É, eu sei, misturar “Doom II” e nome de novela no título parece um péssimo começo, mas vão lendo que vocês vão entender.

Já faz algum tempo que “meio que encerrei” oficialmente o Gagá Games. E para ser bem honesto com vocês, de lá para cá não pintou nada que realmente me motivasse a escrever novas asneiras por aqui. Fechei o ciclo mesmo.

Mas hoje é um dia muito especial para os videogames, e por tabela um dia muito especial para mim — o que deve surpreender alguns de vocês, que acompanharam o Gagá Games, leram meus trocentos posts e, portanto, acreditam conhecer com alguma precisão o meu gosto para jogos. Pois e, peguei vocês desta vez.

Há exatos vinte anos, nós, amantes dos videogames, ganhávamos um presente absolutamente colossal: Doom. Aqui eu geralmente começaria uma breve lição de história sobre o jogo, mas desta vez não vou fazer isso. Só quem viveu aqueles dias vai entender o que eu realmente quero explicar aqui, então nem vou perder meu tempo com a turma mais nova (sem ofensa, galera, nada pessoal).

Doom1

Eu tinha 17 anos quando joguei Doom II pela primeira vez. Isso foi em 1996. Na época eu estava no terceiro ano do segundo grau (sei lá como chamam isso hoje em dia), e no primeiro dia de aula descobri que eu tinha um novo professor de matemática e também um novo amigo de classe. Não foi coincidência: o Gérson, nosso novo professor, era pai do Leonardo.

Fizemos amizade rápido, e algum tempo depois apresentei ao Leo um amigo do meu prédio, o Alexadre. Não lembro os detalhes, confesso, porque minha memória é um desastre; só sei que nós três formamos um grupo fantástico. Era comum virarmos a noite na casa do Leonardo jogando no PC dele (eu nem sonhava em ter PC, e se não me engano o Alexandre tinha um meio toscão).

Um dia o inevitável aconteceu — guardem suas piadinhas homossexuais para si mesmos: o inevitável foi o Leonardo pegar Doom II. Ok, estou trapaceando aqui pulando o primeiro Doom… acho que só joguei o primeiro depois do segundo, os detalhes me escapam. Talvez eu tenha jogado Doom I antes, mas o momento tenha sido errado. Mas Doom II…

Eu e o Alexandre praticamente nos mudamos para a casa do Leonardo. A gente ia lá várias vezes na semana, e os fins de semana eram certeza de acampamento por lá. Muitas vezes, pedíamos um monte de bolinhas de queijo na Parmê e enchíamos a pança enquanto jogávamos. Em outras ocasiões, o Leonardo apresentava um CD novo do Alice in Chains/Pearl Jam/Nirvana/qualquer-banda-grunge-da época, e a gente delirava ouvindo aquilo e atirando em Imps. Rock, games, comida, as gostosas da escola: toda aquela eletricidade da nossa adolescência passava pelo filtro de Doom II.

cacodemonEm pouco tempo, memorizamos os nomes dos monstros e das fases. Mencionávamos cacodemons e cyberdemons com uma nerdice extrema; chamávamos as fases pelo nome — Dead Simple, Bloodfalls, ‘O’ of Destruction… até hoje o layout das fases me vem à cabeça, parece que foi ontem. Aliás, o que comi hoje no almoço? Que filme vi ontem na TV? O que minha esposa pediu que eu comprasse no mercado mesmo? Disso eu não lembro.

Doom II consumiu aqueles anos finais da nossa adolescência com um apetite insaciável: nós jogávamos horas e mais horas por dia, nos debruçávamos sobre os mapas do guia oficial, explorávamos cada centímetro quadrado do jogo. Até tentamos fazer fases usando o editor, mas os resultados foram desastrosos.

Lembram de quando o avião dos Mamonas caiu? O Gérson veio dar a notícia para nós três na manhã seguinte a uma madrugada de jogatina intensa. E de quando a Legião Urbana lançou “A Tempestade”, um disco triste pra diabo que entregava que o Renato Russo logo ia bater as botas? Eu e Alexandre ouvimos lá, na casa do Leonardo, depois de muito Doom II. Se não me engano, a gente ainda estava jogando Doom II quando o Leonardo arrumou a primeira namorada dele — despertando secretamente nossa “inveja branca”, visto que eu e Alexandre ainda íamos demorar um pouco para pegar alguém.

E por que estou contando essa história toda?

Eu não acredito em destino. Acho que tudo o que acontece na vida da gente, acontece por acaso mesmo, porque coisas acontecem o tempo todo. Mas eu acho que, tal qual em um mundo gerado aleatoriamente em Minecraft, o acaso às vezes gera encontros realmente maravilhosos, e no momento exato: Lennon e McCartney, quando o mundo vivia um momento de grandes transformações; Miyamoto e Yamauchi, quando o videogame ainda carecia de um livro de regras; Roberto, Leonardo, Alexandre e Doom II quando os três adolescentes precisavam de tinta para pintar o quadro de uma adolescência inesquecível. Bons tempos, meus amigos, bons tempos.

Talvez este post sobre um FPS de PC surpreenda vocês, que devem estar acostumados aos meus posts sobre RPGs e jogos japoneses. Doom II foi um caso singular no meu currículo gamer e também na minha vida. Acho que foi o jogo certo, no momento certo, com as pessoas certas. Até hoje ele é um dos meus jogos favoritos, e um dos jogos que mais me fazem sentir aquele calor da nostalgia no coração. Talvez por isso eu nunca tenha escrito nada sobre o jogo aqui no Gagá Games: o mundo já contou a história extraordinária desse jogo muitas vezes (se quiser conhecê-la, acesse a Wikipedia, ou melhor, veja isto).

gaga_e_xande_no_leo

Foto veeeeelha! Gagá e Alexandre na casa do Leonardo, entre uma partida e outra de Doom II. Quem nunca foi adolescente ridículo que atire a primeira pedra 🙂

Mas a história que eu queria contar sobre Doom II era outra; uma história só minha, escrita pelo golpe do acaso que reuniu três amigos na frente de um monitor enquanto o resto do mundo girava em torno deles. Valeu rapaziada!

Doom II: Páginas da Vida
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30 ideias sobre “Doom II: Páginas da Vida

  • 11/12/2013 em 12:21 am
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    Poxa.. Que post bacana, Gagá.
    Essa bateu bem na memória, na nostalgia da época.
    E que sorte a minha entrar aqui justo hoje, depois de tanto tempo.
    Abraços e ainda que desse jeito, pingado, que esse velho-sítio=velho-de-guerras-velhas sempre esteja aí disponível pra umas surpresas dessas de vez em quando.

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  • 11/12/2013 em 2:10 am
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    Po que beleza gagá, entrei meio sem querer por aqui a altas horas da madrugada entediado e com preguiça de dormir, eis que acho esse post muito bacana. Compartilhando momentos épicos de tempos que não voltam mais.

    Minha história com Doom foi do primeiro jogo mesmo. Em plena era N64 e PS1 eu ainda ia a locadora alugar fitas e lá achei bem por acaso essa tal de Doom. Já levando a fita que tinha essa arte sensacional e sua cor vermelha já davam destaque pra ter certeza de que não era qualquer jogo, devia ser dos bons. Fita inserida no Snes e eis que começa um fim de semana de jogatina de Doom sem parar, outros fim de semanas se sucederam que eu voltava a alugar esta fita até conseguir terminar o jogo no nível Inferno. Bons tempos.

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  • 11/12/2013 em 7:18 am
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    Bom, quando eu terminei a escola em 2006, ainda era chamado de Segundo Grau e Terceiro ano mesmo. Não sei como está hoje, mas com essa juventude, acredito que possa estar sendo chamado de Suruba 3, não sei.

    Mas enfim, em idos de 1997 eu estava ganhando meu SNES e entrei em contato com o primeiro Doom cerca de 2 anos depois no saudoso cartuchão vermelho. Doom, o primeiro jogo aonde você pode ser um sniper usando uma escopeta.

    Agora vou ali escrever meu review de Binary Domain e tals.

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  • 11/12/2013 em 12:17 pm
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    Muito bom, Orakio sir!!! Tocante artigo sobre os 20 anos de Doom. São estes detalhes — ok, menos essa foto 😛 — que fazem as pessoas que não conheceram um determinado jogo se interessarem em experimentá-lo. “Puxa, se esse jogo marcou tanto o Roberto… será?”

    Engraçado que você lembra que a maioria dos jogos revisitados por você eram os japoneses tradicionais… e Doom é simplesmente o FPS mais japonês que poderia existir!

    E caso você tenha mesmo começado por Doom 2, certamente entrou pela porta da frente: é o “A Link to The Past” dos Dooms! Valeu Gagá, agora liga esse modem e vamos deathmatch só nós dois pela madrugada a 9600 BPS no mapa “Nirvana”! 😀

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  • 14/12/2013 em 9:54 am
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    pombas! só essa foto do Gagá mais jovem fazendo essa pose já valeu o post. heheheh

    e sinto vergonha de dizer que AINDA não zerei Doom 2….por enquanto. e obrigado Gagá por esse post. sinto saudade de ver “coisa velha” ao invés de jogos modernos.

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  • 22/12/2013 em 8:15 pm
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    fala ai galera e gagagames….bons tempos de doom, e outros jogos DOS da vida….ainda tenho o primeira aqui comigo,,,clássico,,,Doom II joguei pouco,,,mas tenho boas lembranças,,,,era uma fase boa essa de jogos pc…tinha muitos jogos no estilo Doom,,,,muitos era cópias, remakes e outras sim continuações,,,,,a verdade é que foi uma fase em que fiquei muito tempo sem jogar video game,,,e jogar Doom, Quake, Duke Nukem e outros jogos pc,,,foi uma verdadeira maravilha,,,,,é bom rever e jogar esse jogo novamente e que bom eu estar aqui novamente prestando minhas singelas opiniões gamer da vida….natal chegando ai galera,,,,feliz natal e feliz ano novo!!!!dukaralho a matéria,,gostei mesmo!!!!valeu

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  • 24/12/2013 em 3:48 pm
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    Essas memórias de adolescência são as melhores, as minhas são todas ligadas a Phantasy Star e Street Fighter II. Época de bons amigos, primeira namorada / pé na bunda, Alice in Chains e Smashing Pumpkins, jogar Magic até duas da manhã na casa dos caras…

    Mas Doom nunca foi dos meus favoritos porque me dava muito enjoo, em poucos minutos. Até curtia mas não conseguia jogar, é horrível até hoje com qualquer game similar.

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  • 24/12/2013 em 8:03 pm
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    Legal em Gaga, o engraçado é que são coisas que não se esquece e o ruim é que nunca podemos voltar no passado para passarmos por esses momentos de novo, MÁS podemos jogar de novoooooo o jogo que marcou hehe.

    GAGA

    queria agradecer por você ter feito uma matéria sobre O SHIN MEGAMI TENSEI, nunca tinha ouvido falar,e com o lançamento do 4 que saiu comecei jogar e é muitoooooo fodaaaaaaa

    valeu por ter apresentado essa série e mostrado um caminho além de FINAL FANTASY

    e GAGA ja que agora os posts são exporádicos, não dava pra quando se nao tive fazendo mais nada faze O POST sobre o SHIM MEGAMI TENSEI, eu mesmo achei muito dificil encontrar matérias sobre ele.

    Valeu e bom final de ano

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  • 27/03/2014 em 10:18 am
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    Bom jogo e bom post.

    DOOM eu joguei até pouco na época…

    Mas o tal do Wolfenstein!!! rs

    Peguei faz um tempo o DOOM do Xbox 360 e estou me esforçando para terminar. O começo é amarrado, a mira com a pistola é uma merda, e o sistema de save dele é horrível… Como um cara velho (leia-se casado, com filho pequeno e trabalhando horrores), estou sem tempo para jogar muito, o que está me obrigando a andar 10 passos e salvar. Ai troco uma fralda, dou mamadeira, ando mais 10 passos e salvo de novo. rs
    Peguei as armas mais adiantadas, como a metralhadora giratória, e está me animando um pouco mais a jogar… Mas ainda fico pensando que poderia aproveitar melhor o tempo com outros jogos.

    Uma vantagem da versão do Xbox 360 é que vem junto o DOOM 1 e 2 originais. 😀
    Na live americana tem disponível faz toda a vida, mas na BR não. É uma forma mais “moderna” de jogar esses clássicos em uma tela plana de tamanho razoável.

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  • 27/03/2014 em 10:23 am
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    Bom jogo e bom post.

    DOOM eu joguei até pouco na época…

    Mas o tal do Wolfenstein!!! rs

    Peguei faz um tempo o DOOM do Xbox 360 e estou me esforçando para terminar. O começo é amarrado, a mira com a pistola é uma merda, e o sistema de save dele é horrível… Como um cara velho (leia-se casado, com filho pequeno e trabalhando horrores), estou sem tempo para jogar muito, o que está me obrigando a andar 10 passos e salvar. Ai troco uma fralda, dou mamadeira, ando mais 10 passos e salvo de novo. rs
    Peguei as armas mais adiantadas, como a metralhadora giratória, e está me animando um pouco mais a jogar… Mas ainda fico pensando que poderia aproveitar melhor o tempo com outros jogos.

    Uma vantagem da versão do Xbox 360 é que vem junto o DOOM 1 e 2 originais. 😀
    Na live americana tem disponível faz toda a vida, mas na BR não. É uma forma mais “moderna” de jogar esses clássicos em uma tela plana de tamanho razoável.

    Ah! E pela foto deveria ser “DOOM 2: Malhação”

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  • 06/08/2014 em 1:03 am
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    Cara, puta texto!
    Voltei no tempo e recordei das minhas primeiras horas de jogatina com Doom II. O engraçado é que cheguei aqui porque tava fazendo uma pesquisa a respeito da relevância desse game num artigo do meu site, que publiquei justamente no dia 10 de dezembro, em comemoração do aniversário e todos os dias tem visitação. Foi o melhor texto que já li sobre Doom II até hoje. Parabéns!

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