Leia a segunda parte aqui.

O que mais importa para você: ter centenas de jogos e pular rapidamente de um para o outro ou ter poucos jogos e se dedicar a conhecê-los a fundo?

Nos velhos tempos do Mega Drive e do Super Nintendo, era assim que as coisas funcionavam para a maioria das pessoas (ao menos para as de classe média como eu): você alugava os jogos que proporcionavam prazer instantâneo, mas só comprava mesmo os que tinham diversão duradoura, que você ia poder curtir um tempão. Tinha grana em jogo, e como éramos crianças essa grana era curta.

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A turma achou um roubo pagar três dólares no Golden Axe de Mega Drive

Com a ampla disponibilidade de ROMs essa mentalidade mudou. As pessoas se acostumaram a “pacotes” de jogos. No post que fiz sobre os jogos da SEGA lançados no Steam, por exemplo, alguns visitantes do blog acharam que três dólares (uns cinco reais) era um preço alto a se pagar por um jogo como Golden Axe, sem alterações na jogabilidade ou extras. Mas será que é caro mesmo? Cinco reais era o preço do ALUGUEL desse jogo na época, e hoje você pode tê-lo no seu computador pelo mesmo preço. O fato é que, para quem se acostumou aos pacotes de ROMs, pagar três dólares por UM jogo antigo é uma afronta. E não estou fazendo juízo de valores e dizendo que essas pessoas são pilantras, só estou ilustrando a mudança de mentalidade que o download de ROMs gerou.

Se ao menos pudéssemos comprar um pacote de jogos, tipo: todos os lançados em tal ano ou coisa parecida. Mas pagar mais de 5 reais por cada jogo de 15 anos atrás que dá para baixar facinho não compensa.

— Gabriel, do blog GLSToque

Prova de que o Gabriel não está sozinho é a enquete realizada no mês passado aqui no Gagá Games. Dentre os 341 participantes, 67% disseram nunca comprar jogos antigos que podem baixar de graça na forma de ROMs. Apenas 29% afirmaram usar ROMs para conhecer os jogos, comprando os favoritos quando possível. Os 4% restantes incluem gamers que não usam emuladores.

Deixando de lado a questão da legalidade e do peso na consciência, eu notei que ultimamente o uso de ROMs e emuladores vinha “capando” o meu prazer retrogamer (para fazer uma analogia pseudoerótica). Decidi fazer uma experiência, e cheguei à conclusão de que pagar por um único joguinho das antigas pode, sim, ser muito mais interessante do que jogá-lo de graça num emulador no computador.

Pagar por UM joguinho de Mega Drive? Tá doido?

Pense na questão dos discos e CDs. Tirando os mais radicais, ninguém mais quer ter o trabalho de virar o lado do disco, colocar a agulha em cima da faixa… é trabalhoso demais. Imagine, então, fazer esse ritual todo para ouvir só uma música. Até desanimava, e a gente acabava ouvindo o disco inteiro… o que não era ruim, era? Quem tinha vinil do Pink Floyd aí levante a mão e me diga: tem graça ouvir as músicas deles isoladas, fora do contexto?

O lance das ROMs é parecido. Quando você tem um pacotão, e pode pular de um jogo para o outro com dois ou três cliques do mouse, tem uma tendência muito maior a só jogar algumas fases daquele joguinho e partir para o próximo. A oferta de jogos é grande demais, e você acaba não explorando todas as possibilidades.

Tomemos os jogos de NES como exemplo. A grande dificuldade de alguns títulos, como os das séries Castlevania e Mega Man, forçava o jogador a insistir por dias naquele mesmo conjunto pequeno e limitado de fases. Não dava para se criar jogos enormes com as limitações de memória dos cartuchos, nem oferecer uma experiência áudio-visual gratificante como a de jogos contemporâneos, como God of War 3. Por isso a dificuldade era tão importante, e ela era parte essencial da diversão. Esses jogos foram feitos para serem difíceis. Tire a dificuldade de Battletoads, que eu joguei por meses com um amigo e até hoje não consegui zerar, e só o que vai sobrar é um jogo que em poucas horas terá todas as suas possibilidades esgotadas.

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Pronto, esses jogos aí são todos seus, de graça. Daqui a seis meses você me conta se zerou algum

Como você está lá com um pacotão com 800 jogos ao seu dispôr, de graça, certamente não vai investir tempo suficiente em Battletoads para terminá-lo, porque tem MUITO jogo para você jogar naquele pacote, e Battletoads exige semanas, provavelmente meses de dedicação para ser terminado. E então, o que você faz? Apela para os save states do emulador. Quem nunca usou o truque de acertar o chefe uma vez, salvar o jogo e, caso tomasse uma lapada certeira, carregar o jogo de novo e tentar outro golpe? Ou ainda para ter mais uma chance de cruzar aquele longo corredor cheio de espinhos e plataformas que desaparecem no primeiro Mega Man?

Acontece que a quebra da dificuldade por meio de save states arruina completamente a experiência que se tem com um jogo das gerações de 8 e 16 bits, e contribui para a impressão de que três dólares é muito dinheiro a se pagar por eles. Esses jogos foram construídos para serem difíceis, para te ocuparem por semanas. Se a ideia fosse facilitar as coisas para que você passeasse pelo jogo como passeia hoje por um God of War (ou alguém aí passou meses tentando zerar algum God of War?), os jogos da antiga teriam que oferecer uma quantidade bem maior de fases, e proporcionar uma experiência bem mais cinematográfica (como em God of War) para que o jogador sentisse que a jornada valeu a pena, além de conquistas/achievements e outros extras comuns nos jogos de hoje. Não dá para olhar para esses jogos antigos (que são jogos em vinil) e esperar deles o mesmo que esperamos de jogos de Playstation 3 ou XBOX360 (que são jogos em CD).

Então quer dizer que ROMs e emuladores não prestam para nada? Que o Gagá decidiu jogar isso tudo no lixo? E onde entra o dinheiro no prazer de se jogar jogos velhos? Essas e outras respostas na segunda e última parte deste post, quarta-feira no Gagá Games!

Leia a segunda parte aqui.

Jogos velhos, grana e rock n’ roll — Parte 1
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58 ideias sobre “Jogos velhos, grana e rock n’ roll — Parte 1

  • 07/07/2010 em 12:59 am
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    Bom, em 2001, eu fiz uma lista com jogos (roms) de Master System que eu iria jogar. Eram 3 jogos por mês, e todo fim de mês eu escolhia os 3 jogos seguintes. Isso não significa que eu tinha que terminar os jogos, apenas que eu só jogaria os selecionados.

    E até a criação dessas listas é divertida.

    Por uns tempos, deixei de fazer isso. Depois, voltei a seguir esse esquema. Recomendo à todos hehe

    Com jogos de luta do Neo Geo, ou os da Capcom, procuro usar apenas 1 crédito, exatamente como jogava nos fliperamas. Quanto aos save state, procuro salvar nos inícios das fases, mas isso não é uma regra hehe depende da paciência…

    O Gagá tem razão, eu também acho que não adianta apenas jogar aquele clássico. É preciso recriar ao máximo os mesmos elementos que faziam parte da jogatina na época: jogar na raça, com gráficos e sons fiéis ao original. E, da mesma forma que naquela época ninguém poderia escolher entre 367 cartuchos pra jogar, acho que faz sentido hj que nós criemos regras para isso também, e com resultado, mais diversão e menos ansiedade.

    Abraço galera!

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  • Pingback:Gagá Games » Jogos velhos, grana e rock n’ roll — Parte 2

  • 07/07/2010 em 8:33 am
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    @Elielson
    Cara curti muito esse esquema de limitar a quantidade de roms por mês! Vou seguir a sua sugestão ainda hoje. 😀

    Não deixei claro no meu comentário anterior, mas graças as roms não cometi o pecado de não ter jogado Sonic 3 & Knuckles, Streets of Rage 2 e até mesmo Megaman 2. Acho essencial as roms para preservar a história dos jogos, mas é preciso ter controle para conseguir se dedicar aos jogos.

    E quanto aos jogos impossíveis, bom já vi muito jogador vencer Ninja Gaiden no console, e já vi até um detonado de Battletoads na revista Videogame. Não é impossível zerar Battletoads, mas exige muito treino, habilidade e dedicação. Até mesmo eu que sou pato tô finalmente pegando as manhas da terceira fase (depois de anos e anos de frustração rsrsrs), já consigo passar ela morrendo bem menos do que de costume…é questão de se dedicar mesmo.

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  • 07/07/2010 em 12:52 pm
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    Adinan, quando eu estou escolhendo os jogos para o próximo mês, a sensação é parecida com aquela em que íamos na locadora alugar jogos para o fim de semana. Nostálgico mesmo!

    Aconselho à todos a fazerem isso! E depois, contarem se a sensação é a mesma, ou se eu to viajando e precisando de um psiquiatra hehehe

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  • 07/07/2010 em 7:11 pm
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    Eu acho que isso que o Gagá colocou aqui para nós debatermos vai da pessoa, é algo bem peculiar.
    Primeiro, antes de qualquer debate, devemos nos concientizar que uma ROM e algo ILEGAL e SEM CONTROLE, ou seja, você baixa e joga sem culpa, e nenhum policial vai aparecer na sua casa com um mandato de busca para seu PC. Mas não deixa de ser ILEGAL, é CRIME. E vamos SUPOR agora que nós todos deixássemos a partir desse momento de sermos bandidos mequetrefes que jogam jogos ilegais, qual seria a saída? A saída seria COMPRAR estes jogos, e assim chego a conclusão de que 3 OBAMAS É UM PREÇO MUITO MAIS DO QUE JUSTO por um joguinho de 15 anos atrás. Isso dá 5 Lulas, não compra um churrasco grego com suco, pelo amor. Não podemos crucificar um mercado devido a idade dos games vendidos SE nos aproveitamos de uma forma ilegal de jogá-los.

    Ponto.

    Agora quanto aos motivos do Gagá, vem o assunto em questão. Eu fui um desses que alugava jogos pra caramba e só tinha um ou outro comprado, e mesmo assim, metade deles eram piratas adquiridos no camelô. Naquele tempo e com aquela idade, eu não tinha preferencia nenhuma por original ou pirata, e isso era na inocência: eu queria comprar World of Illusion do megadrive, comprava o que aparecesse, original ou pirata, e sempre no camelô. E eu procurava comprar só aqueles jogos onde era necessário mais tempo do que o normal para se terminar, como RPGs. O restante, eu alugava, jogava e terminava, sem essa de extrair ao máximo o que o jogo pode proporcionar pois isso tb é algo bem relativo: você terminou Rocket Knight Adventures em 2 dias, já festejou pra caramba, e agora? Cabou, o game não tem mais nada a oferecer, a não ser uma segunda jogada pra mostrar pros amigos, e o que o espera é a prateleira da locadora na segunda feira. A grande maioria dos games antigos é assim.

    Portanto, eu de maneira nenhuma compraria um game só para me manter fiel à jogatina nele. Na época eu alugava, hoje eu jogo no emulador, e não enchergo diferença quanto ao tanto que eu desfruto do mesmo, pois sou perseverante a ponto de jogar o game do jeito que ele foi feito par ser jogado: sem save states (a não ser quando vou parar de jogar) e utilizando só as funções nativas dos jogos. Mesma coisa no Wii e no seu Virtual Console.

    Isso tudo vai do auto controle da pessoa para com seus jogos, perseverança e vontade de se sentir como se estivesse jogando o game lá em 1990.

    E se hoje todas as roms do mundo dessem pau e parassem de funcionar, eu compraria pra jogar por 5 Lulas com certeza. Sem problemas.

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  • Pingback:Gagá Games » Que tal “queimar” roms raras e traduzidas em cartuchos?

  • 22/07/2010 em 8:10 pm
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    Eu fui um dos que reclamou do preço da Steam, mas era só a Sega resolver me dar um multiplayer online como o kaillera me faria comprar imediatamente! (pagaria até 10 dolares)

    Ou que fizesse uma mega coletânea com todos os jogos de Sonic que saíram no Megadrive (incluindo o Sonic CD) e todos os Street of Rage (pagaria de 15 a 25 dolares dependendo da quantidade de jogos do pacote!), Mas O Streets of Rage 3 eu gostaria que tivesse tanto a versão americana (que foi alterada), quanto a japonesa apenas traduzida e sem alterações (bastava pagar para um grupo que fez a tradução na ROM, e revisar o texto, ou traduzir eles mesmos)

    A própria Valve faz esses pacotões com seus jogos, e dá a eles um preço BEM LEGAL, porque a SEGA não pode fazer isso com seus amados jogos antigos?

    E olha que nem estou pedindo archivements e Steal Cloud (o salvamento de meu game no depósito de saves da Valve), mas isso seria uma coisa MUITO legal que ela poderia fazer, e demonstraria RESPEITO pelos consumidotes de seus jogos!

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