“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

 

Olá crianças!

Os nossos últimos posts acabaram tocando naquela questão sobre as memórias que temos sobre os jogos do passado de uma forma ou de outra. E esse é um assunto interessante porque esta semana mesmo tratei disso com alguns de meus alunos.

A ideia comum que percorre o pensamento humano alguns séculos é a de que só podemos compreender uma coisa pela sua origem. No caso de doenças, o termo “etiologia” geralmente é utilizado. Chamemos isso, por enquanto de “pensamento evolucionista” por pensar justamente nessa questão da origem que “se desenvolve” e determina algo presente.

Boa parte das abordagens principais de psicologia consideram isso como verdadeiro. Ao tentarem compreender seu paciente, ou os participantes de sua pesquisa, tentam encontrar algo em sua história pregressa (geralmente na primeira infância) que ocasionou determinado estado presente. Mas isso é algo bastante curioso.

Nós, em nosso modo mais natural de existirmos aqui no mundo, não nos preocupamos muito com o passado. É o futuro que nos interessa. São nossos sonhos, nossos desejos, nossas vontades e metas que nos definem. Sartre, um dos autores que fazem parte da fenomenologia, chama isso de “projeto” e é mais ou menos nesse sentido mesmo de nos projetarmos sempre em direção ao futuro.

É certo que o passado tem sua importância porque, afinal de contas, faz parte de nossa história. Mas o passado só nos aparece como presente; e é neste momento presente que damos sentido às experiências do nosso passado. Basta repararem que coisas que nos aconteceram na infância sem qualquer significado que hoje nos lembramos com uma grande ternura.

Com games é exatamente a mesma coisa. 

Wild Arms é um game que joguei anos depois de seu lançamento e, hoje, é um dos meus jogos preferidos. Acima, a imagem da capa da trilha sonora oficial (que recomendo em sua totalidade)

Quando pensamos nos “grandes jogos do passado” (aqueles que jogamos quando crianças), eles nos são significativos em nosso presente. Às vezes naquela época, se me perdoam a expressão, eram uma porcaria. Jogos que odiava quando moleque, hoje eu lembro deles com certa saudade. Têm um sentido agradável e gostoso que não possuíam naquela época. E até mesmo podem se converter em um de seus jogos preferidos hoje

E isso, claro, envolve também aqueles jogos que conhecemos em outros momentos de nosso passado. Como já comentei, muitos dos jogos que mais gosto hoje eu conheci na minha adolescência. E mesmo depois de adulto, em alguns casos. A data de lançamento de um jogo não tem papel nenhum nisso: jogos de Master System que só joguei há dois anos atrás me cativaram tanto quanto um de Mega Drive na época de seu lançamento.

OutRun foi o segundo jogo de Master System que joguei na vida e, como não gotava de Enduro do Atari 2600 que tínhamos antes, não curti ele também por ser “de carrinho”. Anos depois, tornou-se um dos meus games prediletos (em especial essa versão), uma de minhas séries favoritas e o melhor game de direção que já experimentei.

O passado não nos determina, mas oferece a base através da qual nos projetamos ao futuro. E qual o futuro que vocês planejam ter com relação a seu próprio modo de ser “jogador de videogame”? Essa pergunta é muito mais importante do que “qual jogo mais marcou na sua infância” porque, como vimos, os jogos infantis nos marcam hoje; se nos marcaram naquela época ou não, isso não interessa.

É isso que queria compartilhar com vocês essa semana! (hoje, exclusivamente, direto de Goiânia-GO participando de um congresso em Fenomenologia na UFG).

Até o próximo post!

Academia Gamer: Passado presente
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14 ideias sobre “Academia Gamer: Passado presente

  • 20/09/2011 em 12:15 pm
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    A idéia de que algo no passado só tem valor porque nós trazemos aquela experiência para o presente é algo fascinante. Isso muda muito a maneira de pensarmos em nostalgia e nos nossos amados retrogames.

    Outra coisa legal é que você é o único cara além de mim que parece ter gostado de Wild Arms. Também recomendo a trilha sonora. Estou na espectativa de jogar as continuações, mas todos dizem que o 2 é ruim. Você conhece?

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  • 20/09/2011 em 12:16 pm
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    Ultimamente estou sem saco pra jogar videogame. Pra falar a verdade isso é um estágio passageiro e já passei por isso antes. O ponto em comum é que isso ocorre (a falta de paciência de jogar) quando estou assoberbado com as tarefas impostas pela vida.

    Meu futuro como gamer é fácil de prever. Não sou mais o gamer hardcore que eu era e não serei um jogador casual. Estou e provavelmente ficarei entre esses dois extremos.

    Falow!

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  • 20/09/2011 em 12:19 pm
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    o jogo que marcou mais a minha juventude….detesto admitir… mais foi aquela bagaça,lixo,porcaria universal,sem sal chamado FFVII.

    odeio esse Final Fantasy, mas tenho que admitir que se não fosse por ele, eu nunca saberia o que é um rpg. eu devia ter uns 10 ou 11 anos quando na locadora da minha rua, um conhecido da rua chamado Junior ficou jogando esse jogo. eu estranhava por que aquele jogo não tinha vidas, os personagens conversavam muito, as batalhas eram de turnos e outras coisas que me fizeram ficar “peruando” na locadora vendo os caras mais velhos jogar. mas se bem que o primeiro rpg que joguei na vida foi o Wild Arms do PS1. e em japonês, meu irmão embarcou no Samurai Spirits Rpg(jogão, ele mandava bem com o Genjuro)

    os rpgs me ensinaram a ser paciente e perseverante. não importando quando um caminho pode ser tortuoso, deve se seguir em frente e você será recompensado. e isso sigo até hoje e sempre

    otimo post como sempre, Mestre Senil.

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  • 20/09/2011 em 1:30 pm
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    “Não sou mais o gamer hardcore que eu era e não serei um jogador casual.”
    Acertou na mosca piga, além de outros motivos como a falta de tempo, não temos mais uma indústria criativa e apaixonante como antigamente, essa falta de estímulo impede que sejamos tão hardcore como antigamente. Por outro lado, apaixonados como nós nunca poderão encarar os jogos de uma forma casual.

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  • 20/09/2011 em 2:00 pm
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    Hoje gamer com mais de 30 anos tem saudades dos jogos do pasado, eu curto Wilds Arms, alguns titulos do atari, mega drive, mas a maioria dos meus titulos favoritos são do PS1, essa lembranças são mais fortes quando aliadas a fatos bom ou ruins da minha infancia, eu acho que tenho sorte de ter vivenciado tais epocas da historia gamer.

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  • 20/09/2011 em 2:08 pm
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    uma vez perguntaram para eu sobre filmes…5 melhores filmes da sua vida????respondi que tenho 10 melhores filmes dos anos 80 e 90 da minha vida….isto é,,,atualmente nada me impressiona ou supera os filmes de antigamente. Digo o mesmo sobre games,,,gráficos realistas e video games avançados chaman a atenção da geração pitchulla 3d,,,para os saudosistas como eu é apenas uma atualização de conhecimento e comparações da vida!!!!
    sou fã do atari, nes e 16 bits em geral,,,então tudo que é antigo me traz boas lembranças e através desses jogos antigos volto e penso na minha vida quando o meu pai ainda era vivo, lembro dos meus amigos que ainda poucos gostam de jogar esses clássicos jogos nandertais!!!!Então,,,jogar e assistir um clássico dos cinemas são as coisas que mais me cativa atualmente…atualmente só jogo jogos antigos mesmo,,,minha vida atual é totalmente 2d mesmo,,,jogos atuais e cinema mesmo só por curiosidade…..como é bom ser antigão!!!!obrigado!!!!!

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  • 20/09/2011 em 5:36 pm
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    Wild Arms era ótimo, além de exemplo-mor de que gráficos não fazem um bom jogo. Uma curiosidade que lembrei desse jogo é que você podia escolher os nomes dos golpes especiais que você aprendia, e eu inventei nomes tão complicados e estranhos que, no fim, eu já não sabia o que cada um fazia, hehe. Lembro que um dos nomes era “Kamehameha” (e era um dos mais simples). Taí, Wild Arms… é um jogo que eu tenho que jogar um dia desses, até porque naquela oportunidade eu não o fechei.

    O pessoal aqui detesta mesmo o FFVII, heim? O Samurai Spirits RPG foi um jogo que eu só vi em revista na época, mas achei muito interessante. Teve versão em inglês?

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  • 20/09/2011 em 6:17 pm
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    @Fernando Lorenzon
    Sim. Essa perspectiva de que o passado é simplesmente algo passado é meio torpe se pararmos para pensar. Pô, há 1700 anos, Agostinho já dizia que não existem três tempos diferentes, mas três modos de tempo em um único tempo: presente-presente, futuro-presente e passado-presente. A impressão que dá é que os iluministas e cientistas pensaram: “o quê? Além de medieval era cristão? Então ignora e vamos falar o inverso só para contrariar.” hehehe Lembra-se daquilo que falamos sobre a Idade Média? Provavelmente tenha alguma relação.

    Isso prejudica muito o entendimento das coisas humanas em geral e, em psicologia, favorece ideias como as de que um “trauma” no seu passado determina você hoje sem falha e sem chance de erro… Uma lástima…

    Sou fascinado por Wild Arms! Infelizmente, ainda não consegui terminá-lo uma segunda vez (sempre que recomecei parei no meio por alguma razão externa ao jogo e, como sou chato, não consigo voltar sem ser do começo hehehe). Tem dois momentos nele que só de lembrar já dá vontade de chorar; especialmente um que tem uma música bem marcante (no evento que acaba iniciando a aventura dos três juntos).

    Eu joguei o wild Arms 2 e achei bacana. Tem bons personagens, boas aberturas (são duas porque são dois CDs), as músicas são legais (não tanto quanto as do primeiro, mas algumas muito boas) e a história é legal também. Prefiro o primeiro porque esse já começa a ter algo de “enrolar”, mas é sutil e não incomoda muito.

    @piga
    Eu tenho períodos assim também. O que é saudável, de todo modo. Como já discutimos, jogamos (qualquer coisa) para descansar. Se não descansamos, não há porque nos forçarmos a “jogar”.

    Eu não me qualifico nem de hardcore e de casual porque não gosto desses termos… Nem diria que fico no “meio” porque não vejo isso como uma escala. Esses “dois modos de ser gamer” são meio distorcidos porque se definem pelos jogos que se joga, pelos consoles/portáteis utilizados, pelos gêneros de jogos e pelo tempo que se gasta por dia/semana jogando. E não acho que isso seja mais do que a descrição de um hábito. Um não é mais jogador do que o outro: são só hábitos diferentes (como há o moleque que joga futebol todo dia e o que só joga aos finais de semana).

    @leandro(leon belmont)alves
    Isso é importante! Um jogo que nem é tão importante enquanto jogo pra você ainda é importante em sua própria vida porque abriu caminhos que desconhecia e que, hoje, ama trilhar. Muito bom!

    Wild Arms eu conheci pela Gamers que os caras estavam “detonando” (hehehe ainda acho esse termo engraçado) a versão em japonês dele. Samurai Spirits nunca joguei, mas quando via nas revistas tinha muita curiosidade porque era bem na época em que jogava Samurai Shadown II (viciadão com a Charlotte hehehe) e estava retomando meu encanto com RPGs.

    Pô, só lembrou do HEE-HOO no segundo comentário? hauhauhauahuah

    @Coelho
    Eu também acho que a criatividade por parte dos designers é um problema. Como tenho falado, tem muito jogo saindo e poucos realmente tentam inovar. Empresas que tentam trazer coisas novas acabam falindo (como a WARP que fez um jogo para cegos – espetacular, para dizer o mínimo porque ninguém mais havia feito isso e ninguém mais fez isso até onde sei).

    Mas também acho que no passado tinha muito lixo repetitivo e cópias sutis de coisas bem sucedidas ou baseadas em pesquisas de mercado prévias. Nem tudo que era feito antes tinha esse “germe criativo”.

    Por isso que admiro até hoje a Sega, especialmente no mercado dos Arcades. Eles praticamente inventaram o estilo de fliperamas que temos hoje (eles tinham máquinas multiplayer na década de 1970) e ainda hoje tentam inovar nesse ramo. Além dela, só quem tenta fazer alguns arcades diferentes (mas só de vez em quando mesmo) é a Konami.

    @Auron
    Com certeza! Eu até acrescentaria “da minha história gamer” porque não é uma história universal a que experimentou, mas você mesmo, ali naquele contexto todo.

    @helisonbsb
    Não tem que me agradecer não! hehehehe

    Realmente é muito bacana quando conseguimos dar um sentido à nossa história passada em nosso próprio presente. Ver bons momentos passados como lembranças e não desejar simplesmente que “aconteçam de novo”. Como vivo falando aqui da repetição, é mais ou menos isso: se ainda curte jogos antigos e tem vontade de jogá-los, vá lá e jogue. O mesmo com filmes e livros. Provar algo novo às vezes é bom, mas a comida caseira que gera surpresas, mas também tem um quê de segurança é saborosa e nos sustenta por mais tempo.

    @Onyas
    Sem dúvida. Mesmo tendo gostado muito (muito mesmo) de Xenogears, depois que joguei Wild Arms, ele se tornou meu RPG favorito do PSX (Chrono Cross está nesse rolo também, mas não vem ao caso. hehehe). Não é enrolado, é relativamente curto (terminei em umas dez horas, acho), tem boas cenas, excelente música e, o principal, dá uma vontade louca de jogar de novo… Fora a ambientação que faz uma mescla muito bacana entre a cultura americana com a japonesa (que já era existente nos remakes de velho-oeste de filmes de samurais). Pena que isso se perdeu no remake dele para PS2…

    Infelizmente ele não saiu em inglês… Como falei em outro comentário, eu era doido para jogá-lo. era fã da Charlotte e jogava direto com ela. hehehe seria bacana controlá-la em um RPG. Saiu para Saturn também e, pelo que sei, a versão para o console da Sega era melhor.

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  • 21/09/2011 em 5:15 pm
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    É uma pena, acho que a mistura de RPG com luta é algo bem bacana, e pouco explorado. Lembro que o Playstation tinha também o “King of Fighters Kyo”, que era muito interessante, com um sistema de batalha que envolvia muita estratégia e raciocínio, mas era impraticável pela montanha de textos em japonês que era o jogo. Aliás, era uma mistureba de gêneros: RPG, estratégia, luta, e o desenvolvimento do jogo lembrava aqueles simuladores de encontros (eu só jogava os hentai, huahuahua), onde você deveria estar em um determinado lugar em um determinado horário. Quem não conhece vale a pena pela curiosidade.

    Se pensarem bem, elementos de RPG pode ser inserido em qualquer outro estilo de jogo. Eu jogava muito – a ainda jogo – a série Captain Tsubasa, de Nes e Snes, que aliava futebol e RPG (!), e se você abstrair os absurdos dos chutes que deixam um rastro de fogo no gramado, nocauteam o goleiro e furam a rede… tem um jogo bem interessante por detrás.

    P.S.: Para quem não conhece a série Captain Tsubasa, é aquele desenho que passou na antiga Manchete com o nome de “Supercampeões”.

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  • 21/09/2011 em 5:24 pm
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    @Onyas
    É uma mistura boa sim. Algo no estilo de Tales of Phantasia seria interessante. hehehe

    Esse é outro que sempre quis jogar, mas nunca joguei (pelo idioma mesmo). Uma pena porque mistura gêneros bem interessantes e deve ter um resultado bacana.

    Um jogo recente com elementos de RPG que curti é o Borderlands. Deve ter sido o único jogo de tiro que realmente gostei de jogar. hehehehehe Até finalizei sozinho além de ter jogado com amigos! huahauhauha Nunca fiz isso com FPS.

    Nunca joguei nada de Captain Tsubasa, mas parece interessante pelo que você falou. Outro que me vem à cabeça mistura RPG com briga de rua: River City Ransom. Esse e divertido também.

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  • 25/09/2011 em 11:30 pm
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    @joeycaruzo
    Valeu cara!

    É engraçado mesmo como algumas lembranças acabam ficando. Parecem bestas no início, mas depois nos lembramos dela com grande alegria. Como essa sua experiência com o pulo triplo. hehehe Nunca joguei esse jogo de PSX; é bom?

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