“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

 

Olá crianças!

Um dos pintores da Renascença que mais gosto é Brueghel. a primeira das telas dele que mais me chamaram a atenção foi a “Torre de Babel”. É preciso notar que vários pintores do período tem o mesmo nome porque eram da mesma família, mas o estilo de todos é bem semelhante e às vezes a diferença só é pertinente aos críticos de arte ou estudiosos da época. E, tendo em vista que não me encaixo em nenhum destes casos, optei por não entrar nestes meandros.

A temática da Torre de Babel inspirou Pieter Brueghel, o Velho a pintar três quadros. Este é meu preferido.

 

Seja como for, quando fui pesquisar uma imagem de outra tela conhecida dele chamada “Jogos de crianças”, deparei-me com um site curioso em que o seu autor dispõe não somente uma versão da pintura original, mas uma variação em que mostra “os jogos de hoje”.

Como podem ver nas imagens abaixo, a diferença é bastante nítida. Enquanto que no quadro original quase todas as brincadeiras aconteciam fora de casa, nesta versão que busca retratar os jogos alguns séculos depois, há somente uma criança correndo do lado de fora. E, claro, ela carrega um console nos braços: provavelmente indo até a casa de um colega para jogar com ele. 

Ao contrário do que possam imaginar, eu acho a crítica visual um tanto quanto pertinente. É inegável que não brincamos e nem jogamos mais fora de casa com a mesma frequência de algumas poucas décadas atrás. Evidentemente, há todo um contexto diferenciado: o medo generalizado das ruas e das pessoas que andam nelas é somente uma das razões para isso. E, enclausurados, as crianças não têm muitas opções a não ser games e jogos de tabuleiro (ocasionalmente, claro, já que é necessário mais de um jogador na maioria deles).

Releitura do quadro de Brughel pensando nos jogos de hoje em dia.

 

Seja como for, não é bem disso que quero falar para dizer a verdade.

Outra coisa me ocorreu quando vi essa reinterpretação. Existe a ideia generalizada de que “videogame” é uma coisa só no mesmo sentido em que “futebol” é uma coisa só (sem entrar, claro, na diferença que existe entre o futebol e o futebol americano). Seria como dizer que “livro” é sinônimo de “Memórias de um Sargento de Milícias”. Conseguem perceber a ligeira diferença?

“Videogame” como um todo não é um mundo-jogo. Agora, os games específicos são, cada um, um mundo diferente que nos seduz e nos convida a nos deixarmos levar por ele. Retomando a ideia da literatura que falei pouco acima, “livro” como um todo não é um jogo, mas livros específicos sim. Cada história e cada game é uma aventura diferente.

Quadro original “Jogos de Crianças”. Já postei ele por aqui mais de uma vez para ser sincero. 🙂

 

Claro que, se formos realmente além na discussão, descobriremos que “videogame” e “livro” são também mundos. Lembram-se quando citei Merleau-Ponty e ele afirma que todo fenômeno é inesgotável e que todo quadro é um mundo? A ideia é a mesma. Mas o que queria realmente refletir com vocês é justamente o fato de que os jogos de videogame são realmente algo plural: são muitos jogos diferentes (e semelhantes às vezes) entre si.

Evidentemente que o número e a multidão de games não é algo bom em si mesmo. Acho até provável que seja algo ruim como já discutimos isso várias vezes aqui.

É isso que queria compartilhar com vocês esta semana. até o próximo post!

Academia Gamer: Video Games
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17 ideias sobre “Academia Gamer: Video Games

  • 26/07/2011 em 9:09 am
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    Mestre-Senil, eu vi o primeiro quadro de brunhel e quase levei um susto. imaginei algum artista dessa época tivesse retratado o vício por videogames ia até pesquisar o nome desse cara que pintou, mas descobri aqui que é uma montagem, e das bem feitas.

    mas esses dois quadros me fez pensar, quantas crianças deixam de brincar lá fora no quintal, empinar uma pipa, jogar bola, brincar de pega-pega para ficar enfurnados em casa jogando games? o assunto é tão sério que ao invés de uma criança brincar de empinar uma simples pipa, prefere empinar uma no videogame. mas isso deve ser o preço da evolução da tecnologia. e sobre livros,mundos e games ai vai depender do gosto de cada um. eu prefiro ler todos os meus livros de Harry Potter(sou fã e não tenho vergonha de admitir :)) do primeiro ao sétimo livro ao jogar cada um dos games dele. e quem me dera tivesse um livro da série Langrisser para eu ler ou um do Phantasy Star(que eu passei a gostar da série nessa semana) ia me acabar de ler. ótimo post como sempre, Mestre Senil, o Sábio. ^^

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  • 26/07/2011 em 10:38 am
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    @leandro(leon belmont)alves
    hehehe Bem bacana não é essa releitura? Eu gostei bastante quando vi e achei que seria legal compartilhar. O Brueghel deve ser o único artista da Renascença que eu realmente aprecio; nem do Da Vinci eu gosto muito para dizer a verdade…

    Isso é realmente uma pena… Usou o exemplo da pipa, mas podemos usar o próprio futebol. Antes, você achava gente batendo uma bolinha em qualquer lugar. Hoje, isso é bem mais raro; e ao mesmo tempo há o sucesso de games de futebol.

    O problema é ficarmos passivos com relação a isso e pensarmos da forma que falou “é o preço da tecnologia” porque somos nós que temos que dar os limites a ele e controlá-la. A técnica é uma das muitas formas de conhecimento e prática que podemos ter. Antes, a técnica (sei lá, artesanato) tinha uma finalidade em seu uso (criar uma estátua entalhada na madeira). Hoje, ela se tornou um puro meio sem qualquer relação com um fim. Com a supremacia da técnica atual, ela exige de nós que retiremos da natureza tudo o que ela tem a nos dar: ao invés de usarmos a técnica como instrumento, somos instrumentos da técnica… E é esse o verdadeiro perigo. Como diz Chesterton em um livro dele chamado Hereges: “o pecado não é a máquina a vapor ser mecânica, mas o homem se mecanizar”.

    @piga
    Fala Piga! Não tem problema. Se ficar alguma coisa confusa, pode perguntar mesmo que eu respondo.

    O que quis passar é que cada jogo é um mundo. Ou seja, ao falarmos “videogames” estamos nos referindo a uma pluralidade de mundos-jogo e não um só. Olhando a releitura do quadro do Brueghel, alguém pode pensar que as centenas de jogos retratatos no original foram reduzidas a um único jogo; mas isso é incorreto. Na realidade, cada casinha ali que está com um console (presumo hehe) ligado pode estar com um jogo diferente.

    Usei a ideia de livros para passar a mesma ideia porque nessa área não ocorre a mesma coisa: ao falarmos “livros” a maioria já subentende vários textos com histórias e mundos diferentes.

    Ficou mais claro agora? Se ainda está confuso, me fale que tento explicar de novo sem nenhum custo adicional. 🙂

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  • 26/07/2011 em 10:53 am
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    Senil

    Esse quadro nunca vi ele dessa forma e me lembro que eu mesmo curtia muito bicicleta e bolinha de gude.
    Hoje as crianças são preguiçosas e desmotivadas porque tem tudo na mão.
    Acho que vai da educação de cada um pois hoje optei por não ter filhos e isso é uma escolha minha pessoal.
    Não sei se conseguiria dividir ele com o que eu faço ainda mais pq estou meio sem paciência e imagino o trabalho dos Old Gamers como eu que são pais aqui nesse site.
    Temos de controlar e não sermos controlados, pois nascemos livres é isso.

    Ulisses Old Gamer 78

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  • 26/07/2011 em 12:39 pm
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    @Ulisses Old Gamer 78
    Eu brincava bastante disso também (bolinha de gude porque até hoje não sei andar de bicicleta hehehe). Certamente que a educação dos pais influencia muito nisso, mas também o próprio ambiente em que vivemos: com medo o tempo todo, insegurança, notícias de sequestros, pedofilia etc., muitos pais preferem queseus filhos fiquem em casa mesmo. Alguns nem mesmo deixam que passeiem na casa de colegas.

    Filhos com certeza dão trabalho e exigem dedicação e sacrifício, mas eu acho que vale a pena no final das contas… Ainda não sou pai, mas espero ser um dia, um tempo depois de ter me casado. Eu já compartilho com meus sobrinhos minha paixão por games; certamente faria o mesmo com meus filhos. Isso faz parte daquela coisa de tradição que temos falado aqui de vez em quando.

    @Cleber
    Bem legal né? O cara fez um excelente trabalho na reinterpretação da obra original.

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  • 26/07/2011 em 4:00 pm
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    Com relação ao fato das crinaças não brincarem mais como “antigamente” está mais relacionado a insegurança das ruas do que o brilho tecnológico, de fato não dá mais pra deixar os moleques soltos como antes, a não ser que você more em algum condomínio fechado ou algo do tipo (uma gaiola maior), e isto obriga elas a terem computador, vídeo-games e afins como diversão.

    Sobre o assunto central é o que eu sempre falo, vídeo-game é uma mídia, assim como temos a televisão, cinema, música e afins, então de fato cada jogo vai nos mostrar algo diferente. É por isso que eu não concordo quando alguém diz por exemplo que considera vídeo-game arte, porque isto pode se aplicar a alguns jogos, mas não a todos. Nem mesmo a diversão que é o maior foco do aparelho é uma verdade absoluta, já que consoles podem executar outros tipos de softwares, podem ser utilizados até como ferramentas de trabalho. É este mesmo tipo de visão equivocada que faz com que pais vejam uma notícia de jogo violento na televisão e proíbam os seus filhos de jogar qualquer coisa, como se fosse uma coisa única.

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  • 26/07/2011 em 4:49 pm
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    Não entendi muito bem o elemento sozinho na releitura. É o único que não gosta ou não tem videogame? haha
    Às vezes acho que isso é bobagem, já que antes os pais também nos advertiam com coisas do tipo “larga o videogame, vai brincar” e tal. Mas observando as coisas, dá pra notar que realmente as crianças mudaram de hábito.
    Em frente à minha casa tem uma praça, que nos meus tempos de moleque era muito movimentada o dia todo, pela garotada de toda a região. Não tinha hora ou dia. Era campo de futebol, local para empinar pipa, ciclovia, etc.
    Hoje, raramente se vê algum moleque brincando ali; muito raramente, num sábado de sol, um ou outro pai com o filhinho pequeno, e só. Virou apenas uma passagem de pedestres. Honestamente não entendo a razão de tanta mudança, pois não vejo tanta diferença de hoje para 20 anos atrás. Temos internet? Ok, antes tínhamos Atari e ficávamos trancados no quarto tanto quanto agora. Havia pedófilos, assassinos e perigos, assim como hoje.
    Talvez a questão seja mais influência da mídia, sei lá.

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  • 27/07/2011 em 3:28 pm
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    Quando ao que o Tchulanger disse, eu acho que independente do recheio que você colocar em um bolo, ele continuará sendo um bolo. Pode ser horrível, insosso, mas será um bolo.

    É sobre essa questão dos mundos em cada jogo, cada um é cada um. Para se criar um mundo você utiliza vários elementos de outras artes: fotograafia, pintura, desenho, música, narrativa… E vai-se indo. Embora niguém as utiliza muito ou inove nos jogos (aqui já entra a questão do mercado: tem público para pagar por algo que talvez ele [o público] nem tenha “bagagem” para criticar ou apreciar?).

    Assim como os livros, cinema e músicas têm seus gêneros, os jogos também. E para cada um há uma forma diferente de fazer.

    O video-game está um nível acima do cinema porque existe a tal da jogabilidade a interação com esse mundo aí. Se você tirar isso, o jogo vira apenas um filme. Só que apenas esse elemento já é um monstro de trocentos metros de diferença.

    Agora, você pega nos anos 90, quando haviam sistemas diferentes e jogos exclusivos. Se essas crianças do quadro fossem “rivais” de videogames, cada um não poderia entrar nos mundos do outro sem que houvesse uma amizade, e assim, quebrasse uma barreira de rivalidade: Seria como um corinthiano vestir a camisa do Santos e jogar pelo Santos e o outro amigo fazer o mesmo depois. cada um experimentar o jogo do outro, com táticas diferentes e habilidades diferentes que há no outro time.

    A criança que corre com um console seria um amigo tentando apresentar seus jogos para um amigo, ou um “traidor” de um console levando sua nova aquisição para testar o que os amigos jogam ou até mesmo o “último dos moicanos” que abandonou o saudável hábito de brincar na rua?

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  • 27/07/2011 em 5:49 pm
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    @Tchulanguero
    Eu acho que hoje a sensação de insegurança realmente é muito maior do que antes. Mas sobre uma fatual diferença (mais bandidos, mais assassinatos, mais pedófilos etc.), acho que deve haver certa proporção com período anteriores. É uma espécie de “pânico social” ou algo do tipo: a rua hoje é vista como um lugar perigoso pelos pais que não permitm sequer que seus filhos saiam. Concordo que o problema nem é a tecnologia em si mesma, mas a forma com que encaramos a tecnologia hoje (como “não tem o que fazer, ela vai se desenvolver muito mesmo”) também não é lá muito saudável. E isso leva as pessoas a desconfiarem de tudo antes de confiar nelas em um grau que realmente não sei se existiu em períodos anteriores da história.

    Para mim, videogames (os jogos mesmo) até podem ser chamados de “arte” desde que haja aquela diferença implícita que falamos aqui certa vez sobre “arte” e “belas artes”. E isso com relação aos jogos de verdade e não a outros softwares que os consoles podem rodar (como enciclopédias e CDs com clipes de música que o Sega CD tem).

    @Iceman
    Não, não! hehehehe Se olhar bem (pode ir no site que está marcado na imagem), ele está segurando um console nas mãos. Provavelmente está indo para a casa de algum amigo jogar. No quadro, a rua deixou de ser um lugar público (de reunião etc) e virou um lugar de passagem; exatamente como aconteceu com a sua praça e como acontece com vários lugares nas cidades. Apenas lugares privados podem se tornar públicos, mas mesmo assim, com muitas restrições (dentro de nossas próprias casas, em um condomínio de casas ou apartamentos etc.)

    Sem dúvida a mídia tem o seu papel nisso tudo que precisa ser levadoo em conta… Mas isso requer uma reflexão muito mais profunda.

    @helisonbsb
    Valeu pela força cara!

    @Tristan.ccm
    Sim, muito provavelmente ele não gosta de videogames (ou talvez somente não os compreenda). Mas é inegável que ele capturou boa parte do “espírito lúdico” das cidades de hoje em dia. Achei importante compartilhar porque antes, quando criança, eu não só jogava videogame como brincava na rua; se eu fosse uns dez anos mais novo, acho que dificilmente teria ido muito à rua brincar.

    @Leandro MOraes
    Nem precisamos de muita coisa para criar um mundo se pararmos para pensar: às vezes, somente palavras já são suficientes.

    Sobre a interação que seria única em games, eu já não concordo muito porque mesmo em filmes pode haver envolvikmento profundo. Se o movimento que temos nestes mundos só vale se for por braços, pernas e dedos então quando choramos ao ver um filme, quando rimos com uma piada nele ou algo assim não estamos interagindo com ele? Não dá para dizer que interagimos mais ou menos com as coisas: ou interagimos, ou não. E tudo aquilo a que atribuimos um sentido (seja filme, game etc.) já tem algo de nós ali.

    Ótimas reflexões ao final. Eu só tinha pensado em alguém indo para casa com o seu console. Mas a imagem de ser o último que abandonou a rua é bem mais poderosa e instigante.

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  • 27/07/2011 em 6:01 pm
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    @O Senil

    Também acho que há um certo pânico em cima disso, mas é o comportamento padrão dos pais atuais. E mesmo que houvesse um perigo da forma que é exposto, não acho que se trancar dentro de casa seja a solução.

    Quando eu falo de vídeo-game sendo apenas uma mídia e portanto nem sempre “sendo arte”, é justamente por essa capacidade de rodar coisas além de jogos, apesar que eu não sou fã dessas história de “central multimídia”, consoles são pra jogar, mas olhando simplesmente como um aparelho é algo próximo de um computador, ainda mais hoje.

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  • 28/07/2011 em 3:45 pm
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    @Tchulanguero
    Também acho que se enfurnar dentro de casa e se tornar prisioneiro do próprio castelo não é realmente a melhor coisa a se fazer.

    Sem dúvida. Eles sempre foram computadores, se pararmos para pensar; a diferença é que hoje eles aderiram a facilidades antes restritas a PCs (mesmo aqueles que tinham como ênfase principal os games – como os da NEC e até o MSX).

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  • 30/07/2011 em 12:11 pm
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    Não vejo videogames sob esta objetiva negativa. Jogar é apenas uma atividade como tantas outras – seu malefício encontra-se apenas em seu exagero.

    Além disso, sua observação sobre o comportamento infantil atual é muito limitada. Centros urbanos não possuem locais lúdicos disponíveis e adequados para toda sua população. Poucas escolas manifestam algum esforço em incentivar e manter atividades extra-classe, como atividades esportivas ou abertura aos sábados e domingos. Famílias são cada vez menores, com pais mais atarefados e menos presentes.

    Não acredito que o ato de “brincar fora de casa” seja “saudável” por sí mesmo. Depende muito da vizinhança, das companhias, das atividades e de como tudo isso afeta o desempenho de demais atividades da criança, como seus estudos. Atribuir ao videogames a culpa de determinado comportamento é fugir da responsabilidade da família e da sociedade de integrar a criança e interagir com ela.

    De qualquer forma, os melhores momentos da minha infância circundam o videogame. Não apenas pela diversão que esta atividade fornece, mas pela interação e ligações que foram possíveis graças a ela. Jogava Super Mario Bros. 3 com meu pai, deixando o console ligado entre sábado e domingo na tentativa de zerar o jogo alugado. Divertia-me com meu irmão mais novo jogando Sonic 2, onde abusávamos da invencibilidade do Tails. Despertou em mim um interesse que pude compartilhar com diversas outras pessoas, sendo que minha melhor amizade começou exatamente através do videogame.

    Por fim, não pude deixar de notar, mas esta releitura de “Jogos de Crianças” fede à nostalgia e conservadorismo.

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  • 30/07/2011 em 12:49 pm
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    @Versiani
    Eu já tenho pensado que nem a questão de “exagero” ou “equilíbrio” seja uma boa definição do que é saudável ou não com relação a jogos, mas não alimentei muito essa reflexão então nem vou entrar por este caminho (quem sabe em um próximo post?)

    Se refere ao que falei no próprio post quando fala de limitação? Sem dúvida que é. Não tenho pretensões de dar respostas aqui ou elaborar teses, mas de discutir. Tento sempre deixar pontas soltas para fomentar a dicussão (que é o que realmente me dá mais prazer nessa coluna).

    Sem dúvida que há poucos lugares para se jogar e brincar fora de casa hoje em dia. Mas, se é que posso dizer, brincamos pouco fora de casa porque não há lugares para fazê-lo, ou não existem mais lugares porque há tempos deixamos de fazê-lo? Isso, claro, somado ao crescimento desenfreado dos centros urbanos e a transformação corriqueira de praças e parques em “lugares de passagem” ajuda muito nesse processo.

    Então, como você mesmo diz, não é somente o exagero dos jogos que é critério para definir o que é bom ou não neles. Concordo plenamente que uma série de fatores influencia nisso tudo; se realmente achasse que brincar fora de casa é a melhor coisa a se fazer, não estaria escrevendo em um blog sobre videogames, não é verdade? 🙂

    Melhorar ou contribuir para que as crianças (e todas as pessoas) tenham experiências de jogo genuínas depende muito de nós mesmos e não do governo (mais parques ou menos impostos para games) ou da sociedade. Afinal, a sociedade e o governo não jogam conosco (pelo menos não aqueles jogos que nos são divertidos), mas nossos pares sim. Assim como existem milhares de mundos nos CDs, DVDs e cartuchos de games que admiramos, também existem outros milhares fora de casa (ou apenas com a TV ou monitor desligados).

    O videogame não isola em si mesmo e eu não tenho como discordar de você. Algumas pessoas acabam preferindo os mundos coloridos de alguns games ao “mundo real”; assim como acontece também com jogos que são tradicionais há mais tempo que os games.

    Certamente que a releitura é nostálgica. Eu mesmo critico a nostalgia que clama “um retorno a um tempo mais feliz”; tanto para esse tipo de Arcádia como também aquela presente em muitos jogadores de games antigos (que dizem que tudo novo é ruim, por exemplo, e que gostaria que “tudo fosse exatamente como antes”). E, embora o termo “conservador” soe hoje como ofensivo, eu acho que se não fossem por algumas pessoas corajosas para defender alguma coisa “velha” como sendo tradicional e importante, nós não teríamos sequer uma história da humanidade para contar.

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  • 30/07/2011 em 2:29 pm
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    Obrigado pela correção, Senil. Além do uso exagerado, há também motivo (como usar videogame como fuga da realidade) e conteúdo (como restrição de conteúdos violentos e eróticos), dentre outros – em resumo, também é uma atividade que necessita de acompanhamento.

    De qualquer forma, acredito que a escolha por videogame e internet encontra sua maior causa na falta de opções. Em cidades do interior, famílias participativas e escolas com atividades extracurriculares há sim grande interesse e participação.

    Veja este blog, por exemplo: um local onde pessoas com o mesmo interesse podem conversar e socializar. Como bem disse, jogar videogame não é atividade solitária isoladamente. Assim como ler um livro ou assistir um filme, é material para conversa, algo que permite a troca de ideias e o despertar de relacionamentos – um potencial meio de integração.

    De qualquer forma, quando citei “sociedade” não me referia especificamente a governo ou população de um país. Falo de famílias, limitadas a pais e filhos que pouco se relacionam; vizinhança, pouco participativa; escolas, que possuem péssima educação e horrível formação humana; comunidade, onde exemplos de sucesso são exceções.

    Sim, infraestrutura possui sua importância, mas nada disso adianta se não houver mobilização. É mais cômodo comprar um brinquedo que participar da vida de filhos, alunos, familiares e vizinhos. Em resumo, não houve uma modificação do interesse infantil, mas sim do ambiente ao redor das crianças.

    De qualquer forma, não tenho nada contra a conservação de nosso passado – afinal, este nos oferece conhecimento e experiência indispensáveis. Simplesmente não consigo aceitar a ideia de favorecer um tempo em detrimento de outro.

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