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Todos os passos seguidos por Rhys tinham um objetivo: salvar Maia que havia sido seqüestrada no mesmo dia e momento em que se casavam. Na busca de um reencontro com esta mulher que desconhecia a si mesma, ele enfrentou uma série de percalços, encontrou amigos e alterou algumas de suas convicções. Agora, a jornada dessa primeira geração de heróis alcança seu final. Porém, uma última coisa deve ser decidida; e esta decisão será aquela crucial que alterará todo o rumo das gerações futuras. E esta escolha está nas mãos de uma única pessoa, que viveu e experienciou coisas únicas.

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Meu caminho até a cidade de Lyle ocorreu menos tranqüilamente do que todas as passagens por aquelas regiões. Meu coração estava tenso e isso me impedia de falar, era como se ele me saltasse na garganta e, ao mesmo tempo que prendia minha respiração, colocava minha voz em uma alcova escura e almofadada. Desta vez, porém, Wren e eu não éramos os únicos em silêncio. Mas não era uma quietude ansiosa; era reconfortante. Era como se cada um, à sua própria maneira soubesse que a jornada estava finalmente chegando ao seu final. E eu sabia que estava, mas, porque isso me preocupava tanto? No momento eu não sabia… Ou queria fingir para mim mesmo que não sabia…

Lena, que nos acompanhava a menos tempo, se integrara facilmente ao grupo e era muito habilidosa em combate. E, não só isso, sentia que suas poucas palavras naquele caminho de saída e retorno à Shusoran eram gentis, educadas e cordiais. Ela fazia com que eu me sentisse melhor… E, ao mesmo tempo que seu gentil sorriso me parecia falso, me parecia também paradoxalmente sincero: via somente ternura em sua íris, nas poucas vezes que me atrevia a fitá-la.

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Seja como for, finalmente alcançamos Shusoran e ao alvorecer seguinte a uma noite de descanso, nos dirigimos ao norte de lá. E reparamos que havia uma pequena faixa de areia pela qual poderíamos passar em segurança até o outro lado. Ao avistarmos uma cidade, eu parei repentinamente. Todos voltaram-se para mim. Eu olhava para o chão um pouco, fitando a grama e a terra aos meus pés. Somente ergui o pescoço novamente com o toque de Lyle em meu ombro. Lembro que ele disse alguma coisa como: “Estamos quase lá.”. Eu concordei com isso e, agradecendo, passei à frente deles.

De alguma maneira, éramos aguardados lá. Não era por reconhecerem Lyle que, layano como os habitantes dali, talvez impusesse algum tratamento diferente. E ele havia se disfarçado antes de saírmos de sua cidade (como eu mesmo fizera ao escapar de Landen). Mas sabiam que eu era orakiano e, além disso, sabiam que desposaria Maia. O primeiro homem me disse que os layanos não deveriam se casar com nós, desprezíveis e vis orakianos. E isso fez com que, de súbito, pensasse algo que até então jamais havia cogitado com seriedade: seria Maia uma layana?

Enquanto nos distanciávamos desse homem, a dúvida ia me fazendo pensar que isso poderia ser muito possível, mas não queria acreditar. Afinal, ela fora encontrada em Landen, mas sem memória nenhuma acerca de seu passado… Ou será que ela era uma espiã dos nossos inimigos ancestrais colocada ali para me fazer ir contra o desejo de meus pais e fortalecer ainda mais nossa região? É verdade que alguns layanos pareciam ter boas intenções, como Lyle que provou isso durante todo o caminho e se mostrou um amigo confiável, mas a hostilidade do povo de Cille era ainda mais forte e evidente que em Shusoran que não invadira a despedaçada internamente Agoe. Será então que a cidade toda arquitetara tal plano? Isso girava em torno de minha cabeça, ao mesmo tempo em que desconfiava que Maia não se encontrava em lugar nenhum fora dos muros do castelo, talvez estivesse dentro dele, como Lena apontou a certa altura.

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Depois, outros transeuntes sentiam-se insultados com nossa presença e gritavam para nós que não podiam acreditar que eu queria desposar Maia, a princesa deles.

Isso, claro foi um baque para mim. Além de layana ela era princesa de tal cidade que tanto odiava orakianos?… Então, caminhando em direção à entrada do castelo, uma mulher gritou para nós enquanto olhávamos o símbolo de Laya em sua porta, ao mesmo tempo que várias fontes alinhadas diante dela: “Sorte sua que a lei de Laya proíbe matar!”. Isso, depois de tudo que já ouvira ali não me abalou muito, mas o que disse a seguir o fez com certeza ao citar que a lei daquela que chamava de bruxa era a mesma de nosso descendente Orakio: “Não mate o que é vivo!”. Mas como, afinal de contas, dois povos podiam se odiar tanto se tinham os mesmos preceitos? Supostamente, esta foi a última mensagem deixada por ambos; o que teria acontecido para seu desaparecimento súbito que não terminou a guerra, mas a manteve nos corações de cada um dos povos?…

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De cara para a porta trancada, não tivemos outra escolha que não tentar arrumar uma outra maneira de entrar. Wren sugeriu que tentássemos uma fonte. Lyle riu de leve, mas concordou. E então, tínhamos o problema de decidir qual delas escolheríamos. Após pensarmos e fazermos algumas votações da qual nosso companheiro layano absteve-se, decidimos pela terceira delas, a partir da esquerda. E nos deparamos com um labirinto muito mais bem servido de inimigos que o de Shusoran. Como em alguns outros locais de nossa viagem até ali, não haviam só animais comuns, mas também aqueles que podíamos chamar de monstros, criados por Laya, rondavam o lugar. E isso não mudou muito ao finalmente encontrarmos a saída dele e entrarmos no castelo de fato. Uma vez lá, também tivemos que nos deparar com guardas-monstros layanos perigos até que depois de um longo e árduo caminho, chegamos na última sala: a do trono.

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Maia não estava, como pensara até então, presa em um calabouço qualquer e sendo torturada. A informação que me passaram por toda a cidade de Cille era verdadeira: Maia era layana e era uma princesa. Ela estava de pé, em silêncio e sem ousar me olhar no rosto desde o momento em que apareci ali e gritei que estava ali para salvá-la. O rei, ao nos ver, levantou-se rapidamente de seu trono e, interpondo-se entre nós e aquela que viemos resgatar, gritou-nos: “Eu sou o rei de Cille! Vou lhe mostrar como tratamos espiões orakianos aqui!”. Antes mesmo que pudesse reagir verbalmente contra essa acusação infundada, ele foi em direção a nós juntamente com alguns de seus monstros aliados.

Não foi uma luta fácil, pois desde o começo estávamos em desvantagem. Eles estavam em sete e nós em somente cinco. Mas fizemos o nosso melhor. Seus ataques era ágeis e forte e contava com o auxílio de seus companheiros para curá-lo e deixá-lo pronto para nos atacar ainda mais e mais vigorosamente. Ao mesmo tempo que usava magias contra o grupo todo (inclusive contra seu compatriota e vizinho), ele parecia focalizar seus ataques físicos contra mim. Seu estilo de luta com cajado era muito eficiente e semelhante ao de Lyle; era quase como se aquela luta que tivemos houvesse sido um treino para o que me aguardava. Eu estava irado; submerso dentro de mim estava uma fauna única de sentimentos indistintos. Queria somente acabar com aquilo de uma vez e tirar Maia dali, mas não podia. Tinha que vencê-lo naquela luta.

Mieu, Wren, Lena e Lyle faziam o que podiam contra tamanho grupo e, depois de algum tempo, somente o rei restava de pé e em condições de combate. E mesmo sozinho, conseguia nos impedir de derrubá-lo com rapidez. Até que, em dado momento, aproveitei que ele ficara preocupado em esquivar-se dos disparos de Wren e Lena à distância e pedi, com um único olhar, a Mieu que me ajudasse. Ela entendeu perfeitamente e correu para trás dele (que, pelo movimento da luta, já estava no meio do salão e não mais no canto), prendendo-o com seus braços e erguendo-o. Eu então corri em direção a ele com minha espada em punho, brandindo-a em direção a sua cabeça para terminar aquilo de uma vez por todas.

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Mas lembrei-me da lei de Orakio no meio do meu movimento. Então, guardei minha espada na bainha e bati com ela em sua cabeça, derrubando-o no chão. Com ele caído ali, nada fiz e esperei para ver se ainda estaria vivo ou não. Todos nós esperamos. Até que ele moveu um pouco os dedos da mão e fez um grande esforço para se sentar no chão. Maia e alguns de seus soldados que estavam, aparentemente, somente assistindo àquilo tudo o colocaram em seu trono. Com uma risada que em muito me lembrava a de Lyle, ele disse que se rendia perante mim e que eu era muito forte. Sem entender aquilo muito bem, vi que Lyle baixara a guarda e também Mieu e Wren. Lena, de arma em punho, olhou para mim e também fez o mesmo. Eu não pude fazer outra coisa senão imitá-los.

O rei de Cille então continuou: “Talvez Lyle, meu sobrinho, estivesse certo sobre você!”. Então Lyle de algum modo falara com ele antes de chegarmos lá e sabia de tudo que havia se passado até então, eu olhei para ele com fúria, mas ele, com seu jeito usual, disse para não me preocupar com essas besteiras.

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Então, o mesmo Lyle levantou uma questão simples e igualmente complexa. Ele disse algo mais ou menos assim: “Você abandonou seu reino, seu povo em busca de uma mulher que amava e que fora seqüestrada no dia de seu casamento. Recebeu a ajuda constante nessa jornada de uma outra mulher resignada e fiel que lhe era prometida desde antes de seu nascimento. Você tem que fazer uma escolha simples agora Rhys.”. Eu sabia do que ele falava, mas mesmo assim, somente abaixei minha cabeça em silêncio. Acredito que ambas as princesas sobre quem falava fizeram o mesmo também. E seu tio complementou: “Você terá que escolher entre Maia e Lena. Uma layana e uma orakiana. Se escolher minha filha, será o rei de Cille um dia. Entretanto, se desposar Lena, voltará a Landen como um filho pródigo e poderá assumir seu trono, além de fortificar sua região com a união com o reino de Satera.”

Não era uma decisão tão simples quanto eles faziam parecer… Atordoado, não quis prolongar muito mais a minha decisão. Tinha que ser ali, e naquele instante. Pesei tudo que podia e que havia aprendido naquela jornada, tudo que sentia por ambas as mulheres, seus olhares e trejeitos, sua origem, os reinos que assumiria depois e tudo mais… Tentei deixar meus preconceitos de lado e desposar aquela com quem acreditava que seria feliz até a minha morte… E vaguei, e vaguei por aquele salão, sozinho em meus pensamentos e alma… Acredito que os olhares de todos ali me seguiam por cada canto… Não me sentia bem com aquilo… E pedi que todos saíssem e me deixassem a sós com as duas. Queria que, no momento de minha decisão, somente elas estivessem diante de mim.

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A minha escolha, vocês, meus atuais leitores, já devem saber.

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Este é o fim do registro pessoal das aventuras de Rhys. Tendo voltado a ser um príncipe e, posteriormente, rei, deixou de ser um andarilho aventureiro. Todavia, não tinha vergonha de toda a sua jornada, das pessoas que conhecera e muito menos da escolha que fizera. Ele escreveu muitas outras coisas que aconteciam em seu reino, mas este é o único fragmento não-impessoal e formal que pôde ser recuperado. A data de escrita ou quando e como foi recuperada é incerta.

Diário de Bordo: Phantasy Star III – A primeira geração (07) [Final]
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7 ideias sobre “Diário de Bordo: Phantasy Star III – A primeira geração (07) [Final]

  • 06/06/2009 em 1:08 pm
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    @Marcio
    huhauahuhau

    Eu também tenho que reler. hehe Na verdade, não sei ainda qual ele escolheria. Mas também havia pensado nisso. Vou reler com calma tudo em seqüência e ver, pelo jeito dele, qual ele acabaria optando para se casar. A resposta vem com a segunda geração (seja ela qual for hehe). Espero que na semana que vem já. hehehe

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  • 06/06/2009 em 5:06 pm
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    > Atordoado, não quis prolongar muito mais a minha decisão.
    R: Credo! Parece até que esta escolhendo o sabor da pizza…
    🙂

    > Tinha que ser ali, e naquele instante.
    R: Tira logo! Tira logo que vai rolar a xapuletada…

    > E pedi que todos saíssem e me deixassem a sós com as duas.
    R: Há Cachorrão!!!!!!! Vai provar as frutas primeiros não é…?!?!?! Danado!!!!!!!!

    >A minha escolha, vocês, meus atuais leitores, já devem saber.
    R: COMO ASSIM?!?!?!?!?!? Quero só ver se isso vai terminar na Terra!
    Gostei da idéia do fim do registro…

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  • 07/06/2009 em 12:37 am
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    @J.F. Souza
    huhauahuha Estava esperando comentários seus sobre isso. hehe Na verdade, o Rhys decidiu ficar com as duas, fazer um harém e levar duas vidas. Por isso que tem duas segundas gerações. E seus filhos seguiram o exemplo. hehehe

    E quanto a terminar ou não na Terra, vai depender da escolha que ele fizer. hehe

    @gamer_boy
    hehehe Valeu.

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  • 07/06/2009 em 11:55 am
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    Quisera poder entrar no Gagá mais vezes… Agora os maravilhosos, infalíveis e perfeitos administradores lá da casa da “Mãe Chica” (Que eu gostaria de deixar bem claro que os mesmo nem se quer tiveram a decência de assistir ao menos uma palestra sobre liderança) resolveram bloquear o Gagá, se não for por um Prox, somente nos finais de semana… Mas eu não perderia esses diários por nada… Posso demorar, mas sempre irei ler essa perspectiva singular do maravilhoso Phantasy Star III…
    🙂

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  • 07/06/2009 em 1:25 pm
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    @J.F. Souza
    Putz, mas que chato… Quando estava na faculdade era meio assim também; a neura deles foi tão grande num período que nem no Yahoo entrava. hehehe E pode ir acompanhando sim que ainda faltam dois terços da aventura (e talvez um pouco mais se eu ficar louco e decidir redigir as gerações restantes ao final. hehehehe).

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