Olá crianças. Hoje eu falarei pouco. Coloquei-me para escutar a fala de Fernando. Espero que façam o mesmo. Ele comenta aspectos diversos como seu papel na criação de Wonder Boy in Monster World RPG como já noticiamos aqui há um bom tempo. Aproveitem, tem muita coisa interessante a ser lida e esperada ansiosamente. E não reclamem do tamanho do texto. Quando ele se tornar um game designer mais conhecido e famoso, poderão se gabar de ter prestado atenção àquilo que ele tinha a dizer neste momento. E acreditem em mim, vale a pena a leitura.

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Imagem de divulgação.

Antes de mais nada, poderia dizer um pouco sobre você (profissão, o que gosta de fazer etc.)?

Meu nome completo é Fernando Cordeiro Mota, tenho 25 anos, paulista e estou infelizmente faz um tempo sem trabalho. Estava trabalhando há um tempo atrás digitando apostilas para uma escola de Inglês. Pretendo trabalhar com tradução Inglês-Português que definitivamente é meu forte.

Gosto obviamente muito de jogar, de desenhar (quando estou inspirado), pixel art, gosto de animes, mangá, comics, cartoons, filmes, e música. Neste caso, mais músicas de jogos que músicas “normais”. Juntamente com games, tenho gosto por filosofia, povos antigos (gregos, astecas, persas e egípcios principalmente), suas religiões e línguas diferentes como latim, por exemplo, que pretendo aprender um pouco na raça.

Pode nos contar um pouquinho do papel que os videogames têm na sua vida?

Para mim os videogames são uma obra de arte, não apenas entretenimento. A interatividade contida nos jogos é algo sensacional. Em filmes e livros a história sempre acontece obviamente de apenas uma maneira. Nos jogos, a mesma coisa pode ser feita de muitas formas diferentes. Em Silent Hill 2 por exemplo se você agir de forma suicida, sempre andando com energia baixa o final reflete isso, se agir com afinco o final reflete essa vontade de resolver realmente o mistério, etc. A jogabilidade se adapta de acordo com a personalidade de cada jogador, por mais linear que seja o jogo, cada um tem uma experiência diferente.

E jogos como Metal Gear Solid 3 por exemplo, são verdadeiras fontes para discutir até filosofia, além de ser um ótimo entretenimento. O jogo faz você pensar sobre as  escolhas que as pessoas fazem em suas vidas, visões diferentes de um mundo ideal, honra e confiança, bem e mal, valores humanos e sacrifícios, amor e ódio… Obras de arte sem dúvida, que não se restringem a MGS apenas, mas é talvez o melhor exemplo.

Claro que existem jogos que são completa alienação (pessoalmente, não suporto GTA), mas quando um jogo é bom ou uma obra de arte deste nível, é melhor que qualquer filme ou livro, pois você realmente está “dentro” da história. E também me tornei há bastante tempo fluente na língua inglesa, graças aos jogos. Pelo que vejo, irei ganhar a vida com inglês, e devo essa facilidade com a língua aos jogos.

Como que surgiu a oportunidade de trabalhar nesse projeto?

Eu sempre tive vontade de criar um jogo do Wonder Boy. Cheguei a ripar (retirar gráficos de um jogo) todos os cenários, personagens e monstros do jogo Wonder Boy 5 (Monster World 3). A idéia era fazer um remake do mesmo, no estilo RPG. Acabei desistindo por não poder criar um roteiro decente. E eu sempre visitei sites de jogos antigos, e um deles é o site Wonder Boy Land, sobre o jogo Wonder Boy 3: The Dragon’s Trap (Monster World II).

Um dia visitando o site, vi que estavam fazendo um rpg de Wonder Boy, na mesma ferramenta que eu uso. Fiquei muito interessado, e visitava uma ou duas vezes por semana o site, esperando uma versão demo. Após um bom tempo, a versão demo saiu, e eu curti bastante. O criador, o italiano Massimo, mesclou a história de todos jogos e criou um novo personagem principal. O resultado foi um jogo muito bacana, que era retrô e novo ao mesmo tempo.

Eventualmente, ele anunciou no site, que por falta de tempo não poderia continuar o jogo. Não sozinho pelo menos, então estava buscando alguém para ficar com a parte de programação. Logo entrei em contato com ele, e ele me mandou os arquivos do jogo para eu continuar programando a partir de onde ele parou. Ou seja, fui aprovado de cara! Ele não sabia se eu era bom ou não, pois eu não mandei nenhuma imagem de jogo meu, talvez ele tenha pensado “Vou fazer o jogo com ele mesmo, quem não tem cão caça com gato” (hehe), já que eu acredito ter sido a primeira pessoa a se propôr a continuar o jogo com ele. Demorou bastante para ele ver imagens do jogo programado por mim, pois eu quis refazer praticamente 90% dos gráficos. Com certeza após ver as novas imagens do jogo ele viu que eu era bom, bem melhor que eu pensava aliás. Foi ótimo eu ter abandonado meu projeto anterior para começar este, sem dúvida. O resto, como dizem, é história!

E quanto ao as ferramentas de programação? Alguma dificuldade que gostaria de comentar?

Eu uso o Rpgmaker 2003 para o jogo. Bom, não tem nada realmente que seja um absurdo de difícil, isso depende. É mais demorado que difícil na verdade. O difícil mesmo foi criar as máquinas caça-níqueis do cassino secreto em Purapril. Sou péssimo em matemática, odeio esta matéria, e acertar vários erros de números que ocorreram foram um teste para minha paciência.

Outra certa dificuldade se resume aos gráficos. Para ter estes gráficos fiéis aos jogos antigos, é preciso ter muitos emuladores e jogos para ripar gráficos, e um conhecimento razoável em programas de imagens como o Photoshop. Vários objetos e partes de cenários vieram de jogos de Master, Mega, Game Gear,Snes e PC-Engine. É comum que eu baixe um jogo, jogue até metade ou mais só para pegar um gráfico para deixar uma parte do jogo mais caprichada.

É o caso do jogo de PC-Engine Neutopia, que joguei até perto do final apenas para conseguir a imagem de uma pá de neve, para colocá-la dentro das casas de Childam, uma vila aonde sempre neva. Dá bastante trabalho mas o produto final compensa, se for para fazer algo vou fazer logo bem feito certo?

Deu algumas sugestões no que se refere ao roteiro também ou ficou somente na parte de programação?

Apesar do Massimo ser o roteirista, criador da grande maioria dos personagens novos, das personalidades deles etc… Eu acabo sim tendo uma parte muito grande no roteiro. Ele cria o roteiro, quem é herói, vilão, etc. Porém eu que faço os diálogos e também crio vários personagens novos para usar em enigmas, minigames… Algumas vezes, ele resolve mudar o visual de tal personagem que criei, ou trocar por um que ele criou, ou mudar certos diálogos. Mas a troca sempre foi para melhor. Da mesma forma, algumas idéias e personagens dele foram trocados por idéias e personagens meus. Ele não me manda o roteiro todo certinho, tipo: herói fala isso, e vilão responde aquilo.

Ao invés disso, ele me manda apenas: herói encontra vilão, e fica surpreso por ter encontrado ele novamente. Ele me dá a situação, as palavras e desenvolvimento da cena ficam a meu cargo. Ele apenas fala para eu retirar ou mudar o que está errado, sem sentido ou que fuja um pouco do espírito do jogo. Ou seja, o roteiro todo é feito por ele, mas eu coloco meu estilo de roteiro no meio, e várias coisas são mudadas por mim, ou criadas por mim. Realmente quem manda no roteiro é ele, mas minha participação é muito grande.

Agir da forma que agimos sobre as idéias a serem colocadas no jogo é essencial. Muitos jogos feitos por grupos de duas ou mais pessoas nunca são terminados, pois cada um no grupo quer ter mais voz ativa que o outro. Por isso tantos criadores de jogos preferem trabalhar sozinhos.

Há planos para alguma sequência deste jogo ou algum projeto em vista?

Bom, uma sequência deste jogo é provável que não. Talvez possam haver futuras melhorias, como novas músicas caso algum músico se junte ao grupo, animações do jogo para promovê-lo, etc. Mas o jogo será bem comprido, então mesmo sem sequência dá para se divertir por um bom tempo.

Outros projetos? Sem dúvida que há planos. O próximo projeto é um jogo mais para o humor, tendo como personagem principal um vilão de MWRPG, o Pirate Captain (Capitão pirata) mostrando as bizarras desventuras dele e de sua trupe de piratas estranhos. Talvez não terá luta alguma, sendo focado em humor ao estilo de Monkey Island e Misadventures of Tron Bonne (PSX), com minigames mais para o humor também. Lembrando que o Pirate Captain é um personagem criado por Massimo, não por mim.

Outro futuro projeto é uma idéia antiga minha que havia sido abandonada: um fangame de Alex Kidd. O jogo explora melhor o roteiro de Miracle World e Enchanted Castle, misturando-o com os outros jogos da série, novos personagens, novos mundos, etc. Mas está longe de ter um roteiro definido, só tem uns 20% prontos.

E um outro projeto é um personagen original meu, não é fangame. Por enquanto só direi que se chama Toscoman, e obviamente será de humor também, mas um humor bem para os retrogamers…aguardem e verão! Depois disso só o futuro dirá.

Obrigado pelo tempo e pela entrevista!

Eu que agradeço pelo apoio e interesse! Espero continuar divertindo não só os retrogamers deste site “supimpa”, mas também muitos outros gamers por um bom tempo!

Também gostaria que todos que curtem o jogo, visitassem o site Max Team e mandassem um e-mail para o Massimo em maxteam01@yahoo.com, pois sem ele Monster World RPG jamais existiria! Até mais!

Entrevista exclusiva com Fernando, co-criador de Monster World RPG
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