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Ayn começa a narrar sua história pessoal, tal qual seu próprio pai fizera um dia.

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Acho que poderia iniciar esse relato do dia em que um soldado dos muros da cidade de meu pai, Cille, chegou esbaforido na sala real. Eu estava ali por acaso, conversando com Mieu e tentando fazer o mesmo com Wren antes de partir para meu treino matinal com eles. Ele ainda havia encontrado forças para, alguns passos antes de se colocar diante do meu pai, saudar-nos a todos e então dar a notícia.

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“Ciborgues estão nos atacando!”. Meu pai havia me contado sobre outros ciborgues além de Mieu e Wren em um lugar chamado Hazatak, mas será que eles estavam nos atacando agora? Meu pai, muito surpreso, olhou para mim e aos andróides junto comigo no afã de obter alguma resposta às suas dúvidas. Não duvido que estivesse pensando o mesmo que eu naquele momento.

Eu fiquei preocupado. Mas foi essa mesma notícia que fez com que iniciasse uma jornada, de alguma forma, interligada à do meu pai anos atrás. Um outro soldado entrou e disse que estes mesmos ciborgues estavam derrotando todos os nossos monstros que utilizávamos na defesa da cidade. Rhys, meu pai, virou-se para mim e, num desabafo, disse que sabia que a paz não duraria para sempre. No mesmo instante, porém, ele tomou uma decisão. Pediu-me que saísse e que procurasse um novo lugar de paz para nós; um lugar em que estivéssemos realmente livres desse tipo de ameaça. Contou-me então, com um sorriso de esperança no rosto, que haviam lendas que falavam de um lugar chamado Satélite. Eu mesmo já havia ouvido algo a respeito, mas nunca dera muita atenção por acreditar que fosse somente um mito. E então, designou Mieu e Wren para me acompanharem. Ele ficaria ali com minha mãe, fazendo o possível para proteger o povo.

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Não perdi tempo qualquer e após me preparar rapidamente, minha mãe me deu a Safira que meu pai usara em sua jornada para resgatá-la e disse que todos contavam comigo. De fato, muitos em Cille já sabiam que sairia da cidade. Foi melhor tê-los avisado de minha missão (por mais fantástica que parecesse) para que não imaginassem que os estávamos deixando para perecer sozinhos numa derrocada lenta e silenciosa.

Soube que a terra de Lyle, Shusoran também estava sob cerrado ataque e preocupei-me com ele e sua condição. Tive que abrir caminho contra alguns andróides e robôs que, mal nos viam, já nos atacavam com vigor e com uma inexplicável ânsia de matar. Jamais havia visto algo assim até aquele momento.

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E Lyle havia se ferido em combate. Usando um tapa-olho improvisado, disse-nos somente que não poderia nos acompanhar porque seu povo precisaria dele. Foi um de seus súditos do castelo que nos disse que ele, infelizmente, perdera um de seus olhos em combate. Logo Lyle, que era tão bravo e habilidoso no combate, aquele que chamavam de Cavaleiro-Dragão estava ferido… Aquilo não estava sendo fácil para nenhum de nós.

Muitos em meu caminho culpavam o velho desafeto dos layanos, os orakianos. Alguns abertamente e outros com ressalva, tendo ainda algum respeito por meu pai que era orakiano legítimo. Acho que o fato de eu ser mestiço ajudou com que o povo das ilhas aceitasse melhor as suas diferenças de centenas de anos atrás. Tanto que ao chegar em Agoe, o rei e seus súditos expressavam a mesma surpresa que nós: não faziam a menor idéia das razões pelas quais éramos atacados. Não tive como desconfiar deles, que sempre nos trataram bem, ainda que nenhum ataque contra eles tivesse acontecido.

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Sem perder tempo, rumei em direção a Rysel, uma cidade pesqueira com boas relações com todas as outras da região. A cidade, anos depois de meu pai e Lyle terem unido forças a favor dela, ainda os honrava pela bravura e apoio. Uma vez lá, finalmente descansei um pouco. Estava com pressa, claro, mas sabia que de nada adiantaria rumar até Landen ou qualquer outro lugar sem uma noite de descanso.

Contudo, ao levantar bem cedo para retornar à minha busca por Satélite, um transeunte me parou e quase que gritando preocupado disse: “Um mensageiro de seu povo chegou há pouco príncipe!”. Achei estranho e, ignorando minha cara e a pergunta que seria obviamente feita em seguida, ele disse que Cille estava sendo atacada e que precisavam de minha ajuda. Corri em direção ao barco que estava sempre disponível para nós da família real. Sem mais nada falarmos, alcançamos a ilha principal.

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Ao passarmos por Shusoran, temíamos pelo pior. A cidade estava esvaziada e tomada por andróides. Não foi fácil esgueirar-nos pelos caminhos subterrâneos do castelo para alcançar a saída que nos levaria a Cille. Tivemos que combater vários ciborgues no caminho e enfrentar algo sem nem mesmo saber porque.

Minha cidade estava igualmente deserta… Haviam robôs em vários lugares, mas notei um homem normal parado no meio da cidade, com a espada em riste. Ao notar nossa aproximação, voltou-se ameaçadoramente para nós, que recuamos um passo para que nos visse melhor. “Ah príncipe Ayn!”, disse em um suspiro. Ali onde ele estava, nenhum ciborgue parecia ameaçá-lo e ele, ao ver a minha cara estarrecida e interrogativa, disse para me acalmar: “Não se preocupe. Sua família e a maioria de seu povo estão bem. Todos fugiram para Aridia.”.

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Não me lembro se fui eu ou Mieu quem perguntou-lhe enfim: “E você ? Por quê não fugiu com eles?”. Ele somente deu um estranho sorriso que mesclava desafio, medo e convicção e nos disse, olhando para o chão que cavocava com a ponta da espada sob seus pés: “Não vou abandonar a terra em que minha família nasceu, morreu e foi sepultada. É aqui que quero estar quando o mesmo acontecer comigo.”. Nossa resposta foi o silêncio.

Sabíamos agora para onde deveríamos ir e, sem saber se tentava convencer aquele homem a ir conosco ou não, foi Wren quem, colocando a mão em meu ombro, me alertou de que precisaríamos ir até Aridia. E, como era de praxe, fez esse aviso sem usar de nenhuma palavra.

E então, com um silêncio diferente com o que saímos de Rysel marchávamos novamente para lá. E de lá, para as terras secas de Aridia que jamais vira. Será que as histórias de meu pai e Lyle sobre suas condições inóspitas eram mesmo verdadeiras? Eu iria descobrir isso mais cedo ou mais tarde… Eu lembrava remotamente que a entrada para o mundo seco era sob as ruínas de uma antiga fortaleza orakiana ao Sul de Rysel.
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Diário de Bordo: Phantasy Star III – A segunda geração (01)
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5 ideias sobre “Diário de Bordo: Phantasy Star III – A segunda geração (01)

  • 01/07/2009 em 8:44 am
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    Muito bom! Muito bom mesmo! Deu até vontade de pegar esses textos e criar um fan Game com bastantes elementos de narrativa…

    Só acho uma pena os capítulos que ficaram de fora não receberem esse super tratamento literário…

    🙁

    Há sim! Quem sabe não possamos um dia criar um Generations III não é mesmo…?

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  • 01/07/2009 em 9:43 am
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    @J.F. Souza
    Opa, se for para criar um game (e não só um projeto), pode contar comigo para escrever os textos. hehehe Quem sabe algo no nível dos remakes para PS2, como falou?

    Ah, quanto às outras gerações, é uma pena mesmo… Mas no jogo mesmo é assim. Com só dois slots para saves, você tinha que escolher um e pronto; se quisesse outro, tinha que deletar o anterior mais cedo ou mais tarde. hehe

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  • 19/07/2009 em 1:51 pm
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    @Orakio Rob, “O Gagá”
    Eu não me incomodaria, MESMO, se algum desenhista se prontificasse a fazer isso. Ficaria bonito estetica e narrativamente.

    Eu tenh estado muito corrido com as coisas do mestrado, mas não morri ainda. hehehe Vou postando conforme posso. E desculpem o hiato de duas semanas para o capítulo número três.

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