“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

A amizade é um tipo de amor que sofre muito de uns tempo para cá. Como endeusamento do amor erótico e alguma reflexão sobre a afeição, este acabou padecendo um bocado. Tanto é que não é de hoje que se confunde muitos casos de grandes amizades com o eros. Isso é um pouco culpa de Freud que, tendos e tornado pop, acabou fazendo muitas pessoas repetirem à exaustão que todo amor tem um fundamento sexual e deu nisso.

Por isso, é muito comum vermos gente defender que a amizade de Davi e Jônatas, de Gilgamesh e Enkidou nada mais são do que casos homossexuais encobertos. É quase como se fosse impossível que duas pessoas do mesmo sexo (ou de gêneros diferentes) fossem amigos, grandes amigos, amicíssimos sem qualquer interesse de cunho sexual e erótico. Isso é um desserviço à amizade e uma erotização desnecessária do assunto.

C. S. Lewis fala um pouco disso ao comentar que a amizade é ignorada pelo mundo moderno, embora os antigos (gregos e romanos) o louvavam como o mais plenamente humano dos amores. Segundo ele, essa desvalorização acontece porque poucos têm experiência dela. E isso é um tanto comum justamente por ter uma diferença essencial com relação à afeição e ao eros: é o menos natural dos amores sendo perfeitamente possível viver e reproduzir sem a provarmos já que a comunidade, a multidão (e seus líderes em especial) desaprovam-na.

Acima, Davi (segurando a cabeça de Golias) e Jônatas. De tão amigos que eram, muitos ainda hojem defendem que “no fundo” tinham uma relação de eros.

Isso inclusive explica a importância que recebia na Idade Média e na Antiguidade: em épocas nas quais a renúncia ao mundo era a ideia mais profunda, era inevitavel que o amor mais valorizado fosse o que menos dependesse (e até fosse contrário à) da natureza: é o mundo tranquilo e racional dos relacionamentos livremente escolhidos. A partir do Romantismo (tanto na literatura como na ciência), o que mais era louvado nesse amor passou a ser condenado: “não havia nele sorrisos lacrimosos, souvenires ou linguagem infantil suficientes para agradar aos sentimentalistas.”

Aponta ainda que a crescente predominância daqueles que veem a vida humana como uma vida animal mais complexa, suspeitam de comportamentos cuja origem não é animal e cujo valor à sobrevivência não possam ser provados. Assim também aqueles que valorizam mais o coletivo que o individual desprezam a amizade, pois esta é uma relação em seu mais alto grau de individualidade. Afinal, é uma relação entre poucos e isso significa que determinadas pessoas são minhas amigas, enquanto que o restante não é. Aqueles que querem, como ele, elogiar a amizade, nada mais deve fazer do que reabilitá-la e isso implica em um longo processo de demolição passando, por exemplo, pela teoria de que toda amizade forte e série é, “no fundo”, homossexual.

Afirmam “no fundo” porque dizer que toda amizade o seria explicitamente é uma falsidade bem óbvia. E isso, geralmente apelando ao inconsciente, leva a uma hipótese não confirmável e irrefutável: a falta de indivíduos é um indício como no caso da ausência de fumaça ser a prova de que o fogo está bem escondido. Quem realmente acredita que a amizade é uma mera variação do eros revela o fato de que nunca teve um amigo. É claro que é possível ter ambos os amores para com uma única pessoa, mas os dois são bem diferentes: amantes conversam sempre sobre seu amor e amigos quase nunca o fazem; amantes ficam absortos um no outro e amigos em algum interesse comum; o eros se dá entre duas pessoas e isso não é regra para amizade e nem seu melhor número.

Uma imagem de Secret of Mana. Embora não seja exatamente o que Lewis traz, fica bem claro que a morte de um dos membros deste trio causa um desfalque não somente em si mesmo, mas naquilo que ele podia fazer aparecer junto com cada um dos outros sobreviventes.

Quando certo membro de um trio de amigos morre, os sobreviventes não perdem somente a ele, mas perdem aquilo dele que “estava” no outro que permanece vivo. Ou seja, em cada amigo, há algo que somente outro amigo traz à tona plenamente. Em um círculo de amizade, a morte de um amigo leva a menos do falecido e menos dos que ainda vivem. Por isso que a amizade é o menos ciumento dos amores: nela, dividir não é diminuir. Há limites, claro (poucas almas realmente tem afinidades com as nossas – e o tamanho das salas de reuniões), mas sempre possuímos cada amigo mais na medida em que aumenta o número de pessoas com quem o dividimos. Lewis compara isso com o Paraíso (com o qual teria “semelhança por proximidade”) no qual “quanto mais dividimos entre nós o Pão Celestial, mais teremos, todos nós”.

Embora a amizade seja desnecessária à sobrevivência do indivíduo e da comunidade (como a arte e a filosofia o são), há algo que é geralmente confundido com ela: o companheirismo (ou clubismo). Em épocas ancestrais, poderia ser a cooperação entre os homens para a caça e a guerra; algo vital para que um grupo permanecesse vivo. Para Lewis, esta é a fonte da amizade e a confusão persiste ainda hoje pois muitos ao falar de “amigos” referem-se a seus companheiros. Basicamente,a amizade surge quando, dentro do clube, dois ou mais companheiros descobrem algo em comum que os outros não partilham e que, até aquele momento, criam ser seu tesouro (ou fardo) especial. É quando duas pessoas descobrem uma à outra que nasce a amizade: “E imediatamente elas se unem, em imensa solidão”. E aqui há outra diferença entre a amizade e o eros: os amantes querem privacidade e os amigos, descobrindo essa solidão, querem diminuí-la com um terceiro.

A penúltima batalha de Phanatsy Star II (quem já jogou o game sabe que não é bem a última. 🙂 ). Companheiros sim; mas seriam todos amigos?

O companheirismo permanece ainda hoje, mesmo não sendo prioritário que sejamos caçadores. Por exemplo, pode ser uma religião (ou a ausência dela), estudos, profissão, ou mesmo alguma recreação em comum (jogar videogame é uma possibilidade). O conjunto de todos aqueles que compartilham destas coisas são companheiros, mas quando partilhamos algo a mais com algumas delas, há amizade. Amigos são como companheiros de viagem: andam lado a lado olhando para frente. Assim, querer “fazer amigos” é inútil. A condição primordial para se ter amigos é querer algo além disso. Claro que “buscar amigos” pode levar à afeição. A amizade sempre tem que ser sobre alguma coisa: quem não vai a lugar algum não pode ter companheiro de viagem. Se, por algum acaso, a amizade produz frutos úteis à comunidade, isso é um acidente. Mas é fato que são os pequenos círculos de amigos (que dão as costas ao mundo) que realmente o transformam. Por exemplo, nada usamos da matemática prática e social dos egípcios e babilônios; usamos a dos gregos, utilizada livremente e como passatempo entre amigos. É preciso notar, portanto, que um amigo é bem mais que um aliado.

Quando a descoberta de afinidades para além do grupo em comum acontece entre pessoas de sexos diferentes, a amizade se transforma em eros com facilidade. Na realidade, aponta Lewis, é quase certo que isso aconteça desde que um deles não seja repulsivo, ou que um (ou ambos) já ame outra pessoa. E o oposto também pode acontecer. Em casais em que ambos coexistem, os amantes não querem dividir o amor erótico, mas não veem problemas em dividir a amizade. A amizade entre homens e mulheres era mais rara antes, não por haver um abismo natural entre homens e mulheres, mas porque possuíam poucas (ou nenhuma) atividades em comum. Em campos em que ambos podem atuar conjuntamente, isso é mais fácil de acontecer. Além, é claro, de interpretações errôneas de alguma parte.

Embora a amizade seja o tipo de amor que se possa imaginar entre anjos, dela pode nascer tanto uma arte como a tortura; o canibalismo, ou uma filosofia. A amizade tem a proeza de unir as pessoas em seus vícios e em suas virtude. Além disso, pelo fato da opinião desse círculo fechado valer mais do que a de mil pessoas de fora, as autoridades não a veem com bons olhos: “toda amizade real é uma espécie de secessão, ou mesmo de rebelião”. É um bolsão de resistência em potencial: homens com amigos de verdade são menos fáceis de manejar (Ou: corrigir para boas autoridades e corrompê-los para más).

Uma imagem das batalhas iniciais de Shining Force II, jogo em que é possível pensar a respeito de companheirismo e amizade.

Há perigo, portanto, na amizade. Ao mesmo tempo que pode ser uma escola de virtudes (como diziam os antigos), pode ser também uma cristalização de vícios (como eles não puderam ver): torna melhores os homens bons e piores os maus. O maior de todos os riscos, porém, é que essa surdez parcial aos apelos da multidão de pessoas fora do círculo de amigos se transforme em indiferença total: “a surdez parcial, que é nobre e necessária, incita a uma surdez total, que é arrogante e desumana.” Deixa de ignorar e passa a desprezar aquelas pessoas que são estranhas a ele. Passasse da humildade individual ao orgulho cooperativo. Percebemos isso com facilidade em vários grupos, mas naqueles em que fazemos parte, notamos com menor clareza. É certo que a amizade exclui, mas é fácil passar disso ao espírito exclusivista e, em seguida, ao prazer degradante do exclusivismo. O orgulho é, enfim, o perigo natural das amizades.

Agora, devemos pensar em como isso aparece em games. Se pensaram a mesma coisa que eu enquanto leram este post, certamente devem ter imaginado qualquer jogo em que haja um grupo de heróis unidos por quaisquer circunstâncias viajando juntos e possuindo um objetivo comum. Embora isso não seja exclusivo de RPGs, falar deles pode tornar as coisas mais claras pelo grande número de personagens que costumam se reunir.

Em Phantasy Star II, temos um máximo de nove personagens que andam juntos buscando solucionar problemas que têm se mostrado persistentes em Motávia. Será que poderíamos dizer que todos eles são amigos? Pensando naquilo que Lewis fala sobre companheirismo, eu não mais afirmaria isso sobre nenhum RPG. Rolf e Shir podem ter sido companheiros de jornada e lutado juntos até o fim, mas há a possibilidade de não terem sido amigos. Talvez alguma afeição, quem sabe. Como o próprio Lewis aponta, isso não é depreciar o companheirismo, só enaltecer as diferenças e afirmar que é da companhia que nasce a amizade.

Grandes amigos em Policenauts. Podem ler minha resenha sobre a versão de PSX do jogo clicando aqui.

Ou seja, ainda pensando em Phantasy Star II, seria preciso que dentre estas nove pessoas, um outro objetivo comum os unisse. Uma meta mais interior e mais discreta. E isso me parece um pouco difícil em um grupo que reúne um ladrão, um agente do governo, um caçador, uma caçadora de caçadores, um mecânico, um biólogo, uma médica e uma experiência genética. Não estou dizendo que eles não eram amigos (todos eles entre si, ou pequenos grupos dentre eles), mas nada do jogo parece nos permitir dizer algo além do fato de terem sido companheiros.

Em Shining Force II, podemos perceber algo semelhante. A diferença está muito mais no fato de que um pequeno grupo já se conhecer antes de terem que partir pelo mundo em sua jornada. Ou seja, eles já compartilhavam uma mesma coisa: a sala de aula. Depois, passaram a compartilhar uma outra. Ainda assim, é um pouco prematuro afirmar que tinham amizade uns pelos outros. Seria necessária uma investigação pormenorizada.

Agora, um exemplo que me parece claro de amizade é o de Jonathan Ingram e Ed Brown em Policenauts. Ambos eram extremamente diferentes, mas isso não importou quando serviram juntos à polícia e mesmo quando se reencontraram anos depois (com uma grande diferença de idade). Não só haviam compartilhado a corporação e haviam sido os famosos “astronautas com poder de polícia”, mas também partilhavam de outras coisas em comum. Uma destas coisas era a valorização da família. Evidentemente, poderíamos até dizer que eles eram “velhos amigos” e que o amor que existia entre eles perpassava tanto a afeição como a amizade.

Lutando contra os amigos (antes adversários) Gilgamesh e Enkidou em Final Fantasy V.

Claro que existem amizades “do lado negro”. Os vilões não se odeiam mutuamente, mas são amigos entre si e fortalecem seus vícios tornando-se ainda mais terríveis. Vemos isso no próprio Policenauts e, para não ficarmos em um único exemplo, em Langrisser II e entre Gilgamesh e Enkidou no Final Fantasy V (para retomar um exemplo da literatura que comentei ao início).

Bem, é isso por hoje. Até o próximo post!

Academia Gamer: Os Quatro Amores – Amizade (parte 03 de 05)

19 ideias sobre “Academia Gamer: Os Quatro Amores – Amizade (parte 03 de 05)

  • 14/06/2011 em 9:18 am
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    tambam fico pensando nessa história de amizade entre o nosso grupo num jogo. em FFVI por exemplo… Terra,Locke,Ceres,Sabin,Edgard,Relm,Strago,Shadow,Umaro,Gogo,Setzer,Cyan e Gau se unem para enfrentar Kefka, o mal absoluto. mas depois de vencerem, será que eles ainda se falam? Locke e Ceres assumiram o amor que havia entre eles? ninguém sabe quando aqueles que se unem por uma causa podem fazer a amizade feita naquela época fluir para algo mais duradouro ou até mesmo virar amor. eu tô jogando Langrisser do Mega drive..e quando eu jogo o game, me incorporo no personagem Garret e claro aqueles que estão comigo na ardúa tarefa de salvar o mundo logo viram os meus amigos(no mundo virtual,é claro!) e quando um deles se fere em batalha, eu meio que sofro um pouquinho. pois aqueles que estão ali são meus companheiros…pelo menos até eu terminar o game^^. o que vai acontecer na vida deles assim que eu zerar Langrisser..infelizmente não saberei. é triste se despedir dos aliados quando a sua missão foi cumprida e você tem que seguir para o próximo jogo. também senti essa sensação de amizade jogando Ocarina of Time.. ah também, fico me perguntando quando um companheiro valoroso de sua equipe morre, será que eles se lembram dele após a sua morte depois de cada batalha vencida. por exemplo, se em Langrisser um amigo seu morrer e justamente aquele que era bastante poderoso na equipe. o grupo vai sentir a sua morte, tanto em sentimentos quanto em batalha. por isso eu não permito que ninguém morra no grupo. mesmo sendo o sacrificio daquele foi essencial para matar aquele Boss dificílimo, pois eu sei que tanto a mim quando o personagem a quem dou vida vai sentir a dor de perder um companheiro.

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  • 14/06/2011 em 11:22 am
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    @leandro(leon belmont)alves
    Pois é. É como se esses personagens compartilhassem somente uma única coisa, por serem bem diferentes um do outro. O que não quer dizer que não haja afeição entre eles, claro. Mas até mesmo Edgar e Sabin (que são irmãos) têm visões de mundo e objetivos bem diferentes; a amizade requer um “algo a mais” em comum, uma meta que compartilhem além daquela que é “necessária” pelo companheirismo (no caso de FFVI, salvar o mundo).

    Cara, se você está todo envolvido assim com Langrisser I, jogue Der Langrisser assim que terminá-lo. Este é uma versão “final” do Langrisser II para Mega Drive com mais textos e possibilidade de haver bifurcações na história. Joguei a versão PC de Langrisser I estes dias e gostei muito, mas o segundo jogo da série ainda é o meu predileto.

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  • 14/06/2011 em 2:51 pm
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    Belo post Senil, como sempre fazendo a galera refletir!
    Esse lance de amizade involver desejo sexual é complicado.. acho que na maioria das amizades algum interesse existe, seja material ou carnal. Amizades verdadeiras são extremamente raras, esta é a minha opinião.

    Offtopic:
    Senil, por acaso vc teria como me dizer onde conseguir essa rom do Der Langrisser já com a tradução patcheada? Eu joguei muito o de Mega e adoro o game mas gostaria de me aventurar nas novas terras de Der Langrisser.
    Eu ja tentei aplicar o patch mas sempre da um erro, aí desisti. =/

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  • 14/06/2011 em 3:24 pm
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    @Oztryker
    Se há algum interesse material (sei lá, dinheiro, status etc.) na “amizade” pelo que a pessoa pode fazer por você, não há amizade. Talvez companheirismo, dependendo do caso, mas amizade não. Na amizade, duas pessoas trilham o mesmo caminho juntas não porque é mais fácil, mas porque iam passar por ali em seus caminhos individuais de todo modo.

    Com relação ao interesse erótico (ou sexual), isso acontece também. E ocorrem confusões: um dos envolvidos pode amar eroticamente o outro, mas este amar o primeiro como amigo. O problema principal a se evitar é pensar que toda amizade tem um cunho erótico “por detrás do pano”. Isso sim seria incorreto.

    Vixe, nem lembro direito. Vou pesquisar aqui e mando um e-mail para você (no que usa na hora de postar os comentários) em alguns minutos.

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  • 14/06/2011 em 10:05 pm
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    @Oztryker
    tenta emular ele no ZSNES, Oztryker. é mais fácil achar a tradução dele no emulador do SNES mesmo. dê uma procurada no Google que tu acha o jogo.

    voltando ao assunto…

    será que não existe amizade verdadeira entre dois personagens de sexos opostos? tipo, eu acredito por exemplo na amizade de Link e Zelda. eles sempre passaram por perigos juntos e sequer teve algum clima entre eles( pelo menos nos games zelda que joguei até agora) e pelo jogos que eu joguei, a amizade entre homem e mulher nem sempre acaba em amor. geralmente os jogos onde isso acontece com mais frequência isso é nos “Final Fantasies” da vida

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  • 14/06/2011 em 10:18 pm
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    @leandro(leon belmont) alves
    Sim! Com certeza existe amizade entre pessoas de sexos diferentes. O lewis mesmo comenta a respeito disso ao dizer que só é mais fácil que uma amizade se converta em eros nesses casos (exceto se eles já amem alguém desta maneira). E eu acho que é mais ou menos isso mesmo.

    Se você realmente leva seu compromisso com alguém a sério, você tem certeza de que compartilha com outras mulheres somente a amizade e não o eros (embora, claro, ela possa até querer outra coisa – o que pode levar a frustrações e confusões).

    Em games, isso é mais difícil de acontecer. Geralmente, quando um homem é muito próximo de uma mulher, “dá-se a entender” que eles têm algum caso depois do jogo (ou mesmo durante). Mesmo quando são amigos de infância ou algo do tipo. Mas isso é um pouco reflexo da visão atual sobre a amizade em que ela é pouco considerada e qualquer amor “mais forte” é visto como erótica.

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  • 16/06/2011 em 5:46 pm
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    > Por isso, é muito comum vermos gente defender que a amizade de Davi e Jônatas, de Gilgamesh e Enkidou nada mais são do que casos homossexuais encobertos.
    R: Infelizmente isso são coisas que vemos até mesmo hoje em dia. Cansei de passar por isso porque pra mim, uma amizade verdadeira é mais difícil de acertar do que os números da loteria, e que me perdoem os materialistas insanos, mas o intangível é mais valioso do que o áureo que se pode ver, tocar e cheirar.

    > É quase como se fosse impossível que duas pessoas do mesmo sexo (ou de gêneros diferentes) fossem amigos, grandes amigos, amicíssimos sem qualquer interesse de cunho sexual e erótico.
    R: Isso é criação de mentes pequenas! De pensamentos diminutos! e o que me invoca mais ainda é que a maioria estereotipa essas coisas.

    > Isso é um desserviço à amizade e uma erotização desnecessária do assunto.
    R: Você ainda foi gentil na palavra, eu não usaria o termo erotização, e sim “pornografação”.

    Mas eu senti falta de uma coisa… Faltou você comentar sobre a convivência Nei e Rolf… O que muitos poderia chamar de pedofilia com aval governamental, mas que não passa de uma relação de irmandade… Por falar nisso, a fanfic que eu estou planejando escrever vai tratar bastante desse assunto.

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  • 17/06/2011 em 12:26 am
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    @J.F. Souza
    Sem dúvida! É uma pena que seja algo tão menosprezado hoje em dia. E, pior, que seja visto erroneamente. A amizade é bela por ser o que é, e não por ser eros.

    E concordo que “erotização” foi um termo meio falho. Pensava no sentido mais usual e corrente disso e não no que Lewis usa. Sua sugestão é melhor e o próprio Lewis usa uma outra para enfatizar o ato sexual puro e simples, mas não em recordo exatamente qual é agora…

    Então, eu não falei do Rolf e da Nei porque teria que comentar novamente coisas sobre a afeição. Acho que o amor entre eles era uma mescla de amizade e afeição, só que muito mais afetiva que de amizade. O fato de se verem como irmãos e buscarem um conforto no outro me passa essa impressão. Mas seria um exemplo sim, com certeza. Lewis fala que a afeição até aparece em estado puro, mas que é melhor vista “misturada” a outros amores, como a amizade. Para ele, um “amigo” é uma coisa e um “velho amigo” é outra: ambos têm a ver com a amizade, mas só o último contém doeses de afeição.

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  • 17/06/2011 em 1:17 pm
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    Romance of the Three Kingdoms é um livro de Luo Guanzhong feito no século XIV e que acabou como um jogo de estratégia com fãs fiéis – que já está na sua 11ª edição – e também gerou uma série de outros jogos como Destiny of an Emperor I e II para NES, e a série “esmaga botões” Dinasty Warriors.

    O livro conta a história do fim da dinastia Han e das inúmeras disputas pela unificação da China nos séculos II e III.

    Dentre os inúmeros personagens do livro, destaca-se Liu Bei – pode-se dizer que ele é o herói. Quando as rebeliões começaram no império, dando início às disputas de poder, Liu Bei e seus amigos Guan Yu e Zhang Fei fizeram um pacto de sangue, prometendo defender a todo custo a dinastia Han.

    Liu Bei era carismático e virtuoso. Guan Yu era leal e sábio. Zhang Fei era bonachão e forte. Três personagens bem diferentes mas com um objetivo em comum.

    Durante a história é mostrado vários exemplos da amizade dos três. Por exemplo, quando Liu Bei esteve exilado e não se sabia se estava vivo, Guan Yu acabou se juntando ao inimigo apenas para manter sua promessa de proteger a esposa de Liu Bei. Mesmo assim, manteve-se leal e quando soube que seu amigo estava vivo voltou ao seu encontro, mesmo tendo que enfrentar muitos inimigos no caminho.

    Acho que a amizade dos três serve como um bom exemplo. No livro, eles passam por muitas batalhas, derrotas, vitórias. Mas sempre trilhando o mesmo caminho e honrando sua promessa de irmandade. Infelizmente o livro não tem tradução para o português, mas vale a pena uma pesquisada sobre esses e muitos outros personagens dos três reinos.

    Acho difícil essa separação entre os conceitos de amizade e compenheirismo, são muito parecidos. Mas no caso que citei fica bem claro aquilo que você afirmou: eles poderiam trilhar seus caminhos individualmente, mas por afinidade trilharam juntos. Essa concordância natural faz toda a diferença, pois é menos egoísta, também mais independente.

    A amizade pode ser muito confundida como amor erótico só por quem vê de fora, pois não entende o contexto em que a amizade está baseada. Também porque os dois podem acontecer ao mesmo tempo, sem se misturar, até porque o ser humano é volúvel. Por exemplo, um casamento baseado apenas no amor erótico nunca vai dar certo. Há momentos em que afeição, amizade e companheirismo são necessários.

    Pelo menos eu penso assim. Pergunta: no post sobre amor erótico vai ter muié pelada!? 😛

    Hehe, brincadeira. Ansioso pelo próximo post da série. Até mais.

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  • 17/06/2011 em 2:56 pm
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    @Onyas
    Este é outro bom exemplo. Eu joguei bem pouco os games dessa série, mas um amigo meu é viciado nela e me conta bastante coisa sobre essa história toda.

    Amizade e companheirismo, pelo que o Lewis define, são próximos mesmo. A diferença é que a amizade nasce do companheirismo (que ele chama de “clubismo” também). É quando temos outra meta comum além daquela geral que nos une “corporativamente”, vamos dizer assim. Usando um exemplo simples: se você vai a academia se exercitar com frequência, as pessoas de lá tornam-se seus companheiros por estarem ali por um objetivo comum (por razões diferentes, mas o obejtivo é o de fazer ativididade física); agora, se você descobre com alguma outra pessoa lá dentro outros objetivos em comum, aí sim formou-se uma amizade.

    Sem dúvida que pode haver amizade e eros com relação à mesma pessoa (e também a afeição). Não sei se alguém aguentaria ficar com alguém a vida toda somente pelo eros… Penso como você neste sentido.

    huahauhauhauha Vou manter em segredo para ver se mais gente lê e comenta depois. 🙂

    Até mais cara!

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  • 21/06/2011 em 8:00 pm
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    “Não sei se alguém aguentaria ficar com alguém a vida toda somente pelo eros… Penso como você neste sentido.” by Senil

    Claro que não, a pessoa envelhece e o que as atraia agora está distante(beleza e juventude). Se há algo mais que o sexo, como companheirismo entre casais, o relacionamento tende a durar.

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  • 21/06/2011 em 8:05 pm
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    @Guilherme
    Com certeza!

    Mas vale lembrar que o eros não é só relacionado ao sexo. O desejo pela pessoa como um todo pode passar sem isso. O problema de ficar (casar etc.) com alguém somente pelo eros é que, por ser ele muito mais contemplação que qualquer outra coisa, você não “caminha” junto com esta pessoa como se faz com um amigo. E a promessa que o eros dá de “ser até a morte” subsiste, ainda que haja mais amizade que eros em casais que permanecem unidos.

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