu já li.

    Mas a questão de ser “adulta” era para dar uma dimensão que os jogos não tem/tinham. Não era uma questão de idade. Lembro sim que já discutimos idade aqui sim. Me veio na memória agora a primeira vez que eu joguei o Alone in the Dark, eu era muito novo e o pessoal mais velho dizia que o jogo não era para mim porque era “muito complicado para a minha idade”. A complexidade traria uma restrição de idade? Então uma criança não deveria jogar xadrez, ou cubo mágico. Acho que todo jogo deve ser experimentado, independente da idade. A resposta ao jogo vai fazer no caso a “seleção natural” e decidir se aquele jogo serve ou não para a faixa etária do jogador. Até porque é outra coisa subjetiva: há pessoas com trinta anos e mentalidade de doze, e vice-versa. Assim como um jogo é apenas um jogo, um jogador é apenas um jogador. Suas características físicas e mentais importam somente a partir do momento em que está jogando, em que há uma experiência. Sem ela, são apenas conclusões precipitadas como “ah, ele é muito novo para esso jogo”, “ah, é muito complicado para ti”, e etc.

    Eita, novamente acabei escrevendo mais do que planejei. Até mais.

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  • 25/10/2012 em 8:19 am
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    Eu acho q um game é sim mais do q simplesmente “jogo”, pois ele não se resume à sua parte de gameplay, mas oferece uma gama de fatores importantes como trilha sonora adequada, direção artística, história, etc.
    Essa abordagem de ser apenas algo lúdico é coisa do passado, da época do SNES/Mega. Jogos tomaram uma proporção bem maior de lá pra cá, inclusive o começo dessa reviravolta foi nesses videogames.

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  • 25/10/2012 em 10:34 am
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    Eu, por minha vez, ainda vejo os jogos de forma mais simples. Para mim, um jogo de tiro não diferente tanto de uma brincadeira de atirar dardos, por exemplo. O que muda é a forma que a nossa imaginação trabalha esses aspectos.

    Ao jogar o Adventure, do Atari 2600, você não vê simplesmente um quadrado andando na tela. Sua imaginação o leva a outros lugares, com labirintos, espadas e tudo mais. Em um jogo como Elder Scrolls essa ambientação já vem pronta, sua imaginação trabalha outros aspectos, mas a base de exploração e aventura continua quase a mesma. Gosto de observar os games pelo seu lado mais primitivo, então para mim a mecânica de jogo, que é propriamente a parte lúdica da coisa toda, se sobressai mais.

    Muita gente me critica por causa disso, mas, por exemplo, tirando a parte superficial, o jogo Gears of War não tem muita diferença do velho Cabal para os Arcades. Claro, não penso nisso quando jogo, apenas me deixo levar, tanto num quanto no outro jogo…

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  • 25/10/2012 em 11:49 am
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    Meu Deus Senil, como me reconheceu por tão pouco????

    E eu que achei que sem meus avatares de homer, chapolin, ou Hiena ia ser quase invisivel…

    Pois bem, sou eu mesmo! gostaria muito que me enviasse um mail para facilitar as coisas, fico pouco no computador, on line por isso quase nunca comento aqui… mas por mail posso baixar, responder e enviar depois.

    Mas continuando… eu penso assim.

    O teatro é um jogo, essa visão é muito difundida no Brasil, sendo que SEMPRE quando se começa a estudar teatro se começa pela Viola Spolin…. e seus “jogos teatrais”.

    No teatro todos os elementos artisticos, narrativos e teatrais estão envoltos neste jogo… mas e se fosse o contrario? E se o JOGO fosse o centro, e esses elementos artisticos narrativos e teatrais o envolvensem?

    esse é o caminho que eu vejo os jogos traçando hoje em dia… começo pessoas que terminaram jogos como God of War, ou shadow of Colossus não pelo “jogo” e sim pela narrativa… Se eu tenho uma obra com um potencial narrativo forte, e a uso de uma forma artistica, por que ela não poderia ser considerada assim?

    Não coloco isso fazendo um juizo de valor… alias, não gosto do termo “gamer” pois assim como a maioria desses titulos (nerds, otaku, Rappers, Roqueiro, carnivoro, etc) ele só serve para excluir os outros desse meio, e afastar os “ortodoxos” de outras novidades que eles poderiam gostar…

    Mas acho que isso é outro assunto.

    Hoje em dia existem jogos de video game que são mais focados na narrativa do que no proprio jogo… isso é bem comum na nova geração, pois eles acreditam ( e para muita gente é verdade) que o mais importante não é o “jogo” e sim a “experiencia do jogar” ou seja, não tem por que um jogo ter uma dificuldade absurda como “contra”, mas sim ter uma fluidez para que o jogador acompanhe a experiencia….

    Jogos como o Final Fantasy XXII por exemplo, criou o sistema de Gambits, que se o jogador se dedicar um pouco em aprender a usa-lo, não precisara “jogar” muito… é só colocar o direcional para cima, e ir seguindo o caminho…. os personagens lutam sozinhos.

    Não acho que o FF 12 seja um bom exemplo de jogo “artistico” mas o conceito está ali. Isso pode ser visto no Ico, que é um gande jogo, mas a verdadeira historia é a sua relação com a Iorda. A construção da narrativa entre os dois é tão ou mais interessante do que a serie de quebra cabeças…

    outra coisa que fico pensando, a definição de “arte” é muito aberta, e dificil aplica-la a um novo genero, as mesmas coisas que consideram um poema do Olavo Bilaque arte, não considerariam uma peça de sombras como arte….

    Mas se pensarmos novamente no teatro, mas especificamente no teatro de sombras, a diferença com um jogo não é tão grande.

    em ambos vc possuem bonecos construidos para terem um numero X de movimentos e ações, e colocam esses bonecos para interagir com outros bonecos criando uma narrativa e um jogo em relação aos atores/platéia.

    A grande diferença nesse caso é que no caso de um jogo o jogador além de ator também é plateia.

    Bem, escrevi demais, mas gostaria que vc me escrevesse também por mail, pois queria lhe mostrar um projeto de mestrado que eu tenho aqui… vc pode me dar umas dicas!

    Falou!

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  • 25/10/2012 em 12:41 pm
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    Eu jogo o Street Fighter 2 ou o The King of Fighters 98 porque eles são excelentes jogos, apenas isso. Se jogo eles por jogabilidade ou Chrono Trigger por curtir a história, tudo não deixa de ser um jogo. Como os similares Advance Wars e Fire Emblem, embora FE ofereça uma história bem mais rica e desenvolvida ainda prefiro AW por ter um sistema de luta melhor elaborado. Não dá pra querer ficar aumentando todos esses fatores como se fosse falar que não está apenas jogando e sim fazendo algo a mais, porque videogame é isso daí e se está querendo achar esse algo a mais logo deveria ir pintar quadros de verdade e não quadros em um videogame. Acho que é por aí.

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  • 25/10/2012 em 9:18 pm
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    Quem gosta e joga videogames e tem mais de 18 anos é visto pelas pessoas em geral como preguiçosos,alienados e/ou infantis,algo como,”você não teve infancia não?” ou “…quando vai crescer e largar esses brinquedos…?”Enfim,hoje é mais suave esse preconceito,mas ele existe,está aí e garanto que muita gente que acessa este blog não sai por aí falando aos amigos ou colegas de trabalho algo do tipo:
    “-Eu gosto muito de jogar games como lazer” ou pior….”…retrogames”
    Eu sei que um jogo é apenas um jogo,mas quem curte muito um game,além de jogá-lo(claro!),gosta de absorver e admirar todos os seus elementos,como:Música Design e animação,e é neste momento que eu percebo arte nos games também.Não estou dizendo que videogame é arte mas é possível sim reconhecer elementos artísticos em vários jogos e esse “reconhecimento” depende da sensibilidade de cada jogador.”Dentro” do jogo não posso me despir da condição de jogador,claro,mas também não posso ignorar a beleza dos elementos que o compõem.

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  • 25/10/2012 em 9:28 pm
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    João Santiago:

    Hoje em dia existem jogos de video game que são mais focados na narrativa do que no proprio jogo… isso é bem comum na nova geração, pois eles acreditam ( e para muita gente é verdade) que o mais importante não é o “jogo” e sim a “experiencia do jogar” ou seja, não tem por que um jogo ter uma dificuldade absurda como “contra”, mas sim ter uma fluidez para que o jogador acompanhe a experiencia….

    Você descreveu precisamente algo que acontece muito nos jogos atuais,não sei sua opinião sobre estes jogos mas pessoalmente entendo que o -Gameplay- é o elemento maior que deve sustentar qualquer narrativa e nunca o oposto,se a narrativa e a “experiencia do jogar” forem os determinantes num game,então eu prefiro assisitr um bom filme,afinal…joystick na mão pra quê,se eu posso ter apenas o conforto do sofá?

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  • 25/10/2012 em 9:39 pm
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    Calgary:
    …Falar que seus jogos são para NÃO JOGADORES DE VIDEOGAME!!!! Justamente a turma que começou a jogar com o NES e o SUPER NES, N64 ???!!!, e que até hoje SUPORTA SEUS LUCROS??? Sei lá viu, mas a grande N esta cheirando a SEGA’ 90s. Epic Fail…

    Concordo e entendo sua revolta Calgary,espero que a Nintendo esteja “apenas” diversificando seu público-alvo e não mudando o foco e atenção aos gamers de verdade os apaixonados,quer dizer,além de gamers,dona-de-casa e menimas mimadas também poderiam aproveitar algo feito pela Nintendo.

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  • 25/10/2012 em 11:25 pm
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    Pra mim esse parece ser outro capítulo daquele velho conflito “Jogador Hardcore X Jogador Casual”, onde os fãs mais bitolados afirmam que quem joga videogame casualmente não é um “gamer” de verdade.

    Considerando que o público da Nintendo é feito principalmente de jogadores casuais, eles decidiram abraçar a bandeira: “OK, eles não são gamers. E daí?”.

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  • 25/10/2012 em 11:45 pm
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    Detalhe que o primeiro vídeo tem muitos mais dislikes do que o segundo. Fiquei curioso e fui ler os comentários e pelo que percebi é porque a segunda moça é mais “bonita”.
    Coisas como essa fazem me arrepender de não ter virado um monge e viver meditando bem longe. =b

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  • 25/10/2012 em 11:48 pm
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    Dactar,

    Entendo o que vc disse cara, e na verdade até concordo, eu por exemplo não tive saco de terminar o ff12 por isso… mas acho que é possivel encontrar o equilibrio, um bom balanceamento entre eles….

    acho que o Ico é o que faz isso melhor. Shadow of Colossus também.

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  • 26/10/2012 em 12:19 am
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    Dactar: Você descreveu precisamente algo que acontece muito nos jogos atuais,não sei sua opinião sobre estes jogos mas pessoalmente entendo que o -Gameplay- é o elemento maior que deve sustentar qualquer narrativa e nunca o oposto,se a narrativa e a “experiencia do jogar” forem os determinantes num game,então eu prefiro assisitr um bom filme,afinal…joystick na mão pra quê,se eu posso ter apenas o conforto do sofá?

    Taí, falou bem o que eu penso sobre esse assunto. (Agora sim, com a citação)

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  • 26/10/2012 em 1:02 am
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    Onyas,

    Sim! Dizer que games “não são para crianças” passa por essa questão de super-valorizá-lo. E que atitude desses editores, heim? Que falta de respeito com os leitores… Nem sabia disso…

    E concordo também com o que falou adiante acerca dos jogos não serem restritos pela idade. É aquela coisa: um bom jogo para crianças é um bom jogo para adultos também (assim como um bom livro). A gente acaba segregando de tal modo que leva à criação de “games infantis” que nem mesmo às crianças agradam. Qualquer pessoa pode levar qualquer game a sério: o que importa é se ele entrará ou não no jogo.

    E não falou demais não. hehehehe É bom assim para ser sincero!

    Hélio,

    O problema é pensarmos o lúdico como algo “menor” quando na realidade não é. Tudo de atrativo que existe na arte (romances, telas, composições musicais) é porque ela possui essencialmente um elemento de jogo: não é algo além do lúdico, mas lúdico simplesmente.

    Os games podem ser diferentes de outros jogos (de tabuleiro, de rua etc.), mas não são algo além disso. É uma diferença nas manifestações do jogo e não na sua essência.

    Eu mesmo sou muito crítico dessa concepção corrente atual (dentro da academia inclusive) de defender games como arte só porque tem música, enredo etc. Acho perigoso fazer isso porque há de chegar o tempo em que associaremos o jogo apenas à infância, por exemplo, ou qualquer outra forma de restrição.

    Onyas,

    Concordo (de novo) com o que falou. Esse seu modo de ver os jogos é interessante. E esse próprio lance do “transe” faz todo o sentido: todo jogo exige que estejamos atentos ao que ele propõe para nós afinal de contas. O resto perde a validade pelo tempo em que jogamos. É apenas fora do jogo que conseguimos fazer essas reflexões que fez.

    E com certeza a imaginação aparece de modo diferente em qualquer jogo. E não só ela, mas a percepção, a memória e quaisquer atos intencionais nossos em direção ao mundo.

    João Santiago,

    Nem foi difícil reconhecê-lo! hehehehe Eu lembrava do seu nome e depois que o vi falando de artes cênicas tive certeza. hehe Foi a pessoa que mais se interessou pela minha dissertação desse meio todo e, se bobear, foi o único que realmente a folheou e leu. hehehehe

    Cara, precisamos sentar e conversar com calma! hehehe Muito interessante isso tudo que falou. Eu penso bastante a questão da arte em geral (até leciono uma disciplina sobre isso) e acabo pensando e usando exemplos do teatro vez por outra. A história/narrativa/enredo é apenas mais um elemento com que jogamos em alguns jogos. E, infelizmente, há uma tendência a trasnformar todo game em um “jogo representativo” (por isso que não acho preciso e correto dizer que games são arte por definição).

    Talvez esse conceito de “jogo representativo” seja próximo do que chamou de “jogo artistico”. Mas sentando a gente conversa melhor sobre isso porque o assunto vai longe. hehehehe

    Sobre “experiência do jogar” eu entendo que quis dizer esse lance do imediatismo e esperar para ver o que acontece e coisas assim. É isso? se for, eu concordo. Eu uso na dissertação a expressão “experiência do jogar” (ou “o jogar”) simplesmente para designar toda a entrega ao jogo, seja ele qual for. Então passa meio longe dessa fruição sensual apenas que muitos games nos oferecem hoje em dia.

    Vou te mandar um e-mail pessoal então até o fim de semana e a gente conversa com mais calma. Mande seu projeto para mim que dou uma olhada com certeza! De repente, podemos até escrever um artigo juntos se for o caso (isso conta pontos para o mestrado).

    Juliano,

    Penso assim também. O jogo se mostra como envolvente em sua totalidade (que muitas vezes tem músicas, cenários bonitos, mas não se resume a isso). Dizer que um game com boa história é melhor que um sem enredo pré-fixado é quase como dizer que jogar é coisa de crianças tornando qualquer jogo adulto mero infantilismo.

    Dactar,

    Esse preconceito existe não só com relação a jogadores de videogames. Como falei um pouco acima, pensar o jogo como algo infantil por definição noss leva a considerar o jogo adulto (qualquer um deles) como um infantilismo. Daí começa a haver a ocupação com outras coisas que são jogos também (como a arte), mas que possuem um status social mais bem aceito. Continuamos jogando, mas damos outro nome mais bem visto. hehehe

    E concordo plenamente! Games podem possuir belas artes. Podemos admirar uma música qualquer de um jogo, por exemplo, e ficarmos apenas ouvindo-a em certo momento. Mas ao fazermos isso, criamos um outro jogo diferente daquele em que a mesma música é apenas um elemento constituinte de sua atmosfera, de seu campo de jogo mesmo. E isso se refere também a imagens e coisas assim.

    Até reconhecemos o belo dessas coisas dentro do jogo, mas se entramos nesse jogo representativo, saímos do jogo/game em que estávamos antes durante algum tempo.

    E, assim, mesmo o enredo acaba sendo um elemento que joga junto conosco em alguns games (não em todos). Acho ruim quando começam a ver narrativas em todo game, por exemplo, como se fosse algo essencial a todo jogo e não é. Muitos jogos atuais têm essa preocupação de mostrar algo ao jogador e isso transforma-os em jogos representativos também. O que não é ruim por definição, mas é apenas um dos vários tipos de jogos possíveis.

    Ed,

    Essa é uma outra polaridade complicada… Eu não gosto muito de definir jogadores dessa maneira. Primeiro porque é artificial demais e, em segundo, porque cria pré-concepções e rixas que não fazem sentido (como essa mesma que descreveu).

    Esse elemento, aliás, pode até ter sido a estratégia da Nintendo mesmo: pensar um público mais desinteressado com games.

    Oztryker,

    huahuahuahuahuahauha Eu tinha notado isso também. hehehe Senso crítico zero do pessoal. hehe

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  • 26/10/2012 em 8:33 am
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    Senil, eu penso diferente. Não acho q o lúdico é algo menor, mas acho q se limitar a apenas isso é uma concepção muito restrita para um game.
    Entendo quem queira apenas extravasar o estresse do dia num jogo mais rápido, nada contra. Porém games vão além disso, o próprio game do meu avatar é um dos exemplos.
    Jogos eletrônicos têm um propósito maior do q simplesmente entreter, eles são uma forma de expressão de visões de mundo, de sensibilidade musical, eu os encaro como uma fusão de cinema com interatividade. Lógico q nem todo game é assim, afinal jogar Sonic é muito diferente de jogar Heavy Rain, por exemplo. Então eu diria q existem duas ramificações principais: os games mais voltados puramente (ou quase q só) para o gameplay, como Mario, Alex Kidd, Ninja Gaiden, Castlevanias 2D, e existem aqueles q nos propõem algo mais do q a simples jogabilidade, Mass Effect, God of War, MGS, Heavy Rain, The Witcher 2, etc.
    Nenhum desses estilos é melhor q o outro, mas o lúdico pura e simplesmente não é o q faz um game existir.

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  • 26/10/2012 em 1:24 pm
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    Apesar de fugir do assunto, não sei porque mas tinham que postar que as propagandas me fizeram lembrar de uma reportagem em uma revista que dizia: Embora valorizasse a exclusividade, Ed Roth reconhecia que “arte era aquilo que vendia”.

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  • 26/10/2012 em 5:58 pm
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    Senil:
    Até reconhecemos o belo dessas coisas dentro do jogo, mas se entramos nesse jogo representativo, saímos do jogo/game em que estávamos antes durante algum tempo.

    Lendo isso lembrei que muitas vezes já perdi vidas ou tive que parar de jogar por um momento simplesmente para apreciar a música da fase ou uma imagem fantástica no background,he he he.São os elementos do jogo competindo com o próprio jogo,he he he.
    🙂

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  • 26/10/2012 em 7:13 pm
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    Uma texto interessante, mas acho que muitos estão criticando demais oque a “Grande N” já fazia com as versões anteriores de seus portáteis, mesmo o game boy já possuía “jogos” que não poderiam ser chamados de jogos, como um jogo de aposta de cavalos onde apenas se apostava.

    E o fato do que realmente move a industria é o dinheiro me entristece bastante (como já disse aqui algumas vezes), porque aquilo que me aproximou desse “mundo” ficou apenas no passado e temo que algum dia será esquecido.

    Eu defendo a ideia de jogos como arte, porque não me sinto diferente quando estou lendo um livro ou vendo um bom filme.

    Essas foram os pensamentos que esse texto me levaram a ter e espero que não tenham ficado confusos e nem agressivos.Muito obrigado e até a próxima Mestre Senil

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  • 28/10/2012 em 5:29 pm
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    Videogame é arte porque tem ali comunicação e técnica. Embora uma vez um artista, ou crítico, já disse que “o cinema só poderia ser considerado arte quando suas ferramentas custassem o mesmo que um pincel.” O que não deixa de ser verdade. Só é estranho a Nintendo abrir mão de uma palavra tão forte como “jogador” para… Para o que mesmo? Apreciador de arte? O que será destas pobres pessoas que não têm uma função no jogo? Não são jogadores. São o quê? Talvez a publicidade possa achar um nome pra eles também, como Zarks, Mergs ou coisa que o valha.

    Cada coisa ridícula que os publicitários, marqueteiros, fazem…

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  • 28/10/2012 em 7:03 pm
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    Grande Senil!!!
    Primeiro só queria dizer que eu realmente fico muito feliz com os seus textos.Já procurei em outros sites textos parecidos com os seus.Mas é quase impossível de se achar(eu ao menos nunca vi).Falo isso pois,fico encantado com a forma respeitosa que você trata os jogos e os transposta para reflexões mais sérias.(pra falar a verdade o motivo principal para continuar a acessar esse site são os seus textos hahaha).
    Certo agora,fugindo um pouco do tema eu gostaria de saber qual seria a sua explicação para responder alguém que acredita que jogos são perda de tempo?Como você mesmo descreveu
    ######“Jogo” é algo que a partir da era moderna (embora principalmente com a Revolução Industrial) passou a ser visto como supérfluo e perda de tempo. Era preciso produzir, mas jogos e brincadeiras não produziam nada. Portanto, é muito melhor socialmente hoje ser visto como um “apreciador de arte” ou “artista” do que “jogador de videogame”. Analogamente, é melhor você gastar seu tempo com algo que “melhora o raciocínio”, faz você “ser mais inteligente”, “melhorar reflexos” etc####
    até

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  • 29/10/2012 em 10:37 am
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    Olha, eu não vou comentar o mote principal do tópico, vou direto a discussão que ele gerou sobre o posicionamento social e etário do videogame.
    De forma geral existe sim um preconceito contra os videogames e seus jogadores.Uma vez que o primeiro é visto como brinquedo para crianças torna o segundo um “adulto infantilizado”ou qualquer outro rótulo que o valha.
    É uma percepcão social datada e ultrapassada que para mim,a raiz está no posicionamento mercadológico, quando foram popularizados no final da década de 70 e início da década de 80.
    o videogame é um brinquedo sim, mas não difere na sua função de um jet-sky, uma asa-delta ou um kart.
    E como mídia, esse preconceito impede que ele videogame amadureça mais rápidamente, por isso até hoje temas como violência e sexo geram polêmica quando presentes nos jogos, temas comuns em filmes, livros, peças de teatro e e etc..
    Mas acredito que isso se deve ao fato de ser uma mídia jovem quando comparado a seus pares, somos a primeira geração a crescer com games (acredito que maioria dos leitores aqui tem mais de 30), as que estão nos sucedendo terão, uma visão diferente, mais similar a nossa, que jamais deixamos de jogar, pois para eles, assim como para nós videogame é algo consolidado, uma forma de entretenimento como qualquer outra.

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  • 03/11/2012 em 6:11 pm
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    Esses dias foram muito corridos no trabalho… Desculpem a demora em responder!…

    Hélio,

    Aí depende das definições de “jogo” e “arte” que se possua. Hoje “arte” é sinônimo de “belas artes” e se refere essencialmente às artes do belo. Mas o que distingue tais artes de outras como a marcenaria, por exemplo? O fato de construirem algo para ser contemplado.

    Essa contemplação exige, por definição, um “deixar-se levar” e um “deixar-se envolver” que nada mais é do que o elemento essencial de todo e qualquer jogo. “Entreter” tem esse mesmo sentido, assim como diversão. A noção “mero entretenimento” como sinônimo de mera casualidade ou “pouca seriedade” não se aplica aos jogos: é uma concepção moderna que, aliás, nada tem a ver com jogo.

    Obras de arte são jogos, só que possuem uma tarefa peculiar que, como falei, é nos mostrar alguma coisa. Uma cantata é para ser ouvida, uma peça de teatro para ser vista, um quadro para ser observado, um livro para ser lido etc. E é o fato de ser um “jogo representativo” que define a arte.

    Videogames são jogos por definição e não arte simplesmente porque nem todo software que utilizamos em consoles, portáteis etc. têm a tarefa de nos mostrar alguma coisa. Embora, é claro, nos mostrem muitas coisas ainda assim.

    Por isso que no post da semana passada (posterior a este post aqui), propus que dicutíssemos justamente essa possibilidade de nos determos nas belas artes dos games, mas fazê-lo é entrar em outro jogo. Apreciar o enredo de, sei lá, Final Fantasy VI, é um jogo diferente de apreciar o game Final Fantasy VI em sua totalidade.

    Um jogo como Metal Gear não tem um “propósito maior” do que o famoso jogo de tabuleiro Ludo. Apenas um propósito diferente. E é esse lúdico que faz o jogo existir (juntamente com a seriedade). Se ele tem melhor música, enredo, ambientação, personagens etc. não há mudança essencial nisso, apenas na sua manifestação.

    Pensar assim não é diminuir grandes games, mas restituir-lhes sua glória por direito.

    JJ,

    Pois é… A impressão que tenho é que a modernidade tem uma tendência nociva de utilizar adjetivos de qualquer jeito e acaba servindo, por exemplo, para qualificar o que vende mais algumas vezes. “Arte”, “épico” e “clássico” são algumas das que nós, jogadores de videogame, certamente nos deparamos com notável frequência.

    Dactar,

    Exatamente. hehehehe Vi que comentou no outro post também e como esse assunto é mais próximo dele, vou comentar com mais detalhes por lá, beleza?

    Carrion,

    Por isso que nossa tarefa é tentar levar adiante os games que realmente nos envolveram profundamente. Aqueles que resistirem ao teste do tempo tornar-se-ão clássicos.

    Esse “sentir diferente” é interessante porque C. S. Lewis fala sobre isso em alguns de seus ensaios sobre literatura. Pode ser preciso rever nosso modo de ler se realmente não mudamos alguma coisa em nós quando saímos do mundo do livro. Segundo ele, isso se aplica a qualquer arte e, eu acrescentaria, com qualquer jogo. Fora que podemos ser “bons jogadores” (desses que se envolvem e saem diferentes de quanto entraram) em alguns tipos de jogos e artes e “maus jogadores” em outros tipos (o próprio Lewis assume que a música não faz com ele a mesma coisa que a literatura faz).

    Os livros podem nos mudar sim, tanto ou mais do que os games: depende de como nos entregamos a eles e da seriedade com que encaramos sua leitura.

    Leandro Moraes,

    Com certeza que na arte há comunicação e técnica. Mas nem tudo que comunica e é feito tecnicamente tem o sentido de (bela) arte. Explico.

    Uma cadeira é uma obra de arte. Eu mesmo estou sentado em uma agora que é ligeiramente desconfortável, mas serve ao seu uso. É uma obra da arte da carpintaria. Um texto literário como uma notícia em um jornal é uma obra literária também. Mas em ambos os casos, estamos diante de uma “obra de (bela) arte”?

    Percebe a diferença? “Ars” no latim traduzia justamente “tekhne” e, portanto, a técnica (conhecimento para produzir algo para uma finalidade qualquer) é o elemento essencial da arte em geral. Agora, as “artes do belo” (que hoje, feliz ou infelizmente, chamamos de “arte” simplesmente), são apenas um tipo de arte na qual há a preocupação com “maravilhar seu contemplador”.

    E o uso indiscriminado da palavra “arte” leva para esses problemas conceituais como nesse comercial mesmo (bem apontado por você ao falar dos marqueteiros).

    Magnitude,

    Muito obrigado mesmo pela força cara! Isso significa bastante para mim porque, no fim das contas, são vocês que mantêm a coluna viva e não eu. hehehe Acho até ruim quando não consigo responder a todos com agilidade…

    Que eu saiba, ninguém faz algo parecido com isso mesmo. O que é bom e ruim por outro lado. hehehe É um campo de discussão muito rico e interessante (para mim e, creio, para vocês também).

    Essa pergunta que fez é difícil pensar em uma resposta porque, como falei mesmo, é meio que senso comum pensar qualquer jogo (não só videogames) como “perda de tempo” ou “coisa de criança”. Se a pessoa tivesse tempo, eu provavelmente tentaria mostrar que toda nossa cultura e civilização possui um elemento de jogo e que a própria ideia de seriedade (que geralmente opõem ao lúdico) vem da exigência que os jogos nos fazem. Isso serviria para recuperar a dignidade dos games, mas também dos jogos em geral.

    Fazer o caminho mais fácil e dizer algo como “games não são perda de tempo porque não são simples jogos, mas arte” é apressado e pode levar a muitos desentendimentos. Embora, como já discuti antes, a arte possui sim um elemento de jogo e, não só isso, mas games possuem elementos de belas artes.

    Não deve ser uma boa resposta porque é meio longa e a pessoa ficaria entediada rapidinho me ouvindo imagino eu. hehehe

    Bianchi,

    Certamente há. E isso nem é restrito só a videogames: mas há uma exigência aos adultos para que eles se dediquem a atividades mais sérias como “esporte”, “trabalho”, “arte” e não “jogos”. Daí já viu. hehehehe

    E isso nem é tão recente assim (no caso dos games sim, mas em relação aos jogos em geral, não). Sobre a noção de “brinquedo”, ela é um pouco mais complicada porque nós não jogamos com o videogame por assim dizer. O fato de ser um NES, ou um Master System não nos interessa enquanto jogamos, mas sim se é Ninja Gaiden ou Shinobi ali. Nossos “objetos de jogo” (ou “brinquedos”) nos videogames seriam muito mais os personagens, cenários, regras, itens, inimigos etc. do que o console e tal.

    Mas essa é uma reflexão meio morna minha (ainda não me dediquei muito a ela), mas é o que tenho pensado a respeito disso até o momento…

    Jogos (quaisquer deles) não são “para crianças” por definição. Essa “infantilização” da cultura (criando coisas bizarras como “literatura infanto-juvenil) é um problema sério. Basta ver o modo com que os contos de fada eram contados até o século XIX e como passaram a ser lembrados a partir do século XX. E isso bem antes do “politicamente correto” ficar tão descarado. Crianças liam A Odisseia numa boa (e ainda leem em alguns lugares do mundo), mas a maioria fica mesmo com uma versão reduzida, em prosa e que corta todos os detalhes violentos da aventura de Ulisses/Oddiseu.

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