“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

Vez por outra acabamos falando, principalmente nos comentários, sobre “games clássicos’. Já pararam para pensar o que essa palavra realmente quer significar? É isso que quero compartilhar com vocês.

Existem dois sentidos principais da palavra “clássico”. O primeiro, como substantivo, pode se referir a determinado período de nossa história. Por exemplo, ao falarmos “o clássico” no sentido de “período clássico” provavelmente falamos de uma época específica na história da humanidade. Período este recuperado pelos artistas da Renascença. É como adjetivo que as coisas começam a se complicar e, novamente, temos ao menos dois sentidos possíveis para a mesma palavra.

A primeira é servir para qualificar alguma obra realizada no período clássico. Utilizando o exemplo da música, chamamos de “clássica” peças compostas em determinado período com determinadas características. Por exemplo, Mozart é um compositor de música clássica. Haendel não, porque é considerado um compositor barroco. Portanto, não se deixem enganar com o título “música clássica” somente porque reúnem um monte de compositores e orquestras em coleções de revistas: música clássica é algo de estilo bem definido (embora contenha, evidentemente, suas idiossincrasias). Basicamente, a arquitetura e as belas artes que chamamos de clássicas advêm de um conceito estilístico derivado diretamente da (re-)descoberta do helenismo durante o Renascimento.

A Escola de Atenas reunindo grandes filósofos gregos em um único lugar.

Neste sentido acima, a palavra nem nos traz tantos problemas. A dificuldade reside quando começamos a designar de clássico uma série de coisas colocadas e existentes em um contexto diferente do classicismo. Por exemplo, falamos que “The Who” é uma banda de rock clássica, que “Hey Joe” é um clássico do rock, que Mario Bros para Nintendinho é um clássico, que Phantasy Star é clássico, que De Volta para o Futuro é um clássico e por aí vai. Não é minha intenção comparar isso com características dos períodos clássicos, ou analisar games em comparação com algumas peças musicais desta mesma época. Até porque usamos aqui o adjetivo em um sentido diverso.

Gadamer é um pensador que cito bastante por aqui e que se debruçou justamente sobre esta questão: o que é clássico? Pensemos junto com ele por alguns momentos.

Ele mesmo faz esse apanhado do uso do termo “clássico” como relacionado ao classicismo recuperado pelo Renascimento e a evidência de que certos artífices são chamados clássicos por cumprirem plenamente certas normas de cada gênero de sua arte. Mas não é isto o mais interessante que afirma. Para ele, clássico é tudo aquilo que consegue se diferenciar e obter certo destaque através dos tempos mutáveis e de todo gosto efêmero. Ou seja, clássico não quer dizer algo que todos gostam (ou gostaram), ou mesmo algo de muita idade por definição. Percebemos algo como clássico quando vemos nele seu sentido independente de toda circunstância temporal.

Achei esta pintura com Gadamer muito legal (embora tenha algumas fotos bacanas por aí) e optei por ela mesmo.

Isso quer dizer uma coisa bem simples. O clássico se conserva e se mostra imediata e diretamente a si mesmo e a qualquer um que olhe para ele. Não é preciso realizar qualquer superação da distância histórica que nos separa dele: o que é clássico já realiza ele próprio essa superação. E a própria noção de tradição traz em si esta mesma essência geral de algo passado que se conserva como não-passado. Esse é o perigo da crítica iconoclasta à tradição e à autoridade que ela porta. Mas sobre isso eu falo em alguma outra oportunidade.

Portanto, podemos dizer que certos games são ou não clássicos? Evidentemente que sim. E em dois sentidos essencialmente próximos, mas diferentes, entre si. É possível que game possa ser considerado clássico no sentido de ter certas características helênicas (não de conteúdo propriamente, mas de forma). Mas também é igualmente possível que ele seja clássico por perdurar através do tempo e não haver uma barreira entre a época em que foi confeccionado e aquela em que estamos agora.

O que quero dizer é que um jogo que vendeu milhares de cópias e que foi o mais comentado durante determinado ano não o qualifica imediatamente como um clássico. Se antes até havia certa preocupação dos artistas em criar clássicos (no sentido helênico ou não), hoje os novos designers de quaisquer áreas pensam em criar algo que seja efêmero. Pode acontecer de se tornar um clássico, mas isto é desimportante. Assim como a tradição, o clássico é constantemente atingido por modificações sutis de sentido que mais aniquilam sua apreensão genuína do que qualquer outra coisa. Nem preciso dizer que quando alardeiam em revistas que tal game é um “clássico instantâneo”, ou “clássico absoluto” que é preciso pensar seriamente a respeito dessas afirmações, não é?

Clássico? Pode ser que não.

E isso prejudica algo que acho de suma importância aos games: sua relevância enquanto jogo e, consequentemente, em se transformar em tradição. Claro que não é somente o clássico que se torna em tradição e adquire, com isso, certa autoridade; mas é o caminho que posso enxergar por enquanto. Não só este, mas também a evidência de muitos pais gamers que mostram aos seus filhos, sobrinhos e netos os seus próprios jogos. Sejam eles Space Invaders ou um de seus vários clones. Muitas pinturas de artistas reprodutivos se tornaram mais clássicas que as dos mentores que copiavam à exaustão.

Tradição é memória. Não uma memória pessoal, mas a memória de um povo, de uma comunidade, que é passada às gerações seguintes com amor e respeito. O que falta nas línguas universais inventadas durante o Iluminismo e que sobre na nossa própria é isso: tradição e história. Algumas perpassam mais de cinco mil anos; outras não passam de trezentos. Se alguns games são realmente efêmeros, não quer dizer que todos o sejam. Embora, evidentemente, todos eles nada mais sejam do que uma viagem temporária a certo lugar diferente do “real”; o crucial é que esta viagem pode permanecer na nossa memória e na de nossos filhos. Jogos de tabuleiro, por exemplo, se tornam clássicos e pertencem à nossa tradição lúdica. Sejam eles velhos (como o xadrez) ou mais recentes como o Banco Imobiliário.

“Ei pai, deixa eu jogar sozinha agora que já aprendi com você!” 🙂

É provável que tenham percebido alguma contradição em tratar de jogos como clássicos por este parecer ser algo aplicável somente às artes. E estão corretos. A diferença é que uso o termo “obra” e “arte” no sentido mais amplo possível englobando não somente as belas artes, mas também as outras profissões e ofícios como a marcenaria, a tapeçaria, a metalurgia e muitas outras. Pois é (tudo) isso que o termo latino ars qualifica.

Agora que já podemos ter uma ideia melhor que é o clássico, a pergunta que agora fica é: quais são os clássicos?

Bem, é isso por hoje. Até o próximo post!

Academia Gamer: Clássico
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17 ideias sobre “Academia Gamer: Clássico

  • 03/05/2011 em 11:23 am
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    bela matéria hein Gagá? sobre esse negocio de classicos,isso vária de console para console. mas eu tenho quase certeza que os games do SNES,MEGADRIVE,ATARI e MASTER SYSTEM possuem a maior quantidade de jogos memoraveis na vida de um Gamer. eu antigamente não curtia jogos velhos e não dava a minima para esses jogos classicos. mas desde que baixei o emulador do SNES por curiosidade e passei a ver esse site, comecei a gostar de games do tempo da minha avó. e fiquei mais “culto” ao mencionar games antigos para os meus amigos que valem a pena zerar,ou pelo menos valer uma jogadinha. e classicos não morrem nunca!

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  • 03/05/2011 em 12:48 pm
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    Cara, parabéns pelo texto! Esse é o tipo de coisa que me interessa ler. Em primeiro lugar, fico muito feliz por ter utilizado a imagem da pintura Escola de Atenas, pois gosto muito da filosofia de Platão e principalmente de Aristóteles. Aliás, o termo clássico remete à palavra classe. E classe é um conceito estudado pelos gregos.

    Analisar a origem das palavras também é algo interessante. Muitas vezes usamos termos vagos para descreverer certas coisas, e logicamente isso acaba confundindo muito mais do que ajudando, como é o caso de “jogabilidade”, um termo vago e até ruim. Neste caso, prefiro falar “mecânica” completando com a área que quero citar, como “mecânica de progresso”; “mecânica de controles”; “mecânica de combate”.

    Voltando à palavra clássico, gosto de pensar que sua origem deriva de classificar. Clássico é algo que, depois de classificar/organizar/separar os elementos de um grupo, se destaca dos demais, que ficou mais evidente. Mas é claro que isso é só uma interpretação minha.

    Na minha opinião, os games chamados de clássicos são todos aqueles que mudou os rumos da indústria, influenciando outros games por trazer inovação e qualidade.

    Brincando um pouco com o termo, God of War seria um game clássico por trazer características helenísticas. Já os games de Atari 2600 são clássicos porque possuem linhas retas e gráficos geométricos.

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  • 03/05/2011 em 2:49 pm
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    Interessante a premissa do artigo, mas acho que tu se deteve muito em tratar do conceito sobre o que é clássico e se esqueceu da aplicação dele no mundo dos games. As perguntas mais pertinentes seriam: o que é um game clássico e quando um game vira um clássico? quais os aspectos que o tornam um clássico instantâneo e o que é preciso para se tornar clássico. Uma coisa é certa, ninguém cria um clássico porque quer. A forma como ele se apresenta num determinado momento do tempo, seja por definir ou redefinir um conceito, são um dos fatores que indicam se o game será um clássico ou não.
    Outra coisa, Senil. Embora reconheça que você escreve bem, sempre tenho a sensação de que você pode ser mais conciso nos seus artigos. Bem… isso foi só uma observação.
    Grande abraço

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  • 03/05/2011 em 8:43 pm
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    @albatross
    A intenção dele é provocar mesmo… 😉
    Quer que a gente pense e dê algumas respostas que ele até já sabe…

    Mas então Senil, bem amplo esse conceito ! Não tem como discordar de nada do que você escreveu. O exemplo das revistas foi bem interessante, sempre vi esse tipo de alarde, mas e porque não ? Se o cara tem uma visão bem crítica da coisa, ele pode até prever que num futuro próximo, aquela sensação do momento pode se tornar um clássico, no sentido de referência dentro de um estilo. Eu imagino isso com Spore por exemplo, se não engano é de 2009 (Tô com preguiça de olhar no Google ! :P), eu não me recordo de algum game com esquema parecido, e tenho certeza que daqui à alguns anos, alguém vai pegar a idéia e fazer uma “re-apropriação” igual aos renascentistas com o helenismo. Então eu poderia ousar dizer que Spore já é um clássico (o adjetivo!) mesmo sem ainda ser.

    E me lembrou também do nosso último papo sobre Trine e outros coisas. A questão da redescoberta nos games, pegamos um período que poderíamos chamar de clássico (fazendo uma alusão à arte mesmo !) que seria esse período dos pixels, em que o side-scrolling imperava, a era de NES, Master System, que foi mais ou menos até o Snes e Mega. Hoje em dia é a câmera ou na visão do jogador, ou atrás do personagem controlado pelo jogador. temos aí então dois períodos distintos na cultura gamer, e entre eles tivemos um período de transição, que seria a fase que os 32 bits e 64 bits estavam engatinhando e foram ganhando força quando os PCs começaram à ter placas aceleradoras 3D à disposição. É interessante ver como o mesmo que aconteçeu com o renascimento pareçe ocorrer com games atualmente, aonde há essa redescoberta pelo estilo 2D de se desenvolver games.

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  • 04/05/2011 em 12:41 pm
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    Concordo plenamente quanto a definir como clássico obras atemporais, que continuam sendo referenciados mesmo com o fim efêmero da sua promoção. Ocarina of Time pode não estar na mídia, mas é citado constantemente, ou seja, um exemplo de game que ficou na memória das pessoas. Ali você perguntou de maneira sutil se Dragon Warrior seria um clássico. Claro, pouca gente lembra do primeiro jogo, mas a série como um todo é lembrada por sua importância, o que só complica essa qualificação.

    Você falou de dois sentidos que tornam um jogo clássico. O sentido de sobreviver na memória das pessoas com o passar do tempo e o sentido de ter características helenísticas. Mas eu fiquei pensando nesse segundo, tentei puxar na memória jogos que se encaixassem e, como o amigo Lorenzon citou, veio à cabeça God of War. Quais seriam os outros jogos? Altered Beast? Não sei. Você conseguiria citar outros só como exemplo?

    E como é comum ocorrer, o emprego da palavra “clássico” às vezes é banalizado, por ser mais usado de maneira empírica do que literal. Aliás, citando de novo o Lorenzon, ele falou algo muito legal: “Analisar a origem das palavras também é algo interessante”. Antigamente ensinava-se latim nas escolas – mais por questões religiosas -, que é uma forma de compreender mais a fundo a nossa própria língua. Pode notar, muitas palavras são, na verdade, composições de duas ou mais palavras em latim. Linguagem que, se conhecida por todos, facilitaria muito a interpretação do que é escrito e falado por aí.

    De novo eu fugi do assunto, mas o tema é interessante e polêmico. Tem muitos jogos que eu considero “clássicos” e na verdade não são – eu apenas penso que é, mas quando só você gosta do jogo ele não tem a universalidade para poder ser caracterizado como clássico – e aposto que é assim com muita gente. Aí periga a gente confundir o “clássico” com o “gosto”, que foi o seu outro post.

    Desnecessário dizer que foi outro belo tema abordado.

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  • 04/05/2011 em 1:49 pm
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    Caros membros do Asilo,é a segunda vez que escrevo para o gagá games.(o primeiro foi sobre o ganho do sega Saturn).

    De antemão,sou Músico de orquestra e professor de violino do conservatório de minha cidade e o tema proposto é de suma importância pois retrata algo que a nova geração ainda não conhece ou que simplesmente ignora.

    Realmente nas atuais revistas especializadas faltam um tanto de “especialização” em certos temas propostos.Ou até mesmo o respeito por antigas tradições.

    Mas resumindo,ainda acredito ser um pouco cedo para dizermos o que realmente são os grandes jogos atemporais mesmo com a velocidade da tecnologia.Em nossas mentes,apenas alguns jogos merecem tal adjetivo como Sonic the hedgehog,Mario Bros,Legend of Zelda,Final Fantasy,Chrono Trigger,Shenmue e poucos escolhidos a dedo.

    O mestre Gagá compreendeu isso e eu já sabia.

    Ótima matéria.

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  • 05/05/2011 em 1:43 pm
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    No mundo dos jogos a palavra clássico ficou marcada por definir aqueles jogos mais velhos e que são unanimidade. Depois de um tempo passou a virar sinônimo de jogo bom e hoje já virou de jogo que vende muito. O pior é que boa parte da culpa é de nós mesmos jogadores que vamos absorvendo e repetindo estes termos sem pensar.

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  • 07/05/2011 em 10:59 am
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    Como já disseram, clássico pode ser tanto o clássico que todos concordam como aquele jogo que você ama jogar. Eu acho Quackshot e Earthbound clássicos. Existem pequenas pedras preciosas escondidas em diversos consoles. Claro que considerar clássico algo que tem uns 30 anos é muito pouco na história, mas comparando com o clássico “moderno” da música, Beatles tem seus 60 anos e foi um divisor de águas.

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  • 08/05/2011 em 11:56 pm
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    Interessante a colocação sobre o termo “música clássica”, que é usado como sinônimo de “música erudita”. Não entendo por que fizeram essa confusão; o inglês também chama de classical music, acho ruim.

    Quanto aos games, acho que um bom parâmetro – claro que não o único – para considerar um jogo clássico é a existência de remakes. Já perdi as contas de quantos consoles têm uma versão de Chrono Trigger; com certeza é um clássico. A própria coletânea de games do megadrive que a Sega fez é chamada de Classics (apesar de ter um ou outro lá que eu não tenho certeza se era tão popular assim…).

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  • 09/05/2011 em 11:25 am
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    Eu andei lendo alguns ensaios e textos esses dias (em especial o Preface to Paradise Lost pelo mestre C. S. Lewis) e estou meio balançado com relação ao que pensar sobre a ideia de “clássico” agora. Vou responder os comentários tendo estes novos pensamentos e divagações em mente. Espero que não se incomodem. 🙂

    Além disso, a Telefonica implicou comigo (de novo) esta semana e a internet aqui está uma porcaria. Não tenho nema cessado minha caixa de e-mails normalmente. Estou aqui usando o PC do meu irmão por alguns minutos para respondê-los… Perdoem-me a longa demora, por favor…

    @leandro(leon belmont)alves
    hehe Não se preocupe por ter pensado que era o Gagá. Mas eu posto ao menos uma vez por semana, nesta coluna e dia. De vez em quando consigo um tempinho para algo a mais (como o anúncio da Semana Bizarra de Phantasy Star III no Blog de Algol).

    Eu também acho bem mais fácil pensarmos em jogos clássicos de consoles mais antigos. E isso se dá por duas razões. Em primeiro lugar, por serem antigos, a aproximação a eles como algo a ser preservado (ou que se preservou) é mais comum. E, em segundo lugar, porque hoje em dia a proporção de jgos feitos para não durarem muitos anos é bem maior do que antigamente. E nem digo por uma questão simplista de que jogos antigos são melhores que os mais novos, mas sim que os jogos mais recentes assumiram sua efemeridade com um orgulho um tanto cínico. Paradoxalmente, os mesmos designers, críticos e jornalistas especializados que professam tal imediatez também alardeiam que games sejam arte… Vai entender; é um dos contrassensos da modernidade.

    @Fernando Lorenzon
    Valeu pela força Fernando!

    Eu gosto bastante dessa imagem também e até evito ficar caçando esquemas que falam quem é quem ali. Gosto de ler alguns textos e tentar adivinhar cada filósofo. O mais óbvio ali é o Sócrates (que é o meu preferido da época). Prefiro Aristóteles a Platão também, embora alguns filósofos platônicos sejam interessantes.

    Isso que falou do clássico como derivado de “classe” me fez pensar bastante. Provavelmente tem relação com alguma hierarquia. Não naquele sentido perverso em que o “mais forte” subjuga o “mais fraco”, mas naquele sentido mais antigo em que alguns homens eram vistos como superiores, tal como vemos alguns como líderes hoje em dia, e respeitados por isso. Não como “um melhor do que o outro”, mas um que “se espalha” a outros. Talvez o “clássico” se refira a algo assim: algo que respira de uma fonte atemporal e/ou a própria fonte em si. Ou seja, ambos os níveis de hierarquia (os senhores e os servos).

    A etimologia é indispensável em muitos casos para que possamos entender melhor o sentido das palavras e o que elas queriam dizer quando eram mais vivas do que hoje em dia. A fenomenologia e o existencialismo (correntes filosóficas que fundamentam meu raciocínio) seguem por este caminho muitas vezes. E, como falei algumas vezes, também acho o termo “jogabilidade” horrível (assim como o inglês “gameplay”).

    Legal ter citado algum jogo helênico. hehe Eu deixei isso subentendido no post, mas não quis comentar sobre nenhum para não induzir o pessoal a só comentar a respeito disso. falo sobre isso em um comentário mais abaixo em que falo alguns outros exemplos. E bem lembrado dos jogos de Atari 2600. Isso realmente não tinha passado pela minha cabeça. hehehe

    @Orakio Rob, “O Gagá”
    É que velho de barba branca é tudo igual mesmo. 😀

    @albatross
    É o que o Flávio falou mesmo. A minha ideia é mais provocar. Nesta coluna, a última coisa que quero é dar respostas. Até minhas afirmações eu prefiro que leiam como interrogações porque eu estou ainda pensando a respeito de tudo isso que escrevo. Em poucas delas cheguei a alguma conclusão, mas posso tentar levantar novos questionamentos.

    Clássico instantâneo para mim não existe. Só se pensarmos o clássico como a plena realização de um padrão ideal de jogo. Ou seja, se cumpre todas as prerrogativas do que se define em certa época de “bom jogo”. Mas isso é sempre enviesado e muitos games que dizem ser clássicos muito provavelmente não o são. É algo que somente o tempo vai dizer.

    Valeu pelo elogio! Eu até tento ser conciso para dizer a verdade. hehe Alguns posts ficam mais longos, outros mais curtos… Tento manter a dinâmica do próprio assunto e não ficar me preocupando demais com quantos parágrafos estou usando. Será que é por isso que não uso Twitter? hehe mas cheguei a escrever um microconto certa vez. Ficou bacana, mas não é muito a minha praia, definitivamente.

    @Flávio de Oliveira
    Ah, pode ter certeza que muitas vezes eu não sei mesmo o que pensar! huahuahuahauha Direto eu escrevo os posts mais como um pedido de ajuda do que qualquer outra coisa (como aquele sobre moda da semana passada).

    Com certeza que se você ver o clássico como uma referência em dado estilo que alguns críticos podem dizer que tal jogo é clássico, mas isso não quer dizer que ele é atemporal por essência, mas que provavelmente só vai ser comentado com o passar dos anos e dos séculos porque alguém disse que era a “alma de uma época”, mesmo sem ser necessariamente atemporal. Ele praticamente se torna, forçadamente, um clássico. É praticamente uma propaganda. Parece-me haver uma diferença entre “tornar-se” um clássico e ser um clássico. Se e que é possível algo se tornar um clássico ou só se mostrar a si mesmo como um depois de algumas eras.

    Bem interessante seu exemplo de Spore. É bem capaz disso acontecer com ele mesmo. Mas nem sempre o clássico é o que fundamenta desenvolvimentos posteriores, às vezes é o ápice de certo estilo. Talvez um jogo baseado em Spore se tornasse clássico e ele próprio fosse visto como o fundamento. mas admito que não pensei muito acerca desta perspectiva. Vou me dedicar mais a isso por um tempo porque é algo muito relevante.

    Essa mudança das perspectivas ingame também é algo realmente notável. Mas também teria que refletir mais a respeito disso com relação ao clássico para poder dizer algo mais concreto.

    @Thanos
    O problema de pensar assim é que todo conceito parece ser estranhamente “contaminado” por nós, indivíduos. E não é bem assim. Nós escolhemos certas palavras em lugar de outras porque queremos falar determinada coisa e aquele vocábulo parece perfeito para isso. A ideia do post é justamente pensar o que seria “clássico”; os exemplos individuais podem servir para isso, mesmo que, em última instância, somente se pareçam com clássicos.

    Explico.

    Por exemplo, para mim, Phantasy Star III é um clássico. Por que eu acho isso? Por uma série de razões e, dentre elas, a incrível capacidade que ele tem de se mostrar como um refrigério dentre os jogos de hoje, mesmo sendo de eras atrás, o quanto ele consegue me capturar a cada vez que coloco o cartucho no console e toda a angústia que sinto a cada final de geração em que tenho que escolher uma noiva para me casar. Seria ele um clássico? Talvez, mas ao dizer porque eu o vejo como clássico, uma série de características do “clássico” enquanto tal se mostram. A atemporalidade foi a primeira delas. Eu percebo o clássico em PSIII, mas se ele é ou não, sinceramente não sei se o posso afirmar (ou negar) com certeza.

    @Onyas
    Não conheço muito de Zelda e prefiro não ficar julgando, mas tenho a impressão de que o Ocarina of Time é mais lembrado ainda que os anteriores. Talvez ele seja “mais clássico” (seja lá o que isso quer dizer hehe) do que os outros da série. E nem falo isso pelo número de pessoas que ainda se lembra dele; acho que é pela questão atemporal mesmo, sei lá.

    Eu ia colocar Final Fantasy I e fazer essa pergunta tendenciosa. Mas achei que ia levantar muita polêmica porque, pelo que vejo, Final Fantasy I não seria um clássico. O original é muito ruim e até fãs da série preferem os remakes dele (eu mesmo joguei o de GBA que é até legalzinho). É algo que ficou preso ao seu tempo e que, para ser realmente apreciado, é preciso conhecer todo o contexto dos games da época, a quase falência da Square na época e muitas outras outras coisas para dizer “pô, que jogo bacana”. Ou seja, teríamos que conhecer uma porção de coisas fora do jogo para elogiar o jogo; seria um elogio antilúdico na minha opinião e que não serve de fato ao propósito. Um game seria clássico por suas características enquanto game e não por coisas fora disso. E isso não é o que define um clássico. Talvez Final Fantasy V e VI (que até hoje não tiveram um remake total sequer) possam ser considerados clássicos da série (principalmente por elementos seus aparecem em outros jogos posteriores) mas precisaríamos refletir bastante a respeito e esperar alguns anos a mais para afirmar com certeza.

    Altered Beast e God of War são os que me vieram à mente enquanto escrevia mesmo. Mas tem um monte. Civilization, Age of Empires, vários jogos sobre as guerras gregas (em especial depois da HQ e do filme baseado na luta contra os assírios), aqueles que fazem uma ou outra referência a deuses e heróis gregos (que não me ocorre nenhum agora, infelizmente). Talvez Sonic e a Marble Zone? 😀

    Falou corretamente ao dizer sobre um conceito como o de “clássico” ser banalizado. C. S. Lewis fala a mesma coisa sobre outros termos. Em fenomenologia, dizemos que um conceito se esvazia de sentido, ele deixa de dizer aquilo que dizia anteriormente. E isso é mais comum do que pensamos, principalmente nas coisas mais óbvias de nosso dia-a-dia. Sobre o latim, o estudo dele foi importante durante muitos e muitos séculos em todos os países europeus (que pertenceram ou não ao Império Romano) principalmente por ser o “idioma culto” durante um bom tempo. Aqui no Brasil isso se manteve até depois que a influência francesa começou a diminuir de importância em prol da americana. Acho que a razão nem era religiosa, mas pensando na tradição mesmo de nosso próprio idioma; fora que, se você conhece razoavelmente latim, consegue passear pelas línguas românicas com certa tranquilidade. Eu estou estudando latim há alguns meses por conta própria e estou adorando. É como se só estivesse vivendo o português agora (e olha que sempre gostei do nosso idioma). Se acontecesse um plebiscito para tirar o inglês do ensino obrigatório e colocar latim, eu seria a favor sem nem pensar duas vezes. Só faria a ressalva para ensinarem na pronúncia clássica (olha a palavra de novo :-)) que foi usada desde os primeiros escritores latinos até a Idade Média (só lá pelo fim desse período que o latim começou a se italianizar até virar o latim eclesiástico que é hoje falado no Vaticano).

    O latim e o grego são línguas indispensáveis para compreendermos nossa própria língua e, essencialmente, nossa cultura (que é o nosso mundo linguístico). Mais o latim do que o grego, claro; e nem só pelo alfabeto. Querendo ou não, somos descendentes de romanos muito mais do que dos celtas portugueses (sim, os lusos e outros povos que moravam por ali são considerados celtas hehe). Devemos muito mais a Virgílio do que a Homero.

    E de novo não se preocupe em fugir do assunto. hehehe Eu até prefiro que seja assim. Sobre você mesmo definir um jogo como clássico, muitas vezes é porque ele tem coisas que você descreveria como elementos do clássico e isso não perde a validade. Não está inteiramente errado: se não visse a atemporalidade, por exemplo, em um jogo que considera um clássico, você não faria a menor ideia do que um clássico seria. Falei um pouco disso em um comentário mais acima.

    Valeu pela força! Eu gostei bastante desse tema também. Já tinha um esboço desse post há uns dois meseses, mas só o amadureci com algumas leituras que fiz uns dias atrás.

    @Daniel Barros
    Concordo plenamente com o que falou. É preciso que o tempo passe para que o clássico se revele enquanto tal. O que não quer dizer que os jogos que “realmente valem a pena” devem aguardar algumas centenas de anos para serem jogados.

    Seria interessante notar que, talvez, nem mesmo Mario, Sonic e estes jogos que hoje achamos espetaculares durem muito tempo. Talvez sejam somente notas de rodapés de textos imensos sobre jogos que hoje não damos a menor bola. Ou talvez eles vão e voltem, como acontecem nas discussões sobre gosto, variáveis com as eras.

    Embora eu seja um pouco gagá, sou mais Senil. 🙂 Mas eu sei que todo barbudo é parecido, então não tem problema. 😉

    @Tchulanguero
    Interessante esse movimento que trouxe. fez com que eu pensasse a respeito de algo. Será que houve, em algum momento, unanimidade com relação a um jogo? E unanimidade em que sentido? Afinal, muita gente não gostava (e não gosta de Might & Magic, mas mesmo assim ele é considerado clássico.

    Nos outros dois momentos que citou (clássico como sendo um jogo bom e como um game que vende muito), concordo plenamente. Provavelmente é algo parecido que as pessoas que escrevem reviews e capas de jogos têm em mente quando digitam elogios a algum em específico.

    Sem dúvida que a culpa é um pouco nossa. Disso eu não tenho como discordar.

    @Kurt
    Com certeza há pedras preciosas escondidas em cada console! Até acho que, com o passar dos anos, o vidro colorido da propaganda de muitos mais deixar de reluzir e só vai sobrar a esmeralda, a pérola e o diamente. Muitas vezes o inesperado (como os espanhóis que achavam que a platina que encontravam nas minerações na América Latina eram lixo porque não era ouro).

    @Patty K
    O curioso é que, no caso de Chrono Trigger, ele nem chega a ter remakes propriamente ditos porque o jogo mesmo é igual, só com algumas coisas a mais. Ou seria um remake mesmo assim? 🙂 Eu teria que pensar melhor sobre isso. Final Fantasy V e VI até hoje não tiveram um remake (só versões com cenas em CG na introdução e encerramento).

    A popularidade é algo interessante. Às vezes, algo que não foi popular em sua época pode se tornar clássico mesmo assim. Não sei se isto se aplica a games ou não; até porque dezenas de coletâneas têm saído nos últimos tempos.

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  • 09/05/2011 em 10:48 pm
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    @O Senil
    Falei que o conceito era amplo… 😉
    Isso ainda pode dar bastante assunto para um próximo post.
    Precisa se desculpar não parceiro, quem tem que pedir desculpas são os empresários fominhas e esse governo de m… do nosso país com seus orgãos regulamentadores de fachada ! (A.K.A. Anatel)

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  • 10/05/2011 em 12:00 am
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    “Às vezes, algo que não foi popular em sua época pode se tornar clássico mesmo assim”.

    Um exemplo disso é o filme “Cidadão Kane”. Na época do seu lançamento foi recebido com certe indiferença. Apenas mais de dez anos depois o filme começou a ser percebido como visionário. Este sentimento foi ficando cada vez maior e por fim foi escolhido como o filme mais importante do século XX. Hoje é considerado um clássico absoluto do cinema.

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  • 10/05/2011 em 10:56 am
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    @O Senil

    Acabei utilizando um outro termo que também não costuma ser muito bem aplicado que é “unanimidade”, que deveria ser utilizado para falar sobre algo absoluto e que normalmente é empregado no lugar de maioria (erro que também cometi), ainda mais em jogos que é praticamente impossível agradar 100%.

    Agora, quando lidamos com a questão de gosto devemos ter senso crítico, eu por exemplo não gosto de Diablo, mas não é por isso que vou dizer que o jogo é ruim.

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  • 10/05/2011 em 12:21 pm
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    @Flávio de Oliveira
    hehe Nem me fale!

    huahauhauha Ah, mesmo assim eu me sinto em dívida. Não gosto de ficar muito tempo sem responder os comentários de vocês. hehe

    @Onyas
    Ótimo exemplo. O que tem de artistas que só ficam famosos (e suas obras chamadas de clássicas) após suas mortes é algo bem comum também.

    @Tchulanguero
    Sem problemas! Eu só levantei o questionamento também porque acho que seria algo a pensar mesmo. Unanimidade, consenso etc. são formas de tomada de decisão diferentes entre si e que valem a pena ser pensadas nessa questão de dar mérito ou não a alguma coisa. Veio-me à mente aquele rolo com o Chico Buarque ganhando um concurso literário.

    Eu só gosto de Diablo quando jogo com amigos meus. hehehe Sozinho, é um jogo dispensável. No post meu que saiu hoje, eu falo algo a respeito disso: um jogo/livro ruim deve ser aquele sobre o qual nada de bom pode ser dito; mas se ao menos uma única pessoa honestamente vê coisas boas nele, não podemos dizer categoricamente que é ruim.

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