Vamos combinar um negócio: jogo de nave é difícil por natureza. É raro pintar um joguinho de nave que a gente consiga terminar relaxado, num fim de semana, não é não? E a graça do jogo de nave está mesmo em tentar outra vez… e outra… e outra…

Tá bom, até aí tudo bem. Mas mesmo tendo isso bem definido na sua cachola, R-Type é um jogo pauleira. Rock n’ roll mesmo. E se você já penava com a ótima adaptação do jogo para o Master System, vai penar ainda mais com esta aqui, que tem uma pegada mais rápida, menos espaço na tela e sprites maiores. É, meu amigo, o que era complicado ficou quase impossível!

Vocês já devem ter lido o post do Breder sobre o R-Type de Master System, mas para quem não leu eu dou uma resumida em como o jogo funciona: trata-se de um shoot ‘em up de ação lateral. A tela se move automaticamente para o lado enquanto você controla a nave R-9. O tiro pode ser carregado para ganhar mais força, e há power-ups que aumentam a velocidade da nave, mudam a arma principal e acrescentam mísseis auxiliares. Mas a peculiaridade de R-Type está na cápsula especial, a Force (também conhecida nas rodas de samba retrô como droid), que pode ser acoplada como um escudo tanto à parte frontal quanto posterior da nave. Ao toque de um botão, a Force pode ser lançada, flutuando nas proximidades e disparando seus próprios tiros.

Mas isso tudo vocês já devem saber. E qual é o babado da versão de Turbografx-16?

Para começar, é bom esclarecer os fatos sobre as versões do jogo para o console da NEC. A primeira saiu em 1988 para o PC Engine, o Turbografx-16 japonês, no formato de cartão (o HU-CARD, que seria o equivalente aos cartuchos do console). Devido às limitações de espaço, o R-Type japonês ocupa dois cartões diferentes. Quando o jogo chegou aos Estados Unidos em 1989, alguém conseguiu tirar um coelho da cartola e colocar o jogo inteirinho em um cartão só. Mas ainda existe uma outra versão, também para o PC Engine/TG16, só que em CD ROM, acrescentando cenas narradas e remixes pouco inspirados da trilha original. A versão em cartão, que na minha humilde opinião é a melhor, foi a que chegou ao Virtual Console do Wii, e foi essa a versão que joguei e sobre a qual vamos falar hoje.

O primeiro ponto de destaque da versão do TG16 são os gráficos. Os sprites e os cenários estão muito fiéis aos do arcade, perdendo só um pouco nas cores. Como os sprites ficaram bem grandes, a tela é expandida um pouco além do campo de visão normal, ou seja, quando você sobe um pouco com a nave a tela sobe um tiquinho para mostrar mais um pedaço do cenário. Mas fique tranquilo, pois é muito pouca coisa e em momento algum a ação é prejudicada, nenhum inimigo misterioso vai se aproximar lá pela beiradinha da tela sem que você consiga vê-lo. Tirando esses pequenos detalhes, R-Type no TG16 é praticamente uma réplica do título original dos arcades.

O jogo roda a uma velocidade excelente, sem momentos de lentidão e pouquíssimo pisca pisca. Na verdade, às vezes a ação é tão intensa que você vai sentir falta de um pouco de lentidão ^_^ Os chefes continuam enormes como no arcade, e a música… eu arriscaria dizer que soa até melhor do que a do arcade, e olha que não estamos falando de um jogo em CD ROM, mas sim em cartão.

Se por um lado esta versão de R-Type é ainda mais difícil do que a do Master System, por outro ela conta com uma conveniência: um botão de turbo para o tiro. Quem conhece o TG16 sabe que os controles do console tinham uma chavinha para ativar o turbo, e felizmente esse recurso foi reproduzido no Virtual Console. Quem jogar com o Wii Classic Controler pode disparar manualmente “metralhando” o botão B, ou disparar tiros continuamente segurando o botão Y.

Apesar de todo esse papo sobre dificuldade, R-Type é mais um caso de paciência. Ao contrário de outros shooters, que exigem reflexos rápidos, o truque aqui está na memorização. Os inimigos seguem padrões de movimentação predefinidos, e você precisa decorá-los. Quando você começa a memorizar as fases, percebe que está quase dançando um balé espacial, movendo-se para destruir um inimigo e já preparando uma manobra para pegar outro que ainda nem apareceu, mas que você já sabe por onde vai vir. Essa coreografia é que torna R-Type tão único e viciante, mas para aprender todos os “passos”, só com muita tentativa e erro. E se você aceitar um conselho, não pegue todos os power-ups de aumento de velocidade. Dançar mais rápido do que a música é tão ou mais difícil do que dançar mais devagar.

À esquerda: o “minhocão” fica “evoluindo” e atirando pela tela enquanto você tenta se manter vivo. À direita: o chefe-nave-gigante que é uma fase inteira do jogo e virou referência no gênero.

Eu confesso que ainda não consegui terminar o jogo. Já memorizei as quatro primeiras fases — e a quarta parece um balé mesmo, porque os inimigos vêm de todas as direções e eu já sei direitinho os passos que a minha nave tem que dar no salão espacial para a dança sair perfeita. Mas a quinta fase, vou te contar… ainda estou tentando descobrir qual é a melhor sequência, e são raras as vezes em que consigo passar dela. Não que adiante muito, porque a sexta fase é um inferno, com blocos gigantes se movimentando pelos mesmos corredores estreitos que sua nave… detalhe: ainda rola um chefe exclusivo nesta fase, que termina sem chefe nas outras versões.

Eu já era para estar de saco cheio de tanto apanhar de R-Type, mas é tão gostoso ver aquela dança acontecendo… um-dois, um-ois, um-dois…

Shooter que me pariu: R-Type (PC Engine)
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20 ideias sobre “Shooter que me pariu: R-Type (PC Engine)

  • 23/06/2011 em 9:06 am
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    pena que essa versão “turbinada” do game só pegue no WII. graças a matéria desse jogo feita anteriormente,criei coragem para baixar ele no emulador do Master e me lembrei porque o jogo me deixou traumático com 9 anos de idade. os cara que fizeram esse jogo realmente não tinham mãe, ainda estou empacado no terceiro estágio…

    mas como sou Brasileiro e não desisto nunca,vou insistir até zerar.
    IT´S A PROMISSE!!!

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  • 23/06/2011 em 9:17 am
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    Viciante demais, mas ainda prefiro a de master, acho que pelo efeito retrô que tem, ainda tenho o cartucho, com a capinha e tudo! Uma pena que não saiu algum remake legal, pelo menos eu vi os de PSP e são mais pra um jogo de estratégia do que um shooter!

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  • 23/06/2011 em 9:19 am
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    Como fã da franquia R-Type, posso dizer que o do Turbografx nos traz mesmo uma experiência bem próxima daquela do arcade. Creio que seja a melhor versão em termos de fidelidade.

    Em 1996, época em que rolou o boom de sharewares e freewares para PC, me apresentaram um CD-ROM que trazia um emulador de Turbografx e centenas de jogos. O cara que me apresentou esse CD não fazia ideia do que ele tinha nas mãos. Mas eu sabia, e pensei logo no R-Type. Fiz uma cópia do CD e me diverti não só com ele, como também com outras lindas adaptações, como a do Tiger Road. Talvez um dos grandes trunfos do TG seja essa fidelidade aos arcades. Show o post.

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  • 23/06/2011 em 1:14 pm
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    Sempre achei R-Type muito difícil. Bem mais difícil que Gradius. O que eu acho interessante em shmups (fora que vc atinge o nirvana quando está desviando de dezenas de tiros :D) é que eles deixam uma marca na memória. se vc jogar o mesmo jogo que zerou daqui a uns 5 anos vai se sair razoavelmente bem, e lembrar de onde estão os inimigos e tudo mais. Jogar shmup é meio que como andar de bicicleta: a gente nunac esquece ^^

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  • 23/06/2011 em 1:42 pm
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    R-Type é a sétima maravilha dos shmups. Com o visual mais assustador dentre todos jogos de nave, inspirado em Alien (obrigado mais uma vez H.R. Giger :D), bom saber que essa deve ser a versão doméstica mais próxima do arcade – como você bem ressaltou, mais difícil consideravelmente em relação ao port do Master. Sem slowdown em R-Type? Complica… eheheheh

    Acho que quase todo jogo de nave é um balé como você falou, mas ainda acho que nos bullet hell é que essa característica é mais pronunciada: neles é dançar PERFEITAMENTE bem ou nada; nos shmups clássicos, como R-Type, dá pra fazer uso dos reflexos e se resolver mesmo sem decorar cada cantinho da fase. Tenta isso num Ikaruga da vida… não sai do lugar, só reflexo não dá conta – tem de jogar conforme a música mesmo, rs…

    Valeu Gagá por nos apresentar mais um R-Type, o melhor jogo de nave da galáxia!!! Vou procurar escutar a trilha agorinha, talvez até melhor que do arcade? Bônus!!!

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  • 23/06/2011 em 3:58 pm
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    @carlos
    Tô sabendo, Carlos, vou postar a notícia no Retro-rápidas de sexta-feira.

    Pena que não tenho um Mega Drive, senão era capaz de comprar para ver como ficou o jogo.

    @Eric Fraga
    Chegou a ver o episódio sobre R-Type no Turbo Views? O cara não só admite que nunca zerou como diz que SABE que nunca vai zerar, he he… eu não tenho muitas esperanças não, mas continuo tentando, rs…

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  • 23/06/2011 em 5:40 pm
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    Gagá,gostei do seu texto e admiro sua coragem para enfrentar um R-Type mais difícil que o do Master,eu não faria isso!Quem jogar no controle classic do WII a jogatina talvez fique ,digamos, mais confortável e não mais fácil do que em um controle original do Turbografx, de qualquer modo a forma como você comparou a movimentação em tela a uma coreografia de dança e até mesmo ao balet ficou interessante,porque o único jeito de vencer parece ser pela memorização mesmo.
    Escrever sobre R-Type sem cair na mesmice é para poucos.Gagá gostei da perspectiva do seu texto.Abraço.

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  • 23/06/2011 em 6:28 pm
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    Fã de game “de navezinha” é que nem mulher que gosta de apanhar do marido hehehe. Quanto mais leva surra, mais apaixonado fica. Eu sou da tese de que jogamos games normais para chegar ao fim deles, mas que jogamos jogos de navezinha só para vermos até onde conseguimos ir antes da inevitável derrota. Vocês lembram do filme Jornada nas Estrelas II – A Ira de Khan, onde a academia aplicava nos cadetes espaciais um teste chamado Kobayashi Maru, que sempre acabava com a derrota do cadete e que era feito para ensinar a pessoa a perder? Ainda acho que todas as desenvolvedoras de games de navezinha se basearam nesse mesmo princípio hehehehe.

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  • 23/06/2011 em 7:19 pm
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    @Orakio Rob, “O Gagá”
    Assisti agora… “se você perde uma vida num jogo, dá vontade de matar alguém… então R-Type não é pra você” eheheheheh muito bom, como sempre!

    Pelo review a gente já sacou que a estratégia você já sabe: só pegar um speed up, memorizar os padrões e conseguir se manter nos espaços onde aqueles tubos estrada sexta fase… ah… não esqueça de usar o pause feito louco no último boss 😉 e um recado de umas belas japinhas pra te animar: http://youtu.be/eMa2qJJN3Mo?t=21s 😉

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  • 24/06/2011 em 8:10 am
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    Excelente artigo Orakio! R-Type é o meu shooter favorito 🙂 Só foi pena vc não aprofundar mais a versão CD-ROM. A intro é looooongggaaaa, mas o remix da banda sonora é excelente 🙂 É pena que não tenham lançado essa versão na Virtual Console da Wii. Ah se vc tiver uma X360 veja o R-Type Dimensions, é obrigatório para qualquer fan da saga R-Type!

    Abraço!

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  • 02/07/2011 em 2:08 pm
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    R-Type!
    Tudo nele é nostálgico, e difícil. Mas vale a pena terminá-lo.
    Consegui finalizar este jogo tenebroso no Sega Master System (fiquei realmente doente por causa desse jogo ao ponto de parar no hospital decorrente à um princípio de epilepsia, no caso em que estava indo para o final do jogo e acabei vomitando no pé do médico que me atendeu; nessa época eu tina somente 12 anos . . .) mesmo tendo que dar uma pausa por uma semana que na verdade quebrei essa pausa em 2 dias somente de repouso jogando escondido.
    E finalizei ele tambem nas versões de PS1 e PS2 e conseuig baixar a rom do Complete CD do maravilhoso NEC PC Engine (meu sonho de consumo e aceito doação rsrsrs.), que dizem que é a mais tenebrosa das versões e ja joguei um pouquinhoe senti o drama.
    Espero dessa vez não morrer rsrsrsrs.

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