“Para quem quer fazer exercícios de reflexão”

Olá crianças!

Certamente devem ter notado que o tema “mundo” é recorrente em meus posts. Isso se dá porque é um problema essencial à fenomenologia; e só o é porque é igualmente primordial às questões humanas. Nada pode ser pensado fora deste mundo que contém todos os mundos e regiões possíveis.

Merleau-Ponty, em uma de suas obras, afirma que cada um de nós nasce em determinado mundo linguístico. Isso vai além de simplesmente pensarmos que estamos desde sempre dentro de um espaço delimitado geograficamente em que determinado idioma (ou idiomas, se for o caso) é o oficial. As palavras em qualquer idioma são carregadas de sentidos que foram se somando e modificando com o passar das eras. E vemos o mundo neste prisma (e não sob ele).

Claro que não estou levando em conta aqui as considerações de C. S. Lewis sobre a “morte das palavras”, mas isso eu deixo para um outro post.

Imagem de Der Langrisser FX para o PC-FX da NEC.

A riqueza dos idiomas variados é que eles revelam aspectos diferentes de um mesmo fenômeno. Com o tempo, algumas palavras em nossa própria língua podem passar a ser utilizadas em um sentido único e conhecer suas traduções estrangeiras pode permitir-nos reavivar seus antigos sentidos (que, se prestarem atenção, ainda vivem de alguma forma ou de outra). 

Um exemplo pessoal que poderia compartilhar é o meu estudo de latim (que tenho feito há pouco mais de três meses). Brinco seriamente ao dizer que só fui entender melhor o português a partir desse interesse pelo idioma latino. E não me refiro somente à etimologia, à gramática, ou à ortografia. Comecei a ver vida em palavras que antes nem notava que existia. Mas isso só aconteceu porque decidi vistar esse outro mundo linguístico.

Agora isso começa a ficar mais interessante para nós, jogadores de videogame. Quando aprendemos uma língua que não é a nossa materna, nós visitamos um outro mundo – jamais passamos a morar nele. Podemos ficar lá o resto de nossas vidas, abandonar nossa cidadania, nos recusar a falar, pensar ou escrever na lingua-mãe, mas ainda assim seremos estrangeiros naquele mundo.

Isso já não é mais tão grego para mim. 🙂

 

Muitos de nós certamente aprenderam inglês para jogar alguns jogos que exigem conhecimento escrito ou falado deste idioma (entre os quais eu me incluo). Analogamente, muitos aprenderam japonês pelas mesmas razões. Em ambos os casos, pode ter havido um aprendizado pragmático do tipo: “o idioma vai ser só um meio através do qual vou poder entender este outro mundo que não vivo”. Mas essa é uma concepção incompleta do que realmente é aprender outro idioma. É preciso entrar em um outro mundo e isso requer entrega, uma entrega genuína como aquela que efetuamos ao jogarmos qualquer jogo.

Isso quer dizer que, embora aprendamos um idioma, ainda jogamos determinados jogos como jogamos qualquer um em nosso idioma materno. Ou seja, entramos em uma casa que nos parece cheia de vida e que festejamos por lá durante certo tempo. O idioma não é um “meio” e muito menos a chave que nos leva até lá. O jogo precisa nos seduzir e, como a sedução às vezes acontece por palavras, é preciso ser capaz de compreendê-las. Por isso que muitos jogos em idiomas que desconhecemos ainda podem ser divertidos quando as palavras não são seu principal atributo.

Policenauts para o computador japonês PC-98.

 

 

Isso significa que ao nos lançarmos a um jogo japonês, seja ele traduzido ou não, estamos entrando em um mundo nipônico de certa forma. As traduções feitas (por fãs ou não) possibilitam esse tipo de entrada a outros mundos por mais pessoas. Muitas vezes, esse acesso é um pouco dificultado com a tendência de não se adaptar muitas expressões sob o pretexto de que “mudaria o jogo completamente”. Por isso vemos com frequência traduções de fãs que mantêm sufixos japoneses de tratamento como -kun, -chan, dentre outros. Mas isso carrega certa inverdade. Não é porque os ingleses não possuem uma palavra única que traduza “saudade” que eles não reconhecem o sentimento e não podem compreendê-lo com uma expressão própria deles como “I miss you”.

Se ao invés de usar “senpai”, usássemos um termo como “veterano” em português no contexto escolar, isso faria diferença? Depende. Afinal, usar “tu” ao invés de “você” também se torna melhor ou pior dependendo da ambientação do jogo. Hamlet, mesmo sendo dinamarquês, surge mais facilmente em minha mente falando “tu” do que “você”. Isso talvez permitisse víssemos que o termo “veterano” carrega o mesmo sentido de “senpai”, inclusive no que se refere na justificativa de maioridade para provocar trotes em calouros ao entrarem na faculdade. Às vezes, repensar uma palavra é muito mais enriquecedor do que simplesmente incluir uma outra em nosso vocabulário.

SD Snatcher para MSX. Supostamente, a primeira tradução feita por fãs nos idos de 1993.

 

O principal é ter clareza de que ao traduzir qualquer coisa que seja, é preciso entregar-se a ela. Lembram-se da hermenêutica de que já falei um pouco durante esta coluna? Nesta entrega, dispomo-nos a observar a coisa tal qual ela se mostra e, em seguida, podemos descrever o que vemos com nossas próprias palavras. Por esta razão que não vejo problema algum em adaptações de jogos japoneses ao modo de pensar ocidental; acho que até prefiro porque não quero ter que ficar pesquisando o que tal jogo de palavras quer dizer em japonês se o tradutor já se esforçou um bocado para pensar em algo semelhante em seu próprio idioma revelando, com isso, que compreendeu realmente o que aquilo queria dizer em japonês.

Nós, como jogadores, vagamos por diversos mundos linguísticos diferentes, mesmo que os jogos tenham sido traduzidos. Muito se aprende a respeito da Idade Média lendo escritores do período; mas o que fazer se não se sabe latim? O acesso por uma boa tradução (deste tipo hermenêutico que falei) nos leva ao mesmo mundo que o medievalista que conhece latim profundamente. A vantagem de conhecer o idioma é compreender melhor e mais originariamente; mas “traduzir pela metade”, mantendo expressões idiomáticas sem sentido em nosso idioma mais atrapalha do que ajuda.

Phantasy Star III em sua tradução não-oficial para o francês.

Enfim, o que quero dizer é que realmente passeamos por diversos mundos. Alguns deles compreendem pessoas falantes de determinado idioma; analogamente com relação a jogos, eles são mundos dentro do mundo. Embora em alguns games (e livros, filmes etc.) conhecer certo idioma seja mais adequado pela ênfase que dão às palavras, a língua não é o meio pelo qual entramos nestes jogos: pois sempre jogaremos sob o pano de fundo de nosso mundo linguístico original, mesmo que sejamos completamente fluentes neste outro idioma. É o nosso português, por exemplo, que se enriquece quando aprendemos inglês, japonês, ou latim. A falta que jogos em português fazem é justamente o pouco acesso a pessoas que desconhecem o idioma do game. E, talvez valha retomar algo que já trabalhamos aqui, um jogo “brasileiro” é aquele que nasce neste nosso mundo, mesmo que seja em outro idioma.

É isso que queria trazer para o post de hoje! Até o próximo!

Academia Gamer: Mundos linguísticos
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18 ideias sobre “Academia Gamer: Mundos linguísticos

  • 12/07/2011 em 9:37 am
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    Olha, eu discordo parcialmente. A tradução já é uma adaptação da história a partir da interpretação do autor. Logo, o tradutor tem que ser um adaptador muito bom para não deixar isso transparecer. Acho importante traduzir nomes de jogos ou senpai para veterano, mas acho muito empobrecedor mudar uma obra oriental para o “modo de pensar ocidental”.

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  • 12/07/2011 em 9:57 am
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    @Guilherme
    Bom, “empobrecedor” seria se vc considerar que a cultura japonesa é mais “rica” que a ocidental, o que não é de forma alguma (acredite, em mts aspectos é BEM mais pobre…)
    Mas entendo o seu ponto de vista, e concordo que a obra, ao ser traduzida, deva ficar o mais fiel possível ao script original, sem mudar mt a visão do autor.
    Mas acredito que o intuito do Senil nem foi entrar nesse mérito… Creio eu que ele tava falando justamente desse lance de deixar termos orientalizados de forma desnecessária, sob o pretexto de não descaracterizar a obra.

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  • 12/07/2011 em 10:08 am
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    Mas Senil tocou num ponto mt interessante. Sabendo a língua original da obra traz a vc um entendimento mt maior, algo que nenhuma tradução (por melhor que seja), pode trazer. É MT (infinitamente mais) exclarecedor qdo vc ouve alguém chamando o Shinji de Shinji-kun qdo vc sabe a nuance que esse tipo de chamado dá, do que simplesmente ler a legenda e ficar satisfeito a “saber” que esse é um sufixo dado a nomes masculinos.
    Esse tipo de nuance não é fácil de se passar pra uma tradução, e certamente acrescentar uma palavra inexistente no nosso idioma não ajuda mt…

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  • 12/07/2011 em 11:28 am
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    por mais fiel que uma tradução seja, ela ainda vai possuir muitas falhas e um grande distanciamento cultural, por isso prefiro Adaptações de acordo com a cultura local; de modo que uma tradução portuguesa tenha elementos diferentes de uma brasileira.
    Um excelente exemplo disso são as dublagens de desenhos da disney, vemos muitas piadas de contexto brasileiro, opções muito melhores que traduzir piadas americanas fora de contexto

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  • 12/07/2011 em 1:04 pm
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    Há muito tempo tenho interesse por etimologia, mas nunca levei esta curiosidade adiante de maneira séria. Há algum tempo eu até comecei a estudar um pouco de latim por conta própria. Por falta de tempo eu abandonei os estudos ainda no início. Vou ver se retomo ainda neste ano.

    Algo interessante ao estudar latim é que a gente percebe cada vez mais o quanto o inglês possui influências desse idioma.

    Para quem se interessa pelo tema, recomendo o livrinho “A Arte de Escrever”, uma compilação de textos de Schopenhauer sobre a escrita e literatura em geral. Nele o filósofo faz boas críticas sobre as traduções de obras, dizendo que nunca ficam fiéis ao original, além de apontar certos modismos dos alemães da época. É até engraçado vê-lo criticar a complexidade do idioma alemão, que deve muito aos escritores metidos a moderninhos.

    Legal também você ter citado o lendário “saudade”. Tem gente que acredita de verdade que essa palavra não possui equivalentes em outros idiomas. Não é porque não exista uma tradução literal de uma palavra que este sentimento não exista, e consequentemente não exista também uma forma de expressá-lo.

    Outra lenda, já que você citou games japoneses, é a origem do “arigato” vindo de obrigado. Até parece que uma civilização muito mais velha que Portugal não teria inventado uma palavra para expressar gratidão em seus, sei lá, 1500 anos de existência antes do contato com o ocidente.

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  • 12/07/2011 em 6:27 pm
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    eu não tenho nada contra as traduções de um game japonês(por exemplo) para a lingua ocidental. mesmo na maioria das vezes ferrando com a historia original. mas é um mal que precisamos enfrentar. quantos games japoneses que são excelentes,como a série de estrategia Langrisser( no Sega Saturn nesse caso) mencionado no inicio do post e que adorariamos que fosse traduzido para inglês? mas nesse caso, os gamers ignoram o enredo e jogam por zerar mesmo. eu mesmo gosto de ler cada trecho das falas dos personagens, mesmo em games japoneses.(se bem que não entendendo nada de lingua oriental,but…) e é verdade, eu aprendi o inglês jogando games mesmo. não com fluência,claro. mas dá pra eu pedir um Big Mac num restaurante Mcdonald´s se eu um for parar nos States 🙂

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  • 12/07/2011 em 7:01 pm
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    @Guilherme
    Essa é a diferença entra partir de um ponto de vista de “adaptar” e “traduzir”. Para mim, a tradução envolve compreensão (ou hermenêutica) e nós temos que exprimir o que compreendemos. Um tradutor, ao traduzir, descreve, pela tradução, a forma com que compreendeu aquele texto/jogo. Não é simplesmente tornar uma obra oriental em ocidental, mas em ver aquela tradução como a hermenêutica (compreensão) do texto feita pelo tradutor.

    O erro comum (que era meu inclusive) é achar que isso “anula” o “ponto de vista do autor”. Mas quando você cria alguma coisa, o que menos importa ao espectador/jogador é o que você quis dizer com aquilo. O que importa ao observador/”utilizador” é o que aquilo está dizendo verdadeiramente para ele enquanto lê/joga.

    Ficou confuso? Se ficou, me avise que tento me expressar melhor.

    @Jorge Chernicharo
    É mais ou menos por aí que quis pensar. A descaracterização da obra se dá não pelo zelo do tradutor em adaptar aquilo tudo, mas quando ele quer “ser fiel” e não traduz quase nada. A impressão que dá é que o Google faria um trabalho semelhante.

    Saber o idioma original do texto ajuda porque permite que compreendamos os vários sentidos que ele pode possuir mais facilmente. Não é que permite “entendê-lo melhor”, mas permite ver facetas que a tradução (mesmo a melhor) acaba escondendo. Mas mesmo se for em nossa língua materna, não vemos tudo aquilo que ele mostra. “Todo fenômeno éinesgotável” neste sentido.

    Esse exemplo que deu é muito bom. Se lemos “Shinji-kun” numa legenda, eu e você entendemos o sentido daquela expressão. Mas nós tivemos que ter uma aula de “japonês” (informal, é verdade) para saber disso.

    @Leonardo
    O exemplo que deu é muito bom porque em muitas animações, as duas traduções coexistem nas versões legendada e dublada.

    @Fernando Lorenzon
    O inglês tem muita influência do latim mesmo. E nem é uma língua românica como o português. hehehehe Parece haver certa preferência pelo grego e línguas germânicas (mesmo entre filósofos); o que é bom, mas o latim é tão interessante. Parece ser só um cisma com a Idade Média. hehehe

    Falando ainda em japonês, o que menos gosto nesta tentativa de ser “fiel” é não traduzir palavras que têm tradução óbvia e/ou origem em outros idiomas. Por exemplo, “table” (mesa em inglês) e a palavra que surgiu do português “gibão” que eles ainda usam por lá para um tipo de roupa específica… Esqueci agora o nome certo…

    @leandro(leon belmont) alves
    Às vezes acontece mesmo de mudarem completamente a história. O que não entraria naquilo que falei de uma tradução que vai pela compreensão. Essa sim é um tanto ruim por deliberadamente não trazer o que o original mostrava.

    Langrisser é um bom exemplo mesmo. Ele é facilmente jogável decorando alguns menus simples que se repetem o tempo todo. Eu mesmo já joguei o Der Langrisser FX em japonês (passei só uns três cenários, mas joguei hehehe).

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  • 13/07/2011 em 10:48 am
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    @O Senil
    Eu acho que uma má adapração anula sim o autor. Não quis dizer que a cultura japonesa é mais rica que a nossa, como outro comentador sugeriu. De qualquer modo, digo o mesmo se uma obra ocidental for mal adaptada para o Japão. Esses dias o Gaga Games, ou algum outro blog retrô que não me lembro, falou de um adventure aponte e clique americano que saiu todo alterado no Japão. Ficou ridículo e sem sentido.

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  • 13/07/2011 em 12:37 pm
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    @kleber
    Valeu cara!

    @Guilherme
    Sem dúvida.

    Então, é que para mim, nestes casos de mudanças totais (em que mudam a história, mudam o modo de jogo etc.) não é uma “adaptação”, mas uma recriação; é um caso à parte. É uma outra obra e não a mesma “traduzida”, por assim dizer. É como colocar bigodes na Monalisa: é outro quadro e não mais a Monalisa. É diferente de alguém que tenta, sei lá, pintar um quadro no qual ele possa dizer o que vê ao encarar a Monalisa (que ainda remete, em certo sentido, ao original por ser a expressão do sentido que a obra tem para este pintor em específico).

    @Leonardo
    O problema principal é a falta de zelo nas adaptações. Tem coisas sofríveis e, geralmente, é porque não houve esmero algum nesta direção.

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  • 13/07/2011 em 8:27 pm
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    @Guilherme
    Até onde sei, a TecToy contratou gente de fora para traduzir os três jogos. Tipo, retiraram o script deles com alguma ferramenta e, quando receberam de volta, diminuiram do jeito que dava para caber lá.

    O Phantasy Star III acabou recebendo um resultado final lastimável (o que é uma pena, tendo em vista que é meu predileto). E a única coisa que fizeram de melhor que a americana na série toda foi inserir um pedaço de texto no PSII que haviam traduzido para o inglês, mas esquecido de inserir no lugar certo (a frase fica cortada no meio – tem a ver como Climatrol peloque lembro).

    Mas, ainda assim, os três podem ser jogados. No PSIII, perdemos o aspecto mais interessante dele (a história), mas dá para viajar por Alisa III sem problemas. Tipo, o PSIII já nem tem tanto texto e com uma tradução ruim, nem dá para aproveitar muito. hehe Sabe aquelas traduções que fãs fazem de jogos só tirando o txt com o script do jogo e pegam o resultado traduzido do Google (como fizeram com Dragon Age)? É a mesma coisa; não é uma boa tradução por não terem se preocupado com aquilo mesmo que era dito.

    Por isso, a de PSII é a melhor, a de PSI é boa (só alguns deslizes) e a de PSIII é horrível. Ainda assim, a conversão da versão japonesa para a americana foi melhor adaptada e, pelo que entendo, tem lá a essência das versões nipônicas originais. Assim como acontece com leitores e seus autores favoritos, podemos preferir jogar o original por ele “ter mais coisa”, mas isso não quer dizer que quem tem acesso a uma boa tradução não experimentou o mesmo jogo que os japoneses.

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  • 14/07/2011 em 3:44 pm
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    @Guilherme
    Senil joga porque ele imagina o Sísifo feliz.

    Sobre o tema do post me ocorreu uma coisa: imagino como os tradutores estrangeiros devem se descabelar para fazer uma boa adaptação de um livro de Machado de Assis. Cada linguagem, além de ser um código – visto friamente -, é carregada de todo um peso cultural, de contexto histórico, detalhes, e até mistério. Por exemplo: porque diabos alguém criou a palavra defenestrar? É de origem francesa e significa “jogar algo ou alguém pela janela”. Deve ser algo muito comum na França para criarem uma palavra só para isso…

    Um dos meus jogos preferidos de todos os tempos é o Final Fantasy Tactics. Mesmo com a tradução péssima o jogo era ótimo, assim como a estória, que por mais que seja difícil entender – muito pela má tradução – dá para ver que é boa. As traduções feitas por fãs são imprevisíveis, você encontra coisa muito boa, assim como encontra coisas assustadoras. Mas é sempre reconfortante você pegar um jogo e reconhecer as palavras da forma em que só se reconhece quando é a sua linguagem mãe. Por isso prefiro traduções porcas feitas por fãs, pela intenção. Agora traduções porcas feitas por pessoas que são pagas para isso? Aí não, né?

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  • 14/07/2011 em 5:52 pm
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    @Guilherme
    hehehe Boa provocação. Na verdade, eu me fiz esta mesma pergunta e o próximo post passa um pouco por isso.

    Eu jogo porque eu me divirto; e com isso não quero dizer que “obtenho prazer” enquanto jogo pura e simplesmente porque jogar não é só contentamento atrás de contentamento. Às vezes um trecho é tedioso, alguma coisa é mal trabalhada, mas é importante haver aquela impressão de que tudo vai melhorar e seguir em frente. É manter acesa a chama da aventura que nada mais é do que essa coisa de querer se afastar e se aproximar ao mesmo tempo.

    Passa um pouco pelo Sísifo que o Onyas comentou também.

    @Onyas
    Exatamente. Cada língua não é somente um punhado de signos com significados: ela é carregada de sentido. E com isso eu quero dizer que ela carrega todo esse espectro de uma cultura que comentou. A adaptação de palavras, por exemplo, é saudável para um idioma. “Defenestrar”, que citou, começou como descrição disto que falou, mas foi sendo enriquecida com outros mais com o passar do tempo e das gerações.

    hehehe Ninguém merece traduções porcas! Algumas são bem ruins mesmo e, no caso das oficiais, deveria ser algo mais bem feito mesmo. Muitos fazem qualquer coisa e acham que está muito bom. hehehe Veja o próprio exemplo de Phantasy Star III pela TecToy. Fico imaginando até se eles não traduziram o PSIV porque não quiseram, ou porque não conseguiram retirar todo o texto da rom para mandar a um tradutor. Afinal, traduziram Shining in the Darkness nessa mesma época.

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  • 14/07/2011 em 10:39 pm
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    Não costumo fazer dois comentários seguidos, mas estava aqui zapeando pela TV e me lembrei de duas traduções que acho sensacionais. São só detalhes de uma adaptação mais geral, mas são exemplos emblemáticos (ainda que fora do mundo dos games).

    A primeira é o nome “Gui” de um personagem da série Harry Potter. O nome dele em inglês é “Bill” que é uma versão reduzida de “William” que, por sua vez, vem de Guilherme. Daí, “Gui” ser uma solução criativa e inteligente. Na mesma série a tradutora fez isso com alguns nomes. O que me vem agora é “James” que virou “Tiago” que é a tradução precisa do nome para o português; “Jaime” é semelhante, mas não é a versão ideal.

    Outro exemplo é o apelido do Charlie Brown: “Peanuts” virou “Minduim”. Não só ficou com jeitão de apelido como também manteve a relação com “amendoim”.

    Às vezes é mais interessante esse tipo de esforço na adaptação e tradução do que simplesmente manter termos no idioma original por comodidade. Se o termo não tem tradução e um estrangeirismo é interessante, aí é outra história. Se não fosse assim, não teríamos “sanduíche” ou “quimono” em nosso vocabulário. Vale notar que, nas formas originais, eles têm outros sentidos além daquele que usamos em português (um sobrenome de família e “roupa” de modo geral, respectivamente). Não é um “sentido diferente”, somente um “outro sentido”.

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