Bom dia, caros leitores do Gagá Games!

Hoje embarcaremos numa viagem em um RPG de PCs que, para minha alegria, passa despercebido na maior parte dos sites destinados a retrogames. Passa despercebido, mas que fique claro: está longe de ser por falta de qualidade. Albion é um jogo denso, caprichado e até mesmo inovador, em uma maneira particular.

Desenvolvido pela Blue Byte Software, o jogo é uma boa mistura de RPG e ação em primeira e terceira pessoa, dependendo do momento. Os gráficos – principalmente os 2D – são muito detalhados e chamam a atenção tanto pela escolha da paleta como pelo estilo em si, fugindo um pouco do convencional.


Vamos colocar de uma maneira que talvez deixe a história com uma sensação de déjà vu: por motivos de força maior, seu personagem, o piloto de uma nave, se vê preso em um planeta exótico, dominado por árvores e plantas, sob o qual andam seres inteligentes, meio humanos meio gatos. Tudo isso após um misterioso suicídio e… bem, você captou a ideia. Ficção científica no mais puro estado de concentração! 

Primeira impressão

Embora eu fale com todo orgulho que sou um jogador “das antigas”, foi só há poucos anos que me deparei com Albion, através de um site retrogamer que acompanho. Os screenshots pareciam perfeitos para me cativar, fazendo com que em seguida eu procurasse por análises e não tardasse para ter instalado esse bom RPG.

Se a primeira impressão é a que fica, os desenvolvedores fizeram a coisa certa pois, diferente do que eu esperava, o jogo é alvo de muitas críticas no quesito “gráficos”, e nem todas são das mais amistosas. O fato é que, como expliquei brevemente, Albion alterna entre as perspectivas 2D e 3D, sendo que esta segunda é visivelmente menos trabalhada (principalmente por limitações técnicas). Porém o jogo começa timidamente, 2D e em bom estilo (visão aérea “bird’s eye”), te cativando logo de cara – a coisa toda é muito bem feita e é aqui que digo haver uma boa primeira impressão.


Não acredito que a parte em três dimensões mereça ser tão mal recebida. Na verdade ela possui um charme próprio, como aliás era comum antigamente. Criticar a superfície 3D do planeta é a mesma coisa que detonar os dungeons 3D em Phantasy Star. Tente fazer isso com o Gagá por perto e aprenderá uma boa lição de por que não devemos criticar abordagens 3D alheias!

Eu acho o mundinho 3D muito bacana!

Ainda num primeiro momento, notamos uma trilha sonora envolvente – músicas discretas fazendo mais papel de som ambiente, uma abordagem que casou perfeitamente com o clima que o jogo sugere. Embora as músicas variem, acompanhando as diferentes ambientações, continuam sempre secundárias, nunca chegando a cansar ou incomodar o jogador.

Um incidente logo nesse início de jogo nos coloca numa posição de “desconfiança”, o que é perfeito, pois nos faz querer jogar para ver se nossas teorias estavam certas!

Um pouco de história

É claro que não vamos nos aprofundar na história, afinal de contas estamos falando de um RPG e nesse caso a história é a alma (ou parte dela) do negócio. Mas podemos ao menos passar por uma breve introdução.

Estamos em 2227 e você é Tom Driscoll, piloto de uma espaçonave a serviço da “DDT Corporation” – uma corporação que busca extrair recursos naturais de um planeta distante, supostamente deserto. Entretanto, uma vez caindo na superfície devido a um problema em sua nave, o jogador descobre que o tal planeta não só não está deserto, como na verdade é dono de um rico e complexo ecossistema.

É, meus amigos, não é apenas em Avatar que o homem busca explorar outros mundos com aliens meio humanos. Albion já previa!
Ao longo da história você encontrará, além dos homens-gato – chamados Iskai – outros humanos que, supostamente, viajaram de forma telepática para o planeta em tempos distantes. É claro, não podemos esquecer que há muitos monstros para contar história e não serão poucos os que lhe causarão uma impressão forte.

Apresento-lhes os Iskai

Os Iskai são uma raça muito interessante, com costumes próprios e o jogo realmente te passa a impressão de estar pisando em solo desconhecido. A cultura dos homens-gato é vasta, assim como seu idioma próprio – daqueles que parecem uma mistura de “fala de homem das cavernas” com “idioma islâmico de meados do séc XII”. Há uma série de sub-classes, tanto para humanos quanto para nossos amigos felinos.

Melhor notando, não só os Iskai são complexos: todos os personagens possuem características próprias de comportamento, diferentes maneiras de falar e quase é possível sentir aquela “tensão” no ar em momentos de diálogos mais carregados de sarcasmo. Talvez a coisa chegue no limiar do estereotipado, porém não chega a cruza-lo – ao menos não de forma prejudicial 🙂

Seu objetivo? Ok, podemos resumir em “salvar o mundo”, porém fui bastante infeliz nessa frase tão pouco significativa.

Jogabilidade/Mecânica de jogo

Agora finalmente explico a separação 2D/3D: cenários 2D seriam ambientes internos, enquanto calabouços e campos são apresentados em terceira dimensão. Todos são bastante variados e nunca chegam a cansar os olhos do jogador. A movimentação se dá pelo teclado ou mouse, sendo que para se utilizar itens e algumas funcionalidades dependemos inteiramente do mouse – principalmente quando equipando seus personagens.

Como se a apresentação visual não fosse o bastante, há uma narração típica de RPGs de mesa conforme os personagens interagem, do tipo “seu colega de equipe parece atordoado ao relatar as últimas horas de trabalho”, seguido do diálogo propriamente dito. Fatores que casaram perfeitamente. O sistema de batalhas é dado em uma matriz de 5×6 e encontra um equilíbrio interessante entre estratégia/dificuldade/complexidade. Alguns personagens (até seis em sua equipe) podem utilizar magias e cada um possui golpes/atributos próprios durante a luta. O lance de misturar fantasia e sci-fi é muito bacana e em momento algum parece inverosímel.


Há o sistema de comida, que tanto temo em jogos do gênero – alimente-se ou morra de fome – porém, desta vez, não chega a ser um problema e talvez o gameplay sofresse sem essa adição.

Conclusão

Albion é um grande jogo, tanto no quesito história quanto jogabilidade – o sistema de batalhas é desafiador e chega a viciar, fazendo com que ao término da aventura você sinta bastante falta.

Infelizmente o game foi ofuscado por fatores como ter sido publicado por uns caras não muito conhecidos (além de ter demorado para ser traduzido do original, alemão), sua época de lançamento (já era um pouco ultrapassado e gamers hardcore tendem a buscar sempre o que há de top de linha em seu tempo) e a complexidade aparente que tanto nos assusta quando já nos acostumamos a sentar e dominar qualquer jogo em menos de cinco minutos. Mas, calma, aqui são necessários pouco mais do que dez! O visual é estonteante e, na verdade, parece-me ter sido influência para muito filme por aí – além de outros jogos, é claro.


Está certo que nem tudo são flores, principalmente em um produto voltado para um pequeno nicho de mercado – o típico gamer não deve se interessar por RPGs desse estilo, mas a verdade é que Albion tem tudo o que julgo necessário para entrar no hall dos jogos “clássicos cult” (aqueles que, apesar de incríveis, não deixaram ninguém muito rico).

Albion (1995 – MS-DOS)
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12 ideias sobre “Albion (1995 – MS-DOS)

  • 31/05/2012 em 10:26 am
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    parece bacana o jogo, essa raça de gatos é meio assustadora a princípio. vou procurar saber mais sobre ele, isso me fez pensar como Riven num cenário surreal poderia ter raças exóticas assim

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  • 31/05/2012 em 11:37 am
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    Me interessei muito por esse game, principalmente no sistema de batalhas. Estou louco para chegar em casa e ver como funciona. Gostei bastante também do estilo de exploração das dungeons que remete a jogos como Phantasy Star e Shining in the Darkness.

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  • 31/05/2012 em 1:53 pm
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    Fala raposão. Este eu nunca ouvi falar. Dei uma olhada aqui nos meus jogos de DOS / Windows e neca. Porém na “grande fonte” diz que este jogo é formato CD-ROM, lançado 1995 para DOS e 1996 para Windows. Confere? Existe versão em disquete deste jogo? Pois achei um perdido com 30Mb de tamanho.

    Falow! 🙂

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  • 31/05/2012 em 7:23 pm
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    Nesta época, apenas sonhava em ter um PC, mas um amigo meu tinha… não só um, mas três. Então, vez ou outra jogava na casa dele em rede também, algo bem divertido.
    Ao ver este post, me lembrei de já ter visto ele jogar Albion. Vendo as screenshots agora, e o pouco que tenho em minha memória, os gráficos são muito bonitos e dentro dos padrões daquele tempo. Não consegui entender quais teriam sido os motivos para criticarem tanto a parte 3D se era, justamente isto que se tinha na época. Pegaram pesado, creio eu.
    Vou dar uma conferida, pois fiquei com vontade de experimentar um bom jogo, e este parece ser o caso.
    Por fim… chega à ser engraçado como alguns games tão bons, não conseguem superar as barreiras de mercado e acabam no ostracismo. Já imaginaram um “Albion VII-Parte 2” rodando nas máquinas potentes de hoje?
    Apenas, divagações… hehehe!
    Até mais!

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  • 31/05/2012 em 11:53 pm
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    @leandro(leon belmont)alves
    Inicialmente não sou muito daquelas pessoas que aceita bem raças não usuais em jogos – é confortável ver elfos em RPGs. Mas Albion é um ótimo exemplo de que o conforto pode nos excluir de grandes experiências de jogo!

    @Mario Arroyo
    Depois diga o que achou caso jogue mesmo, vai ser interessante a opinião de quem teve contato agora com o jogo 😀

    @helisonbsb
    Obrigado! Albion é um jogo pelo qual tenho certo carinho – acho que o post não esconde isso. Se puder jogar vai ver que se trata de um título bem diferentão, mas de uma boa maneira.

    @piga
    Vinha em CD mesmo, Piga – mas só fui jogar quando isso não fazia mais diferença pois minha mídia foi virtual rs. Não creio que tenha havido versão em disquete. Abraço!

    @Mateus
    Pegou um ponto certo, Mateus. Aliás gêneros “obscuros” possuem jogos fantásticos (às vezes), como é o caso de “Brothers”, um hack n slash coreano dos anos 90. Como queria jogar novamente…

    @Douglas Deiró
    O que atrapalhou foi a versão em inglês demorar mais de ano para sair. Acabou pegando uma época com os primeiros FPS 3D mais trabalhados e talvez por isso recebeu tantas críticas. Mas você está certo, o pessoal pegou meio pesado.
    Mesmo franquias mais “recentes” ficam muitas vezes no limbo dos jogos. Ou serei eu o único a esperar uma sequencia para Beyond Good and Evil?
    Divagar é parte importante da vida!

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  • 01/06/2012 em 8:53 am
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    Que jogo bonito, mesmo em 3D (ainda não vi em movimento).

    Essa semana me deparei com uma raça de gatos também, só que em um RPG do SNES, no caso o Mystic Ark. E também compartilho da mesma opinião: sou meio avesso à raças bizarras em jogos, prefiro o lendário elfo ou o tradicional cavaleiro medieval.

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  • 01/06/2012 em 10:06 pm
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    Acreditem ou não, em Belo Horizonte havia algumas locadoras de CD (de jogos de PC), foi assim que conheci este jogo, mas não sei por que me dava dor de cabeça, muito psicodélico pra mim talvez, mas ainda lembro dele.

    Eu também não sou muito fã de raças bizarras não, eu joguei um RPG bem bizarro, chamado Shadowcaster que era até legalzinho, mas não descia muito bem não. Prefiro jogos como Menzoberranzan (um dos melhores RPGs, que joguei atrás da trilogia Eye of the Beholder).

    Parabéns pelo post, está excelente.

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