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Este post é parte da série Dossiê Sonic, na qual o Gagá vai jogar todos os jogos clássicos da série Sonic (e alguns menos conhecidos também) e preparar posts especiais sobre cada um deles. Para acessar o índice com links para outras partes da série, clique aqui.

1994. Foi nesse ano que a SEGA lançou para o Mega Drive o quarto e último título da série clássica de seu mascote, Sonic & Knuckles. Depois de quatro jogos absolutamente brilhantes (e mais um título muito elogiado no Sega CD), todo mundo tinha altas expectativas para o futuro do personagem.

O resto é história: Sonic nunca conseguiu emplacar um jogo tridimensional digno de seu passado glorioso. Enquanto Mario continua aprimorando a excelente fórmula introduzida em Mario 64, o pobre Sonic estrela títulos cada vez mais medíocres. Parece que o personagem só conseguia críticas razoáveis com os jogos 2D lançados para portáteis, mas mesmo assim nenhum desses títulos conseguia oferecer o equilíbrio certo entre velocidade, exploração de estágios e diversão.

Até agora.

Anunciado como um retorno às raízes, Sonic the Hedgehog 4, lançado este mês para o iPhone e para os serviços de download dos principais consoles, volta à visão lateral que tornou o personagem famoso no Mega Drive. E se o que você procura é um Sonic à moda antiga, capaz de figurar ao lado dos títulos originais sem causar constrangimentos… pode comemorar, porque Sonic 4 é isso aí mesmo. O que a SEGA criou (com a ajuda da DIMPS, responsável pelas séries Sonic Advance e Sonic Rush) foi um jogo saído diretamente do túnel do tempo, uma bela homenagem aos primeiros jogos do ouriço.

“Mas cadê a barriguinha do Sonic?”

Vamos começar logo pela parte polêmica: a física do jogo. Nesses longos meses de desenvolvimento de Sonic 4, todo mundo reclamou do jeito de andar esquisito do Sonic, do pulo esquisito, do spin dash esquisito… e é verdade mesmo, é tudo esquisito. Quando botei o jogo para rolar no meu Wii e dei meus primeiros passos com o personagem, tive vontade de sair alardeando o fim do mundo em 2012.

Tá. E daí?

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Os gráficos são no estilo old-school, mas ganharam toques modernos. Eu gostei.

Apesar do susto inicial, em cinco minutos você vai estar acostumado aos trejeitos do bonequinho e vai estar correndo que nem doido pra cima e pra baixo. Você pode preferir o Sonic barrigudinho dos velhos tempos, pode achar que o bicho anda de um jeito pra lá de estranho, mas acredite, a física não é ruim, só é diferente, e em momento algum atrapalha a jogabilidade.

O controle é quase igual ao que temos nos jogos antigos: pulo, spin dash… correu, apertou pra baixo, Sonic vira bolinha no meio da corrida. A novidade é o homing attack, que já havia marcado presença no Sonic Adventure de Dreamcast. Trata-se de um ataque teleguiado: quando você pula próximo a um inimigo, uma mira surge sobre ele. Apertando o pulo outra vez em pleno salto você “voa” na direção dele com tudo.

Eu joguei bastante Sonic Adventure no Dreamcast, e lembro que o homing attack parecia uma maneira de diminuir a dificuldade de atacar inimigos em cenários tridimensionais. Em um jogo 2D essa dificuldade não existe, e a SEGA usou o homing attack para outros fins bem mais produtivos. Como ele também funciona com molas e cipós, você vai usá-lo para atingir esses objetos quando eles estiverem um pouco além do alcance de um salto normal, chegando a novas seções ocultas de cada fase. Além disso, o homing attack acelera a ação (é especialmente divertido usá-lo para ir de encontro a uma mola e ser rebatido na direção oposta, ou fazer os inimigos de ponte com vários ataques seguidos) e ajuda na criação de estratégias para diminuir o tempo de conclusão de cada fase.

“E as fases, são todas chupadas dos Sonics antigos?”

Que bom que o controle do Sonic está bem resolvido, mas todo mundo sabe que o segredo dos bons jogos dele está no design das fases. Felizmente a SEGA também acertou nesse sentido, incluindo rotas alternativas e salas escondidas. Eu não diria que o design é tão intrincado quanto o de Sonic 3 ou Sonic & Knuckles, mas ainda assim é muito bom. Além de ótimos para se explorar, os percursos são deliciosos para se jogar correndo do início ao fim.

Como este é apenas o primeiro episódio, só temos quatro fases, divididas em três atos cada como no primeiro Sonic. Todas elas são mais do que levemente inspiradas nas dos jogos anteriores: a Splash Hill Zone é a Green Hill Zone; a Casino Street Zone é praticamente a Casino Night Zone de Sonic 2 (até o chefe é o mesmo); A Lost Labyrinth buscou inspiração na Labyrinth Zone do primeiro jogo (tobogãs de água infinitos, trechos submersos e bolhas de ar para respirar); fechando a conta, a Mad Gear Zone é a Metropolis Zone do Sonic 2, com direito àquele gafanhoto maldito que atira as próprias garras e àquelas estrelinhas explosivas miseráveis que sempre derrubavam a gente na hora de girar a porca no parafuso gigante, estão lembrados?

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Casino Street Zone: canhões? Confere. Rebatedores de pinball? Confere.

Você pode dizer que a criatividade passou longe na criação das fases, mas isso seria uma meia verdade. Eu acho que a ideia para o primeiro episódio era a de oferecer um jogo que funcionasse bem, que fosse divertido, sem ousar muito ao introduzir novos cenários. Com bases fortes estabelecidas no primeiro episódio, a equipe de desenvolvimento vai poder se concentrar em novidades nesse sentido no próximo lançamento (e nós vamos cobrar). Além do mais, verdade seja dita, várias fases dos Sonic 2 e 3 podem ser facilmente associadas às do Sonic 1 e ninguém reclamou. Aqui a coisa toda soa até como uma homenagem, e embora as localidades pareçam familiares, há muitas novidades relevantes. Na Casino Street Zone, por exemplo, dá para interagir com as cartas do cenário e faturar prêmios como anéis e vidas, sem falar naquela ponte de cartas voadoras maneiríssima que você já deve ter visto em um dos últimos trailers liberados.

Minha fase favorita é a Lost Layrinth. Vocês vão me perdoar pela heresia, mas eu a achei bem mais divertida do que a Labyrinth Zone do Sonic 1. Há sequências cinematográficas com pedras enormes rolando atrás de você, e trechos breves mas divertidos pilotando um carrinho de mina. Sonic carrega uma tocha que serve para incendiar pavios de dinamites que explodem paredes, e também para acender outras tochas que liberam passagens, formando pequenos puzzles. Adoro passar em disparada por um certo corredor com várias tochas, especialmente como Super Sonic: nosso herói vai acendendo as tochas, uma atrás da outra, em rápida sucessão, para depois atingir uma mola que o lança para o alto, acendendo outra sequência de tochas na vertical com aqueles barulhinhos “vuul vuul vuul” disparando que nem metralhadora. Para completar, o cenário de fundo é lindo de morrer, um exemplo do que os gráficos tridimensionais são capazes de fazer em um jogo predominantemente 2D. Um estouro essa fase.

É claro que nem tudo são flores. Não é muito difícil acumular umas quinze, vinte vidas nos jogos antigos do Sonic, mas a coisa beira ao ridículo em Sonic 4. Dá para ganhar dezenas de vidas em poucos segundos com as cartas da Casino Street Zone, e o engraçado é que essa generosidade toda parece intencional, já que o contador de vidas tem três dígitos em vez de dois, como de costume.

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A Lost Labyrinth é um barato, tanto para explorar quanto para sair em disparada

De modo geral, a dificuldade é bem balanceada, mas tem um defeitinho que quase põe tudo a perder: o jogo está entupido de “abismos da morte” totalmente injustos. Sem conhecer as fases, é praticamente impossível evitar certos buracos. Sabe aquele lance de quicar numa mola, apertar para a direita naturalmente para ver onde o Sonic vai cair e… despencar num buraco? Acontece com alguma frequência. No meio do segundo ato da Casino Street Zone há uma seção infernal que exige saltos precisos e rápidos sobre cartas que ficam girando sobre um longo abismo… é um inferno, um saco de passar. Parece que já tem muita gente reclamando disso, e espero que a SEGA e a DIMPS fiquem espertas no episódio dois.

Ah, sim, as fases de bônus… elas são bastante parecidas com as do primeiro Sonic, só que você controla a rotação do cenário, e não o personagem. Algumas seções dessas fases são bloqueadas até que você colete um número x de anéis, e como agora há um limite de tempo você vai ter que correr para conseguir as esmeraldas. Não é fácil, mas é muito divertido. Há uma opção (para os sádicos) que permite controlar o movimento do cenário via sensor de movimentos. Você fica girando o Wiimote como se fosse um volante para girar o cenário. É difícil pra diabo, mas pode ser bem engraçado.

Juntou as sete esmeraldas, já sabe, né? Super Sonic, exatamente como em Sonic 2, com mais velocidade e saltos mais altos, dando mais graça à exploração das fases vencidas, e claro, baixando o recorde de tempo de cada estágio. E é aí que a diversão começa de verdade.

Daytoooonaaaaaa!

No modo time-attack, você pode escolher uma fase para correr contra o relógio. Seus tempos são armazenados em um ranking local, e são carregados para um ranking online quando você acessa a opção Leaderboards do menu inicial. Bicho, os recordistas mundiais completam as fases em tempos absurdos! Eu corri pra caramba para fechar o primeiro ato da Splash Hill Zone em um minuto e dez, e sabem qual é o tempo do primeiro do ranking hoje, dia 14 de outubro? Pouco mais de trinta e quatro segundos!

As fases são perfeitas para boas corridas. Só vai conseguir o melhor tempo quem memorizar cada centímetro do caminho, traçar as melhores estratégias, escolher quais inimigos usar como ponte… vejam só este vídeo de um camarada do Gamesradar que fez o primeiro ato da Splash Hill Zone em 40 segundos, e notem como ele alterna saltos comuns e homing attacks em seções diferentes para ganhar tempo.

Ficar tentando baixar o tempo virou um vício aqui em casa, parece que o jogo ficou ainda mais divertido depois que terminei e passei a me dedicar ao time attack. Lembrei dos tempos em que eu disputava o recorde na primeira pista do Daytona USA de Saturn com meus amigos. Vocês devem estar lembrados de que um dos maiores trunfos dos títulos do Sonic no Mega Drive era o fator replay, aquele lance do jogo ser curto mas ficar mais divertido quanto mais você jogava e conhecia as fases. O fato dessa mecânica tornar a aparecer aqui diz muita coisa sobre a qualidade de Sonic 4.

E agora, José?

Ok, então o jogo é uma beleza, Sonic está salvo e terá um futuro brilhante? Bom, não exatamente.

É verdade que Sonic 4 é ótimo, e que se os próximos episódios trouxerem fases tão boas como as deste o sucesso estará garantido. Mas e depois? Eu não sei bem onde a SEGA quer chegar com essa iniciativa. Talvez Sonic 4 seja apenas um tentativa (bem-sucedida) de tirar o nome do personagem da lama e provar que ele ainda tem lenha para queimar. A questão é: o que virá agora? Eu não ficaria nem um pouco chateado se a SEGA continuasse lançando jogos do personagem nesse estilo para o resto da vida, porque Sonic 4 é muito divertido. Acontece que 16 anos o separam de Sonic & Knuckles, e nesses 16 anos Mario evoluiu terrivelmente. Correção: os videogames evoluíram terrivelmente.

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Nada como usar um homing attack para se atirar com um baita impulso sobre esta roldana da Splash Hill Zone 3

A SEGA pode ter dado moral ao seu mascote com Sonic 4, mas se não trouxer novidades realmente criativas à fórmula para, digamos, Sonic 5, nosso querido ouriço azul vai ser sempre um ótimo jogo do Wiiware, da PSN, da XBLA, mas nunca vai poder brincar com os meninos crescidos do Wii, do Playstation 3, do Xbox 360. Será que é isso o que a SEGA quer? Congelar Sonic em 1994 para sempre? Ou será que ela vai investir seriamente no jeitão 2,5D de Sonic 4 e inovar num estilo de jogo que parece estagnado pela nostalgia?

O mais provável é que a empresa invista em duas frentes, lançado jogos bidimensionais nos serviços de download e jogos tridimensionais para as novas gerações. Sonic Colors está a caminho, e embora seus trailers venham sendo elogiados eu continuo com os dois pés atrás, porque tenho a impressão de que ele oferece a mesma jogabilidade “presa aos trilhos” que amaldiçoa o personagem desde os tempos do Sonic Adventure.

Bom, eu sou velho, mas não uso manto nem tenho bola de cristal. O futuro é uma incógnita, e ficar arriscando previsões é muita ousadia. Mas se você está preocupado mesmo é com o presente e com a diversão que vai ter nas próximas semanas de jogatina, vá correndo comprar o seu Sonic 4. Faz tempo que não pinta um Sonic tão caprichado assim, e ele vale cada centavo do seu suado dinheirinho.

Dossiê Sonic: Sonic the Hedgehog 4 — Episode 1
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66 ideias sobre “Dossiê Sonic: Sonic the Hedgehog 4 — Episode 1

  • 17/10/2010 em 10:13 pm
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    Acabei agorinha Sonic 4 no PS3 e só uma coisa a dizer: jogaço, um legítimo Sonic. Meio que uma homenagem realmente ao Sonic 1 – o que agrada os fãs, como eu, acredito – mas com os benefícios dos dias de hoje (estou a 1 hora no time attack em splash hill pra fazer 55″84 e ficar em 1056 no leaderboards da Sony :p).

    A paradinha de Sonic se revela ao longo do jogo um benefício à precisão do controle, foi o que percebi. E a trilha é ótima, mesmos samples, conto umas 3 músicas que serão clássicas no futuro – deixa só elas envelhecerem.

    Cassino Night é uma orgia de anéis, pontos, vidas e etc com a brincadeira com as cartas, achei uma novidade fantástica! E a música de Labyri…, digo, Lost Labyrinth vou assobiar o dia inteiro amanhã no trabalho 🙂

    Enfim, um grande jogo (ou episódio…) da nossa querida SEGA. Polido, arrumadinho e que trouxe a magia de jogar Sonic de volta.

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  • 26/11/2010 em 10:41 am
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    Rapaz. Uma das melhores análises do jogo que eu já vi até agora.

    É muito difícil encontrar reviews que procura entender a proposta de um jogo. O que você falou sobre a física, fecho 100% contigo. Só mesmo fãs extremismas para estar colocando o jogo na fogueira por conta desse item.

    É difícil encontrar fã de Sonic extremista que perceba que se passaram 16 anos entre um título e outro.

    A busca do Time Attack é viciante, não tem jeito. Ah sim, alguns momentos, quando vc citou o problema dos abismos, passou na minha mente esses momentos traumatizantes, hehe.

    De todo modo, parabéns por este excelente análise. Termino este comentário com a minha conclusão do jogo:

    “O Objetivo de Sonic 4 em seu primeiro episódio foi alcançado. Ele pode não ser um retrato fiel dos que eram os jogos clássicos, mas sem dúvidas é um jogo cobriu muito bem a falta desse estilo de jogo que ficou abandonado por 16 anos.”

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  • 29/12/2011 em 10:19 pm
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    Eu joguei recentemente e essa paranoia com a física eu nem tive.Só achei estranho ele parado na horizontal em uma subida,mas não mudou a jogabilidade.
    Achei as fases fáceis mas os bonus desafiantes.

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  • 26/01/2012 em 6:48 pm
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    Gagá, só um detalhe, Sonic 5 já existe \o/

    O “Sonic CD” na verdade é o “Sonic 5” (lembra da apresentação em desenho animado, na música “… It’s super Sonic five…”. Mas eu também posso estar errado… rs…

    Até hoje só não entendi o porque exatamente de Sonic 4… Ok, Sonic & Knuckles é a continuação direta de Sonic 3, mas e o Sonic CD?

    E o Sonic Generations, se encaixa onde??

    Também tenho a esperança de Sonic voltar a fazer sucesso, sempre gostei mais dele do que do Mario.

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  • 08/03/2013 em 8:23 am
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    É, eu fui pegar esse jogo depois de ter lido esse texto há um tempo atrás pra ver se é tão ruim quanto dizem, e devo dizer que me diverti mais jogando Superman 64, isso aí é ridículo em todos os aspectos possíveis.

    Não só o jogo tem um level design péssimo cheio de abismos como você mesmo apontou nessa análise como a física é ruim… Sim, ruim, não tem essa de “diferente”, se o Sonic vai rolar numa descida e perde velocidade ou consegue ficar parado em paredes verticais, a física É ruim e pronto, não tem o que discutir, se você ligou ou não ligou pra isso não importa, a física ruim está no jogo e não deixa de ser um defeito.

    Tem gente que pode não ligar como você mas tem gente que pode achar que isso estragou o jogo, como eu e vários outros que criticam esse jogo, usar esse tipo de coisa relativa pra definir a qualidade do jogo não te dá muita credibilidade, se o defeito está lá, ele é um defeito, não tente fingir que não existe.

    No fim… Estou mais do que decepcionado com essa porcaria de jogo, ainda mais depois de jogar o Generations, e eu nem quero jogar o Episode 2 também, pra mim já deu, vou largar Sonic 4 e esperar o próximo jogo do Sonic que não tenha relação alguma com esse lixo.

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