“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

Aos domingos, no jornal Folha de São Paulo, circula um caderno chamado “Ilustríssima” que possui textos sobre literatura, artes e outros assuntos correlacionados. No dia 27 de março, uma das matérias foi sobre videogames. A matéria me instigou a tentar estabelecer um diálogo, mas como sei que isso não é possível em um jornal de grande porte como este, optei por também divulgar o que lhes escrevi o mais breve possível aqui para vocês. Não vou dizer a respeito do que a matéria fala porque penso que meu texto está claro o suficiente e, embora não aprofunde muitos assuntos, alguns deles eu já abordei aqui com vocês. Será mais longo do que o normal, mas tentei inserir algumas imagens a mais também para que não fique por demais chato para vocês (algumas imagens até sem nenhum motivo aparente; embora seja possível encontrar sentido se me acompanham desde a primeira postagem nesta coluna). Acompanhem então o que escrevi a partir do próximo parágrafo.

Por favor, não encarem o título com “resposta” como aquela usual em que alguém tenta dizer em muitas e muitas palavras que não concorda e acha deplorável o que foi dito por algum veículo de comunicação. Encarem isso como o discurso de uma segunda pessoa de um diálogo, resultado de minha conversa com o artigo que apareceu no caderno Ilustríssima do dia 27/03/2011 acerca de videogames.

É evidente, dentro e fora da academia, que existe certa polarização nas atitudes com relação ao videogame. Alguns o acusam como se fosse um tipo de gênio maligno tecnológico (e, um tanto contraditoriamente, geralmente tecem suas críticas usando computadores e a distribuem por blogs ou e-mails), e outros que o endeusam como se fosse a única coisa que realmente valesse a pena no mundo (capaz de curar todas as mazelas da sociedade). Isso aparece também na própria imprensa com matérias estabelecendo correlações do jogar videogame com atos violentos e até mesmo uma melhora em coordenação motora fina (para ficarmos somente em alguns poucos exemplos).

O problema-mor deste duplo posicionamento é que leva a uma guerra sem vencedores. E há aquela impressão de que quem se alia aos detratores do videogame converteu-se em um velho conservadorismo incapaz de mudar; e, por outro lado, aqueles que defendem os videogames parecem estar do lado das empresas que desenvolvem sistemas de jogos e os jogos propriamente ditos. O que, em ambos os casos, é uma inverdade. E essa tola discussão acaba obscurecendo o que realmente importa nesta questão: o que é jogar videogame?

Enquanto redigia minha dissertação de mestrado, algo ficou muito claro para mim: jogar videogame é o mesmo que jogar qualquer outra coisa. Infelizmente no português e em pelo menos mais três línguas românicas, perdemos uma palavra bem mais rica de sentido que é o ludere (jogar em latim). Outros idiomas ainda possuem essa amplitude em seus termos (Spiel em alemão, por exemplo, comporta não somente jogos infantis, mas jogos adultos e, claro, peças de teatro, ouvir e tocar música etc.). Por isso é preciso que reflitamos um pouco mais sobre isso em nosso idioma.

Não precisamos de um aparelho como o do Virtual Boy para entrarmos em um outro mundo.

Jogar (em sentido amplo) sempre será um “jogar-se” a um mundo-jogo. É um mundo dentro de nosso mundo cotidiano em que as preocupações corriqueiras não têm mais nenhuma validade e somos guiados puramente por tarefas. Tarefas estas que nos são colocadas pelo próprio jogo. Sequer somos senhores de nosso próprio jogo! Afinal de contas, quem há de negar que, quando lemos um livro envolvente, nós nos deixamos levar por ele? Pois ler, por mais estranho que pareça, também pode ser entendido como jogo (Gadamer e sua discussão sobre a hermenêutica fornece muitas pistas para isto).

Isso significa que ler, ouvir música, assistir filmes, acompanhar peças de teatro, brincar de amarelinha, jogar futebol, dançar e, claro, jogar videogame são jogos. O que é fácil de esquecer é que o desenvolvimento tecnológico de determinada época influi na construção de jogos e brinquedos. Se na época em que não existiam fábricas de brinquedos eram marceneiros que faziam brinquedos de madeira, ferreiros que faziam soldadinhos de chumbo e alfaiates que faziam bonecas de pano, porque hoje em nossa era recheada de computadores não poderíamos ter jogos e brinquedos tecnológicos?

Um dos muitos consoles que não deram certo. Este da Apple (sim, a Apple fez algo que não vendeu).

Existe a ideia de que tudo que se faz com computadores é permitir que zeros e uns façam todo o trabalho enquanto somente observamos. Embora isso seja verdade com certos brinquedos e até mesmo videogames, não é a regra que predomina. Até poderia arriscar dizer que é mais provável que uma boneca que fala quatro frases seja muito menos propiciadora de uma situação de jogo do que um game que se proponha a manter a liberdade do jogador para fazer aquilo que quiser dentro de certo campo de jogo desde que arque com as consequências.

Não estou aqui, espero que tenha ficado claro, defendendo os games e dizendo que eles são a solução para tudo no mundo, ou a única e genuína forma de jogo genuína. Até porque uma experiência genuína de jogo depende muito mais da vontade do jogador se entregar ao jogo do que propriamente daquilo que é feito. Há pessoas que não jogam xadrez, embora movimentem as peças; outras jogam damas com uma disposição ímpar. Sou o primeiro a dizer para alguém que “vá jogar alguma coisa!”, seja lá o que for. Até porque como Buytendijk bem percebeu no começo do século XX, jogar é algo essencial ao ser humano (tanto que suas considerações fenomenológicas inspiraram as pesquisas de Huizinga posteriormente). Quando tínhamos somente pedras, paus e bolas de borracha brincávamos com isso, hoje brincamos com outras coisas.

Ah, queria achar um lugar assim aqui em São Paulo. Especialmente por aquela seção mais à direita na imagem.

O problema dos ataques aos videogames, persistentes desde o primeiro deles a ser comercializado (antes de virar uma indústria, não noto grandes críticas a ele), é que forçou acadêmicos, jogadores e repórteres especializados a buscar os “grandes méritos” e “vantagens” de se jogar videogame. Daí, surgem os eufemismos comuns de que jogar videogame é útil; ou seja, jogar games é bom porque serve para alguma coisa. Esse “alguma coisa” pode ser melhor resposta reflexa a eventos, melhor condicionamento físico, melhor saúde, por se tratar de uma “nova forma de arte” ou qualquer coisa que se possa imaginar. E isso só nos afasta ainda mais da necessidade de se compreender games como jogos. Ou seja: nada mais do que compreender jogos como jogos. Quem joga games para “melhorar a capacidade cerebral” ou qualquer outra razão não está jogando autenticamente: sua tarefa só se realiza fora do jogo e a tarefa de jogo só se completa e tem sentido dentro dele mesmo. Se obrigar uma criança a jogar qualquer coisa, incentivar alguém a jogar algo por ser útil aniquila a experiência de jogo totalmente (embora, evidentemente, aprendamos coisas enquanto jogamos – mas isto é acidental e não perfaz o objetivo do jogo enquanto tal). Que é o que bem traz a reportagem ao falar sobre o aumento do número de games desenvolvidos especificamente para melhorar ou “tornar mais agradáveis” atividades comuns do dia a dia.

O problema de levar o jogo a todas as esferas da vida não é ruim per se. Só é uma inversão daquilo que sempre acontece e poucos percebem que é o fato de nossa cultura ser fundada em jogo. Huizinga já dizia da relevância de se falar de jogo como elemento de cultura e não na cultura justamente por isso: o direito, as guerras, as relações humanas, o trabalho e a religião têm elementos de jogo. Só que, como vivemos em uma época em que o sagrado (para usar um termo de Mircea Eliade) se perdeu, as pessoas sentem a necessidade de trazer algo que dê algum sentido ao mundo como, por exemplo, fazem alguns autores ao defenderem os games a tal ponto que parecem desejar que o mundo fosse um videogame.

É claro que existe um problema nisso tudo que é o excesso. Existem jogadores que abandonam completamente (com ênfase no completamente) suas vidas em prol de determinado mundo de jogo. Como diz C. S. Lewis a respeito de certo tipo de leitores, são pessoas que constroem morbidamente castelos de areia: querem manter para sempre um castelo de areia que tem prazo de validade determinado. Todo jogo, já dizia Huizinga, ocorre em um outro tempo e espaço; mas um tempo e espaço delimitados: sempre há a urgência de voltarmos ao mundo “comum” e às preocupações diárias. E a maioria volta. Alguns não querem voltar.

Outro fenômeno correlacionado com este é o consumismo. As indústrias (como toda e qualquer indústria) vendem seus produtos e, por prestar um serviço, deseja obter alguma coisa em troca. Por isso, vemos que de uns anos para cá, centenas de jogos são lançados em pouquíssimo tempo convidando e buscando seduzir jogadores a sempre experimentar algo novo. E muitos caem nesta teia e acabam sempre jogando jogos diferentes, mas com coisas comuns a outros que gostaram. Ou seja, embora a repetição seja essencial a todo jogo, há uma repetição indireta em que se pula de jogo em jogo e não há o retorno ao mesmo jogo (que, talvez nem precise dizer, é diferente a cada vez que é jogado).

Um dos quatro minigames do arcade lançado pela Sega (e comentado na matéria) denominado de Toylet.

Exatamente as mesmas coisas acontecem, embora isso pouco seja comentado, com outras indústrias igualmente bem sucedidas como a cinematográfica e a literatura. Os “cinéfilos” e os “ratos de biblioteca” padecem do mesmo mal de muitos jogadores de videogame: afundam-se em mundos que lhe parecem muito mais interessantes que o seu próprio e, não querendo repetir o mesmo mundo algumas vezes, experimenta mundos diversos em sequência. E as editoras, gráficas e estúdios de cinema favorecem esse tipo de consumo. E não falo aqui somente de filmes de Hollywood e de livros pop; às vezes o que é explorado são justamente aquilo que muitos chamariam de clássicos. Clássicos que são vistos, lidos e, por que não, jogados apenas uma única vez pela maioria das pessoas. Uma pessoa que lê Paraíso Perdido de Milton, mas não quer voltar a ele e vaga de livro em livro, sem jamais reler nenhum, pode ter uma experiência de leitura mais empobrecedora do que se poderia imaginar a priori.

Sair um pouco do mundo é bom. Por isso jogamos. O problema é querermos ficar por lá. E esse perigo existe em qualquer arte, já que a arte também é jogo (como esplendidamente Gadamer conclui). A tão repetida “velocidade de videogame” como sinônimo de “ação rápida e subsequente” para descrever certos filmes e livros não é incorreta; muitos videogames são assim, mas nem todos (alguns, na verdade, são até bem lentos – e seriam estes igualmente criticados por “exigirem tempo demais do jogador”). E este não é um sintoma da existência dos videogames, mas da nossa própria cultura. Nós jogamos os jogos desenvolvidos e jogados por determinada cultura; se a nossa cultura é a cultura do consumo rápido, das coisas descartáveis e da busca ansiosa por novidades, isso se refletirá em todo e qualquer jogo que esta cultura possa ter. Seja um game, um livro, um filme, ou o teatro.

Meu disco predileto do Yes; é o que mais me faz largar tudo que estou fazendo para ouvir.

É isso que precisa ficar muito claro. Existe uma polaridade no estudo de videogames sim, mas não é isto que importa. A questão fundamental é esquecida. É uma pergunta tão óbvia que ninguém parece fazer, sequer a si mesmo: o que afinal de contas é jogar?

Se alguém souber, me avise. Porque é justamente isso que me pergunto todos os dias. Seja quando procuro meu tabuleiro de xadrez, quando ligo meu videogame na tomada, quando compro um belo livro e quando combino com bons amigos de irmos ao cinema. É aquele tipo de questão que, como aponta Santo Agostinho sobre o tempo, sabemos muito bem o que é, até que nos peçam para explicá-la.

Obrigado pela atenção.

Um arcade de tiro bem interessante da Konami.

É isso por hoje! Até o próximo post!

Academia Gamer: Resposta à Ilustríssima
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18 ideias sobre “Academia Gamer: Resposta à Ilustríssima

  • 05/04/2011 em 10:30 am
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    Cara, texto sensacional!! Mesmo não sabendo qual foi a matéria que saiu na Folha de São Paulo, deu para perceber claramente do que ela se tratava lendo o seu texto.

    Também estava percebendo isso nas famigeradas discussões envolvendo os video-games. A grande maioria tenta elaborar teorias das mais variadas para os dois lados e esquecem do mais simples: é apenas um jogo, e irá trazer todas as características (boas ou ruins) de um jogo. O que muda são os avanços tecnológicos. E isso vale para todas as formas de arte.

    E é bem como você disse: se uma pessoa/grupo/sociedade é adepta do consumismo desenfreado e exagerado, ela se refletirá na maneira que lidamos com todo e qualquer tipo de jogo. Um exemplo prático é justamente o hábito atual de muitos de ouvir apenas os singles, as chamadas músicas de trabalho de uma determinada banda; já eu ouço os álbuns, até porquê eles têm uma história e uma sequência lógica (mesmo não se tratando de “álbuns conceituais) determinada pela banda/músico/artista.

    Continue com esses textos formidáveis, cara!!

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  • 05/04/2011 em 3:22 pm
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    muitos jornais tentam dar conceitos e inventam teorias sobre video game,,,mas na verdade eu vejo sempre falando em jogos violentos e que criança tem que ter uma vida social: brincar, ir ao cinema, passear e bla, bla, ou seja ainda pensam que video game é para criança,,
    video game não tem idade e nem prazo de validade,,,jogar video game é cultura e socializar com a tecnologia que não para de andar!!!!
    video game virou mais um utilitário que não pode faltar em casa,,,video game se tornou um membro da família!!!!!
    valeu pelo texto!!!!!

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  • 05/04/2011 em 7:23 pm
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    O texto está muito bom e sintetiza muito do que você já abordou aqui.

    Essa visão utilitarista dos vídeo-games passou a me incomodar de uns tempos pra cá porque foge do argumento principal. A tentativa de abordar o video game como um agente que piora ou melhora a pessoa, simplesmente como uma ferramenta, é bastante idiota. O exemplo que você deu sobre melhorar a coordenação motora foi feliz e até já discutimos sobre isso. Nunca devemos jogar achando que está melhorando isso ou aquilo, mas sim porque é um entretenimento, tendo com isso somente o objetivo de entreter. Isso não significa que “somente entreter” não possa ser algo grandioso e bem elaborado, que alimenta a “alma” da pessoa e até a influencia. Mas é entretenimento.

    A citação sobre os clássicos que são lidos mas nunca relidos também foi bastante feliz e me lembra o livro de Ítalo Calvino chamado “Por Que Ler os Clássicos”, que apesar de eu nunca ter lido (e também de não ler muito do gênero ficção/romance), pelo menos concordo com o argumento principal: Os clássicos devem ser relidos.

    Mas no caso de nós, gamers, o correto seria: Os clássicos devem ser re-jogados (que em alemão seria a mesma palavra, como você bem apontou).

    Pra variar, há algum tempo eu escrevi algo parecido no meu blog e gostaria que as pessoas daqui lessem, pois complementa minha opinião (e me dá pageviews). Se me permite:

    http://www.cubagames.com.br/por-que-jogar-os-classicos/

    PS. Mas vocês aqui do Gagá Games são muito fãs da Sega hein?! Percebo uma nuvem da nostalgia cobrindo a visão da galera. Tem muito jogo antigo que é tosco e repetitivo, sendo incessantemente idolatrado pela comunidade retrogamer pelo simples fato de ser antigo (e tosco), heheh.

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  • 06/04/2011 em 12:56 pm
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    Ótimo texto, Senil. Deu pra ver nele várias questões que você já levantou aqui. Só lamento não ter a chance de ler o texto da Ilustríssima; a Folha bem que poderia colocar no site. De qualquer forma, a partir da sua resposta deu pra ter uma ideia.

    Achei interessante a palavra “jogar”. Não sabia que outros idiomas além do inglês usam a mesma palavra para “jogar” e “tocar”.

    Se me permite dois off-topics neste comentário:
    1) Vi que você comentou sobre meu cosplay. Não tenho muitas fotos, mas se quiser ver: http://www.flickr.com/photos/paattyk/5594977259/ Ele é realmente antigo! Um dia preciso tirar a roupa do armário e ressuscitá-lo.

    2) Não sei se você viu, mas saiu no Uol uma matéria sobre videogame e arte, e imediatamente lembrei daquele seu post! http://jogos.uol.com.br/ultnot/multi/2011/03/30/alem-do-jogo-videogames-sao-arte.jhtm

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  • 06/04/2011 em 2:44 pm
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    @Adney Luis
    Valeu pelo elogio!

    Eu achei que meu texto ficaria claro mesmo sem ter a referência da matéria. A versão online disponível para qualquer pessoa não diz boa parte do que me levou a escrever essa resposta e achei melhor nem passar um link.

    Com relação à música, é exatamente isso mesmo. Sejam bandas recentes ou não, isso ainda acontece.

    Eu gosto bastante do Yes e das capas do Roger Dean. hehe A que mais gosto é a do Tales from Topographic Oceans (que é um disco muito bom, apesar do que dizem dele), mas ela é meio grande e procurei uma menor (o Drama é o disco que mais gosto; o pessoal não curte muito por ser outro vocalista, mas isso não me incomoda nem um pouco hehe). O Close to the Edge é um disco que eu aprendi a gostar; demorei para pegar gosto por ele (mais do que por outros discos do Yes), mas insisti várias vezes e hoje também é um dos que mais gosto de pegar para ouvir de vez em quando.

    @helinux
    Disponha! hehehe

    É bem isso mesmo. Eu nem diria que jornais fazem isso porque no meio acadêmico isso é comum. Daí, quem quer defender os videogames, acaba criando também suas teorias mirabolantes que não dizem coisa alguma também. O perigo está nos dois extremos. E também na parcialidade porque videogame, livros e cinema é tudo a mesma coisa (jogos); o que muda é só a forma com que jogamos.

    @Fernando Lorenzon
    Sintetiza mesmo; até por isso que não tive muito receio de deixá-lo um pouco maior, não entrar em diversos detalhes e até mesmo sem fornecer a matéria do jornal para lerem (imaginei que seria inteligível para quem vem acompanhando).

    Essa visão pragmática (de ambos os lados) também é complicada para mim há algum tempo. costumam esquecer que todo jogo (seja ele qual for) não tem função nenhuma fora dele. Quem diz que joga alguma coisa coisa para “obter algo” no “mundo real” não está jogando de verdade; na realidade, nem mesmo saiu do mundo real. É o que acontece, por exemplo, com quem joga games por profissão (como críticos de sites e revistas, ou testers). Se forem realmente bons, eles se deixam levar pelo jogo e só então falam sobre ele; se forem, desculpe o termo, medíocres vão olhar o jogo sempre de fora. C. S. Lewis falava que, no começo do século XX, a maioria dos críticos literários não se deixava levar pelo que liam; e eu posso dizer, no começo do século XXI, que a maioria dos críticos de videogames não se deixam levar pelo que jogam.

    Eu lembro desse livro direto quando começo a pensar nestas coisas. hehehe Nunca li ele inteiro (discuti um pedaço dele numa aula de Psicanálise na faculdade, mas só), mas é algo a se pensar. E é isso mesmo que falou: os games tem que ser jogados de novo. Senão, não são jogos. Embora muitos joguem games antigos por nostalgia, eu jogo games antigos porque eles ainda me divertem e porque ainda quero voltar a eles.

    Quem não foi no blog do Fernando, recomendo que vá. hehehe Tem posts bem bacanas, inclusive este que linkou e que eu gostei quando li da primeira vez.

    huahuahauhauha Cara, eu gosto bastante da Sega (mas não sou Sega fanboy), principalmente porque fez (e ainda faz) parte de grande porção da minha vida de jogador de videogame. Acho até engraçado porque tem jogos que eu gosto e que só bem depois descubro que é da Sega. hehehe É o que tenho mais propriedade para falar; e para não ficar sempre em exemplos repetidos. Por exemplo, se fosse para falar da Nintendo, eu ia ficar somente em Mario, Star Fox, Zelda e coisas parecidas. Para não ficar sempre naqueles jogos que todo mundo sempre ouve falar.

    @Patty K
    Valeu pela força Patty!

    A Folha até colocou no site, mas os poucos parágrafos que aparecem lá não dizem nada realmente pertinente ao que escrevi de resposta. A matéria tem duas folhas inteiras do jornal e lá tem os dois primeiros parágrafos. hehehe Se eu tivesse uma câmera digital boa, eu tirava uma cópia para lerem, mas como não tenho… Vou ficar devendo dessa vez.

    Idiomas dessa origem geralmente tem uma palavra só para jogar e tocar. E não só isso. Play em inglês pode significar trocentas coisas (jogar e tocar, mas também peça de teatro etc.). Em alemão (e holandês) é interessante porque Spiel acaba servindo para criar outras palavras (como ator e atriz etc.). E assim dá para perceber bem o sentido amplo que ludere tinha no latim e que, infelizmente, perdemos no português (e também no italiano, francês e espanhol – preciso confirmar no romeno, mas não tive tempo de fazer isso ainda).

    Ei, ficou bem legal seu cosplay! E estava cantando o quê? hehehe Como falei, não pareço com ninuém de anime e games; nunca que faria um cosplay decente (talvez um zoeira, mas quem sabe hehehe).

    Interessante a matéria porque eu provavelmente receberia as mesmas críticas do cara. Eu não acho que games sejam arte por definição. Os elos em comum entre videogames e arte são os mesmos que unem a leitura e os games: os seus aspectos lúdicos (especialmente o de “ser envolvido” e “ser levado”). Mas tem coisas que parecem jogo, mas não o são. Games podem parecer arte, mas não o são essencialmente. O problema reside justamente na definição mesma de arte (como o autor da matéria comenta) que sofreu uma grande mudança de uns dois séculos para cá.

    Tanto é que tenho me dedicado muito a estudar essa questão da arte justamente para tentar entender o que ela é genuinamente e poder confirmar (ou refutar) a minha ideia de que game não é arte. O argumento que tenho hoje, por enquanto, é que: se uma partida de xadrez (com tabuleiro padrão) não pode ser considerada arte, então jogar Mario Galaxy também não é. Claro que falamos que “jogar xadrez é uma arte”, mas também podemos dizer que “aguentar um chefe rígido é uma arte” sem querer dizer que isso que provavelmente fazemos de segunda a sexta se equivale à obra de Picasso.

    Ufa, falei demais. hehehe Mas essa é uma preocupação pessoal minha. Então, é bem provável que acabe falando disso mais vezes por aqui, daí a gente pode discutir melhor.

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  • 08/04/2011 em 10:12 am
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    @O Senil
    Obrigada! Estava cantando Eternal Snow, uma música de anime. =)
    Ah, impossível não ter um personagem parecido com você!

    Acho que realmente é complicado definir o que é “arte”. Me parece um conceito muito abstrato e amplo, às vezes até sujeito a interpretações pessoais, como o exemplo que você citou de aturar um chefe chato. Mas claro que ela precisa ter uma definição um pouco mais concreta; legal você estar estudando isso! Depois poste aqui o que concluir.

    E a partida de xadrez me fez pensar em futebol. Os comentaristas fazem uma divisão de futebol-futebol, com o propósito único de ganhar, e o futebol-arte, aquele cheio de malabarismos e belas jogadas.

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  • 08/04/2011 em 10:38 am
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    Opa, fazia tempo que eu não comentava aqui. Muito ocupado com o “mundo real”, hehe. Entenda trabalho e faculdade.

    Gostei muito do post, como outros disseram acima, sintetizou muito do que é abordado na Academia. Já comentei antes como entro de cabeça nos jogos a pontos de ter reações até ridículas em frente a uma TV, mas é assim que um jogo tem que ser jogado, ou sentido. Achei muito interessante essa proposta de reler os clássicos, nunca tinha pensado nisso. Eu faço muito disso ao assistir filmes, mas não livros. Quando revejo um filme, normalmente a experiência é bem melhor, compreendo mais a trama, observo mais detalhes. Acredito que o mesmo deva acontecer ao reler um livro. Valeu pela dica!

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  • 08/04/2011 em 11:21 am
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    @Unknownuser2
    hehehe É simples assim mesmo. O problema é que aquilo que é mais óbvio é o que geralmente não damos muita atenção. E, quando resolvem explicar algo sem dar atenção, acaba dando nestes enroscos. Por isso que a descrição da experiência de jogar é tão importante.

    @sonic_tales
    Valeu cara!

    @Patty K
    Nunca ouvi essa música. Vou procurar depois para ouir. De que anime é?

    Ah, eu ainda não vi nenhum personagem que se pareça comigo. hehehe Mas quem sabe um dia.

    Pode deixar que compartilho o que descobrir! É um tema bem complicado mesmo; ainda mais com relação a videogames em que falar que “games não são arte” soa como uma heresia (por mais argumentos que se tenha).

    Legal ter comentado sobre futebol-arte porque também é algo que passa pela minah cabeça quando penso a respeito do assunto. E olha que nem gosto de futebol. hehehe Dizem isso provavelmente porque um jogo de futebol fluido é “belo”; mas é o belo que define o que é arte? E isso é outra coisa a se pensar. É um terreno bem espinhoso.

    Aliás, um autor que pensa o jogo de um jeito bem interessante (o Buytendijk de quem falo de vez em quando por aqui) é holandês e tem um livro dedicado a uma análise do futebol. Pena que o livro é lá do começo do século passado e seja tão difícil de achar.

    @Onyas
    Eu notei sua ausência! E também entendo. hehe Assim como eu cheguei a demorar uma semana inteira para responder aos comentários por conta da correria do dia a dia.

    Realmente, é assim mesmo que um jogo tem que ser jogado. E quanto aos clássicos, é realmente importante revisitá-los. Sejam livros, músicas, filmes, games ou jogos de rua e de tabuleiro. Voltar a eles faz parte da experiência genuína de jogo que cada um deles nos proporciona.

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  • 08/04/2011 em 12:21 pm
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    Wellington Menezes Assassinou estudantes e olha só o que leio agora na Veja On-Line:

    “A construção de um monstro: na infância, humilhações e solidão; na juventude, jogos de tiro no computador”

    http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-construcao-de-um-monstro-na-infancia-humilhacoes-e-solidao-na-juventude-jogos-de-tiro-no-computador

    Seria muito mais coerente citar “na juventude, islamismo”, devido às evidências de motivos religiosos deixados nas cartas do Wellington.

    Se faltava um motivo pra proibirem jogos violentos, agora terão mais um, mesmo que seja injusto.

    A cada morte de pauladas na cabeça, deveriam acusar: “na infância, Tom e Jerry”.

    Mas fazer o quê, nós sempre estaremos em desvantagem, por sermos uma maioria com atitudes de minoria.

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  • 08/04/2011 em 12:33 pm
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    @Fernando Lorenzon
    A primeira coisa que a imprensa faz quando ocorre esse tipo de coisa é perguntar: “ele jogava videogame?” E isso é desde Columbine. Mas me diga, quem não joga videogame hoje em dia? hehehe É o que vendo jornal e revista, afinal.

    Ao invés de relacionarem o bullying com o modo de ser do rapaz (cada um lida com isso de um jeito diferente), pensam logo em jogos de tiro. E na materia mesmo, só há uma referência aos jogos de tiro; colocaram isso daí para chamar a atenção mesmo. É de praxe a imprensa fazer isso.

    Não pesquisei muto a respeito desse caso, mas parece que mesmo as cartas deixadas eram confusas. Assim como as pessoas precisam notar que não há uma relação causal entre games de tiro e tiroteios em escolas, também o islamismo não cria assassinos por definição. O fundamentalismo em qualquer área (seja em qualquer religião, ou até mesmo na defesa xiita da falta de necessidade de qualquer coisa sagrada) que é danoso.

    huahauha Pode crer! Os desenhos de nossa infância eram bem violentos e ninguém fala nada. hehehe Eram até mais que muitos atuais (que chegam a beirar o ridículo de tão bobinhos que são).

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  • 08/04/2011 em 12:45 pm
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    @O Senil
    Na verdade, existe uma grande possibilidade dele ser psicopata. Aí a imprensa cai em cima do desarmamento e dos games violentos.

    Reinaldo Azevedo escreveu um post sobre isso e comentou sobre a questão do desarmamento:

    “1) os bandidos assombram os brasileiros; 50 mil pessoas são assassinadas por ano, e querem tirar as armas de quem não é bandido?
    2) um psicopata comete um sandice, porque essa é sua natureza, e querem tirar as armas de quem não é nem bandido nem psicopata?”

    Se trocar a palavra “armas” por “games”, reflete o que também defendo.

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  • 10/04/2011 em 10:44 am
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    @O Senil
    Full Moon wo Sagashite. É um anime sobre uma menina que quer realizar o sonho de se tornar cantora, mas tem câncer na garganta. Então ela tem que escolher entre realizar seu sonho e morrer ou fazer a cirurgia e provavelmente perder suas cordas vocais. Aparecem dois shinigamis e ela descobre que tem apenas mais um ano de vida. É o meu anime preferido. =P

    Aqui você pode ver a personagem cantando a música:
    http://www.youtube.com/watch?v=ejhH9PxGXNg
    Aqui sou eu tocando \o/
    http://www.4shared.com/audio/DG0KtOF-/Eternal_Snow.html

    Creio que com certeza não é “belo” o que define a arte. Afinal, tem a arte abstrata e o cubismo, que eu confesso que acho feios, mas são tanto arte quanto quadros impressionistas.

    Tem tantos livros bons que se perdem com o tempo, é uma pena. Mas achei curioso um livro tão antigo sobre futebol!

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  • 11/04/2011 em 5:17 pm
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    @Fernando Lorenzon
    O Reinaldo Azevedo é um barato. Gosto de muitos textos dele.

    @Patty K
    Caramba, que coisa mais triste. hehehehe Fiquei curioso porque nunca assisti. Meus animes preferidos são Cowboy Bebop e Samurai Champloo. Mas gosto de coisas mais dramáticas também (na verdade, até prefiro hehehe). Vou ver se consigo assistir.

    A música é bacana, mas a voz da cantora não tem nada a ver com o rosto da personagem. E até acho que sei o final agora. 😀

    A sua versão ficou muito maneira! Melhor que a original eu achei. Tem músicas que só ao piano ficam estranhas, mas essa ficou muito bonita!

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  • 07/05/2011 em 6:31 pm
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    Cheguei tarde para comentar, mas parabéns pelo post.

    Só para complementar… A vida foi feita pra ser vivida.

    Então jogar é uma forma de entreter que pode perpassar os limites, você se entretém tanto que acaba não vendo o dia passar. 🙂

    Vamos Jogar;
    Vamos Ler;
    Vamos Cantar;
    Vamos Amar;
    Vamos ouvir Música;
    Enfim, vamos curtir o que a vida tem de melhor para dar a nós!

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  • 09/05/2011 em 11:27 am
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    @gamer_boy
    Não se preocupe com a demora! hehe Está aí publicado para todos lerem e comentarem quando puderem.

    Com certeza a vida humana não pode ser pensada sem um elemento de jogo. Todos os exemplos que citou tem algo lúdico e, muito provavelmente, nasceram como jogos.

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