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Treasure of the Rudras foi um dos últimos RPGs lançados pela Square para o Super Famicom. Como o jogo nunca foi lançado fora do Japão, passou despercebido por muita gente. Nesta série de quatro posts, nosso amigo Thiago “Senil” vai nos apresentar a este interessante jogo da Square, que curiosamente não virou franquia e até hoje foge ao “radar” de muitos amantes do gênero.

— Orakio “O Gagá” Rob

“Na Jade da Morte reside o Corpo da Arte… A Arte reside no Criador que procurará tesouros ocultos.”

DuneAgora, após os três posts iniciais, podemos partir para o encerramento dessa pequena descrição do prelúdio do jogo. Pode ser difícil para quem não leu os posts anteriores entender este. Se for o seu caso, você pode ler os posts anteriores na ordem em que achar melhor.

Existem certas coisas que não são segredo para ninguém. Uma delas é o fato de que a Square nunca deu a devida atenção a algumas de suas melhores e mais emblemáticas peças de jogo e arte. É uma daquelas empresas que estabelecem franquias (como Final Fantasy) e têm alguns outros jogos isolados interessantíssimos. E nem me refiro muito ao fato de a representante da Square nos EUA não ter trazido todos os seus títulos para um mercado e idioma mais acessível. Penso também na própria Square japonesa, que nunca deu a devida atenção (para o bem e para o mal) a alguns de seus jogos. Talvez, as duas sagas mais conhecidas desse rolo todo sejam Xenogears (que “virou” Xenosaga em outra companhia – mas não deixem ninguém ficar sabendo disso, negarão até a morte, he he) e a série Chrono (que só tem na verdade dois jogos; o “Radical Dreamers” lançado para o Satella View é mais um dos vários mundos possíveis de Chrono Cross).

Existe, porém, um outro. Não faz parte do rol alternativo-famoso da Square. É o Treasure of the Rudras (grafado de várias formas em japonês no alfabeto ocidental: Hudora no Hihou; Rudora no Hihou; Rudra no Hihou; Hudra no Hihou) ou, no idioma e alfabeto originais: ルドラの秘宝. É este que quero compartilhar impressões com vocês. Mas, antes, um agradecimento sincero a Gideon Zhi (da Aeon Genesis Translation) e sua equipe que fez um trabalho excepcional, profissional e competente em um jogo no qual não só é importante ler como também escrever. Tem uma entrevista bem legal com ele aqui.

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À esquerda: pilotando a Arca Danan. À direita: mais alguém aí pensou nas pinturas de Escher?

Lançado em cinco de Abril de 1996, Treasure of the Rudras foi o penúltimo jogo da Square lançado para o Super Famicom. Ele antecede o lançamento de Treasure Hunter G e foi lançado pouco mais de um mês depois do Super Mario RPG (que tem um diário excelente feito pelo Bangagá começando aqui).

Este jogo faz parte de uma de minhas odisséias pessoais. Quando já tinha meu bom e velho Saturn, gastava meu dinheiro com uma revista porca chamada SuperGamePower, composta basicamente de traduções mal feitas da GamePro (e que me fazia lamentar a fusão da excelente SuperGame com a GamePower). E, obviamente, quase nada saía dos oito ou dezesseis bits que amamos. É verdade que teve uma matéria sobre Street Fighter para Master System e algo sobre Shining in the Darkness e Phantasy Star II em português, mas no geral não se falava mais nesses consoles. E então, leio a respeito de um RPG sensacional chamado “Hudra’s Treasure”. Eu fiquei anos procurando esse jogo, lendo listas inteiras de roms dumpadas de SNES até que achei um “Rudras” que me pareceu semelhante. E finalmente tive acesso a informações melhores a respeito do jogo.

Sabem aquele jogo que você jogou ou leu a respeito e nunca teve acesso a não ser com o advento da internet, ou aquele cartucho japonês obscuro alugado em uma sexta-feira cinzenta em que já haviam locado Phantasy Star ou World of Illusion, cujo nome você não se lembra mais? Pois é. Eu tenho várias experiência do tipo e levei eras para (re)descobrir muitos jogos. Este é um deles.

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A caixa do cartucho de Super Famicom

Ao ler a matéria na revista ruim, três coisas me chamaram a atenção de imediato. O fato de ser um RPG; a possibilidade de se escolher o personagem principal; o fato de você ter que escrever as magias para usá-las. Não chega a ser uma surpresa tão grande o fato de que, após jogá-lo, outras coisas boas se somaram a estas que, de fato, eram excelentes.

Os personagens são bem diferentes entre si. E como cada um de nós, que vivemos nossas vidas em um mesmo mundo, eles tinham objetivos totalmente diversos (e um tanto quando idealistas — ah, a juventude!). Mas, mesmo com as designações simples (guerreiro, clériga, mago), os três personagens não são tão simples assim. Sion não é um mero soldado do rei; Riza não é só alguém que tem como destino salvar o mundo; e Surlent é mais do que alguém que almeja ser sábio. Isso fica evidente conforme você avança no jogo e vai conhecendo outras pessoas que, entrando no seu grupo, revelam o esmero na elaboração de cada um deles. Além do fato de que, acrescentando um pouco à individualidade de cada um deles, todos os personagens têm movimentos distintos ao entrar na batalha, ao usar um mantra, ao usar um item, ao defender e ao vencer a batalha. O Surlent, inclusive, tem três variações possíveis (vocês vão entender melhor jogando o jogo). E eu já disse que todo mantra que você usa tem uma animação diferente e que, além disso, toda arma é diferente entre outras de mesmo tipo? Detalhes não faltam neste jogo.

A jogabilidade, contudo, pouco acrescenta ao que estamos acostumados com RPGs tradicionais por turno. A novidade mesmo é o uso dos “mantras” que você vai criando da maneira que quiser com seus prefixos e sufixos necessários. Sem falar na dificuldade exagerada pelo uso ostensivo de elementos pelos inimigos: você simplesmente TEM que ter armaduras, armas e magias de elementos variados para poder sobreviver. Ao lado dos personagens e da música, a história é o que importa mais aqui.

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À esquerda: HotDog tem poder de Fogo; Senil de Cura; Gagá de Vazio; Caduco de Vento; Antediluviano de Água. Não lembrei o nome do resto do povo do asilo. Deve ser o Alzheimer 😛 À direita: uma mirada ao mundo de Tresure of the Rudras.

Longe de mim querer afirmar que esse é “o” melhor jogo da Square. Mesmo tendo adorado as músicas compostas por um verdadeiro roqueiro, nem sobre a OST diria isso. A obra mais completa da Square no SNES vai continuar sendo Chrono Trigger. Isso, porém, não diminui em nada o mérito de Treasure of the Rudras, que é um jogo excelente, embora seja feito para ser jogado poucas vezes. Afinal, com as surpresas repousando principalmente sobre a história, uma vez que a experimentamos umas duas ou três vezes, só voltaremos a ela tempos depois. Mas admito que, ao terminá-lo pela primeira vez, engatei uma segunda jogatina logo em seguida; e pouquíssimos jogos me empolgaram a fazer isso. A experiência é recompensadora, e suas falhas não são por ser um RPG datado, e sim por não ter tido a atenção que merecia, tanto da Square como do público da época.

A Square é muito quadrada (sim, com trocadilho he he) e faz muita coisa para garotos pré-adolescentes que querem mais um jogo para passar o tempo e mudar para outro logo depois (como se jogar o mesmo jogo mais de uma vez fosse um crime ao consumo de videogames). Por isso que acho que muitos dos jogos que valem a pena (desta empresa e de outras) são justamente aqueles que não estabeleceram um franquia, sejam eles famosos ou não. Jogando Treasure of the Rudras, vocês poderão saber o que é um bom jogo que não menospreza sua inteligência querendo enfiar goela abaixo um enredo emocionalmente carregado e sem sentido.

Treasure of the Rudras: a resenha
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9 ideias sobre “Treasure of the Rudras: a resenha

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