“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

É isso mesmo que leram no título: jogar videogame é inútil!

Mas, antes que joguem pedras em mim (escrevendo um comentário após passarem o olho pelo título), espero que acompanhem tudo que vou dizer aqui.

Obviamente, estou usando a ideia de utilidade em um sentido eminentemente pragmático de “servir para alguma coisa”. Ou seja, o que importa nesta perspectiva (ou o que é verdade) é aquilo que é útil; aquilo que não tem utilidade é irrelevante.

Não pensem que isso é algo distante de nós, com fundamentos enunciados no século XIX por grandes pensadores como William James (de longe o maior psicólogo estadunidense em minha opinião). Mesmo antes disso (e atualmente) essa é a mentalidade que permeia boa parte das ações humanas.

William James. Irmão do escritor Henry James (autor do livro A Outra Volta do Parafuso).

Por exemplo, porque é que nossos pais pediam que entrássemos em casa depois de uma tarde toda fora brincando? Para fazer algo útil: a lição de casa. Embora seja possível que um menino que joga futebol o dia inteiro ganhe dinheiro com esta sua habilidade, é mais algo que podemos atribuir ao acaso do que algo que todos que jogam futebol na rua desejam e lutam para conseguir.

Isso parece incomodar muita gente, principalmente depois que inventaram a ideia de criança. Como devem saber, séculos atrás a criança era vista como um tipo de adulto em miniatura. Embora brincasse e se divertisse, não era visto como muito diferente de alguém que tivesse mais anos de vida. Com essa divisão, houve a dicotomia entre: uma idade idílica, cheia de vigor, divertimentos e prazeres pueris; e outra, mais taciturna, com obrigações, lutas, conflitos e abnegações.

Além de isso ter contribuído para uma série e outras coisas, influiu diretamente sobre a ideia que temos de jogo. Na verdade, não com a ideia de jogo em si, mas com a atribuição direta disto com infantilidade. Jogar (ou brincar, o verbo não interfere o que quero dizer) é inútil para a vida prática de um adulto, seja ele um cientista ou não.

Quadro de Pieter Brueghel, o Velho. Denominado “Jogos de Crianças” (embora seja possível ver pessoas mais velhas brincando também).

O que leva à evidência de que os primeiros pesquisadores sobre jogo tenham sido pedagogos. Embora muitas destas reflexões tenham sido relevantes, foi somente em início do século XX que outros pesquisadores (holandeses em sua maioria) se ocuparam de estudar o jogo em outra perspectiva que não só buscava seu sentido original, com também sua grande abrangência em assuntos “adultos” como a guerra, o direito e, porque não, o futebol (que já era bem cotado nos Países Baixos).

Buytendijk e Huizinga notaram que estudar o jogo era algo à margem na academia porque não era visto como algo sério, importante e, claro, útil. Não são só os pais e os professores que advogam a inutilidade da diversão: os cientistas também partilham da mesma opinião.

Embora hoje estudar o jogo e o jogar seja algo mais aceito, ainda é algo meio à margem de outros temas mais sérios como neurônios-espelho, células tronco ou a busca de outros planetas em sistemas solares longínquos. Que dirá então com relação aos videogames! É uma margem à margem!

E isso deu lugar ao nascimento da busca e uma série de justificativas para as razões e ser importante se estudar estas coisas. Por exemplo, “estudar jogos e games é bom porque tem relação com a aprendizagem, porque são arte, porque auxiliam no aprendizado de habilidades manuais finas etc.” Exemplos não faltam. E muitas vezes, estas justificativas são usadas a esmo, sem reflexão.

É somente aqui que vejo um elo íntimo entre a arte (entendida como belas artes) e os games. Ambos são igualmente inúteis do ponto de vista pragmático; provavelmente porque a arte tem um elemento de jogo incluído nela, um elemento tão marcante que chega a ser essencial. Aprendemos alguma coisa com eles? Sim. Mas a finalidade de um jogo não é aprender alguma coisa, não é o deslumbramento e não é desenvolvimento de novas habilidades; a finalidade do jogo é ele mesmo, é jogar. E, neste sentido, sim, ele é inútil.

O que não quer dizer que seja ruim, certo? Ainda nos divertimos com eles; e é para isso que eles servem. Inúteis do ponto de vista pragmático? Com certeza. Mas essenciais à vida humana, à nossa própria vida? Sem dúvida alguma. Sejam eles eletrônicos ou não. Não é só o que é útil que é verdadeiro e bom; e isso os pragmáticos não se abrem para enxergar.

Outra coisa inútil do ponto de vista pragmático: assistir a um concerto (ou tocar em um).

Até o próximo post!

Academia Gamer: jogar é inútil.
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30 ideias sobre “Academia Gamer: jogar é inútil.

  • 01/03/2011 em 10:05 am
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    Como é bom ser inútil. =P

    Sei que você sabe que essas coisas inúteis são, na verdade, necessárias. Afinal, se ficássemos o tempo todo nos ocupando com as coisas úteis, sem uma música para relaxarmos, um filme para nos entretermos, um jogo para nos divertirmos, acabaríamos insanos como aquele personagem dO Iluminado. All work and no play makes Jack a dull boy!

    Mas é triste que muita gente não reconheça isso. Como quando te perguntam o que você faz, você responde que é músico e falam “Ah, mas você trabalha?”. Porque pra muitos a definição de trabalho se resume a ficar 8 horas por dia sentado atrás de uma mesa. Essas pessoas nem imaginam que um concertista, para chegar onde está, provavelmente se dedicou muito mais à sua profissão do que um engenheiro.

    Também é legal ver os efeitos que algumas dessas coisas fazem. Já vi estudos que apontam que música erudita melhora a noção espaço-temporal por um período de tempo, e que games melhoram a precisão de cirurgiões.

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  • 01/03/2011 em 12:26 pm
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    Muito bom, Senil. O olhar pragmático que se adota de vez em quando em algo tão lúdico quando um videogame, que irônico não?

    Ainda bem que temos você pra nos lembrar (no meu caso, informar) que crianças eram tratadas como “mini-adultos” no passado. Nunca imaginei isso, mas é só olhar qualquer filme de época que a gente se toca na hora que devia ser assim mesmo. Imagina um guri daqueles engravatadinhos de “1600 e antigamente” recebendo um Atari 2600 com 20 cartuchos? Seria felicidade demais para um ser humano só, capaz de causar um colapso no tempo/espaço – por isso que o Atari só surgiu 377 anos depois.

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  • 01/03/2011 em 1:22 pm
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    Mania chata de psicólogo de querer arrumar explicação pra tudo quanto é hábito ! 😛 Brincadeira…

    Bom, como a Patty K mencionou, podemos ficar insanos se não fizermos coisas inúteis para descontrair a mente… Mas e quando a coisa inútil é a profissão ? E afinal, o que realmente pode ser classificado como útil ou inútil ? Acho que vai mais do ponto de vista de cada um mesmo e aí caímos naquela velha afirmação : É preciso respeitar a opinião e o ponto de vista de cada um. Complicado, mas é fundamental.

    Meus pais sempre acharam videogame inutilidade (Ó… Novidade ! Qual pai/mãe nunca achou !). Eu brigava feio com eles por defender meu direito de “perder” um final de semana inteiro “à tôa” na frente do console. Mas oras, por causa desse vício excessivo, acabei caindo aonde estou hoje : Trabalho com programação, faço faculdade por causa dos games, minha curiosidade em relação à esse mundo mágico dos pixels me fez chegar aonde estou. Será que foi tão inútil assim passar 70% da minha infância e adolescência agarrado à um console ? Defendo essas coisas dentro dos limites saudáveis, claro. Aí eu tenho uma outra paixão inútil que a guitarra. Também ficava horas tocando, treinando padrões de escala, estudava teoria (A sério diga-se de passagem) e não me levou à lugar nenhum, apenas à um prazer pessoal, uma satisfação de ego mesmo. Nunca ganhei dinheiro com isso, acho que nunca vou ganhar, talvez não faça nada de útil para a sociedade por causa disso… Mas para um músico profissional, isso é útil, dá dinheiro pra ele, dá dinheiro pra outros…

    E aí ? O que é inútil nos exemplos que citei acima ? Os games ou a guitarra ? É por causa disso que defendo mesmo, que vai da opinião de cada um. Tem gente que acha o BBB útil… Para a Globo com certeza é ! Para mim não…

    Post excelente Senil, valeu !

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  • 01/03/2011 em 2:10 pm
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    Quem diz oque é util ou não é você mesmo, isso não passa de uma opinião. ja ouvi de pessoas( meus avós para ser mais exato) falarem que psicologos são inuteis, se uma pessoa tem um problema, deve enfrenta-lo as vezes com a ajuda de amigos e não de alguem que muitas vezes nunca viu na vida.

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  • 01/03/2011 em 2:44 pm
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    O que é útil ou inútil é muito relativo. Depende do ponto de vista que se vê! 😛

    Pelas leis naturais, tudo aquilo alheio a comer, dormir, evacuar e procriar é inútil. Se partimos daí, tudo que o ser humano criou é inútil. Pois se ainda vivessemos iguais aos antepassados que andavam de quatro, ainda assim seríamos mais uma espécie no planeta. Sim, pois apesar de sermos dominantes, constamos na listagem de organismos vivos no planeta. Indepedente de sermos o número 1 ou último dessa lista.

    Andei divagando esses dias com pessoas de certa idade, a que ponto chegamos. Analisamos cruamente e o cenário atual e comparamos com a revolução industrial. Sabe o que mudou? A roupagem. Pois o que está por baixo continua o mesmo. Explico. A economia deveria ser um meio para um fim. A economia deveria ser o instrumento para trazer prosperidade e paz aos povos. Mas desde que a economia foi implantada no mundo, desde que o mundo é mundo, o que vemos? O que deveria ser um meio de alcaçarmos algo, na verdade se tornou o fim. É a economia “itself”.

    Vejo todas as pessoas hoje em dia estressadas, gananciosas, deprimidas, famílias sendo despedaçadas, cada vez mais as pessoas sendo competitivas correndo atrás de metas inalcançáveis, praticamente dando a vida pelas instituições e empresas sempre em busca do mais, mais e mais que nunca tem fim.

    Independe da classe social. Tá certo que os problemas do pobre e do rico são bastante diferentes. Mais ainda assim são prolemas. E ao que parece dinheiro nenhum no mundo é capaz de saná-los.

    Voltando a primeira coisa que eu disse, tudo depende do ponto de vista. Quem aqui nunca pensou pelo menos uma única vez que se vivessemos como nossos antepassados, praticamente que nem bichos, não seríamos mais felizes? De que adianta toda essa “utilidade” criada pelo homem, se o que queremos, se o que nos faz felizes, é a “inutilidade” que buscamos?

    Falow!

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  • 01/03/2011 em 3:31 pm
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    Se pararmos para pensar bem, o que é realmente útil?

    Em outro post você disse que Kant dizia que a única saída era o suicídio, por isso devíamos imaginar “Sísifo feliz”. Na verdade a parábola mostra que a vida é tão inútil quanto o castigo do Sísifo, lenvando a rocha até o topo da montanha, ela caindo e ele tendo que retornar do começo. Como estamos falando em pontos de vista, a finitude humana e sua insignificância torna tudo inútil. Mas temos o nosso ego, e enxergamos um mundo em nossa volta onde “criamos” coisas, sendo ela úteis e inúteis. Tudo para satisfazer nosso ego.

    Minha opinião? É muito mais útil jogar do que ficar matutanto essas besteiras inúteis e depressivas, hehe. E continuar imaginando o Sísifo feliz, já que ele já sisifufu mesmo (desculpa, não resisti… :-P).

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  • 01/03/2011 em 4:33 pm
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    Muito interessante e bem embasado o texto.

    Minha mulher faz pedagogia e já tinha me falado algo sobre as crianças serem tratadas como “mini-adultos” na idade média. Uma vez fui numa aula dela e o professor falava exatamente sobre os pragmáticos e a idéia de utilidade e como isso prejudicar o entendimento social da infância.

    Tudo se encaixou agora neste post.

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  • 01/03/2011 em 11:41 pm
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    Embora o texto do Senil(muito bem escrito diga-se)tenha focado o campo da Psicologia e da Filosofia em cima do tema “O que é util?” gostaria de mudar um pouco o foco e ver outra face mais próxima de nós OldGAmers.
    Eu tenho receio em afirmar para amigos de trabalho colegas fora da CENA GAMER que jogo videogame,porque eu sofro preconceito, sim preconceito!
    O senso comum ve os gamers acima de certa idade como adultos infantilizados que de certa forma não amadureceram(seja lá o que isto quer dizer…)e neste contexto o título do Post do Senil me lembrou exatamente este sentimento de que eu estou fazendo algo inutil em jogar games.
    É engraçado….outras coisas inúteis não sofrem preconceito e são até estimuladas, por exemplo:
    Assistir futebol,novela,ir a igreja… etc é claro que tudo tem o seu lugar e seu valor mas os games…há isso sim é coisa inutil de criança.
    Na europa e japão isso é um pouco diferente muita gente por lá sabe que games é uma nova e interessante formaa de arte.

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  • 02/03/2011 em 6:21 am
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    PUTZ! Caraca.. sem esses “inúteis” games nunca teria aprendido o básico do Inglês e me interessado a conhecer bem o idioma, não estaria trabalhando como programador, não conheceria tantas pessoas legais e inteligentes, só para citar algumas coisas..

    MAS claro, sou Brasileiro, tenho que gostar de ver futebol no domingo e novela todo dia, assistir malhação e engravidar algumas garotinhas da escola sustentando-as com meu salário mínimo do emprego no supermercado que tanto lutei pra conseguir.. VAI BRASIL!!

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  • 02/03/2011 em 9:31 am
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    @Dactar
    Idem, sinto o mesmo que você…
    As pessoas realmente enxergam um adulto viciado em games como alguém que não amadureçeu totalmente. Um eterno adolescente vamos dizer assim…

    Já o cara que sai à noite, traindo a mulher, gastando horrores em bebedeira todo final de semana e chegando torto e atrasado na segunda-feira no trabalho, esse sim é o cara, exemplo à ser seguido. Esse sim fez uma coisa muito útil… Vai entender…

    Mais uma vez reforçando a opinião dos demais : Utilidade vai do ponto de vista de cada um, mas tem vezes que esse conceito de utilidade extrapola o bom senso e se torna motivo de pré-julgamento ! Como o caso do Dactar.

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  • 03/03/2011 em 11:51 am
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    @Dactar
    Quer saber o que acho disso ? Nem ligo, assumo mesmo que sou viciado !
    Outro dia aqui no trabalho nem lembro direito o que foi que puxou o assunto, só sei que num dado momento um colega mandou : “Mas hoje em dia que joga Super Mario ?”. Isso se referindo ao Super Mario World. Na mesma hora eu respondi : “Eu jogo todos os dias !”. Os caras ficaram me olhando com cara de tacho, e ainda completei : “Tem muito mais qualidade que muito jogo por aí…”. Aí nego veio falando de God of War, Playstation 3 e tal aí só finalizei : “Ah, cara eu gosto de coisa velha mesmo, gosto dos clássicos. Pra mim não tem tempo ruim pra games, pode ser Play 3, Atari, o que for…”

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  • 06/03/2011 em 6:52 pm
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    @Patty K
    Eu acho! hehehehe Que artista nunca questionou a utilidade de sua habilidade e ofício aprendido e desenvolvido a duras penas? Só os que andam de nariz empinado que jamais pensaram isso; e estes são os que mais longe estão de serem artistas genuínos justamente por se acharem gênios.

    Sem dúvida que são necesárias! O engodo é justamente pensar que só o que “serve para alguma coisa” (no sentido que explorei no post) deve ser feito e experimentado. O próprio jogo, inclusive, permeia muitas atividades vistas como sérias como o direito, a ciência e a guerra.

    Eu já li pesquisas que falam disto que comentou. O problema é que muita gente fala: “porque jogar games melhora a precisão de movimentos finos que deve ser algo importante a ser estudado!”. E não é bem assim: é importante por fazer parte de nossa vida e ser um fenômeno humano; é um “acidente” que sirva para alguma coisa.

    @André Ricardo Voidelo
    huahauhuaha Claro que tem! hehe

    Que foto? A do William James? hehe Nunca pensei nisso.

    @Eric Fraga
    Sim. Muito irônico; na verdade, beira até a hipocrisia. hehehe Eu fico meio chateado com algumas pesquisas sobre games e arte justamente por conta dessa visão.

    Agora fiquei pensando, como será que um garoto reagiria a um Atari nessa época? Vou ficar refletindo sobre as possibildiades agora! hehehehe

    @Fernando Lorenzon
    Claro que é permitido! hehehehe

    Gostei muito do seu último parágrafo lá. É exatamente o que penso: não jogamos pensando no que é que podemos ganhar com isso em nossas vidas; jogamos porque é divertido.

    @Flávio de Oliveira
    huahuaha Vixe! Explicação é a última coisa que penso. hehe Minha perspectiva é muito mais de descrição do que explicação; mais o como do que o “por quê”. Mas que tem psicólogo que adora explciar tudo, isso tem mesmo. hehe

    As coisas que citou (evacuar, comer etc.) têm uma função. Função é um termo comum no pragmatismo e no funcionalismo e passa pelo que quis chamar de “útil” no post. Assim, poderia dizer que o jogo não teria uma função específica ou essencial, somente acidentes. Por exemplo, jogar jogos em grupo (futebol etc.) melhora contatos sociais? Pode ser que sim. Mas não jogamos tendo isso em mente.

    Gostei bastante do que falou e nem sei bem como comentar sobre isso (para acrescentar algo, digo). Na verdade, vou ficar pensando um pouco mais nisso. hehehe Valeu pela provocação! E não estou sendo irônico, que fique claro. 😀

    @Tchulanguero
    huahuahua Sem dúvida! Mas do ponto de vista pragmático, você não ganha dinheiro com isso, não pode comprar uma casa e nem melhorar o meio social em que você se encontra, jogar nesta perspectiva não tem função alguma. hehe Jogar é importante por tudo isso que falou, mas não deixa de ser inútil por conta disso.

    @Onyas
    Na verdade, era Camus que refletia sobre o suicídio e dizia que pensar “se a vida vale a pena ser vivida” é a primeira grande questão que todo homem deve fazer a si mesmo. E escolher não se matar é escolher a vida e todo o seu absurdo.

    Entendi o que disse. Então, a utilidade e inutilidade das coisas depende do sentido que atribuímos a elas e em que grau elas nos fazem, como Sísifo, feliz? Sísifo aceitava seu destino e sua punição, mas podia se alegrar naquilo; da mesma forma nós podemos nos alegrar neste nosso absurdo pessoal cheio de contradições, confusões e coisas que nos dizem ser úteis mas inumanas e oturas inúteis, mas humanizadoras. Se for isto, concordo plenamente. hehe

    @Mateus
    Yep. Só temos uam vida mesmo. Só temos uma chance de aproveitar as coisas; não há segundas chances.

    @maximuscesar
    Cara, como isso é comum! hehehe Eu mesmo aprendi inglês por conta dos games também. Não aprendi quase nada no colégio, nunca fiz curso de inglês e hoje me viro com tranquilidade com o idioma. hehehe Mas não jogava para aprender inglês; muito diferente de quando pego algum RPG em francês para treinar o idioma (jogo para treinar mesmo e não para me divertir propriamente).

    @Tandrilion, o Matusalém
    Tem um livro famoso que fala sobre isso, mas me esqueci do nome… Só acrescentaria que não foi só na Idade Média; durante o Renascimento isso ainda era bem forte.

    @Dactar
    Cara, entendo isso perfeitamente!

    O problema é que, desde que “inventaram” o adulto (conseqüência da invenção da criança), houve uma cisão entre a diversão e o sério que é totalmente artificial. O verdadeiro sério é aquele que experimentamos enquanto jogamos alguma coisa; ou não jogou com seriedade Mario 3, por exemplo? Então, quando você fala que joga algo, acham que isso “é coisa de criança”.

    Por isso que adultos hoje em dia não brincam, “praticam esportes”; não jogam, “saem para a balada” e coisas do tipo. Assistir TV, ir ao teatro, ver um filme no cinema, ler um livro e até ir a igreja tem um aspecto lúdico que muitos se esquecem. E isso não é ruim! É justamente seu tempero e o que os torna altamente significativos para as pessoas.

    @Aglio
    Mas faça pelo menos um comentário assim para eu poder ver que leu e que concordou. 😀

    @Jonas
    huahuahha Como você consegue ser programador, sair engravidando meninas e ainda jogar games e futebol, tudo ao mesmo tempo?!

    Brincadeira, lógico. 😛 Entendi o que quis dizer. Até ampliaria o que disse para o mundo mesmo; não acho que seja algo restrito ao Brasil.

    @Hideto
    Mas esta é uma outra questão interessante. Jogamos para obter prazer ou para nos divertir? Para mim são coisas diferentes. A diversão envolve muito mais esse “sair do mundo” e, embora contenha certo prazer, não é isso que buscamos. Às vezes eu fico mais irritado e triste jogando alguma coisa do que extasiado. É algo em que estive pensando estes dias, mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão.

    @Flávio de Oliveira
    Isso. É exatamente esta a mentalidade dos críticos. O que persiste há varios anos já, não é algo restrito somente aos games e à nossa época. Há alguns séculos já que um adulto se ocupar destar coisas “inúteis” e “pouco sérias” é visto como infantilizado.

    Uma pena porque a questão do juvenil é muito mais um “estado de espírito” (ou um modo de ser na terminologia do meu posicionamento teórico) do que algo relacionado à idade. Tem muito idoso muito mais juvenil do que alguns adolescentes. E isso não o torna infantil, o torna “brincalhão” e aberto a diversos mundos de jogo. Quero ser um velho assim quando chegar nessa idade. hehehe

    @Onyas
    Isso mesmo. É como aquele pessoal que lê trocentos livros, mas não têm uma experiência genuína de leitura. A mesma coisa no cinema e em qualquer outra forma de entretenimento que possa pensar.

    @Robson Vieira
    Vixe, então sou maluco total! hehehehehe

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  • 06/03/2011 em 8:12 pm
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    A sociedade humana cria em torno do indivíduo um sistema que controla de maneira indireta sua vontade, seus anseios, sua noção de felicidade, sua satisfação, etc.

    Uma rede invisível de indução permeia esse indivíduo, fazendo-o almejar como objetivo de vida uma posição privilegiada nessa sociedade, e como felicidade gostar das mesmas coisas e ser semelhante aos seus semelhantes. Enfim, uma “Matrix” sem o uso de tecnologia indutória mental.

    Tudo para fazer girar a máquina econômica, que dá a conta-gotas dinheiro a este personagem (sim, no masculino mesmo), para logo depois o consumismo fazer ele perder tudo ou boa parte do que ganhou (ou você acha que uma TV de tecnologia Super Oled Greatest dura muito?).

    Isso tudo a troco de jogar no lixo sua vida, seu tempo livre com seus filhos, família, seus projetos pessoais, seu livre arbítrio, sua saúde, sua condição mental, seu bem-estar, etc.

    Lógico que o videogame vai contra todo este sistema e DEVE ser considerado inútil, já que algum pensador do século -1 o disse. Útil é o carnaval, que contribui – e muito – para que o circo funcione direito e o palhaço, agora feliz e com um salário de 450 reais, não reclame dos seus direitos.

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  • 07/03/2011 em 12:18 pm
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    Ah, Camus, Kant, Kierkgaard, tanto faz. É tudo da “turma”, hehe. 😛

    Só para acrescentar: também sou programador e pode até não ter cido decisivo mas o meu interesse por games sem dúvida que influenciou na escolha da minha profissão.

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  • 09/03/2011 em 2:11 pm
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    @mcs
    hehe Com certeza.

    Embora acredite que o jogar videogame realmente vá pela tangente de tudo isso (como todo jogo genuíno o faz), acho que a indústria está bem contaminada por este viés que trouxe muito bem descrito. Por isso que saem milahres de jogos em espaços curtos de tempo, muitas vezes como meras reproduções de algo que já jogamos antes. Há pouco interesse dos empresários e empresas que joguemos o mesmo jogo a vida toda. É como se nos forçassem a comprar um tabuleiro de xadrez novo a cada intervalo de tempo… Isso que me deixa mais triste nisto tudo: o excesso; e o consumo exagerado.

    @Onyas
    huahuaha Sim, sim com certeza! Só quis pontuar para caso alguma outra pessoa lesse os comentários pudesse saber exatamente de quem falávamos.

    Eu alimentei durante a adolescência este mesmo desejo que você. Hoje só brinco com programação de vez em quando; gosto muito mais de brincar com design de jogos (a parte de documentação etc.).

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