Tem duas coisas das quais eu me envergonho profundamente na minha carreira gamer: a primeira é que sou um pato em arcades. Nos meus tempos de garotão, eu ficava de urubu circulando a turma que jogava, interessadíssimo, mas raramente me atrevia a jogar porque era pão duro demais para gastar dinheiro em fichas que eu perderia rapidamente.

A segunda é que eu não manjo nada de jogos da SNK. Fui mega viciado em Street Fighter II (no Super Nintendo, obviamente, dada a minha neura com arcades), e sempre que botava um Fatal Fury ou um King of Fighters da vida para jogar tinha aquela sensação de “tão copiando SFII e eu prefiro o original”. Confesso que sempre que saía um título de luta da SNK para o Mega Drive ou o SNES eu alugava, porque naqueles tempos era impossível ignorar o lançamento de um jogo de luta convertido dos arcades: você simplesmente TINHA que alugar, a febre do gênero era grande demais e era impossível não se contagiar. Mas era uma curiosidade passageira, e no dia seguinte eu devolvia esses jogos sem aperto no coração.

Fotos da minha placa de captura. É, eu sei que a minha placa é uma droga, mas peguei essa mania agora, danou-se.

Mas eis que uns vinte anos depois eu me deparo com a coletânea SNK Arcade Classics Vol. 1 para o Wii, recheeada com 16 clássicos da empresa. Os clássicos de luta Fatal Fury, Art of Fighting, Samurai Shodown, King of Fighters e World Heroes se apresentam, com o primeiro título das respectivas séries, mas a coletânea tem outros gêneros também: esportes (Baseball Stars 2, Neo Turf Masters, Super Sidekicks 3), beat ‘em up (Burning Fight, Sengoku), shoot ‘em up (Last Resort), plataforma (Magician Lord), tiro-pra-tudo-que-é-lado (Metal Slug, Shock Troopers, Top Hunter) e combate-bizarro-entre-monstros (King of the Monsters).

Nos próximos dias eu pretendo postar sobre vários destes jogos separadamente, visto que estou me divertindo terrivelmente com vários deles (mais do que eu esperava, para ser franco). Assim como o Sandro fez na análise da versão de PS2, vou me concentrar nas características da coletânea em si para a turma interessada, aguardem que textos mais detalhados sobre os títulos incluídos virão em breve.

A abertura é um show: um enorme mosaico com várias telas, cada uma rodando um jogo da coletânea. A câmera se aproxima de uma das telas e começa uma breve apresentação do jogo em questão. O efeito se repete para todos os títulos. Jeitão danado de legal de mostrar para o jogador o que o aguarda.

Vocês devem se lembrar que o Sandro havia apontado vários defeitos na versão lançada para o Playstation 2, e felizmente no Wii tudo parece ter sido resolvido: até onde eu sei não rolaram cortes na narração; embora eu não seja nenhuma sumidade nesses jogos, a velocidade me pareceu correta, e algumas fontes respeitáveis da internet confirmam a informação. Além disso, a navegação pelos menus é muito rápida, sem loadings chatos, ao contrário do que acontecia na versão do console da Sony.

Diante disso, a versão de Wii me parece sair vencedora facilmente. O único porém está no fato de que você vai precisar abrir a mão e comprar um Wii Classic Controller para jogar a maioria dos jogos incluídos de maneira satisfatória. Há opções para jogar com o Wiimote e o nunchuk, e até com o controle de Gamecube (que já melhora um pouco as coisas), mas convenhamos que os jogos de pancada são bem mais divertidos com controles que apresentem um layout um pouco mais convencional dos botões. Eu tenho um Classic Controller aqui, e fiquei bastante satisfeito em jogar nele. A alavanquinha é bem precisa e dá para fazer os golpes tranquilamente, sem dores de cabeça.

A SNK até teve boa vontade, mas ninguém merece jogar KOF 94 usando wiimote + nunchuck. Felizmente com o Classic Controller (à esquerda) as coisas melhoram muito!

A abertura exibe os jogos em ordem alfabética, sempre indicando o ano de lançamento. Seria legal poder listar por data também, mas sabem como é, eu sou um velho resmungão. O fato é que dá para se situar bem na hora de escolher o jogo. Quando o título desejado estiver na tela, é só apertar um botão para abrir a tela que permite visualizar as já mencionadas opções de controle (dá para configurar os botões também), o nível de dificuldade e os “achievements”.

O nível de dificuldade é uma grande sacada. A turma que levava uma coça nos jogos da empresa pode começar em um nível mais fácil, e as opções são padronizadas para todos os jogos (easy, normal, hard e insane). A coletânea até se dá ao trabalho de indicar a correspondência entre esses níveis de dificuldade e os níveis originais do Neo Geo, para quem estiver acostumado a jogar no velho console da SNK.

A tela de seleção de dificuldade é bem completa em termos de informações. À direita, alguns achievements de Magician Lord.

Os achievements são outro ponto interessante. Todos os jogos apresentam uma lista de tarefas a serem cumpridas: zerar Sengoku no easy, coletar os tesouros escondidos da segunda fase de Magician Lord, ganhar uma queda de braço no bonus round de Fatal Fury e muitas outras. Cumprindo essas tarefas você vai liberando conteúdo extra, basicamente alguns vídeos de jogabilidade, artes originais e listas de golpes. Os vídeos por vezes revelam coisas interessantes, como os de Magician Lord que mostram como acessar áreas secretas do jogo.

Vi muita gente reclamar na internet que as listas de golpes deveriam estar disponíveis desde o início; afinal, para liberar as listas você precisa terminar alguns desses jogos, e como terminar sem saber os golpes? É um problema cíclico, e eu concordo que é um ponto negativo e deveria ser corrigido. Mas de um ponto de vista pessoal, isso está sendo divertido para mim. Por exemplo, eu não conhecia alguns golpes do Terry Bogard no primeiro Fatal Fury, então meio que me forcei a dar umas partidinhas de Sengoku primeiro para liberar a lista de golpes dele. Acabei me divertindo bastante no processo, e essa coisa de ir liberando as listas aos poucos evita aquela síndrome de “tá-tudo-na-internet-é-muita-coisa-por-onde-começar”. É divertido ir saboreando os jogos da coletânea fazendo de conta que a internet não existe, e que as listas vão tornando a experiência mais completa conforme são liberadas.

Topas uma partida de KOF 94? Olha aí a lista de golpes de um dos personagens, que pode ser consultada no menu do botão “- (menos)”. Felizmente o menu carrega rápido pra caramba, sem loadings.

Também li gente reclamando que alguns dos jogos incluídos não são exatamente clássicos, e que não divertem por mais de cinco minutos. Aqui eu discordo radicalmente. É claro que a turma da geração atual vai odiar alguns títulos da coletânea, porque são jogos com jogabilidade ultrapassada. Magician Lord, por exemplo, extrapola um pouco os limites da sanidade em termos de dificuldade, coisa absurda para os padrões de hoje. King of the Monsters tem jogabilidade básica e repetitiva. Mas o fato é que na época esses jogos eram muito, muito, muito impressionantes, em grande parte por seu apelo visual. As cores e alguns dos cenários do já referido Magician Lord eram mais do que suficientes para manter todo mundo interessadíssimo do início ao fim, e confesso que para mim ainda são excelentes e charmosíssimos, valendo o “preço da passagem”. Destruir Tóquio com monstros gigantes continua sendo uma experiência divertidíssima para mim em King of the Monsters. E até o (hoje) malhadíssimo Burning Fight me diverte um bocado (não que seja um jogo incrível, mas é bacaninha).

Eu acho que os jogos foram muito bem escolhidos. São todos muito divertidos se você meio que entrar numa “máquina do tempo psicológica” como eu faço, viajando mentalmente para aquela época. Aprecio muito a variedade de gêneros da coletânea, e acho ótimo que apenas o primeiro jogo de cada franquia de luta da SNK tenha sido incluído. Isso evita muita repetição em termos de jogabilidade, e quem quiser se focar só neles pode investir nas coletâneas de KOF e Samurai Shodown que a empresa lançou para o console.

Magician Lord é uma das pérolas da SNK que você talvez não conheça… é difícil que nem um cruz-credo, mas eu gostei pra caramba.

Para você que como eu e milhões de brasileiros não teve grana para comprar um Neo Geo e viver o auge da SNK, esta coletânea é um presente dos céus. É como se você pudesse voltar aos doze anos de idade e adquirir seu Neo Geo com um monte de jogos bacanas. Estou tão empolgado com esse treco que ando até pensando em comprar um Neo Geo Stick 2 para mim. Quem busca uma autêntica experiência retrô no Wii definitivamente deveria conferir esta pequena pérola, e ignorar completamente os reviews bobocas que ficam perdendo tempo malhando a jogabilidade datada de alguns títulos. Isto é história gamer em seu estado mais puro, meus retrocamaradas.

SNK Arcade Classics Vol.1: muito mais que umas boas porradas

25 ideias sobre “SNK Arcade Classics Vol.1: muito mais que umas boas porradas

  • 20/10/2011 em 8:31 am
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    Eu tenho alguns dos títulos desta coletanea no PSP, lançados na PSN indivualmente. Pena eles darem um certo “lag” aqui (nem sei por q isso ocorre). E realmente eles fizeram um bom trabalho, colocando essas coisas a mais igual ao do Wii. E ainda tem 2 coletaneas com os jogos da era “pré-MVS”, com Prehistoric Isle, Athena e outros “dinossauros” da década de 80…
    Pra mim q sempre gostei de arcades (especialmente os de luta) mas sempre fui “patão”,essas coletâneas são legais, porém a emulação acaba “estragando” a brincadeira com a facilidade q ela proporciona o acesso a essas “pérolas da SNK”. Lembro quando vi o 1º Samurai, cara, jogo lindo da p…
    Pena q hj a SNK Play”emo”re só viva de coletâneas, de pachinkos e da série-zumbi KOF, pois ela tem um acervo muito bom de games clássicos (e séries tbm) de qualidade excelente que ficaram no limbo injustamente…
    Ah, pra quem tem PSP e gosta de SS, procure a coletanea “Anthology”. Muito boa msm!

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  • 20/10/2011 em 9:23 am
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    Eu curti muito mesmo a época de ouro dos arcades Neogeo, lembro até hoje do povo jogando Fatal Fury 1 e usando os especiais, na época o povo ficava tudo no HOOOOO quando alguém fazia golpes especiais no arcade. Pena que para SNK eu só era bom no Real Bout Fatal Fury 1, de resto era um “patão” mesmo.
    Mas, acho que a SNK não é só luta não, tem muito jogo de plataforma que bate muito clássico por ai, por exemplo eu prefiro muito mais Metal Slug do que por exemplo Ghosts’n Goblins, logicamente falo isso para os dias atuais, mas devemos dar as devidas proporções, na época de lançamento de Ghosts’n Goblins ele sem duvida era melhor, mas depois eu pelo menos deixo essa pérola de lado para jogar Metal Slug.
    Ahh, esqueci de falar, o povo do romhacking já está traduzindo vários games de Taito Type X, e muitos da SNK são dessa “placa”, acho que pelo menos existem 3 projetos de tradução de KoF dessa “placa”.

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  • 20/10/2011 em 9:34 am
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    Eu fui um dos que xingou muito nos comentários na época que o Sandro postou o review da versão de PS2. Realmente ela estava um pouco precária, com alguns loadings bem chatos e tal. E simplesmente não engoli o fato do Super Sidekicks (um dos meus jogos favoritos de Neo-Geo) rodar na metade da velocidade (30 fps), e, como sou nojento com essas coisas, desencanei totalmente de jogar.

    Uma outra característica legal que achei interessante eles terem implementado nos bônus está na trilha sonora dos jogos. Pena que para isso, tem que terminar os jogos em certa dificuldade, o que é algo simplesmente insano. Eu não consigo terminar o KOF 94 de jeito nenhum!

    Ah, e tô esperando o Volume 2 até hoje… rs

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  • 20/10/2011 em 9:53 am
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    Essas coletâneas são massa mesmo. Eu tenho aqui as coletâneas, todas para PS2: Samurai Shodow Anthology, Metal Slug Anthology, Fatal Fury Battle Archieves Vol. 1 e 2, World Heroes Anthology e Art of Fighting Anthology, e digo vale muito apena, ainda mais se você como eu já teve um Neo Geo.

    Falow!

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  • 20/10/2011 em 10:12 am
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    Alguém indica um bom controle tipo arcade para o Wii? Eu achei alguns, mas não sei se prestam… alguém tem e pode compartilhar opiniões?

    Fiquei de olho nesse Neo Geo Stick, mas parece que não fazem mais. Os que achei no eBay estão caros e são usados, se fossem novos eu até pensaria na hipótese de comprar. No PlayAsia o Neo Geo Stick infelizmente esgotou.

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  • 20/10/2011 em 10:27 am
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    Gagá,

    Existem uns caras que montam controles estilo arcade “sob encomenda” (eu não conheço nenhum, infelizmente), com base de madeira, botões e manches de qualidade, etc…

    Se vc conseguir um desses, me avisa que eu consigo adaptar pra ligar no Wiimote pra vc!

    []s

    bootsector

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  • 20/10/2011 em 11:27 am
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    Leandro:

    Indico que faça o download do emu Neo Rage X para seu pc.
    Vá no emuparadise.me e baixe as ROMS, vale a pena, o melhor emu que existe, roda perfeitamente, da pra configurar joystick entre versão arcade e mvs. Como sou fã e ja tive esse console (que me arrependi de passar pra frente) tenho ele no PC e é o meu preferido de todos tanto que roda até em PC’s antigos.

    Orákio Gagá:

    Se puder experimentar a dica é o Neo Rage para pc no site emuparadise.me

    Outra dica: termine todos os jogos em qualquer dificuldade e vai liberar o jogo World Heroes na coletânea do WII ok.

    Desafio insano é terminar Magician Lord no Insano, mas acho mais dificil terminar no level 8 no Neo Geo, pedreira pura.

    Ulisses Old Gamer 78

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  • 21/10/2011 em 11:05 am
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    Quem tem a versão do PS2 pode notar uma queda de velocidade caso o jogo esteja com zoom, que vem habilitado por default. Eu não entendo o porque do zoom porque o jogo já é bem enquadrado naturalmente.

    Não me lembro direito, mas no menu de opções, em algum lugar é possível desligar o efeito e assim os jogos ficam bem fluídos.

    Quem tem N64 e ativa o modo HiRes com o expansor de memória nos jogos compatíveis vai notar problemas de velocidade também. Basta desligar a opção e tudo fica melhor.

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  • 21/10/2011 em 7:37 pm
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    Rapaz, o Gagá me convenceu a jogar o Magician Lord com duas frases (num outro papo):

    “Alguns cenários lembram muito os de Shadow of the Beast”

    “A trilha sonora tem um apelo que não sei explicar, lembram um pouco trilhas do Wolf Team”

    Parei tudo e saí correndo baixar e queimar a ISO do referido plataforma (ainda bem que tinha pra Neo Geo CD também). Babei total, uma pérola escondida: belíssima arte e abusando da paleta de cores, fundos com degradês lindos, estátuas sombreadas e mais. E só cheguei na segunda fase, é difícil MESMO mas uma coisa legal: os controles não são ruins, são até bons e em geral nesses ilustres desconhecidos isso costuma ser um problema. Esse é difícil… porque é difícil mesmo 🙂

    Antes eu só jogava Last Resort (está no seu pack do Wii aí, rapaz, esse é demais) e Pulstar (filhote de R-Type) no Neo Geo (conheço menos jogos de luta do que o Orakio :P). Agora, o Magician Lord é garantia de esquentar o Neo Geo aqui, ainda mais depois que o mesmo Gagá me mandou escutar a música da quarta fase desse joguinho, escutem só que game music linda:

    http://bit.ly/pjsDLg

    Valeu MESMO Orakio, essa foi a dica do mês! 🙂

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  • 22/10/2011 em 10:50 am
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    Nossa estou pasmo acredite!

    Nem o Sr. Orakio e nem o Eric conheciam esse jogo??!!

    Meu Deus!

    Joguei tanto esse game na época que saiu o primeiro Neo Rage e tambem tinha perto de casa fliperamas com Ninja Combat (o meu jogo preferido da SNK) e esse Magician Lord, joguei e fechei esse game com muitas fichas mas vale cada momento.

    Para mim jogos antigos nunca perderam o brilho e impacto que me causam até hoje.

    Abraços

    Ulisses Old Gamer 78

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  • 22/10/2011 em 11:35 am
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    @Tonshinden
    Hahaha, que legal, valeu Tonshinden! 😀

    @Ulisses Old Gamer 78
    Grande Ulisses, rs, rapaz tem tanta coisa que a gente passa batido… no arcade, no meu caso aqui em Salvador, mais ainda (poucos arcades variados por aqui, mesmo na época de ouro, era SF, SF, SF e pouca coisa além disso).

    Falou tudo, é por isso que a gente vira retrogamer depois de “velho”, ficar só jogando jogo sem brilho e sem game over de hoje em dia não dá. Abração!

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  • 22/10/2011 em 1:13 pm
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    @Ulisses Old Gamer 78
    Pois é, he he… nós somos cheios de pecados retrogamers. Eu até confessei uns aqui:
    http://www.gagagames.com.br/?p=11726

    Mas já me redimi de todos! ^_^

    E eu também continuo me divertindo pra caramba com esses jogos. O bacana é que a gente tem uma nostalgia com os jogos que conheceu naqueles tempos, mas mesmo quando pegamos outros títulos antigos que não chegamos a conhecer a nostalgia nos envolve, porque a gente lembra do clima da época, entra no contexto.

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