“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

Tive a grata oportunidade de assistir esses dias o filme Valente que conta a história de uma princesa ruiva que quer “cavalgar pelos campos atirando flechas ao pôr-do-sol” como diz seu pai a certa altura. O trailer havia me chamado muito a atenção tempos atrás (vi em meados do ano passado ainda) e isso acabou fazendo parte do pre-ludere (prelúdio) do meu envolvimento com a película.

Não se preocupem porque não revelarei nada do enredo, apenas elementos bem gerais que em nada afetarão suas surpresas no decorrer dele caso ainda não tenham se divertido com ele.

Ainda assim, tinha minhas reservas com relação a ele. Imaginava que seria aquele tema tão recorrente nas obras de arte contemporâneas: a rebeldia e o desejo pela revolução através da destruição e esquecimento da tradição. E, claro, através das mãos de uma adolescente (rebelde) que opõe-se a seus pais (tradição). Vemos isso em todo canto hoje em dia e em games não é nada diferente.

O elogio à liberdade e à novidade hoje em dia também passa bastante por isso: desinteresse pelo passado, ignorância das origens da forma com que pensamos e por aí vai. Logo, pensei que não seria nada muito diferente disso.

Porém, surpreendi-me porque saí da sessão com a impressão de que souberam demonstrar não apenas a importância de se pensar o novo, mas também que este não é possível a não ser enraizado na tradição. Toda revolução fundamenta-se no tradicional e nunca se coloca como oposto completamente a ela.

E eu acredito que boa parte do nome do filme passe por isso. A personagem principal merece o adjetivo de Valente porque ousa pensar o novo dentro da tradição. Ela é corajosa porque prova da verdadeira coragem que é a de sustentar qualquer mudança naquilo que já está construído.

Nós, jogadores de videogame das antigas, sabemos bem o que é isso. Muitas das coisas que gerações mais recentes perdem é porque há essa preocupação de sempre instaurar o novo a cada título lançado. Cada jogo é (e vende-se como) uma revolução, algo inédito e sem relação com o anterior. Com essa febre da novidade, as pessoas perdem aquilo que é mais estrutural e essencial.

Não que tudo que é passado seja melhor por definição! Muitas coisas novas são melhores que as antigas, mas só são o que são porque fundamentam-se no antigo.

Ser valente me parece alguém que busca restaurar o velho através do novo. Um soldado que mantém sua posição de defesa e não alguém que simplesmente ataca. Um herói genuíno que salva e resguarda como trabalhamos em um post anterior.

O que me aflige é pensar que em nossa época pouco se pensa nesse tipo de coisa e que provavelmente muitos games excepcionais serão esquecidos simplesmente por falta de zelo em preservá-lo. E “preservar um jogo” não é colocá-lo em um museu ou fazer exposições sobre ele, mas sim falar a respeito para os mais novos, fazê-los jogar, narrar momentos emocionantes e memoráveis que passamos neles, tentar seduzi-los da mesma maneira com que uma capa ou uma simples imagem em uma revista já fez conosco em algum momento.

Por isso que é importante não apenas jogar, mas pensar e conversar a respeito dessa nossa entrega genuína e maravilhosa que sabemos valer a pena. Esse é o principal desse espaço criado e estabelecido para que aqueles que não se contentam em apenas jogar ou ler informações a respeito de games novos e velhos possam refletir a respeito disso tudo. Afinal, recebemos a bendita graça da razão, não é verdade?

E é dessa maneira que vejo e percebo a todos nós que participamos da Academia Gamer. E é com esse agradecimento genuíno à valentia de vocês que me acompanham e dialogam comigo que finalizo nosso centésimo encontro.

Até o próximo post!

Academia Gamer: Valente
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7 ideias sobre “Academia Gamer: Valente

  • 02/10/2012 em 9:00 am
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    é, muitas empresas que tiveram jogos bons, realmente cativantes no passado não dão o devido valor hoje. mas com o que você falou sobre termos a coragem de enxergar velho no novo…não sei como vou dizer isso, mas as vezes é mais nobre deixar um certo game no limbo,do que para traze-lo nessa geração e fazer jogos ruins com a franquia.

    Sonic,Final Fight,Golden Axe e Bomberman são os mais famosos exemplos. tudo bem que Sonic Generations tem o Sonic Barrigudinho.(que convenhamos, ele salvou o game) mas até que chegassem nesse jogo, o Ouriço teve muito jogo ruim. ….e sei que nós queriamos um Final Fight(decente!!) ou um Phantasy Star na época atual, mas se é para programadores que “fingem” saberem e gostam da franquia…melhor deixarem quieto.

    alguém devia contratar os caras da Bomber Games, é o que digo.

    claro que nossos jogos velhos atualmente,estão disponíveis em PSN,XBLA e no Acervo do WII. mas o que tem nesses consoles são muito pouco se comparamos a Emuparadise ou Rom Hustler, sem falar que as vezes cobram horrores por certos jogos, que desestimula alguém a compra-los.

    “Não que tudo que é passado seja melhor por definição! Muitas coisas novas são melhores que as antigas, mas só são o que são porque fundamentam-se no antigo.”

    está certo nisso mestre, mas…sei-lá, quase nenhum game dessa geração me empolga para tê-lo ou mesmo joga-lo. como já falei antes aqui, tenho um console moderno…mas quem joga nele é mais meu irmão e amigos, prefiro ficar no meu N64,Gamecube,Saturn(finalmente comprei um!!! HEE-HOO!!!HEE-HOO!!!!!) e nos outros games, vou de emulação mesmo, oras.

    “Ser valente me parece alguém que busca restaurar o velho através do novo.”

    estaria falando de remakes? hmmm…não tenho nada contra esse jogos, apesar de alguns old schools torcerem o nariz para eles.

    e acho que é isso.

    Hee-Hoo Mestre Senil!!!

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  • 02/10/2012 em 2:33 pm
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    centésimo? ô loco meu!(como diriao faustão), não tenho certeza desde quando estou acompanhando por aqui mas se tem um dia da semana que eu lembro que há um compromisso ali, são as terças com o academia gamer.

    eu ainda não vi o filme do post, ultimamente ando vendo poucos filmes e séries e no passado eu fazia isso demais. Quanto a preservar o jogo, refazer ele mas não pensando em algo totalmente novo e sim baseado nas suas tradições, quando pensando nisso lembrei logo de Mega Man. Ele é um jogo que anda esquecidão se formos olhar pra geração atual e tal mas eu fico lembrando tanto da série do Nes que vai até o 6 e seus jogos são sensacionais, também a série X que joguei os de Snes e são muito bons. Eu gostaria de ver esses jogos refeitos mas com efeitos que usam nesses jogos do New Mario Bros e por aí vai, eles ficam muito bons, a essência não se perde e fica bonito de jogar e admirar. Lembrei logo deles, Mega Man 3 e Mega Man X possuem trilhas que não me saem da cabeça.

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  • 02/10/2012 em 3:28 pm
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    Reflexão interessante. Enquanto eu lia, foi inevitável não deixar de lembrar da franquia de Valis – The Fantasm Soldier, que na época, foi grande responsável por promover a inclusão de protagonistas femininas na 4ª geração. E como sabemos, com a entrada da Sony do mercado de hardware na 5ª geração, as mulheres passaram de heroínas a um personagem sex appeal, e a própria franquia de Valis foi vítima dessa “evolução” quando a nova detentora dos direitos da franquia lançou Valis X, um erogame nos anos 2000.

    Mas isto encontramos além dos games. Em livros como Guerra dos Tronos vemos que o mundo da fantasia de hoje já não deseja passar a ideia de cavaleiros lutando por seu reino com bravura e honra como em O Senhor dos Anéis, para passar a imagem de homens que lutam apenas para cumprir com seu dever e até questionando o código para o qual fizeram o juramento.

    Em nosso mundo contemporâneo a ideia de preservar o antigo é vista como obsoleta e retrógrada, talvez porque as pessoas já não conhecem mais sua identidade cultural, até mesmo e países como o Japão, que já foi muito tradicionalista, isso já está acontecendo (embora mais devagar que no ocidente). Penso que nos dias atuais, o conformismo e o desejo de satisfazer os prazeres individuais falam mais alto do que preservar as tradições dos nossos ancestrais. O que é muito triste, ao meu ver.

    Esta foi minha primeira participação no Academia Gamer.

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  • 02/10/2012 em 5:57 pm
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    Opa, entendi direito? 100 textos? Parabéns!

    Fiquei muito puto por não ter conseguido assistir este filme no cinema, colocaram ele por aqui em horários que são impossíveis para mim quando fui assistir, agora tem que esperar o DVD 🙁

    Esse desespero em deixar o “antigo” para usar somente o “novo” no mundo dos jogos é algo que eu nunca entendi, principalmente quando envolve tecnologias. Por exemplo, na época de N64/Saturn/PSX a novidade era o 3D, e todo mundo lembra que isso foi explorado ao máximo, mas isso também fez praticamente sumir os jogos 2D com o passar do tempo, como se uma tecnologia nova tivesse a obrigação de excluir a anterior ao invés de cooexistir. O mesmo acontece com alguns gêneros como os beat ‘n’ ups tradicionais que praticamente sumiram do palco principal.

    E pensando bem, isso casa bem com o que você falou, uma vez que o “novo” é a princípio mais fácil de vender, enquanto o “velho” tem que dar sangue pra fazer dar certo, ou seja, tem que ser valente 😀

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  • 07/10/2012 em 7:44 pm
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    leandro(leon belmont)alves,

    Com certeza! Mas esse “deixar no limbo” é o ideal a fazer e é o que acho porque não há razão de fazermos remakes quando os jogos são realmente bons, não importando seu gráfico, som ou qualquer coisa que possa ser melhorada.

    E aquela coisa, muitas franquias são esquecidas nem por respeito, mas porque acreditam que não renderia dinheiro suficiente para as empresas. Afinal, hoje em dia o mercado de games usa cifras muito maiores que antigamente e às vezes simplesmente a conta não bate.

    Jogos antigos não são bons por serem antigos, mas apesar de sê-los. O mesmo com games novos: não são ruins por serem novos, mas apesar de terem sido lançados há pouco tempo. E parabéns pelo Saturn! Adoro esse console! hehehe

    Não, não pensava em remakes não. Acho que nós que gostamos de jogos antigos devemos pensar os jogos novos (e quem sabe defender o que os antigos têm de bom) para que games novos possam ser bons por definição e não por acidente. Nós somos os guardiões do passado dos videogames e devemos preservá-lo não em um museu, mas fazendo com que as gerações seguintes continuem jogando esses clássicos como já fazemos.

    Juliano,

    Pois é! hehehe Cem posts da Acaemia Gamer já! O bacana é reparar justamente nisso: pessoas que estão sempre acompanhando, lendo e postando comentários. São vocês que mantêm a coluna viva, com toda certeza.

    O filme é bom viu, recomendo. 🙂

    Esses exemplos que deu são interessantes para se pensar nisso mesmo. Somos nós, mais velhos, que temos que dizer às gerações mais novas o que era bom e porque era bom. Não só pela nostalgia, mas pelo fato de que muitos games ainda nos divertem atualmente tenham feito sucesso em sua época de lançamento ou não.

    Mateus LW,

    Bem lembrado de Valis porque foi uma legítima decadência na série de fato… E quanto à Guerra dos Tronos, eu particularmente acho uma perda terrível essa mudança nas histórias de fantasia. Você não tem mais cavaleiros e nem cavalheiros, nem princesas e nem damas. A regra acaba ser “subverter o clichê” e não há nada mais previsível que a total imprevisibilidade.

    E isso que falei acima é exatamente o que você fala em seu penúltimo parágrafo. Não tenho sequer coisa alguma a acrescentar na realidade porque penso exatamente assim.

    E que participação! Continue nos ajudando aqui nas discussões! Isso (os comentários) é o que mais importa na Academia Gamer! Meu texto lá em cima é só de enfeite. hehe

    Rafa Tchulanguero Punk,

    Valeu cara! São cem textos só aqui na Academia Gamer, porque tenho outros textos espalhados por aqui no asilo também. hehehehe Tanto antes como depois da criação da coluna.

    Mas o filme é bacana, quando puder arrumar o DVD, assista sim.

    Pois é… Essa transição do 2D ao 3D foi uma perda terrível com certeza. Mas posso levantar uma hipótese para isso? Com essa alteração, os polígonos iam ficar obsoletos com o tempo (com a quase ausência de limite de cores e pixels nessa geração do Saturn etc.) porque havia um padrão novo. E, com isso, os videogames alcançaram o mesmo patamar dos outros objetos contemporâneos de hoje: o prazo de validade reduzido.

    Hoje é assim até na arte: não precisa se demorar em um quadro, leia uma resenha e pronto; não precisa ir em galerias, veja instalações temporárias e por aí vai. Não apenas tudo se torna fluido demais como também “envelhece” com facilidade. Tem uma razão mercadológica, claro, mas isso é muito mais uma denúncia da forma ruim com que nós estamos aprendendo a ver e entender o mundo (é algo que vai para além do capitalismo ou relações de mercado e toca o próprio sentido de “ser humano” na atualidade).

    Em uma época em que cavaleiros são toscos e “alienados”, nós praticamente entramos em uma batalha desmotivados: defender algo hoje em dia (principalmente se antigo) é uma tarefa árdua e complicadíssima…

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  • 09/10/2012 em 4:07 pm
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    fala mestre senil e a todos!!!!não assisti valente ainda não,,,mas chego lá!!!!a verdade que video games também tem e existe essa parte de trocar idéias e mesclar informação e experiencia do jogador,,,,video game já existia muito antes da idade média acredito,,,antigamente civilizações elaboravam extratégias e técnicas para poderem caçar, elaborar um sistema de defesa contra o inimigo e acima de tudo tentar sobreviver…..isso acontece muito hoje em dia,,,nossa vida é um video game real,,,tentamos sobreviver nessa vida,,,e infelizmente só temos 1 vida,,,e não 99 vidas e não existe aquela manha konami que fazia no jogo contra de 30 vidas….chato…então,,,a sobrevivência talvez seja o foco principal tanto na tela como na vida real,,,tentamos viver de uma maneira eficiente, prazerosa e sem preocupações,,,mas tá dificil mesmo!!!!!o legal daqui é que podemos debater temas polêmicos e socializar-mos em aspectos virtuais,,,,em filmes, desenhos, games,,,tudo tem uma tradição,,,tudo tem que ter o final feliz,,,mas a verdade é que buscamos nesse meio de fantasia,,,até mesmo ouvindo uma boa música,,,,buscamos esquecer problemas e aproveitar aquele momento,,,é o que acontece muito em copa do mundo,,,acabou a copa,,,começa tudo de novo,,,,ficamos dependendo do governo,,,que não nos oferece segurança, educação e saúde pública de bom atendimento,,,começa todos os problemas novamente,,não tem fim,,,então jogar video game, assistir um filme é um meio de sonhar também….sei que fugi um pouco do tema,,,mas as vezes a raiva e decepção é grande!!!!!vivemos num mundo de tradição e leis,,,,as vezes tradiçõe e leis meio que se unem em termos de obrigatoriedade,,,se pensar bem,,,somos obrigado a obedecer leis,,,mas geralmente quem cria essas leis não obedecem as leis,,,,tradição seria algo vindo do passado,,,algo medieval,,,algo pre-histórico,,,mas as vezes tradição pode ser confundida com racismo,,,,em filmes, desenhos e na vida real,,,muitas vezes nós vemos negros casados com negras,,,,raça com a mesma raça,,,,raramente vê-se japoneses com negras e japoneses com negras,,,,japoneses em novelas sem estar junto a uma família japonesa e pessoas negras como protagonista de uma novela….então a palavra tradição pode estar assimilada com obrigação, lei racista criada pelos homens de antigamente que reina até hoje!!!!sei que o que virou tradição foi o natal,,,pensamos no papai noel, árvore de natal e festas,,,mas no nascimento do Jesus,,,poucos pensam sobre isso,,,existem tradições boas e ruins e algumas até mesmo racista,,,,mas eu vejo que uma tradição nunca vai mudar,,,é o descaso dos governantes sobre nós que pagamos impostos,,,,valeu!!!!!!

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  • 10/10/2012 em 4:52 pm
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    helisonbsb,

    Não se preocupe em fugir do tema! Não há isso aqui na Academia Gamer. hehehe

    Com certeza que esses exemplos que deu (táticas para combate e coisas assim) possuem um elemento de jogo! A guerra mesmo é um tanto lúdica e possui lá suas regras. Embora, claro, elas fossem melhor respeitadas e levadas a sério há alguns séculos atrás.

    hehehe Felizmente não temos o código da Konami em nossas! Já pensou destravarmos a dificuldade expert como ele faz em alguns games da série Castlevania? huahauhauhauha

    E de fato todo game tem um tempo: depois que ele acaba (ou quando pausamos) temos que voltar às nossas ocupações diárias e tal não tem jeito.

    Isso que falou da tradição como obrigação é um elemento interessante porque revela a possibilidade ruim que a tradição possui. Talvez seja por esse viés obrigatório. Na verdade, nunca tinha feito essa comparação, mas me parece muito pertinente.

    Outra coisa bacana que pontuou é justamente a questão do Natal. Nessa festa, o sentido original já se perdeu faz tempo. Só cristãos mesmo quee se lembram do nascimento de Jesus e olhe lá. É uma perda muito grande. Até diria que está se tornando em uma nova tradição principalmente por conta da nossa cultura contemporânea secularizada…

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