Eu já comentei aqui no Gagá Games que o Odyssey2 (lançado apenas como Odyssey no Brasil) foi meu primeiro videogame. Eu curti um bocado o console, e também o Atari que comprei depois, mas o estágio hardcore da minha paixão por games começou mesmo com o MSX. Com isso, a maioria dos meus posts aqui no Gagá Games trata de jogos da geração NES/Master System em diante, e o Odyssey fica meio esquecido.

Acontece que depois de ler o livro do Garrett sobre o início da era gamer brasileira, senti um desejo incontrolável de revisitar esses clássicos que eu joguei aos quatro, cinco anos de idade e que me iniciaram nos games. Alguns deles me divertiram por meses, e tenho ótimas recordações deles.

Voltando no tempo, acho que posso apontar com uma pequena margem de erro aquele que teria sido o primeiro jogo que eu joguei na vida. Posso estar enganado, mas há boas chances desse jogo ter sido o clássico e antológico…

Fórmula 1! Interlagos! Cryptologic!

Esse cartucho 3-em-1 acompanhava o Odyssey, e por isso acredito que tenha sido o primeiro jogo que eu joguei. Quando você insere o cartucho, aparece na tela a mensagem SELECT GAME. Essa é a deixa para que você aperte o número correspondente ao jogo desejado. Não sei precisar qual dos três jogos escolhi primeiro, mas eu duvido muito que tenha resistido à tentação de começar por Interlagos!, nome do tradicional circuito brasileiro de fórmula 1.

Behoooooold… Interlagos!

 

… igualzinho, hein?

Sobre o título: quando a Phillips lançou o Odyssey no Brasil, tratou de adaptar os nomes dos jogos para apelar aos jogadores locais. Calma que tem coisa muito pior pela frente. Vamos tratar disso em posts futuros.

Interlagos é um jogo bem simples. Notou que temos dois carrinhos na tela? Um é o seu, e o outro é do segundo jogador. Não, a CPU não controla o outro carrinho, se você jogar sozinho o segundo carro vai ficar lá parado. Provavelmente isso acontece porque na época devia ser trabalhoso desenvolver uma “inteligência artificial” para mover o segundo carro sozinho, sem que os dois carros colidissem o tempo todo, por exemplo. Seja como for, estamos falando de uma época onde o videogame era vendido como diversão para a família, e não para solitários.

Não há contador de tempo. Se você bater, dependendo do ângulo e da velocidade, seu carro pode girar um pouco no mesmo lugar ou “explodir” (quando você jogar vai entender porque eu botei explodir entre aspas), mas logo volta à ativa. Ou seja, o lance do jogo é mesmo dar três voltas antes do segundo jogador.

Usando o teclado do Odyssey você pode escolher entre duas pistas diferentes (na verdade iguais, mas uma tem obstáculos). Cada uma dessas pistas pode ser jogada em modo de baixa ou alta velocidade, resultando em quatro modos de jogo diferentes. A pista com obstáculos exige que você dê uma reduzidinha marota e que controle o carro direitinho, porque o espaço de manobra é pequeno. Com dois jogadores, o resultado é um pega pra capar dos infernos, onde um dos jogadores geralmente acaba estoporando o carro num obstáculo, he he!

A tela não tem scroll, não há música, o único efeito sonoro é o do motor do carro e a velocidade não é exatamente supersônica. Mas querem saber? Esse treco era divertido pra caramba naqueles tempos. Eu jogava até sozinho às vezes.

Fórmula uuuuuuum!

Alguém por favor me diga se isto parece um veículo de fórmula 1:

Bizarro, hein?

Esse já é um jogo para solitários. Acho que é o mais perto que temos de Enduro no Odyssey. O carrinho corre para cima quando você aperta o botão (ou melhor, a tela corre para baixo), e você vai ultrapassando os adversários que vêm do alto. É possível mover o carro para os lados, desviando dos veículos que insistem em vir sempre cruzando a pista. Você vai precisar de ótimos reflexos quando estiver em alta velocidade, visto que o campo de visão à sua frente é pequeno, mas nunca injusto. Fica no limite para oferecer uma experiência desafiadora.

Aqui temos um contador de tempo, mas nada de checkpoints e mudanças de cenário. É só isso aí que vocês estão vendo na foto. Acabou o tempo, parou a corrida. O lance é ultrapassar a maior quantidade possível de carros antes do tempo acabar e depois contar para os amiguinhos 🙂

Hoje eu noto que com algum treino dá para conseguir um “perfect score” sem muito trabalho, conseguindo uma corrida perfeita que daria fim à vida útil do jogo em termos de desafio. Mas na época ninguém sabia o que era um joystick, era todo mundo prego, e lá em casa pelo menos ninguém conseguia “gabaritar” o jogo.

Cryptologic!

Uau! Um jogo para adivinhar palavras com as letras embaralhadas! Que emocionante!

Sim, eu estou sendo irônico.

Eu sei que vai ser difícil convencer vocês de que esse jogo era bacana, mas pelo menos lá em casa era um dos favoritos. Eu estava aprendendo a ler nessa época, portanto o desafio era um pouco maior para mim. Funcionava assim: meu pai escrevia uma palavra e mandava o jogo embaralhar enquanto eu ficava de olhos fechados. Aí eu tentava colocar as letras na ordem certa. É tipo um jogo de forca, só que não tem forca nem limite de tentativas…

Talvez para um adulto o jogo seja meio fácil demais, até porque não dá para escrever palavras muito grandes. Mas era perfeito para uma criança da minha idade, e meu pai é um fanfarrão. Adorava me desafiar nesse treco. O sonho dele era escrever “uincuintribincuntrinculado”, uma palavra que o meu bisavô inventou e que é passada de geração em geração na minha família… ah, vai dizer que sua família também não tem umas esquisitices desse tipo? Pena que o jogo não aceitava um palavrão desses.

Dizem que sou louco…

O 3-em-1 que acompanha o Odyssey tinha diversão para todos os públicos da época. Hoje é rústico ao extremo, e nenhum desses três jogos tem o apelo que alguns títulos de Atari, como H.E.R.O. ou Frostbite, ainda têm. Eles não são viciantes nem muito agradáveis tantos anos depois, e quem se aventurar hoje não vai entender o apelo da coisa. Mas tem coisas que só fazem sentido num momento e local específico. I was there, my friends, e acreditem em mim: era bom demais esse negócio!

Não deixem de visitar o excelente site Odyssey Mania, do Marcelo Ribeiro. Afanei a imagem da caixa do jogo de lá, e o site tem um monte de informações bacanas sobre o console e seus jogos.

Odyssey: Fórmula 1! Interlagos! Cryptologic! Holy shit!
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24 ideias sobre “Odyssey: Fórmula 1! Interlagos! Cryptologic! Holy shit!

  • 01/12/2011 em 8:26 am
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    Ahhh que legal! Lembro bem desses jogos. Que saudade!

    O Interlagos era o meu favorito! Lembro que era difícil pacas ultrapassar o oponente se ele ficar andando pelo lado de dentro da pista. Lembro que dava para dar uma de “Dick Vigarista” e dar uma fechada no outro carro. Enquanto ele ficava rodopiando na pista, agente aproveitava para passar. Ai vinha o oponente e fazia o mesmo com agente rsrs

    Era divertido sim! Na ápoca também era bem criança, portanto o Cryptologic era desafiador. O de F1 era só decorar uma sequencia que dava para ir até o fim sem bater.

    Grandes lembranças Gagá! Muito bom!!!

    Forte abraço

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  • 01/12/2011 em 9:21 am
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    MBGEMYOSA????

    que palavra mais doida é essa, Gagá meu velho?

    Gagá games….acho que não

    Abigobal também num é….

    Amygemosa? não :/

    Desisto! num consigo adivinhar. e que bom que você jogava esse treco com o seu velho.

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  • 01/12/2011 em 9:54 am
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    Bacana você ter desenterrado suas primeira esperiências gamíticas e compartilhado com a gente. Eu comecei no Atari 2600, nunca sequer vi um Odyssey ao vivio. Agora sobre o título em interlagos, tenho algo a comentar. Cultura inútil mod on 🙂

    Como naquela época vivíamos num regime militar, o departamento da censura “aconselhava” sempre que possível batizar o nome de produtos e serviços em lingua portuguesa em prol do patriotismo. Na verdade, o censor permitia ou não o uso de marcas em lingua estrangeira a seu bel prazer. O que isso significa? Bem, que quase tudo teria que ter nome em português. Vou dar um exemplo. Personagens Disney. A maioria foi traduzido (os sobrinhos do Donald Zézinho, Huguinho e Luizinho), Pateta, Tio Patinhas (Mickey e Donald como são nomes que não há correspondente em português ficaram como os originais). A VW batizou seus primeiros veículos com nomes tupiniquins (fusca, brasília, parati, saveiro, gol). Você como empresa fazendo isso naqueles tempos, ficava bem com os milicos. Claro que conforme os militares foram enfraquecendo, essas coisas foram enfraquecendo também.

    Cultua inútil mode off 🙂

    Fonte: Seu Quinzinho, meu falecido Avô 🙂

    Falow!

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  • 01/12/2011 em 11:39 am
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    eles mudavam os nomes para trazer o produto ou personagem mais proximos de nossa cultura mesmo, se fosse por isso, os jogos do atari por exemplo seriam traduzidos tambem, mas eles optaram por manter os nomes originais mesmo. e fato hoje em dia acho nada a ver os jogos que conhecemos por outro nome mudarem e ficarem com os nomes estadunidenses, e agora querem chamar o caco o sapo, de kermet ou algo assim.

    agora voltando ao adyssey, foi um dos poucos videogames que nao tive contato, sempre quis um mas nunca tive, tenho que reparar isso urgente rss

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  • 01/12/2011 em 11:44 am
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    O mais engraçado era que quando via estes jogos nos comerciais e revistas achava que eram o máximo . Devido ao visual do console e o marketing da Philips achava que o Odyssey era muito mais poderoso e sofisticado do que o Atari 2600 , há há há . E quando chegou aquela serie interativa com “Em busca dos Anéis” , “A conquista do mundo” e “Wall Street” então ? Era tudo o que mais queria na vida…

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  • 01/12/2011 em 5:01 pm
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    Quando tinha 12 anos eu ganhei um Odyssey de meu pai. Ele chegou ao mercado brasileiro antes do Atari oficial, e acabou pegando uma boa parte do mercado que se formava. Um ano depois troquei pelo Gemini, o compatível com atari da Coleco.

    Cada partida do Formula 1 tinha um tempo máximo de 2 minutos, e podíamos escolher entre 2 níveis de velocidade. Depois de um tempo de treino ficou fácil “gabaritar”. Eram dois pra lá e dois pra cá…

    Era possível apelar no Interlagos, uma vez que só era necessário atingir a linha pontilhada na “reta oposta”, e voltar pelo mesmo caminho, com maior agilidade.

    Experimentei a maioria dos jogos de Odyssey na época, e os meus preferidos eram: Didi, Come-come 1 e principalmente o Senhor das Trevas. Havia jogos menos famosos que me agradavam bastante, como: Invasores do cosmos (2 jogadores), Ovni e o espetacular Tartarugas!!!

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  • 01/12/2011 em 5:09 pm
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    Breno Peixoto :
    Havia jogos menos famosos que me agradavam bastante, como: Invasores do cosmos (2 jogadores), Ovni e o espetacular Tartarugas!!!

    Putz, Tartarugas! Um dos meus favoritos! Lembra do “hotel das tartarugas”, aquele retângulo vermelho que aparecia na tela? He he… eu amava esse jogo.

    Daniel Paes Cuter :

    Aprendi a ler e escrever com o Cryptologic! :D

    Pois é, somos dois, he he…

    @Washington
    Cara, nem fala em “Em busca” que eu tenho um crime a confessar sobre ele… mas fica para um post futuro…

    edu :
    e agora querem chamar o caco o sapo, de kermet ou algo assim.

    Até hoje eu chamo aquele ursinho amigo do Cristóvão de “Puff”. Esse negócio de “Pooh”, pelo amor de Deus…

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  • 01/12/2011 em 7:58 pm
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    Putz Gagá, tb não posso afirmar com certeza qual foi meu primeiro jogo, mas não deve ter sido diferente do seu. Pq como nasci em 1982, acho que minha irmã já tinha comprado o Odyssey. Mas tenho um vídeo em que aparece eu jogando MSX no final de 1986.
    Dos 3, eu preferia Interlagos mesmo. E me diga Gagá: você tb não tentava jogar o carrinho nas paredes internas, num ângulo que desafiava a física e o fazia “entrar na parede”, e virar girando, até sair? Ficava tentando fazer ele entrar totalmente, causar um bug e nunca mais sair né? hehehe
    E no Cryptologic vc tb tentava escrever “Roma” ou “Amor”, se achando muito esperto, mas sua mãe ou pai sempre descobria?

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  • 01/12/2011 em 10:35 pm
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    E ai galera do Gagá Games,gostaria de um conselho.Apesar de ter 15 anos amo jogos antigos(sou retrogamer assumido) e muitas das vezes sou zuado por isso.O que eu devo fazer?Deixo pra lá ou mostro que o NES é melhor que qualquer jogo com sensor de movimento ? Valeu

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  • 02/12/2011 em 4:30 am
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    Muito bom o artigo, Orakio!! Infelizmente iniciei nos games já no final da era 8 bits, não tive o prazer de conhecer o Odyssey. Continue trazendo mais clássicos do odyssey para nós, com toda essa riqueza de detalhes do seu texto, me bateu aquela vontade de conhecer mais do sistema, mesmo que seja por emulação.
    Abraço!!

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  • 06/12/2011 em 9:42 am
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    Lucas :
    Mas tenho um vídeo em que aparece eu jogando MSX no final de 1986.

    Sobe isso aí para o YouTube! Eu acho um barato quando a turma posta fotos e vídeos antigas com consoles retrô.

    E sim, eu também tentava entrar ali com o carrinho! Será que todo mundo que jogava Interlagos fazia isso?

    jeanshinobi :
    E ai galera do Gagá Games,gostaria de um conselho.Apesar de ter 15 anos amo jogos antigos(sou retrogamer assumido) e muitas das vezes sou zuado por isso.O que eu devo fazer?Deixo pra lá ou mostro que o NES é melhor que qualquer jogo com sensor de movimento ? Valeu

    Cara, os gênios sempre são incompreendidos porque são diferentes das pessoas comuns. Mas fique tranquilo: hoje eles estão te sacaneando, mas daqui a uns dez anos você vai ficar rico com a sua inteligência e vai viver cercado de belas garotas, enquanto seus amigos burraldos só vão arranjar tribufus ^_^

    Brincadeiras à parte, o conselho que eu te dou é o que eu tento aplicar quando alguém vem me sacanear por qualquer motivo: leve na sacanagem também. A coisa mais importante da vida é ter senso de humor.

    @Tonshinden
    @NandoMagoo
    @Atma Bernardo
    Vai ter mais sobre o Odyssey aqui sim, aguentem firme!

    @Marcus Garrett
    Rapaz, eu amava aquelas caixinhas. Abria e fechava quinhentas vezes, achava uma coisa moderníssima. Aliás, os cartuchos também eram bacanérrimos com aquela alça para puxar… para a criançada, mesmo sem o videogame em si, os cartuchos e as caixas já eram uma brincadeira.

    @Paulo Coelho

    Ah, Senhor das Trevas… ainda lembro que eu acreditava que, se marcasse muitos pontos, ele apareceria na tela igualzinho à foto do manual… doce ilusão!

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  • 07/12/2011 em 10:12 am
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    Que demais Orakio! Rapaz, realmente esse 3 em 1 que acompanhava o Odyssey era um bundle fantástico. E, cara, que hilário a comparação com o circuito de Interlagos… acho que a gente nem associava mais com o circuito real ao ler “Interlagos!” com ponto de exclamação no final, só se vê Odyssey nessa palavra, hahahahah! Muito boa!

    História idiota: Eu odiava o Formula 1 (não sei porque!) mas adorava o Interlagos!! Tanto que, quando finalmente ganhei o Atari (jogava Odyssey na casa de um vizinho de porta), lembro que sonhava em ter um jogo como… Interlagos, no Atari! Nunca achei um igual, o mais próximo foi o Dodge’em, que nem é de corrida na verdade apesar de ter carros — mas me apeguei ao jogo porque… parecia com Interlagos! Deve ser aquela coisa do “a grama do vizinho é mais verde” hehe!

    “uincuintribincuntrinculado”? Abrindo emulador do Odyssey aqui… 😛

    Na época, acho que muita gente achava o Odyssey “melhor” (eu era um deles) que o Atari por causa da aparência, teclado… e Senhor das Trevas! Gagá então, que tinha o Em Busca dos Anéis Perdidos nem se fala… 😀

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  • 20/04/2020 em 11:09 am
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    Este também foi meu primeiro video-game. Ganhei ele no natal de 1983 quando eu tinha 5 anos de idade e infelizmente não o tenho mais, mato a saudade dele somente através de emuladores, jogando “Senhor das Trevas”, “Tartarugas”, “Ovni”, “Defensores da Liberdade”, “Come-Come II” entre outros que eu tinha na época.

    A notícia boa é que atualmente com alguma grana dá para comprar lá fora um usado em excelente estado de conservação, inclusive com o acessório “The Voice” (não vendido por aqui na época), onde vozes são emuladas em diversos jogos.

    OBS: Estou mesmo respondendo esse post no ano de 2020….mas como o assunto é mesmo retrogaming, isso não importa!!!!!

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