“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

Graças a uma indicação que recebi certa vez via Facebook, conheci uma dupla de jogadores de videogame com um canal interessantíssimo no Youtube. O próprio mote já é engraçado por si só: sendo um deles “seguista” e o outro “nintendista” ambos fazem resenhas curtas de coisas relacionadas a videogames sob um tema central a cada episódio.

Um que muito me chamou a atenção e que motivou a ideia toda dessa postagem é este logo abaixo:

Infelizmente, ele não possui legendas e não encontrei uma outra versão que tivesse. Mesmo assim, basta saberem que eles se preocupam em falar de jogos que levantam sempre opiniões contrárias. Aquele tipo de jogo que costumamos chamar de “ame ou odeie” porque existem tanto defensores empolgados como detratores furiosos. Exemplos possíveis para isso não faltam: Super Mario Bros. 2 para NES; Super Mario World 2 para SNES; Sonic 2 para Mega Drive; Phantasy Star III para Mega Drive; Sonic CD para Sega CD etc.

Claro que no vídeo não aparecem todos esses e nem mesmo os mais emblemáticos, mas servem como exemplos daquilo que quero pensar juntamente com vocês. Caso acompanhem a Academia Gamer há bastante tempo, certamente lembram-se de que já falamos de “gosto” em algum momento e algo da discussão deve ser recuperado aqui.

O “gosto” é um conceito perigoso para ser utilizado na definição do que é ou não uma boa ou má produção. Tanto que quando falamos que “fulano tem mau gosto” geralmente pensamos em algo que beira uma torpeza moral ou algo do tipo.

Com games isso não poderia ser diferente porque, afinal de contas, temos as nossas preferências. Eu, por exemplo, gosto de Mario 2, de Phantasy Star III e Sonic CD, mas não curto muito o Sonic 2. Infelizmente o “não gostar” acaba sendo muitas vezes critério para desconsiderar um jogo completamente sem qualquer tentativa de reconhecer suas qualidades ou aspectos essenciais que façam parte dele.

Um exemplo, dado por C. S. Lewis sobre a literatura pode servir aqui. Segundo ele, não pode haver problema de crença na leitura. Afirma que achava A Divina Comédia muito superior a poemas épicos de autores ateus quando ele próprio ainda não havia se convertido ao cristianismo.

A ambiguidade de opiniões a respeito de qualquer coisa não é algo ruim, mas faz parte dessa coisa mesma. O interessante é que, mesmo divergentes, as opiniões sobre um game apontam sempre para o mesmo game que está aqui em nosso mundo junto conosco. Ou seja, é um discurso a respeito dele e, se for honestamente expresso, é um discurso verdadeiro. E, muitas vezes, a verdade contém a possibilidade de ambiguidade.

Aqui, porém, vale uma ressalva: não há relativismo. O que acontece é que a verdade acerca de uma coisa pode se mostrar ambígua e o nosso gosto não tem nada a ver com isso. O gosto puro e simples nada diz da coisa em questão: é preciso deixá-lo temporariamente de lado (o que não é o mesmo que negá-lo!).

Por exemplo, eu posso muito bem manter minha posição de que não gosto de Sonic 2. Eu tenho razões para achar isso porque o “gosto” não é simplesmente sensual, mas é ele próprio também conhecimento. Posso expor minhas razões e argumentar em favor delas, mas mesmo para isso preciso tentar tornar clara a seguinte pergunta: “o que é Sonic 2?”. O cerne do problema da contrariedade é esse.

Muitas pessoas, defendendo gostos, esquecem daquilo que está diante deles ao expressarem suas opiniões. Tentar compreender um game que não gostamos não é, nunca, passar a gostar dele (“debandar para o outro lado”).

Utilizando o mesmo exemplo do Sonic 2, também consigo elencar muitas de suas características de grande primor. A primeira aparição do Tails é uma delas, mas também muitas músicas bem arranjadas e cenários criativos. O gosto é volátil e é, em muitos sentidos, coletivo.

“Como assim coletivo?!”, vocês se perguntam provavelmente. Ele é coletivo porque requer um contato qualquer com uma comunidade e, além disso, com a própria moda da época com relação ao assunto em questão. O gosto é algo comum e compartilhado: nunca é simplesmente individual.

Por isso, a pergunta que temos que fazer para entender o que é um jogo não é a corriqueira “esse jogo é bom?”, mas sim “como é esse jogo?”. Porém, vale lembrar, a opinião e gosto sempre aparecem mesmo nessa segunda pergunta: nosso julgamento pessoal é importante também para sabermos como é o jogo. Contudo, não é o elemento primordial, mas secundário.

Conheço pessoas que odeiam com todas as forças determinado jogo, mas não conseguem determinar bem o porquê. Aqueles que também não gostam, mas sabem o que os incomoda conseguem nos dar um relance qualquer do que é o jogo de fato. Em Sonic CD, por exemplo, a velocidade do Sonic é algo muito criticado, mas que, para mim, embora um detalhe verdadeiro, é menor no divertimento todo do jogo. Eu já morri por tempo na Green Hill Zone só por ficar olhando e tentando investigar todos os detalhes do cenário.

E, retomando outra coisa que já tratamos aqui, mesmo nessas contrariedades é possível que haja diálogo. Na realidade, acho que é a própria pressuposição de que pensamos diferente que propicia toda a relação dialógica entre humanos. É aquela coisa essencial da possibilidade da compreensão e da incompreensão que nos impele a falar e a ouvir o que o outro tem a dizer a respeito de um assunto em comum.

É isso que queria trazer essa semana para discutir com vocês! Até o próximo post!

Academia Gamer: Contrariedade
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16 ideias sobre “Academia Gamer: Contrariedade

  • 21/08/2012 em 1:24 pm
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    Lembro de quando eu estava na sétima ou oitava série, e adorava Chrono Trigger. Naquela época, achava este jogo a coisa mais impressionante que eu já tinha vista, além de muito divertido.

    Fiquei chocado ao saber que a maioria dos meus colegas detestavam o jogo. Pior, o usavam como exemplo do que seria um jogo ruim. “Ah, o jogo X é tão ruim quanto Chrono Trigger”. Bom, eu nem tentava defender, pois acreditava que eu gostava porque já tinha familiaridade com RPGs, e eles não. Desse ponto de vista, via até como algo natural.

    Mas isso mostra como uma série de fatores influenciam no gosto, o senso coletivo como você disse. Num grupo de pessoas acostumadas com jogos de ação, talvez um RPG não faça muito sucesso. Assim como os jogos de estratégia por turnos, que eu tanto gosto, não sejam tão populares ao grande público.

    Isso não é necessariamente um problema, é uma diversidade interessante. Por pior que seja o seu gosto, sempre vai ter alguém que compartilha com você. Tudo bem se essa pessoa estiver no Alasca! Mas ela está lá, existe…

    Pois gosto e cor não se discutem, já diziam os antigos.

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  • 21/08/2012 em 2:43 pm
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    Gosto é uma coisa complicada, todo fã de RPG que eu conheço adora FFVIII, sendo que eu não suporto, e odeiam FFIX, que eu adoro.
    O mesmo vale para series como Need for Speed que eu detesto, mas todos que eu conheço adoram.

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  • 21/08/2012 em 3:33 pm
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    Fiquei surpreso agora, não sabia que Sonic 2 era considerado um “ame ou odeie”, foi o meu primeiro game no meu primeiro console e eu adoro ele. É inclusive meu jogo favorito entre todos da franquia. Mas eu mesmo não confio na minha opinião sobre ele, já que a nostalgia as vezes transforma um jogo ruim em jogo perfeito se as lembranças sobre jogar ele forem boas.Yoshi Island eu acho muito bonito e gosto das músicas, mas nunca aguento mais do que 10 minutos por causa do maldito choro do Mario. Um exemplo mais recente desses jogos polarizadores é Burnout Paradise, já vi muita gente que, assim como eu, “odeia” o jogo, mas também é fácil de achar pessoas listando ele entre os melhores de corrida.

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  • 21/08/2012 em 11:37 pm
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    Eu gosto demais de Street Fighter e joguei demais o 4. Quando começaram os anúncios da mistura Street x Tekken eu e um amigo ficamos empolgadíssimos como a ideia, até que saíram os gameplays do jogo, da minha parte achei decepcionante, ao olhar leigo passa-se despecebido que o jogo em comparação ao SF4 ficou com uma jogabilidade totalmente desperdiçada, aquele negócio do tipo… não vale a pena deixar de jogar SF4 pra SF x T. Já o meu amigo curtiu o jogo. Odiar jogos que todos amam ou amar jogos que todos odeiam, papo hipster total, ahahahah.

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  • 22/08/2012 em 12:19 am
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    Isso é comum em quase tudo: música, cinema, futebol… Alguém conseguir falar com razão sobre algo de que não gosta (gostar ou desgostar não tem nada a ver com razão, acho) é muito raro. Pessoal não entende a diferença entre gostar e achar bom – quanto mais sentimento, mais confunde.

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  • 22/08/2012 em 9:38 am
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    Post muito interessante!
    Eu gosto bastante de todos os jogos citados: “Super Mario Bros. 2 para NES; Super Mario World 2 para SNES; Sonic 2 para Mega Drive; Phantasy Star III para Mega Drive; Sonic CD para Sega CD”, embora eles Não sejam os meus jogos favoritos das respectivas franquias… Problema é que muitas pessoas criticam sem nem ao menos experimentar o jogo, talvez por temer sofrer críticas negativas dos “amigos”, que odeiam o tal jogo e temem possuir opinião diferente daquela já formada.
    Isso acontece muito também com sistemas operacionais, há pessoas que “malham” o software sem nem ao menos conhecê-lo “ao vivo”, só porque ouviu outros falando mal e nem sabem justificar o porquê detestam quando perguntados os motivos da rejeição! Todos têm o direito de não gostar de algo, porém devem experimentar a coisa antes de falar mal apenas por esporte.

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  • 22/08/2012 em 7:50 pm
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    desses jogos citados, só não curto o Sonic. para mim.ele só tinha graça jogando junto do meu irmão. hoje que ele prefere esses MMO, não tem a mesma magia jogar sozinho. e jogo que não gosto que desço o pau….bem, desde aquela batalha gamer entre Chrono Trigger vs Final Fantasy Tatics e contra FFVI e que Chrono acabou vencendo, sou meio pé atrás com esse game desde então. mas é um bom game admito, mas fico lembrando da batalha gamer…

    desculpe por não falar mais pois tenho que sair.

    Hee-Hoo Mestre Senil.

    ps: Maldita Net que deu pau aqui em casa. e estou falando aqui do trabalho. -__-

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  • 23/08/2012 em 2:52 pm
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    Bah e aqueles jogos que só tu conhece, tipo tu adora aquele jogo só pela sorte de ter descoberto ele, até gostaria que os seus amigos experimentassem o jogo e tal mas ninguém faz isso, fica tipo um jogo que tu adora muito e não tem ninguém pra odiar ele, o jogo apenas ficou no anonimato, como se fosse desenvolvido pra ti jogar, muito louco.

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  • 24/08/2012 em 4:33 pm
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    Engraçado que quando era bem guri vi Super Mario 2 (hack de Doki Doki Panic) me apaixonei! tinha um master system então joguei muito pouco!

    Adorava os 4 personagens distintos e tinha o desenho do Mario que passava na globo que era baseada nessa aventura!!!

    O impacto pra mim foi maior que o Super Mario 3 ou World, jogos que hoje considero superior! Outra coisa que eu implicava com o Mario 3 era a cauda de guaxinim, achava aquilo feio e bizarro quando criança!!!

    Enfim, acho o Mario 2 USA bem mais legal que o japonês, que é uma cópia do primeiro só que mais difícil! Enfim até hoje não entendo porque é tão odiado!

    Sonic 2 foi o jogo mais vendido do Mega Drive e acredito que a imensa maioria curte o jogo. Pelo menos entre os brasileiros não vejo ame ou odeie como vejo no Mario 2 ou no Sonic CD.

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  • 28/08/2012 em 2:18 am
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    Onyas,

    Com certeza! O gosto é sempre compartilhado de alguma maneira. Nem que seja com pessoas que até mesmo já morreram. hehehe Sabe aquela sensação de ter nascido na época errada porque as pessoas que mais admiramos não são nossos contemporâneos? Pois então. hehe

    Interessante sua história com Chrono Trigger. E isso que falou me lembra outro tema que jpa conversamos que é a constução de comunidades de jogadores em torno de um game em comum.

    sonictales,

    Também ouço poucas críticas negativas a Chrono Trigger, mas provavelmente foi pelo que o Onyas falou: curtiam outro gênero e não RPG. Isso favorece um gosto negativo também.

    Vinicius,

    Com relação aos Final Fantasies nosso gosto é parecido. hehehe Mas só um pouco (não gosto de FFVIII e, embora ache o FFIX melhor, acho ele meio fraco também em comparação com outros RPGs).

    Hugo,

    Eu citei o Sonic 2 porque conheço muita gente que o adora e muita gente que não gosta. Não sei se é tão generalizado assim, mas foi um exemplo da minha experiência pessoal que achei interessante levantar. Mas não deixo de jogá-lo quando dá vontade. Hoje em dia eu até gosto um pouco mais dele do que antes.

    O que falou sobre nostalgia é interessante também porque o que mais tem entre oldgamers é a jogatina por nostalgia e não simples e puramente porque o jogo é bom… Parece que quanto mais velho melhor, mesmo se o game for uma chatice sem tamanho…

    Albatross,

    hehehe Valeu! Se bem que pelo que falou (“só para contrariar”), dá a entender que todos os meus outros posts foram uma porcaria! huahauhauahuahuahua 😀

    Juliano,

    hehehe Não joguei ainda o SF x Tekken para comparar, mas o SF4 é bacana até! Não sou muito fã da série (meus preferidos são: o clássico SFII, o Super Street Fighter II e o Alpha), mas até que achei bem feito!

    Daniel Lemes,

    Com certeza. As pessoas esquecem que podemos manter nosso gosto mesmo que tentemos compreender o ponto de vista de outras pessoas. Os jogos que não gosto tento entender porque há pessoas que gostam deles e por quais razões. Consigo fazê-lo com algum esforço, mas continuo sem gostar do jogo. hehe Com Sonic 2 mesmo é assim.

    João,

    Sem dúvida. Muita gente não experimenta um game antes de dizer se gosta ou não. E isso é bastante complicado… Falar mal por falar é o que mais tem por aí… Muitos confundem crítica com “falar mal”, então já viu o que costuma pipocar em revistas, jornais, sites etc…

    leandro(leonbelmont) alves,

    hehehe A internet aqui é muito ruim também. Fica lenta, oscilando e caindo com grande frequência… Bem chatinho…

    Chrono Trigger é bacana, mas não vejo muito porque comparar com Final Fantasy Tactics: são estilos completamente diferentes. A vitória sobre FFVI eu até entendo porque algumas coisas chatas de Final Fantasy não tem em Chrono Trigger mesmo.

    Interessante que alguns jogos só ficam bons em grupo né? Eu só jogo Kid Chameleon hoje junto com a minha noiva. Sozinho não tenho mais paciência também.

    istemthebronx,

    Valeu pela força cara!

    Juliano,

    E tem muito game assim né? Eu já cansei de tentar angariar amigos meus para as mais diversas séries e jogos que gosto, mas nem sempre tenho sucesso. hehehehe

    Rodrigo,

    Eu adoro esse jogo do Mario! hehehe Os personagens diferentes e tudo mais. Não digo que é meu preferido dos clássicos (é o Mario Bros. 3), mas ele é bem divertido. A cauda do guaxinim é mesmo nada a ver no Mario 3. hehehehehe

    Então, Sonic 2 vendeu muito mesmo, mas tem gente que não gosta. Eu não curto muito, mas não odeio com todas as minhas forças. hehehe Mas coloco no final da lista dos meus prediletos da série clássica do Sonic. Nos outros dois (Mario 2 e Sonic CD) essa polaridade é bem mais clara como falou sem sombra de dúvida!

    leo_jiraya,

    Eu acho ele meio entediante, sei lá… As fases de bônus são chatinhas… O que mais gosto nele eu aproveito sem jogar que são as músicas. Os cenários mais bacanas e cheios de coisas diferentes estão perto do fim e tal… Tanto que lembro que alugava só para ver a fase do avião ou o chefão final. hehehehehe

    Porém (e é importante dizer isso), reconheço muitas qualidades nele que o tornam um bom jogo. Meu gosto não influi (negativa ou positivamente) na qualidade do game: é apenas o meu modo de vê-lo. A ambientação em muitos cenários é soberba, como em Oil Ocean para ficarmos em só um exemplo.

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  • 08/09/2012 em 4:04 am
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    Senil,

    pois então mestre Senil, estou a altas horas da madruga fazendo nada da vida bizoiando o meu e-mail quando resolvo clicar no guia de spam. Acabei achando alguns e-mails do gagágames por lá, que muito louco, e eu achando que o mestre Senil tava praticamente isolado na matrix da rotina interminável e não tinha mais tempo de postar nada mais, engano meu e lembrarei-me de sempre checar essa spam maldita do gmail, eheheehehe

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  • 11/09/2012 em 12:51 am
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    Juliano,

    huahuahauhauhauhauahuha Eu sei que tenho estado sem tempo para responder prontamente seus comentários, mas não tanto assim! hehehe

    Comigo isso também acontece. Mas acabei criando o hábito de olhar sempre a caixa de spam. Na época do mestrado, às vezes recebia um e-mail com semanas de atraso e ia para a caixa de spam ainda. hehehe Daí já viu, né? hehe

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