Quem viveu a era de ouro dos adventures na década de 80 já conhece a fama que os jogos da série King’s Quest têm de serem praticamente impossíveis de terminar sem guias. Outros já devem ter lido meu post sobre o primeiro jogo, que meio que endossa esse ponto de vista com algumas reservas (dá para zerar o primeiro KQ sem ajuda sim, mas você precisa ter um baita conhecimento sobre contos de fadas e ter MUITO tempo livre e paciência).

Pois bem, outro dia fiquei sem internet durante um fim de semana na casa do sogrão. Sem ter o que fazer, visto que sou totalmente dependente da internet para respirar, sobreviver e ser feliz (especialmente na casa do meu sogro), fui ver quais jogos eu tinha instalado no netbook da minha esposa. Tava lá a trilogia King’s Quest que adquiri no GOG.com. Pensei: “vou dar umas partidas do KQII, jogar até onde conseguir e depois vejo a solução no Gamefaqs para zerar o jogo.”

Para minha surpresa, em algumas horas eu consegui terminar o jogo sem grandes dificuldades. Não que seja molezinha, mas não é lá muito difícil. Portanto, para você que curte adventures mas não tem saco de aço, King’s Quest II pode ser uma ótima pedida.

No jogo anterior, Sir Graham recuperou os três tesouros que haviam sido roubados do reino de Daventry, e como o rei Edward estava velho e não tinha esposa nem herdeiro, entregou a ele o trono. A trama de King’s Quest II começa algum tempo depois, quando Edward avisa ao agora rei Graham que, para evitar um destino triste e solitário como o seu, ele deveria escolher uma esposa.

Hoje você pode dar risada, mas esses gráficos deixaram os jogadores piradinhos na época

Uma grande festa é organizada para que Graham escolha sua rainha, mas nenhuma das presentes o agrada. Sem saber o que fazer, ele recorre ao espelho mágico de Daventry, que mostra a ele a bela dama Valanice, presa em uma torre por uma velha bruxa. O jogo começa na sala do trono, quando o rei Grahan troca a coroa por seu velho chapéu de aventureiro e deixa o castelo em busca de sua amada aprisionada.

King’s Quest II foi lançado em 1985, um ano após o primeiro título, e segue o mesmo esquema de seu antecessor: as setas do teclado comandam Graham pelo mapa, composto por telas fixas com gráficos que hoje são simples, mas na época eram um desbunde (lembre-se que naqueles tempos eram comuns os adventures contendo apenas texto branco sobre uma tela preta). Basta ler os reviews das revistas daquele tempo para ver como a animação dos personagens deixava todos de queixo caído. O simples fato de Grahan poder passar pela frente ou por trás de uma árvore no cenário já era motivo para os críticos gastarem várias linhas exaltando a programação do jogo.

Manteve-se o esquema de “text parser” no qual você digita os comandos, como “look through window” para olhar por uma janela. Nada de lista de comandos e uso de mouse, é tudo no tecladão, como nos velhíssimos tempos. Felizmente não é preciso usar frases muito doidas para terminar o jogo, é até bem simples escolher as palavras certas para realizar ações. De modo geral, não rolam aquelas situações de “sei o que fazer, mas não sei qual é a frase que o jogo aceita” (e isso rolava bastante em KQI, especialmente na maldita cena do poço).

Ainda temos a participação de personagens de contos de fadas, como o lobo mau (acima), mas agora outras “celebridades” de diferentes folclores também dão as caras, incluindo o gênio da lâmpada e até o Conde Drácula

O fato da entrada de texto ser mais eficiente é apenas uma dentre outras melhorias sutis no design do jogo. Os quebra-cabeças, por exemplo, não são mais tão alucinantes, e é plenamente possível terminar a aventura sem a ajuda de guias. Bom, na verdade há uma pegadinha meio cruel sim, então já vou avisar: cuidado com a ponte. O jogo avisa que ele não parece confiável quando você a examina, mas não avisa que você só pode cruzá-la sete vezes. Se passar disso, ela desaba e acabou, você fica preso sem poder zerar o jogo. Isso me aconteceu, e eu xinguei MUITO a dona Roberta Williams, criadora da série. Ela, por sua vez, é uma sacana, e diz que ficou muito feliz em poder incluir essa ponte no jogo. Se tivéssemos mais mulheres com tanto senso de humor fazendo jogos hoje, eu tenho certeza que o mundo seria um lugar melhor. Ou não?

Uma coisa interessante em King’s Quest II é que ele adota um mecanismo muito comum nos RPGs modernos. Há três portas que você precisa abrir para terminar o jogo, e sempre que abre uma você altera uma parte do jogo, liberando um ou mais eventos novos. A sereia só aparece na praia depois que você pega a pista sobre a primeira chave; a loja de antiguidades, que a princípio está fechada, abre depois que você começa a busca pela segunda chave. E para tirar o lobo mau da cama da vovó e trazer a velha de volta, é só entregar a cesta à Chapeuzinho Vermelho, o que desencadeia toda aquela terrível história do lenhador que abre a barriga do “pobre lobo” com seu machado. Ou seja, o resto do “mundo” reage a algumas de suas ações. Essa mudança no design é importante para diminuir o tédio, porque evita que você perca tempo em telas com quebra-cabeças que ainda não pode resolver. A não ser que você prefira a louca dificuldade do primeiro, vai acabar curtindo mais este aqui em parte por causa disso.

À esquerda, a velha bruxa com seu caldeirão. À direita, a mesma bruxa saindo de batmóvel para dar uma volt… peraí, batmóvel? Tá de sacanagem?

Alguns puzzles podem ser resolvidos de várias maneiras diferentes. Você pode esperar a bruxa sair para entrar em sua caverna e pegar a gaiola com o pássaro, ou então entrar sorrateiramente enquanto ela está concentrada em seu caldeirão, jogar um pano sobre a gaiola para que o bicho não se assuste e faça barulho e sair de fininho com a gaiola. Resolver os puzzles de forma mais engenhosa rende mais pontos ao jogador, e não faltam opções nesse sentido, o que motiva algumas “rejogadas” depois que você termina pela primeira vez.

Os puzzles mais “light” contribuem com o clima de aventura, visto que em King’s Quest I era difícil afastar a impressão de que o jogo duelava cruelmente com sua perseverança o tempo inteiro. Aqui você consegue curtir a aventura, entrar no clima da missão de Graham… e o clima é bom mesmo, é bem divertido voar no tapete voador, viajar ao reino submarino de Netuno e realizar outras peripécias. Típico caso de um jogo simples, mas que cria uma atmosfera de aventura melhor do que a de muitos títulos de maior orçamento e complexidade.

Os gráficos podem ser simples, mas são muito criativos, inteligentes e charmosos, cumprindo com loovor o seu papel de tornar a aventura mais interessante

Um barato esse joguinho. A dona Roberta sabe mesmo como contar uma boa história, mesmo sem usar muitas palavras. Se você quer embarcar num adventure antigo para conhecer um pouco da história do gênero, vai fundo nesse aí que você não vai se arrepender. Eu logo logo vou encarar o terceiro, mas pelo que dizem por aí ele é difícil pra diabo…

Como jogar King’s Quest II (pagando ou de graça!)

A trilogia King’s Quest I + II + III pode ser adquirida por dez dólares no GOG.com. A compra dá ao jogador o direito de baixar o jogo quantas vezes quiser e instalar em quantos PCs quiser, sem restrições. Também está incluído no pacote o download dos manuais dos três jogos.

Tá caro para você? Os gráficos são velhos demais? Então talvez você prefira baixar gratuitamente o remake da AGDInteractive, com gráficos melhorados.

King’s Quest II: esse você consegue zerar!

15 ideias sobre “King’s Quest II: esse você consegue zerar!

  • 13/10/2011 em 7:54 am
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    eu sempre ouvia falar desse jogo aqui nas matérias antigas do Gagá games, mas não levava muita fé. desde que zerei Out of This World anteontem, fiquei fascinado por esse games que quase ninguém olha ou ouviu falar e é bom pacas. acho que esse King Quest 2 deve ser do mesmo calibre, vou ver se dar para baixar ele aqui.

    e a gente tem que digitar as ações do personagem? tipo, para ele pular é necessário escrever “JUMP” para ele pular? imagine na horas das lutas então…

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  • 13/10/2011 em 8:22 am
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    @leandro(leon belmont) alves
    Não tem luta nem pulo, Belmont. O lance é só analisar as coisas no cenário, tentar interagir com os objetos e tal. O máximo de “ação” mesmo é quando um feiticeiro ou anão-ladrão pinta na tela de repente, aí você tem que sair correndo antes que ele te mate/roube seus itens. É tudo bem paradão, o que pode ser bom ou ruim, dependendo das suas preferências.

    E Out of this World é clássico! Eu fiz uma big matéria sobre ele na Old 4, ó:
    http://www.europanet.com.br/site/index.php?cat_id=1453&pag_id=22494

    Mas tô devendo um post sobre ele aqui, é muito elitista esse lance de fazer matéria só para a revista ^_^

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  • 13/10/2011 em 9:08 am
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    Screenshots de adventures me deixam fascinados. Saber que são feitos pra interagir e não só pra destruiir ou enfeitar faz com que os cenários pareçam vivos.

    Neste jogo dá pra andar melhor? Porque no primeiro eu morri tantas vezes fazendo coisas simples como atravessando uma ponte que eu desanimei.

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  • 13/10/2011 em 9:26 am
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    Comecei a conhecer esta série pelo Kings Quest 5 (em disquetão ainda), depois joguei o 6 (meu primeiro jogo em CD). Depois consegui com um colega os outros 4 da série
    No início não consegui entender direito o Kings Quest 1 e 2, mas com o tempo (e insistência) dei nova chance a esses dois títulos da série.
    Hoje sinto saudade desse tipo de jogo.
    Volta e meia fico no meu note emulando adventures antigos para matar saudade…

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  • 13/10/2011 em 10:11 am
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    @Heider Carlos
    Ah, sim, aquele lance infame da ponte no primeiro KQ, he he… não, aqui não tive esse problema nenhuma vez. Só existe uma parte perto do final que exige que você salve toda hora para não tocar nos espinhos envenenados, mas dá para conseguir um item que confere imunidade ao veneno, embora não seja obrigatório.

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  • 13/10/2011 em 10:20 am
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    @Orakio Rob, “O Gagá”
    Esse pelo que lembro é o Kings Quest VI, aquele que você inicia na praia, com o filho do rei Graham, após o naufrágio do seu barco quando você ia visitar sua “prometida”.
    Esse é um jogão. Uma das melhores histórias que eu já vi em um adventure. Recomendo fortemente que você jogue ele um dia. Ele possui algumas sequencias memoráveis.
    Eu não temnho mais o cd original, emprestei para um “amigo” e nunca mais vi ele de volta, somente a capa e o manual…
    O Kings Quest V é o que o Rei retorna e encontra… ou melhor não encontra seu castelo que havia sido “roubado” por um mago, então ele começa uma busca por ele, com a ajuda de uma coruja falante.

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  • 13/10/2011 em 2:28 pm
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    @Felipe
    Por que você não faz algo semelhante como eu fiz na época com o jogo Leisure suit larry?

    Pega o detonado no game faqs e um dicionario de mão (aqueles livrinhos mesmo).
    Traduz o detonado e zera o jogo.

    É muito gratificante e de quebra você aprende inglês!

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  • 13/10/2011 em 4:54 pm
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    Tive que apelar no PS1 que acabei recentemente, e pra falar a verdade apelei direto, fui acompanhando no gamefaqs e convenhamos que ele é daqueles jogos que se tu não leu o que fazer numa revista da antiga então você vai travar porque tem cada coisa e cada labirinto que vou te falar, mas curti o jogo e passei a limpo esse clássico que eu não tinha no meu currículo ainda. Acostumado só com rpgzim barbada, eheheeh. Esse aí vou ter que dar um confere.

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  • 15/10/2011 em 2:07 pm
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    Maravilha, King’s Quest II! Caramba, lembro da cena com o lobo mau, devo ter chegado até ali quando joguei na época, mas não deu pra conseguir zerar não hein! Quem sabe agora, pelo seu post deu pra perceber que ele é curtinho mesmo, curioso!

    Essa “piadinha” da Roberta, o negócio da ponte… rapaz, que safada!

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  • 16/10/2011 em 6:49 pm
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    @Orakio Rob, “O Gagá”
    Pois é, logo em seguida do PS1 eu fui pro 2, mas parei no inicínho ali mesmo, sai da cidade, cheguei longe num túnel e parece que tinha um cara mau lá querendo me arrebentar, mas eu tinha a escolha de voltar, até aí nem imaginei o que deveria ser feito no jogo, fora o detalhe que peguei uma luta ali que me matou, daí resolvi dar um descanso pois joguei o PS1 direto, tenho que ter tempo pra recarregar as baterias pra rpg. Daí vou jogando jogos casuais.

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