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Agora com ambos os pés do lado de fora dos muros da temerosa Agoe, a última fronteira orakiana conhecida por Rhys, ele teria que entrar em uma cidade layana pela primeira vez.

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Não foi fácil sair de Agoe… Eu me perguntava há quanto tempo eles estariam naquela apreensão quase doentia que atingia não só os cidadãos comuns como também os soldados e monarcas, muito mais bem protegidos sob ainda mais grossas paredes de pedra. A visão, o sentido que os layanos tinham para mim era diferente…

Era raiva.

Não conseguia pensar neles como ameaçadores. Mas, em meus primeiros passos naquela pequena planície, cuja brisa suave e doce batia-me nos cabelos, me perguntei se não estaria errado. Eu estava, com mais três pessoas (sim, sempre considerei andróides como pessoas, mas isso não vem ao caso), indo invadir uma cidade layana?… Isso me pareceu loucura em certo momento.

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Com Shusoran à vista, eu parei de caminhar subitamente. Wren parou quase que ao mesmo tempo que eu mesmo estando à minha frente. Lyle e Mieu, que conversavam sobre alguma coisa demoraram um milissegundo depois, mas também cessaram seus leves sorrisos e me fitaram. Perceberam minha clara preocupação. De cabeça baixa, pude ver que Mieu se prontificou a dar um passo em minha direção, mas Lyle deteve-a gentilmente com um gesto e foi ele quem se aproximou de mim enquanto Wren ainda olhava ao redor, cautelosamente nos guardando de qualquer ameaça.

Lyle sempre me pareceu um homem estranho… Não possuia a mesma força que os orakianos e, mesmo não sendo andróide, tinha a capacidade de utilizar técnicas que desconhecia desde que comecei a enfrentar a ameaças constantes com Mieu. Entretanto, ele tinha no rosto uma ambigüidade que me confortava em certa medida. Por mais diferente de mim que ele fosse, havia tomado parte em minha jornada. Sempre reacendia minha desconfiança com relação a ele, principalmente quando ele saíra no meio da noite anterior enquanto deveríamos estar dormindo no hotel de Agoe…

E ele me disse simplesmente: “Não precisa se preocupar em invadir e em ocupar Shusoran, meu amigo. Isso não será necessário. Ainda que seja preciso desvendar o papel deste lugar entre-florestas em sua jornada, não vá com ódio, mas com cautela e vigor. Isso deve bastar.”. E me incentivou a nos passarmos como viajantes. Ele alertou-me que era provável que estranhassem os ciborgues que andavam conosco, mas que não deveríamos nos abalar com isso.

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Ao chegarmos lá, de fato, ninguém estava nas ruas… Fomos às lojas e a única coisa que encontramos além de seus donos foram crianças que despejavam com suas palavras duras o mesmo ódio que fui ensinado com relação ao layanos (e que aprendi na pele a sentir). Mas Lyle, a cada vez que isso acontecia, colocava a mão no meu ombro e pedia que me contivesse.

Não tardou para descobrirmos que seria necessário passarmos pela morada da família real de Shusoran. Fiquei ali fitando o símbolo de Laya no portão e me lembrei que fiz algo semelhante quando, já disfarçado, encontrei a porta de minha própria casa assim… Entretanto, Lyle lembrou-se, com certo gracejo em suas palavras, que em Agoe alguém havia dito sobre monstros em fontes de água; sugeriu risonhamente, que procurássemos esses monstros onde nos fora sugerido.

E encontramos uma pequena entrada na única fonte da cidade. Por meio daquela passagem subterrânea, recheada de monstros e aparentemente não utilizada em anos, alcançamos uma ndas partes internas do castelo. Mas como em um labirinto, tivemos que usar várias vezes dessas passagens para finalmente nos encontrarmos no corredor que nos levava ao átrio principal do castelo. E lá tive uma grande, e sem dúvida inesperada, surpresa.

Lena estava ali, junto ao trono vazio do rei de Shusoran. Não avançamos com pressa, mas gritei para Lyle que era ela! Aquela que me ajudara em Landen e que precisávamos tirá-la dali o mais breve possível! Lyle sorriu e disse, mais seriamente do que de costume, que precisaria lutar por ela. Ele dirigiu-se sozinho até ela e, como que protegendo-a de nós, disse-me: “Eu a encontrei. É hora de ver como você realmente luta.”. E assumiu posição de combate. Sem saber bem o que fazer e movido por um impulso misto de decepção e medo (eu sabia de seus poderes; eu o conhecia em batalha), desembanhei minha espada e encarei-o. Percebi que Mieu se preparava para se colocar à minha frente para ajudar-me, mas Wren a parou com um de seus grossos braços em sua frente. Depois, ela me contou que ele fitava os olhos de Lena atrás de Lyle… Não sei bem até hoje, se ele havia percebido algo de fato ou não… Talvez nunca descubra.

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Seja como for, foi uma luta feroz, porque foi entre dois companheiros e não entre dois animais. A cada raio e vento que me lançava, lembrava de nossas lutas juntos, das vezes em que ele me salvara a vida em Aridia. E a cada toque de minha espada em seu cajado, lembrava das vezes que o protegera de forma semelhante. Seus conselhos e auxílio me passavam pela cabeça a cada golpe. Ambos éramos habilidosos e soubemos, em poucos segundos, que nenhum ali estava para treinar.

Sequer sei se venci ou não. Depois de vários minutos e marcas de combate em todo o salão sob a forma de sangue seco e decoração destruída, ele mudou sua posição para uma mais branda e, limpando sua ensangüentada mão direita me disse com seu costumeiro sorriso: “Você é mais durão do que eu pensava!”. Olhou então para Lena e disse-me de volta: “Parece que alguém quer falar com você…”. Enquanto ia em direção a ela, Lyle sentou-se no chão com a perna estirada tendo sido amparado por Mieu. Estava tão consumido pelo combate quanto ele, mas fui até Lena mancando enquanto guardava minha espada.

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Com um estranho sorriso, me cumprimentou dizendo que fazia tempo que não nos víamos e que, para resgatar Maia, teríamos que ir até Aridia novamente e, uma vez lá, utilizar sua Pedra Lunar e a Lágrima Lunar de Lyle para trazer duas antigas luas que orbitavam nosso mundo para suas antigas posições e, daí, permitir que a maré abrisse caminho até a cidade em que minha noiva estava. Eu fiquei contente por ela estar disposta a ajudar; uma verdadeira orakiana eu diria. E, num lapso, lembrei-me que era ela, a princesa de Satera a quem fui era prometido desde meu nascimento (na verdade, antes mesmo que ambos nascessemos)… E me doeu o coração… Isso explicava sua ajuda em dois momentos cruciais de minha jornada e também seu falso sorriso… Mas eu tinha que continuar mesmo assim…

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Naquela mesma sala, tive outra surpresa. Lyle era, aparentemente, príncipe de Shusoran. Então ele era um layano. Isso criou um redemoinho de pensamentos e contradições em minha mente que me levaram a desmaiar, graças à fraqueza que já sentia devido às minhas feridas. Então, por quê ele estaria me ajudando?… Eram essas palavras, em forma de névoa e areia delirantes que pipocavam em minha mente negra de desligamento do mundo.
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Diário de Bordo: Phantasy Star III – A primeira geração (05)
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5 ideias sobre “Diário de Bordo: Phantasy Star III – A primeira geração (05)

  • 20/05/2009 em 9:14 am
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    Ontem, jogando Pstar 4 pra fazer o detonado pro blog Shugames, percebi o quão grande é essa série.
    Eu terminei inúmeras vezes o PStar 4, quando eu tinha meus 15 anos, chegava a alugar sexta feira e, domingo, já estava zeradinho, inclusive com as quests de Aiedo todas completas.
    Mas, como meu inglês era horrendo na época, eu só tratava de entender o suficiente pra prosseguir no jogo.
    Agora, jogando a versão traduzida (brilhantemente, diga-se de passagem), posso conhecer cada centímetro do jogo, cada fala, cada coisinha que, por mais inútil que me parecesse na época, hoje explica muita coisa.
    Agora, lendo seu díário, tenho certeza que a Sega tinha uma jóia nas mãos e jogou fora…
    Wren surge em PStar 4 também, e eu to louco pra rever como ele entra na história e saber sua origem (quem sabe, coisas sobre PStar 3).
    Brilhante detonado O Senil, parabéns mesmo cara.

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  • 20/05/2009 em 10:08 am
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    >“Você é mais durão do que eu pensava!”.
    R: Mete El cara cabrom! Comigo ninguém brinca, nem mesmo Rosa Arrumorosa!
    🙂

    >a princesa de Satera a quem fui era prometido desde meu nascimento (na verdade, antes mesmo que ambos nascessemos)…
    R: Cara! Muito louca essa parte, acrescenta muita as brechas que remanescem naturalmente no jogo.

    >Então, por quê ele estaria me ajudando?
    R: O legal desses posts é que sempre fica um suspense. Depois sintetiza tudo isso num só livro. Dá até inspiração para recriar um Re-Maker desse jogo usando esse texto…

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  • 20/05/2009 em 10:57 am
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    @j4ckt
    Ah, eu adoro a história da saga toda, e a do PSIII não fica atrás. Acho que foi culpa de fãs xiitas também do que somente da Sega esse jogo não ter vingado; queriam mais do mesmo e receberam algo um pouco inovador (e desleixado em algumas partes – como vários outros jogos também o são).

    Quanto ao Wren, você encontrou com vários modelos iguais a esse do PSIII em PSIV. Manja aqueles inimigos chamados Searren386? Então, esses são os Wren. hehe O Wren que entra no seu grupo no PSIV é de um modelo mais avançado: 486. Não são o mesmo; foram feitos em épocas diferentes. Mas que são parecidos, isso são. hehehe Sinto falta de um andróide do tipo Mieu em PSIV. Nem lembro se aparecem em PSIV como inimigos.

    @J.F. Souza
    huahuahuahua Boa!

    E o Rhys deve ter tido algum problema para surgir a tela de escolha da noiva. hehe Se a Lena só tivesse ajudado ele em dois momentos do jogo, ele a veria como uma grande amiga. Ele tem que ter se angustiado para poder escolher.

    Se alguém quiser fazer um PSIII remake, eu com certeza me candidato a escrever o roteiro (os textos do jogo)! É uma das coisas que mais gosto de fazer em game design.

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  • 04/07/2012 em 6:32 am
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    Pois é meus amigos amantes de psIII estou eu aqui hoje com meus 25 anos jogando psIII emulado no pc mas como as coisas são n tem nada melhor do que vc pegar seu controle de mega driver espetar a fita lá e se lasca pra zera o jogo q aparentemente e fácil mas ao mesmo tempo muito difícil
    no pc n vc aperta f5 e salva o jogo agora no game pra da save so em outra cidade

    resumindo um belo de um jogo pra época um dos melhores na minha opinião
    flw galera fique com Deus e abraços

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  • 05/07/2012 em 3:13 am
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    @jeferson
    Bom saber de mais um fã de Phantasy Star III! Esse jogo é uma maravilha mesmo: tanto para a época como ainda hoje também.

    hehehe O uso de save states facilita muito as coisas mesmo, mas usado com reservas acaba sendo um recurso interessante (para quem não tem muito tempo para jogar, por exemplo).

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